sábado, 17 de janeiro de 2015

Fenómeno Ronaldo até na Índia é notícia

A notícia da conquista do Balon d’0r 2014 por Cristiano Ronaldo correu mundo e muitas dezenas de jornais internacionais destacaram-na em primeira página, ilustrando-a quase sempre com uma fotografia do famoso futebolista português a exibir ou a beijar o cobiçado troféu. Ninguém se conteve nos elogios porque eram justos e até a Assembleia da República aprovou por unanimidade uma mensagem de felicitações ao atleta que classificou como “um exemplo de esforço, de dedicação e de empenho”.
Porém, contrariamente ao que sucedeu há um ano na mesma cerimónia quando recebeu o Balon d’Or 2013, desta vez Cristiano Ronaldo não tinha a sua namorada Irina Shayk na plateia, nem o seu discurso de agradecimento a mencionou. No dia seguinte, a imprensa cor-de-rosa portuguesa começou a especular sobre o que se passara, interrogando-se sobre as razões de tão inesperada ausência e avançando algumas explicações sobre uma eventual ruptura na relação amorosa entre o futebolista português e a modelo russa, embora o assunto não tivesse despertado qualquer interesse na imprensa de referência que, naturalmente, se absteve de fazer considerações sobre o caso. De facto, o assunto só interessa verdadeiramente a quem vive deste tipo de voyeurismo social.
Só que hoje, a edição do Deccan Chronicle – o maior jornal do sul da Índia, que se publica em Bangalore (ou Bengaluru) e que tem mais de 10 milhões de leitores – decidiu destacar esse assunto na sua primeira página com fotografia e com o título: “Shayks off Irina, Ronaldo single again!”
Se houvesse dúvidas sobre a popularidade de Ronaldo, mesmo num país onde o futebol ainda não desperta interesse generalizado, esta notícia mostra como o "fenómeno Ronaldo" vai muito para além do futebol. Até na Índia.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

As trapalhadas do Lima e do Monteiro

Os "cérebros" da privatização da TAP
O governo aprovou ontem o caderno de encargos da privatização da TAP, ignorando o coro de protestos da oposição e de muitos sectores da sociedade civil, o que significa que não abdica de levar por diante o seu programa ideológico ou a sua jihad neoliberal, apesar de termos eleições à porta e o caso merecer um maior consenso nacional, até porque as precipitações dão sempre mau resultado.
Esse caderno de encargos ainda não foi tornado público, mas os seus contornos já são conhecidos. O documento prevê a venda de 66% do capital da empresa e acrescenta uma novidade que terá resultado das negociações com os sindicatos quando, em Dezembro de 2014, estes anunciaram uma greve contra a privatização da empresa: quem comprar a TAP não poderá fazer despedimentos colectivos durante os primeiros 30 meses após a venda, ou seja, durante esse período ficam garantidos todos postos de trabalho.
Os cérebros desta operação são o ministro Lima e o secretário Monteiro e, cada qual ao seu estilo mas com igual arrogância, desdobraram-se em declarações durante o dia de ontem a respeito dessa garantia. O secretário Monteiro foi claro: “o acordo [laboral] apenas é válido para o universo de sindicatos que aceitaram discutir estas matérias”, isto é, os nove sindicatos que cessaram a greve e assinaram um acordo com o governo. À noite, o ministro Lima disse que não há represálias relativamente aos outros sindicatos - SITAVA, SINTAC e SNPVAC - mas acentuou que “o acordo é só para quem se associou ao objectivo da paz social”.  Significa, portanto, que os sindicalizados destes três sindicatos são abandonados pelo governo e ficam à mercê do futuro patrão, como se Portugal fosse uma república das bananas.
Estes governantes não podem ser tão arrogantes e tão ignorantes. Isto não são swaps nem são beers. Em Portugal existe uma Constituição (CRP) e nela está consagrado o Princípio da Igualdade (artigo 13º da CRP) “Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”.
Então, como é que estes figurões admitem que, dentro da mesma empresa, possam existir regras diferentes para sindicalistas que assinaram e para sindicalistas que não assinaram, ignorando que ainda há os trabalhadores que no uso da sua liberdade sindical nem sequer são sindicalizados. Hoje, mais avisado, o nosso primeiro Passos veio dizer “que não haverá nenhuma discriminação de trabalhadores na TAP” e, logo a seguir, veio o ministro Lima dizer que "os 30 meses abrangem todos os trabalhadores da TAP". Que grande ministro e que grande secretário! Que grandes cambalhotas. Saberão o que andam a fazer?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Uma publicidade peculiar e baratinha

Na Baixa Pombalina, que provavelmente constitui a mais atraente área histórica e comercial da cidade de Lisboa, existe uma boa concentração de restaurantes, pastelarias e casas de petiscos ou tascas, umas mais tradicionais e mais antigas, outras mais inovadoras e mais modernas. Pode dizer-se que na Baixa Pombalina estão presentes os sabores de quase todo o mundo, embora naturalmente sejam a gastronomia e a doçaria portuguesas as que mais se destacam.
Muitas casas, algumas delas centenárias, despertam o interesse dos gourmets do paladar apurado e do gosto pelas especialidades da gastronomia e da doçaria portuguesas. Algumas dessas casas são muito famosas, como acontece com os restaurantes Gambrinus, Martinho da Arcada ou João do Grão. Igualmente famosas são as pastelarias, como por exemplo a Ferrari, a Confeitaria Nacional, a Casa Brasileira ou a Casa Chinesa. Porém, as tascas especializadas em “vinhos e petiscos”, onde o visitante pode provar alguns dos mais apreciados petiscos portugueses, não são apenas famosas, como são um sinal identitário da Baixa Pombalina. Assim sucede, por exemplo, com a Tendinha, A Ginginha ou a Nova Pombalina.
A Nova Pombalina localiza-se na Rua do Comércio e, de vez em quando, utiliza uma peculiar publicidade que, além do mais, é baratinha. Junto a uma travessa de bem tostado leitão e duas cestas de apetecíveis bolas de pão caseiro cozidas em forno de lenha, por vezes está colada no vidro da respectiva montra uma toalha de papel onde, de forma insinuante, é pedido a quem passa: por favor não me lamba a montra.
Não sei se a frase é eficaz como mensagem publicitária, mas é certamente muito peculiar.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Obrigado, Ronaldo!

Cristiano Ronaldo voltou a dar uma grande alegria aos portugueses ao ser distinguido pela FIFA com a Bola de Ouro 2014, um troféu que distingue o melhor futebolista do mundo. Com mais esta distinção conquistada ontem em Zurique, Ronaldo não se confirma apenas como um desportista de grande valor, mas também como o mais famoso português de todos os tempos, com uma notoriedade global e com uma imagem internacional altamente positiva em todos os planos de exposição pública, designadamente profissional, desportivo e humano. Para quem tem preocupações culturais de outro tipo e não aprecia o fenómeno de massas que é o futebol, o elogio de Ronaldo poderá parecer exagerado quando comparado com as figuras que enchem páginas da nossa História e da nossa Cultura. Porém, quem viaja pelo mundo sabe que Ronaldo é hoje mais conhecido do que o seu próprio país e que Portugal é cada vez mais o país de Cristiano Ronaldo. 
Infelizmente, não temos tido outros casos de cidadãos portugueses que nos tenham dado alegrias desta natureza que tanto fortalecem a auto-estima nacional e muito alimentam o orgulho nacional da nossa diáspora, sobretudo pela sua cobertura mediática a uma escala planetária. Muitas vezes, ao longo do tempo, os portugueses viveram sob o peso das dificuldades económicas e sociais, perderam a independência, foram invadidos e, ainda muito recentemente, houve meio mundo que nos humilhou e nos impôs padrões de austeridade altamente gravosos.
A proeza de Ronaldo é um quase-resgate e o seu notável desempenho futebolístico tem sido amplamente divulgado, pelo que aqui se regista apenas o facto singular de nunca um português ter sido tão conhecido e tão apreciado no mundo. No momento da sua consagração, Ronaldo voltou a fazer uma grande jogada e, no seu discurso em português, declarou: “Obrigado aos portugueses, este título também é vosso”.
Naturalmente, os portugueses retribuem: Obrigado, Ronaldo!

sábado, 10 de janeiro de 2015

O 11 de Setembro Francês que é Europeu

Na sequência do bárbaro ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo e de tudo o que durante 52 horas se lhe seguiu, a edição de hoje do jornal belga LE SOIR inclui um suplemento especial no qual marca presença a opinião de 22 especialistas, de todas as tendências, sobre o que aconteceu em Paris e sobre a ameaça que afecta o mundo em que vivemos.
Numa breve apreciação desses textos parece haver grande unanimidade quanto à complexidade da situação que ameaça a Europa, embora as análises produzidas avaliem as respectivas causas de forma diversa. Para uns, o problema está sobretudo nas fraquezas das sociedades multiculturais e nas dificuldades de integração cultural das minorias; para outros, a situação resulta principalmente da incapacidade europeia para adoptar adequadas políticas de coesão social; para outros, ainda, o problema resulta maioritariamente da crise económica que repele um certo tipo de marginalizados, que são atraídos por “cantos de sereia”.
É sabido que nos últimos anos muitos estrangeiros partiram para a Síria e para o Iraque onde receberam treino militar a fim de integrarem as fileiras do ISIS e de outros grupos radicais que actuam na região.  As estimativas são muito imprecisas quanto ao número de jihadistas estrangeiros, mas são indicados cerca de 15 mil, provenientes de mais de 80 países. Serão mais de dois mil ocidentais, sobretudo franceses e ingleses, mas também belgas, alemães, holandeses, espanhóis, americanos, australianos e outros. Uma parte deles regressa, definitiva ou temporariamente aos seus países. As experiências por que passaram nas fileiras da jihad como testemunhas ou como participantes de atrocidades e de combates violentos, são muito marcantes. Uns não as quererão repetir, outros hão-de vangloriam-se de as ter feito, outros estarão disponíveis para as repetir e, outros, não saberão fazer outra coisa. Provavelmente os irmãos Kouachi pertenciam a este grupo.
Se o 11 de Setembro de 2001 mudou a América, provavelmente este “11 de Setembro Francês”, como ontem lhe chamou o Le Monde, também vai mudar a Europa.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Je suis Charlie Hebdo!

Ontem em Paris, pelas 11 horas da manhã, dois indivíduos encapuzados e fortemente armados assaltaram a redacção da revista satírica Charlie Hebdo e, com enorme frieza e crueldade, dispararam sobre jornalistas e polícias, provocando 12 mortes.
Eu conhecia vagamente o Charlie Hebdo e não sou grande apreciador do cartoon, mas sabia que a revista tinha sido ameaçada por ter publicado caricaturas de Maomé.
A barbaridade deste acto terrorista impressionou-me. O que aconteceu naquela redacção não foi apenas um ataque brutal contra pessoas indefesas e contra um jornal, o jornalismo e a liberdade de expressão, mas foi também um ataque contra o modelo de sociedade aberta, tolerante e plural em que temos vivido. O que se passou em Paris tem pouco a ver com a religião muçulmana, embora tenha uma relação íntima com a violência que se instalou na Síria, no Iraque e na Líbia.
Foi uma manifestação do ódio e da violência que já ameaçam a Europa e o mundo.
O choque que este acto criminoso provocou foi enorme em França e no estrangeiro, daí tendo resultado a solidariedade expressa por diversas formas por jornalistas e por jornais, rádios e televisões. Um pouco por todo  mundo, muitos milhares de pessoas solidarizaram-se com as pessoas assassinadas e exibiram cartazes com a frase “Je suis Charlie”, enquanto as primeiras páginas dos grandes jornais internacionais evocaram a memória dos mártires. Porém, o ataque ao Charlie Hebdo não é apenas um acto de terrorismo e uma ameaça ao jornalismo, pois constituiu também um ataque a um dos princípios mais importantes das nossas sociedades: a liberdade de pensamento e de expressão. Além disso, a partir de ontem tornámo-nos menos livres e mais inseguros nos nossos quotidianos, cada vez mais ameaçados pela brutalidade e pela intolerância de alguns fanatismos. 
O diário Le Parisien destaca em título “ils ne tueront pas la liberté” e, apesar de tudo, essa deve ser a lição a tirar destes trágicos acontecimentos que não deixarão de marcar o nosso futuro próximo. 

Mandar es servir

Na primeira mensagem que dirigiu às Forças Armadas de Espanha nas celebrações da Páscoa Militar, o Rei Filipe VI recordou várias vezes que acompanha a vida militar desde há cerca de 30 anos quando “tive o privilégio de começar a minha formação castrense junto a muitos de vós” e lembrou a sua frequências das academias do Exército (Saragoça), da Marinha (Marin) e da Força Aérea (San Javier).
Nesse discurso, o Rei afirmou que “mandar é servir e não haverá dia em que deixe de recordar este princípio”. Todos os grandes jornais espanhóis destacaram esta mesma frase dirigida aos militares, embora ela também seja dirigida a todos os servidores do Estado e à sociedade civil. Com esta simples frase, o Rei deu uma enorme lição aos aparelhistas que tomam conta das estruturas do Estado, não para o servirem, mas para se servirem.
Aqui em Portugal temos uma república e, portanto, não temos um Rei. Talvez por isso, também temos outro tipo de mensagens e a ideia de servir que é característica da ética republicana raramente é mencionada. Aqui, a noção de serviço público e de devoção à causa pública estão em vias de extinção. Os dirigentes do Estado que servem a causa pública vão sendo cada vez menos e a ideia de servir está a desaparecer da ética pública. Sabemos como os grandes partidos políticos dividem entre si os lugares do Estado ou dele dependentes, que são distribuidos por gestores, administradores e directores identificados com o centro político e sem que, muitas vezes, tenham os requisitos mínimos para ocupar essas funções e também sabemos como essa gente arranja emprego para os amigos como assessores e consultores. Essa gente depois de instalada não pensa em servir o Estado, mas tão só em assegurar os seus próprios interesses ou do seu grupo.
“Mandar es servir” bem podia ser uma frase a colocar sobre as mesas de trabalho de muitos dirigentes portugueses.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Desemprego e centrais de propaganda

Na sua recente mensagem de Natal o Primeiro-Ministro disse que “entrámos numa nova fase […] de aumento do emprego” e, poucos dias depois, o Presidente da República afirmou que “a economia está a crescer […] e o desemprego diminuiu”. São duas vozes institucionais com formação económica e que têm à sua volta muitos assessores e consultores que os deviam ter prevenido para a nossa realidade, em que nem “o emprego aumenta”, nem “o desemprego diminui”. De facto, toda a gente sabe que o emprego não está a aumentar pelo que aquelas declarações só podem magoar e ofender os que não têm emprego e os que continuam a ser forçados a emigrar. O crescimento do chamado “falso emprego” criado em absoluta precaridade pelo próprio Estado, através de alguns milhares de estagiários e de desempregados que estejam a receber subsídios, não deu para encobrir a realidade.
Hoje, no seu primeiro Comunicado de Imprensa de 2015 (News Release 1/2015) o Eurostat veio anunciar os mais recentes valores do desemprego: 11.5% para a Zona Euro (EA18), 10,0% para a UE28 e 13,9% para Portugal. Aquele comunicado destaca que só a Grécia, a Espanha, o Chipre e a Croácia têm mais desemprego do que Portugal e revela também que Portugal é o país da Europa que nos últimos dois meses registou o maior agravamento da taxa de desemprego, que passou de 13,3% para 13,9%, o mesmo acontecendo com a taxa de desemprego jovem (< 25 anos) que aumentou de 12,5% para 13,8%. Portanto, Portugal registou a maior degradação do mercado de trabalho em toda a União Europeia e, tanto o Primeiro-Ministro como o Presidente da República disseram o contrário. Não dá para acreditar! Belém e São Bento não podem ser centrais de propaganda. Têm que se dar ao respeito. Será que cederam aos seus interesses partidários ou que pensam que uma mentira muitas vezes repetida se torna uma verdade?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A mais lusitana cidade norte-americana

Fall River é uma pequena cidade costeira do Estado de Massachusetts, na costa oriental dos Estados Unidos, nela estando fixada uma importante comunidade portuguesa ou de origem portuguesa. Estima-se que 49% da população residente na cidade seja de origem portuguesa ou seja proveniente do antigo ultramar português e, apesar dos fenómenos de integração e de aculturação que “americanizam” os emigrantes, há 37% de residentes que se reclamam de origem portuguesa. Em termos percentuais, na cidade de Fall River reside a maior comunidade luso-americana dos Estados Unidos e, naturalmente, existem na cidade vários restaurantes portugueses – Caldeiras, Lusitano, Clipper, Academica, Barcelos, Estoril, Marisqueira Azores e outros que publicitam a boa comida portuguesa.
Na cidade publica-se o The Herald News, um jornal diário fundado em 1872, que no seu noticiário reflecte frequentemente os interesses da comunidade portuguesa.
Assim aconteceu na edição de hoje, em que o jornal anuncia em primeira página e com duas fotografias, a reabertura para breve de dois restaurantes de referência na cidade: o Sagres e o Mesa 21. Ambos tinham sido vítimas de incêndio e o jornal informa que são “two of the city’s landmark restaurants”.
O Restaurante Sagres é propriedade de Vítor da Silva e é considerado o melhor restaurante português da cidade. Fica localizado em 177 Columbia St. e foi destruído no dia 6 de Julho de 2013 por um incêndio que deflagrou num apartamento localizado por cima do restaurante.
O Restaurante Mesa 21 é propriedade de Peter de Sousa, fica localizado em 21 Lindsey St. e também foi destruído por um incêndio.
Ambos vão reabrir em breve. É bem curioso verificar como a reabertura de dois restaurantes tem destaque no principal jornal da cidade, a evidenciar como Fall River é a mais portuguesa cidade dos Estados Unidos.

A enorme degradação do serviço público

Nos últimos tempos temos sido surpreendidos por notícias relativas a uma generalizada falta de pessoal nos serviços do Estado, de que vem resultando uma degradação da qualidade dos serviços, com notórios prejuízos para os utentes e para a população em geral. Há tempos foi a questão da colocação dos professores e o atraso no arranque escolar em muitas regiões do país. Depois foi o bloqueio do sistema de justiça por razões informáticas, mas também por falta de pessoal. A seguir tivemos a Segurança Social a mandar centenas de trabalhadores para a requalificação que, como sabemos, é a ante-câmara do desemprego. Agora foi a notória falta de médicos e de outro pessoal de saúde em diversos hospitais, de que resultaram inadmissíveis tempos de espera e casos de morte à porta das urgências hospitalares. Reduzir serviços, dispensar pessoal e comprimir despesas, tem sido o lema. Tudo isto acontece pela obcessão governamental pelo chamado emagrecimento do Estado, embora os responsáveis esqueçam que essa redução deva “manter a qualidade na prestação do serviço público”.
Hoje o Jornal de Notícias vem dar-nos uma explicação: a Função Pública encolheu o dobro do exigido pela troika.
Desde 2011, o ano em que a troika chegou a Portugal, a Função Pública perdeu cerca de 80 mil trabalhadores e a redução está a decorrer a um ritmo que, no mínimo, é o dobro daquilo que foi programado. De facto, o Memorando de 17 de Maio de 2011 estipulava: “limitar admissões de pessoal na Administração Pública para obter decréscimos anuais em 2012-2014 de 1% ao ano na Administração Central e de 2% nas Administrações Local e Regional”. Porém, tal como prometeram e se vangloriaram, os governantes quiseram ir para além da troika. E foram. Assim, eles são os responsáveis por esta degradação da qualidade dos serviços públicos a que temos direito.

sábado, 3 de janeiro de 2015

A economia a crescer? Eu não sabia...

Nos discursos de Natal e de Fim do Ano ouvimos os nossos dirigentes máximos algo preocupados com as eleições que se avizinham e com um alerta para que não deitemos “tudo a perder” ou o aviso de que o país “não pode regredir”. Ouvimos um a dizer que “a economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajectória de recuperação e o desemprego diminuiu”, enquanto o outro nos disse que “entramos numa nova fase, uma fase de crescimento, de aumento do emprego”, com a economia a registar “um crescimento moderado, mas sustentado”. Dizem a mesma coisa, a lembrar-nos o Dupond e o Dupont, aquelas figuras gémeas que Hergé criou para enriquecer as aventuras de Tintim.
A generalidade da população não vê nada disso. Pelo contrário, vê pobreza, desemprego, emigração e desesperança. Por isso, ao consultar as estatísticas é preciso ter muito cuidado, porque quando são mal lidas, são muito mentirosas.
No entanto, um dos indicadores percursores da actividade económica é a evolução do mercado automóvel e o facto é que as vendas de veículos ligeiros e pesados em Portugal aumentaram 36,1% em 2014, segundo revelou a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) e este facto parece dar alguma razão aos nossos dirigentes que tão optimistas se mostraram na análise do estado da nossa economia. Assim, em 2014 foram vendidas 172.390 viaturas novas em Portugal e o ranking das vendas de veículos ligeiros foi o seguinte: Renault (21.670), Peugeot (16.893), Volkswagen (16.014), Mercedes (11.385), Citroën (11.212), BMW (10.344) e Opel (10.344). Além disso, a Porsche vendeu 395 unidades (mais 45% do que em 2013) e a Ferrari vendeu 15 unidades (mais 66% do que em 2013), para além de terem sido vendidos 13 Maserati, 8 Aston Martin e 4 Bentley. Ora aqui está a prova provada de que “entramos numa nova fase” e que afinal “a economia está a crescer”, embora à custa do consumo interno e não das exportações como seria desejável. Então é caso para perguntar quantos pares de sapatos será necessário exportar para pagar aqueles 15 Ferraris e 13 Maseratis?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Macau: essa palavra saudade…

Decorreram 15 anos desde o dia 20 de Dezembro de 1999 que assinala a data em que as autoridades portuguesas transferiram a administração do território de Macau para as autoridades da República Popular da China.
A história da presença portuguesa em Macau é um dos mais interessantes capítulos da História de Portugal e prolongou-se por mais de quatro séculos. Durante um tão longo período a pequena Povoação do Nome de Deus do Porto de Amacau na China atraiu o interesse de aventureiros, mercadores e religiosos, tornou-se numa verdadeira cidade-Estado, progrediu e tornou-se uma cidade cosmopolita e um importante entreposto comercial nas relações entre a China, a Europa e o Japão. Perante os importantes acontecimentos que ao longo dos tempos ocorreram naquela região asiática, as autoridades portuguesas de Macau sempre tiveram a sabedoria diplomática necessária para assegurar a soberania portuguesa com dignidade, embora por vezes em algumas situações de maior tensão.
Quando a transferência da soberania se concretizou, as autoridades chinesas reconheceram repetidamente que a administração de Macau sempre manteve uma cooperação amistosa com a China e esse reconhecimento permitiu manter as pontes para o futuro. Assim, a língua portuguesa continuou a ser uma das duas línguas oficiais de Macau e o património, as instituições e as memórias portuguesas puderam perdurar, não deixando de ser curioso que em 2005 o Centro Histórico de Macau tenha sido declarado Património da Humanidade pela UNESCO, enquanto testemunho do pioneirismo e da mútua influência cultural entre o Ocidente e o Oriente. Por isso, o Hoje Macau – um dos quatro jornais macaenses que se publica em língua portuguesa – publicou um suplemento alusivo ao 15º aniversário da criação da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China, no qual utilizou a fotografia da gruta e do busto de Camões que se encontra no Jardim de Camões em Macau e, ainda, um sugestivo título: Essa palavra saudade…

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Um bom ano para todos os meus leitores

A chegada de um novo ano é festejada em quase todo o mundo, não só porque representa o início de um novo ciclo em que se renovam as esperanças em dias melhores para a saúde ou para os negócios, mas também porque se tornou num ciclo festivo que entusiasma e estimula a vontade dos homens. O culto da passagem do ano continua a estar associado à ideia de abundância e daí a fartura das grandes celebrações gastronómicas que enchem muitos salões, assim como as festas populares cada vez mais sofisticadas que inundam de alegria as ruas e as praças das cidades. Porém, a passagem do ano também mantém algumas tradições e rituais particulares como sejam as corridas de São Silvestre, os banhos de mar nas águas frias de algumas praias ou até, aquela costumeira e desinteressante reportagem em que os repórteres identificam o primeiro bébé do ano.
Nos últimos tempos, em consequência de factores económicos e culturais diversos, as celebrações da passagem do ano globalizaram-se e generalizaram-se os espectáculos de luz e cor em que as cidades competem entre si com vistosos fogos de artifício, não só para animar as suas populações, mas também para atrair visitantes e, dessa forma, dar um incremento económico às respectivas comunidades.
Nas primeiras horas do novo ano as televisões e os jornais internacionais fazem sempre uma exaustiva divulgação das imagens dos festejos em Auckland e Hong Kong, Dubai e Moscovo, Nova York e Paris, Chicago e Londres, Rio de Janeiro e Berlim, mas as televisões portuguesas também nos mostraram as imagens dos festejos realizados no Funchal, em Lisboa, no Porto e em outras cidades.
Para assinalar o início de 2015 e como forma de desejar um bom ano a quem ler este texto, escolhi a expressiva primeira página da edição de hoje do The Daily Telegraph que se publica em Sydney.
Um bom ano para todos os que visitam a Rua dos Navegantes!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Eu escolho o Pedro como figurão do ano

Quando termina o ano, as agências noticiosas e os órgão de comunicação social tratam de escolher os acontecimentos e as figuras do ano, através das mais diversas consultas. Este ano, assim voltou a acontecer e, de uma forma geral, todas as escolhas incidiram no Papa Francisco, no futebolista Ronaldo, no cantor Carlos do Carmo, na vitalidade cívica de Mário Soares, no surpreendente caso BES ou na detenção do ex-PM Pinto de Sousa. Eu permito-me discordar dessas opiniões e escolher o Pedro (PPC) como figura do ano. Mais do que uma figura, ele foi realmente um figurão.
PPC é o nosso primeiro-ministro desde 21 de Junho de 2011 e é aquele jovem de estudos tardios que, antes de ganhar as eleições, dissera que estava preparado, que tudo tinha estudado e que não seria necessário despedir pessoas nem cortar salários ou pensões. Porém, era mentira. Quando chegou a São Bento esqueceu-se do que tinha dito e com as suas políticas vieram os cortes nos salários e nas reformas, o aumento dos impostos, a precaridade no emprego, assim como a má prestação nos serviços de educação e de saúde por falta de pessoal e de material. O défice orçamental ficou na mesma e a dívida pública aumentou. A vulnerabilidade económica acentuou-se, a coesão social enfraqueceu, a pobreza aumentou e a desesperança instalou-se. Somos realmente um navio à deriva.
Milhares de portugueses perderam o emprego e outros tantos milhares emigraram. Muitos cientistas, médicos, engenheiros, arquitectos, pilotos de linha aérea e enfermeiros, entre outros profissionais, cuja formação tanto custa ao país, deixaram-nos e foram enriquecer outras economias, seguindo o conselho de PPC e do seu antigo braço direito Relvas, que bem incentivaram para que os portugueses emigrassem. Diz a Ordem dos Médicos que em 2014 houve 269 clínicos que pediram certificados para exercer a profissão noutro país e diz a Ordem dos Enfermeiros que desde 2011, recebeu 7564 pedidos de certificados de emigração para exercício da actividade no estrangeiro. Não precisamos de mais exemplos para mostrar a brutal sangria que estas políticas de PPC estão a fazer ao nosso país, que servem outros interesses que não os dos portugueses. E com um inclassificável despudor, ainda há poucos dias, a minha figura do ano nos avisou que mudar de políticas e de governo seria “deitar tudo a perder”. Como é possível tanta insensibilidade e tamanha cegueira política?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um grande jornal, uma grande instituição

O Diário de Notícias completou hoje 150 anos de vida e esse facto merece ser destacado, porque não é comum que as entidades empresariais portuguesas nascidas no século XIX, designadamente aquelas que têm por objecto a edição de periódicos, tivessem chegado ao século XXI. Neste tão longo período, o Diário de Notícias atravessou regimes políticos e situações económicas muito diferentes mas, no essencial, manteve a confiança dos seus leitores e dos seus anunciantes, tornando-se num referencial da imprensa portuguesa e numa verdadeira instituição cultural.  
Em boa hora, o jornal decidiu celebrar essa relevante efeméride com diversas iniciativas, de que se destaca uma edição especial com 144 páginas impressas em papel couché e em formato berliner, que o próprio jornal classifica como “uma espécie de viagem no tempo” e que recomenda que seja “para guardar”.
Esta edição especial foi hoje distribuida com a edição diária do jornal e é, realmente, uma viagem pelos grandes acontecimentos dos últimos 150 anos ou uma lição de História. A reprodução fac-similada da primeira edição do Diário de Notícias, datada de 29 de Dezembro de 1864, é o elemento mais interessante da edição, na qual se incluem textos apropriados de alguns escritores de referência como António Lobo Antunes, Manuel Alegre, Mário Cláudio, Gonçalo M. Tavares, Lídia Jorge ou Miguel Sousa Tavares. Como curiosidades, a edição “serve” aos leitores duas interessantes preciosidades: as quatro reportagens que Eça de Queirós fez da inauguração do Canal do Suez em 1870 e a entrevista de António Ferro a Adolf Hitler em 1930, pouco tempo antes do entrevistado se ter tornado o Führer da Alemanha.
150 anos de idade são por si só uma notável efeméride de uma entidade que conheceu a Monarquia e a República, a Ditadura e a Democracia. Esta edição especial do Diário de Notícias celebra-a condignamente.