A prestigiada revista inglesa The Economist, muitas vezes considerada como a melhor revista económica do mundo, destacou na sua última edição o conflito que está a afectar alguns países situados entre o mar Mediterrâneo e o deserto do Sahara, comparando-o aos que acontecem desde há 11 anos no Iraque e no Afeganistão, onde a guerra já custou centenas de milhares de mortos e um trilião e meio de dólares em custos directos. A situação é especialmente crítica no chamado “arco da instabilidade”, que se estende da Somália ao Mali, passando pelo Sudão, pelo Chade e pelo Niger. A intervenção francesa que está em curso no Mali é, aparentemente, uma operação limitada no tempo, mas não há garantias de que seja assim, podendo vir a degenerar numa situação semelhante à que se passa no Iraque ou no Afeganistão.
A ilegalidade e a violência sempre existiram na região sahariana mas, nos últimos anos, com a “primavera árabe” e, sobretudo, depois da queda de Kadaffi em finais de 2011, a situação piorou. Formaram-se pequenos exércitos ou gangues armados que ocupam cidades, fazem reféns, exigem resgates, praticam o contrabando, fazem tráfico de drogas e praticam o banditismo avulso. Embora sejam comparados aos piratas das costas da Somália, parecem ser bem mais perigosos. Esses gangues e os seus líderes têm reforçado a sua influência junto das populações saharianas e, alguns deles, actuam em nome da jihad. Os jihadistas parecem ter ricos apoios financeiros, sobretudo na Arábia Saudita, sendo oriundos de alguns países da região como a Argélia, Tunísia, Niger e Mali, mas também de outras regiões como o Paquistão, a Iémen e a Somália. Esses grupos procuram atacar os interesses ocidentais na região, que é rica produtora de petróleo e gás, numa estratégia que também pretende incentivar uma campanha de terror na Europa e na América. Em defesa dos seus interesses económicos e da protecção dos seus nacionais residentes no Mali , a França assumiu o combate contra esses gangues armados, mas tem lamentado estar sozinha no terreno. Para a generalidade dos observadores, a situação é muito perigosa e muito incerta, podendo ser um atoleiro para os franceses, enquanto The Economist se interroga sobre se já estamos confrontados com um Afrighanistan.
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