domingo, 5 de novembro de 2017

Moçambique e a febre dos Mercedes

Em meados do corrente ano, o governo de Moçambique adquiriu 18 viaturas Mercedes-Benz para atribuir a deputados da Assembleia da República, que custaram cerca de três milhões e quinhentos mil euros e essa decisão provocou polémica e muita indignação, porque o país atravessa uma grande crise financeira, tem grandes manchas de pobreza e tem adoptado medidas de austeridade muito severas. O semanário Savana que se publica em Maputo associou-se a essa indignação e, na sua última edição, destaca que “há Mercedes a mais na Pérola do Índico”.
A imprensa moçambicana tem criticado os excessos de despesa com a compra de viaturas e tem salientado as muitas as carências básicas do país, aludindo à falta de medicamentos nos hospitais, à necessidade de carteiras escolares, à falta de papel e de tinteiros nas repartições públicas e à precaridade dos transportes públicos que transporta os passageiros em condições desumanas. A crítica à actuação governamental também se tem centrado na execução do Programa Estratégico para a Redução da Pobreza Urbana que recebe uma verba semelhante à que foi afectada à aquisição de viaturas.
Agora, indiferente a uma generalizada indignação que nascera com a aquisição dos 18 Mercedes-Benz destinados a deputados, o governo moçambicano decidiu comprar mais 45 viaturas de luxo para dirigentes do Estado, em que abundam os Mercedes-Benz e os Toyota Land Cruisers, tendo a respectiva factura atingido um milhão e seiscentos mil euros.
É um escândalo nacional esta febre pelos bons carros. O Presidente da República, Filipe Nyusi, não tem deixado de criticar o despesismo da administração pública moçambicana, sobretudo em relação à aquisição de viaturas e à mentalidade de alguns dirigentes que não abdicam de viatura para a cidade e viatura para o campo. Onde terão aprendido estas vaidades os dirigentes moçambicanos?

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O independentismo catalão não cede

A Catalunha é uma das 17 comunidades autónomas de Espanha, tem língua, história e cultura próprias e, também, tem a aspiração de se tornar um estado independente. É uma história que tem alguns séculos e que terá começado quando, na segunda metade do século XVI, o rei Fernando de Aragão casou com a rainha Isabel de Castela, levando à unificação da Espanha, que passou a integrar a Catalunha. Mais tarde, com a guerra da Sucessão em que a Europa e a Espanha se dividiram, aconteceu o cerco de Barcelona e a sua rendição no dia 11 de Setembro de 1714. A soberania catalã foi então abolida e foram impostos a língua e os costumes castelhanos, fazendo da Catalunha uma “província espanhola” tutelada por Madrid. Quando em 1931 a Espanha se tornou uma república, a Catalunha voltou a conquistar a autonomia, mas perdeu-a com a ditadura franquista. A restauração da democracia trouxe a autonomia de novo à Catalunha em 1979.
A Catalunha tem, portanto, um arreigado e secular sentimento independentista e as aspirações catalãs não podem ser ignoradas. Porém, como não estamos no tempo de libertadores nem de caudilhos, tudo tem que cumprir certos preceitos, designadamente o da legalidade interna e a da aceitação internacional.
Acontece que o governo da Catalunha foi longe de mais e no dia 1 de Outubro avançou para um pseudo-referendo e inventou algumas centenas de feridos resultantes da violência policial castelhana. Só acreditou quem quis, mas a escalada da tensão entre Madrid e Barcelona acentuou-se. No dia 27 de Outubro, um grupo de 70 dos 135 deputados do Parlamento da Catalunha votou a Declaração Unilateral de Independência. Ninguém a reconheceu externamente. A resposta de Madrid foi dura ao anular aquela declaração, demitir o governo e suspender a autonomia catalã. Alguns responsáveis políticos foram presos, mas Carles Puigdemont está ausente em Bruxelas, numa atitude de grande cobardia e, eventualmente, de traição à causa catalã. Entretanto, a imprensa catalã colocou-se abertamente contra a repressão das autoridades de Madrid e tem-se mobilizado na defesa da autonomia e dos governantes catalães e, na sua edição de hoje, o diário catalão EL Punt Avui publica o cartaz que exige a libertação dos presos políticos.  
Como aqui escrevemos no dia 29 de Setembro a “aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que os Puigdemont e os Oriol Junqueras”.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Macau - Creative City of Gastronomy

A imprensa de Macau destacou hoje a recente atribuição do título de Creative City of Gastronomy que foi conferido à cidade pela Unesco Creative Cities Network (UCCN), durante o XI UCCN Annual Meeting que terminou no passado dia 31 de Outubro na cidade francesa de Enghien-les-Bains. O jornal Macau Post destaca aquela notícia na sua edição de hoje e apresenta uma entrevista com Maria Helena de Senna Fernandes, a directora do Gabinete de Turismo do Governo de Macau, em que salienta a importância que terá para o turismo macaense o facto da cidade passar a ser membro da UCCN.
A UCCN foi lançada em 2004 pela Unesco como um projecto destinado a promover a cooperação entre as cidades que apostam na criatividade, na inovação e nas indústrias culturais como factores estratégicos para a promoção do seu desenvolvimento sustentável e, actualmente, já agrega 180 cidades de 72 países, que se distribuem pelas sete categorias ou campos em que as cidades mais se distinguem na área da criatividade: Artesanato e folclore, Media arts, Cinema, Design, Gastronomia, Literatura e Música.
Embora se trate de atributos ou rótulos ainda sem significativo impacto, verificamos que há algumas cidades portuguesas que já são membros da UCCN, assim sucedendo com Óbidos (Literatura) e Idanha-a-Nova (Música) desde 2015, mas também com as cidades de Amarante (Música), Barcelos (Artesanato) e Braga (Media arts), que foram aceites na recente reunião de Enghien-les-Bains.
Com a adesão a esta interessante iniciativa da Unesco, as cidades lutam pela vida, pela sua notoriedade e pelo seu reconhecimento.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A violência que tanto amedronta o Brasil

O Brasil ou República Federativa do Brasil é um grande país e, segundo revelam os rankings, é o 5º maior país do mundo e, com mais de 200 milhões de habitantes, é o 6º país mais populoso do planeta. É, provavelmente, o mais multicultural e multiétnico país do mundo, devido à imigração que recebeu de todas as partes do mundo.
As suas potencialidades económicas são enormes, bem como o dinamismo da sua população, mas esses factos não excluem o país das crises cíclicas que, um pouco por todo o mundo, afectam o progresso das populações e geram demasiada instabilidade social. Há razões exógenas e endógenas para o aparecimento dessas crises e dessa instabilidade, que têm contornos muito diversos, em que se cruzam a ineficácia dos poderes públicos, o desemprego, a pobreza e de uma forma geral uma cultura de violência. 
A edição de hoje da Folha de S. Paulo salienta que, com base nos números ontem divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativos ao ano de 2016, o número de mortes violentas intencionais registadas no Brasil atingiu 61.619 pessoas, o que representa um acréscimo de 4,7% em relação ao ano anterior e se traduz num impressionante indicador: uma média de sete mortes violentas por hora. Esse indicador revela níveis de insegurança e de violência extremas, com uma taxa média nacional de mortes violentas de 29,9 assassinatos por 100 mil habitantes, com maior incidência nos Estados nordestinos de Sergipe, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Outras informações divulgadas pelo mesmo jornal mostram que em 2016 foram mortos 437 polícias brasileiros em acções violentas e que se verificaram 557 mil roubos de veículos, o que representa o furto de um veículo por minuto.
Hoje a violência e a insegurança estão espalhadas por todo o país e já não são exclusivas dos grandes Estados. É um problema nacional que amedronta a população brasileira.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Da costa do Malabar ao Estado de Kerala

Na sua edição de ontem, o diário The Washington Post, provavelmente o mais influente jornal americano, decidiu evocar na sua primeira página a passagem do centenário da Revolução de Outubro, com uma fotografia de Lenine e uma alargada reportagem intitulada “One of the few places where a communist can still dream”. Esse lugar é o Estado de Kerala, situado na costa ocidental da península do Industão e que é um dos 28 estados da União Indiana. Tem cerca de 36 mil quilómetros quadrados de superfície, cerca de 35 milhões de habitantes e a sua capital é a cidade de Trivandrum, um porto do mar Arábico situado no extremo sul do seu território.
O Estado de Kerala não foi constituído em 1947 aquando da independência da Índia e, tal como em muitas regiões do subcontinente indiano, só veio a ser formado mais tarde. A criação do estado e as primeiras eleições aconteceram em 1956 e o vencedor foi o Communist Party of India que formou o governo, considerado o primeiro governo comunista eleito livremente no mundo. Desde então, a coligação liderada por aquele partido tem alternado o poder com a coligação liderada pelo Indian National Congress, tendo sido desenvolvidos com sucesso muitos programas de desenvolvimento social ao longo dos anos. O resultado foi a transformação de Kerala no melhor exemplo indiano do progresso, tendo todos os seus indicadores económicos e sociais acima da média indiana, assim sucedendo com o mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, a mais elevada esperança de vida, a maior taxa de alfabetização, a menor taxa de mortalidade infantil e a melhor saúde pública. Além disso, é considerado pela Transparência Internacional como o “estado menos corrupto da Índia”, que é um dos países mais corruptos do mundo.
A orla costeira do Estado de Kerala é a costa do Malabar, onde há menos de quatro séculos existiam as fortalezas ou feitorias portuguesas de Cananor (Kannur), Calicute (Kozhikode), Cranganor (Kodungallur), Cochim (Kochi) e Coulão (Kollam), entre outras. Quem percorra aquela região não tem dificuldade em notar alguns traços de influência cultural portuguesa, porque alguma coisa por lá ficou, nomeadamente na língua, no património religioso e militar, nas práticas religiosas e até nos apelidos adoptados, pois nas listas telefónicas da região não faltam os almedas, os costas, os souzas, os pereras e outros nomes que nos são comuns.

domingo, 29 de outubro de 2017

Volvo Ocean Race de novo em Lisboa

A primeira etapa da edição de 2017-2018 da Volvo Ocean Race saiu de Alicante, navegou até à ilha da Madeira e, depois de percorrer cerca de 1450 milhas, já chegou a Lisboa. É a terceira vez consecutiva que a maior prova de vela oceânica que se disputa à volta do mundo escala o porto de Lisboa, o que é muito prestigiante para a imagem de modernidade e cosmopolitismo da capital portuguesa.
A famosa prova surgiu em 1973 e denominava-se Whitbread Round the Word Race, mas a partir de 2001 passou a ser patrocinada pelo mais conhecido fabricante de automóveis sueco e passou a designar-se como Volvo Ocean Race, disputando-se de três em três anos. Como norma, a regata sai da Europa para a África do Sul, segue depois para a Austrália, visita portos chineses para satisfazer patrocinadores, desce em latitude para escalar a Nova Zelândia, navega pelos mares do sul para contornar o cabo Horn, percorre o Atlântico ocidental até Newport e regressa à Europa. São cerca de 40 mil milhas e estima-se que, a actual corrida, termine na Holanda na última semana de Junho de 2018.
Nesta 13ª edição da prova participam sete embarcações, que são conhecidas como a Formula 1 da vela e cujas tripulações se caracterizam pela sua heterogeneidade, pois são provenientes de muito diferentes países, um pouco como acontece com as grandes equipas do futebol internacional.
Ontem, dia 28 de Outubro, todas as sete equipas participantes chegaram à doca de Pedrouços, com diferenças mínimas entre si, mas o primeiro foi o Vestas 11th Hour Racing, que iça bandeira americana e cujos nove tripulantes têm nacionalidade americana (3), australiana (2), inglesa (2), irlandesa (1) e neozelandesa (1). Foi, naturalmente, um grande espectáculo e uma bonita festa, a que não faltaram muitas centenas ou milhares de curiosos.
Assinala-se que entre as seis dezenas de tripulantes das sete embarcações concorrentes há dois portugueses: António Fontes é tripulante do AkzoNobel que hasteia bandeira holandesa e Bernardo Freitas é tripulante do Turn the Tide on Plastic que enverga o pavilhão das Nações Unidas.
Até ao dia 5 de Novembro o centro mundial da vela oceânica estará na doca de Pedrouços e, como aconteceu antes, para lá convergirão muitos milhares de curiosos.

sábado, 28 de outubro de 2017

A aventura independentista da Catalunha

Ontem, por motivos diferentes, foi um dia histórico para a Espanha e, em especial, para a Catalunha: o parlamento catalão proclamou a sua independência unilateral e o governo espanhol aplicou pela primeira vez o artigo 155º da Constituição que suspende a autonomia catalã.
Como consequência, o governo de Carles Puigdemont foi demitido, o parlamento catalão foi dissolvido e foram convocadas eleições autonómicas antecipadas para o dia 21 de Dezembro.
Parece um golpe e um contra-golpe, a revelar uma situação grave, complexa e preocupante.
O fim-de-semana que hoje começa afigura-se como um tempo de reflexão para as duas ideias que se confrontam, simbolizadas nas palavras Barcelona e Madrid ou em Catalunha e Espanha. Ninguém sabe o que se vai passar. O salto foi muito grande, como hoje escreve o Libération. Ninguém sabe como os catalães vão exercer uma independência que ninguém reconhece, nem como o governo de Mariano Rajoy vai assumir os poderes directos da administração da Catalunha. Ninguém sabe a quem vai obedecer a polícia catalã, os tão falados Mossos d’Esquadra, nem como reagirá a população a alguns apelos que já circulam para a desobediência civil generalizada. Ninguém sabe se a fuga de empresas vai continuar ou quando ficarão vazios os cofres catalães, sem o suporte do Estado espanhol. O isolamento da Catalunha é absoluto e a imprensa internacional utiliza expressões como “à beira do abismo” ou “um salto no escuro” para caracterizar a situação, até porque já é evidente que, aconteça o que acontecer, a Catalunha vai passar por uma enorme crise económica e uma grande instabilidade social. Naturalmente, a Espanha não deixará de ser contagiada pelas consequências económicas da crise catalã e o rectângulo lusitano não ficará imune à doença do seu principal parceiro comercial.
Todos temem que “este comboio desgovernado” que tem sido o processo independentista catalão provoque as sua vítimas, ou mesmo os seus mártires, o que daria algum alento a uma causa que, por agora, parece estar perdida devido à maneira aventureirista e incompetente como foi conduzida por Carles Puigdemont e seus aliados.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Putin: o novo czar de todas as Rússias

A revista The Economist, uma prestigiada publicação inglesa dedicada aos assuntos políticos e económicos internacionais, escolheu como tema principal da sua última edição a Federação Russa e o seu actual líder Vladimir Putin, a propósito da passagem do primeiro centenário da revolução russa de Outubro de 1917, também conhecida como Revolução Bolchevique ou Revolução Vermelha.
Como consequência da insatisfação popular, no dia 25 de Outubro de 1917  as forças bolcheviques ocuparam o Palácio de Inverno em Moscovo e sob a direcção de Vladimir Lenine tomaram o poder, forçaram a retirada russa da 1ª Guerra Mundial, desencadearam uma violenta guerra civil e, em 1922 , criaram a União Soviética (URSS).
A intenção de levar a revolução a todo o mundo foi tenazmente perseguida pela URSS, sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial, em que esteve ao lado dos vencedores. O seu poder militar e o seu pioneirismo aeroespacial foram marcantes na imagem internacional da URSS, mas muitas coisas correram mal, a crise instalou-se e o regime implodiu.
A URSS foi dissolvida em 26 de Dezembro de 1991, através de uma declaração do Soviete Supremo que reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas, enquanto o presidente Mikhail Gorbachev entregava o poder (e os códigos do arsenal nuclear soviético) ao novo presidente russo Boris Iéltsin. Foi um período muito duro para os russos, muitas vezes humilhados no plano internacional.
A partir de 1999, na sequência da renúncia de Iéltsin, a Federação Russa passou a ser governada por Vladimir Putin, um ex-agente do KGB e chefe dos serviços secretos soviéticos e russos. A Rússia reergueu-se e a sua voz passou a ser escutada no mundo. Dezassete anos depois de ter chegado ao poder, ora como Primeiro-ministro, ora como Presidente, Vladimir Putin tem reafirmado a força do seu país após as humilhações da década de 1990 e tem mostrado à comunidade internacional as suas ambições, designadamente na anexação da Crimeia e nas campanhas da Síria e da Ucrânia. Hoje está recuperado o prestígio russo no seio da comunidade internacional e o The Economist considera Putin o novo czar de todas as Rússias, um czar pós-moderno e o mais poderoso dirigente russo depois de Staline mas, apesar de ter apenas 65 anos de idade, já há quem discuta o problema da sua sucessão.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Ronaldo é o homem que ganha tudo

Na passada segunda-feira a FIFA distribuiu The Best FIFA Football Awards 2017, isto é, os prémios para os melhores do mundo do futebol em 2017, tendo distinguido Cristiano Ronaldo com o prémio do Melhor Jogador de Futebol Masculino da FIFA. Pela quinta vez, Ronaldo foi considerado o melhor futebolista do mundo com 43,16% dos votos, superando o argentino Lionel Messi (19,25%) e o brasileiro Neymar Júnior (6,97%). Mais uma vez, a televisão e os jornais mundiais destacaram este acontecimento e, depois da onda de notícias trágicas sobre Portugal dos últimos dias, o mundo viu e ouviu falar de Portugal por boas razões.
O responsável foi o indíviduo do costume e, mesmo aqueles que não gostam de futebol, não podem deixar de felicitar o Cristiano Ronaldo por esta escolha feita pelo voto de treinadores e capitães das selecções nacionais, jornalistas e público. A notícia e a sua fotografia apareceram na primeira página de muitas dezenas de jornais de todo o mundo, por vezes ocupando todo o seu espaço editorial, assim acontecendo por exemplo com o diário desportivo mexicano Esto, que reconheceu o acerto da escolha da FIFA e escolheu uma sugestiva frase para a notícia: Gana Todo.
Na mesma cerimónia que distinguiu Cristiano Ronaldo, também foi anunciado o nome do Melhor Treinador de Futebol Masculino da FIFA que foi Zinedine Zidane, o francês que treina a equipa do Real Madrid, sendo curioso verificar que José Mourinho (5,28%) e Leonardo Jardim (4,84%), ficaram em 5º e 6º lugar na classificação dos treinadores.
Em síntese, Portugal não é apenas o Campeão da Europa de futebol, mas também tem treinadores de excelência e, ainda, o melhor jogador do mundo, aquele que gana todo.

domingo, 22 de outubro de 2017

A nova gestão emocional das calamidades

Afectos (Fonte: ilustragargalo.blogspot.com)
Os incêndios do passado fim-de-semana em Portugal foram uma calamidade e têm gerado reacções muito emocionadas por parte dos agentes políticos, umas mais sentidas e outras cheias de hipocrisia, outras inesperadas e outras tão oportunistas que, em conjunto, bem podem ser consideradas como um case study de uma nova disciplina a designar como Gestão emocional das calamidades públicas.
Os exemplos são muitos, mas basta ver alguns. O presidente da República levou a sua presença e uma palavra de alento às regiões sinistradas, mas rapidamente se deslumbrou e passou dos afectos a uma inoportuna e despropositada campanha de promoção pessoal; o primeiro-ministro esteve no meio de uma tempestade perfeita e viu-se cercado pelos estagiários do microfone e pelos comentadores de serviço, pelo que não reagiu bem à situação e até admitiu que não fez uma boa gestão emocional da tragédia; a deslumbrada jovem que dirige os centristas ainda inconformados com o seu afastamento do arco do poder, quis aproveitar a transição que se vive no PSD para sair da sua insignificância política, tratando de apresentar uma moção de censura ao governo e exigir o corte de cabeças, quando os incêndios ainda não estavam dominados.
Todas estas reacções merecem uma análise profunda que cada cidadão não dispensa de fazer Foi o que fez o cartoonista Vasco Gargalo que criou um cartoon com o título Afectos, dedicado a Marcelo Rebelo de Sousa e que publicou no passado dia 20 de Outubro no seu blogue.
A oportuna intervenção afectiva e solidária de Marcelo Rebelo de Sousa nas regiões sinistradas, rapidamente descambou para uma inoportuna peregrinação de demagogia presidencial, ornamentada por extensas comitivas de fotógrafos e de estagiários, naturalmente convidados pelos serviços da presidência da República para perpetuarem os afectos do presidente em imagem e som. Não está certo e, como diz o povo, no melhor pano cai a nódoa. Parabéns Vasco Gargalo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A União Europeia apoia a Espanha unida

O Conselho Europeu reuniu ontem em Bruxelas e, segundo parece, tratou sobretudo dos problemas ibéricos. Por um lado, expressou solidariedade aos dois países perante a calamidade dos incêndios florestais, daí resultando que Portugal e a Espanha irão accionar de forma coordenada o fundo de solidariedade da União Europeia, na sequência dos grandes incêndios do passado fim-de-semana.
O Conselho Europeu não tomou posição quanto ao problema da Catalunha por ser um problema interno da Espanha, mas mostrou um total apoio à política que está a ser seguida por Mariano Rajoy, com o apoio do PSOE e dos Cyudadanos, afirmando-se a favor de uma Espanha unida, conforme hoje relata El País.
Significa que, os aventureiros líderes da Catalunha estão cada vez mais isolados, não só no plano político, mas também no plano económico e social, pois mais de 900 empresas já tiraram a sua sede da Catalunha e até a Volkswagen já deu luz verde para a saída da Seat da região. Com a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola e a suspensão da autonomia catalã, não tardará a que os efeitos económicos e sociais da deriva independentista resultante da arrogância, do populismo e da ausência de estratégia do governo de Carles Puigdemont.
Porém, o problema catalão está longe de estar resolvido, embora a marcação de eleições possa ser uma solução que traga serenidade e abra as portas ao diálogo.
A União Europeia teve uma crise financeira que depois se transformou numa crise económica, social e migratória, mas atravessa agora a ameaça de alguns governos extremistas ou xenófobos e está confrontada com o problema espanhol que é também um problema europeu, porque a Europa tem muitas catalunhas.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Marcelo e Costa com emoções diferentes

Marcelo Rebelo de Sousa falou ontem ao país a partir da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital e, visivelmente emocionado, prestou homenagem às vítimas dos incêndios do passado domingo e avisou que é preciso “abrir um novo ciclo” e que isso “inevitavelmente obrigará o governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo”.
Se num discurso conta a forma e o conteúdo da mensagem, o Presidente da República acertou nessas duas dimensões, pois levou uma palavra de conforto aos que dela precisavam, deu alento aos que suportaram o terror das chamas e deu um enorme safanão nos políticos em geral e, em especial, naqueles que estão no governo. Com as suas palavras e as suas atitudes e perante a tragédia que nos enlutou, Marcelo Rebelo de Sousa revelou uma grandeza que nos conforta e nos faz ter esperança em tempos melhores.
Antes, quando o país ainda ardia e as televisões nos mostravam a dimensão catastrófica daquele dia terrível, o primeiro-ministro António Costa falara ao país para anunciar que “no dia de ontem deflagraram 523 incêndios e no dia de hoje deflagraram mais 199”, acrescentando que “o país tem de estar consciente que a situação que estamos a viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos”. Embora o seu discurso tenha sido formalmente correcto e tenha dito que era um momento de luto e de ter manifestado condolências às famílias das vítimas, ter agradecido a todos, ter prometido solidariedade e ter assegurado que sentia a angústia e a aflição vivida nas últimas horas por muitos portugueses, o seu discurso foi frio e sem qualquer sinal de emoção, não conseguindo dar ânimo nem confiança aos portugueses e quase os repreendendo pelo que acontecera.
Todos os jornais destacaram a eloquente fotografía e as expressivas palavras de Marcelo, num inequívoco apoio ao comportamento presidencial, enquanto as críticas a Costa vieram de todos os sectores da sociedade.
Nesta calamidade que têm sido os incêndios florestais, com tantas mortes e tanta destruição de património, Marcelo e Costa estiveram em patamares bem diferentes, revelaram emoções diferentes e isso vai ter consequências. Os tempos que aí vêm não vão ser fáceis.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O "terrorismo del fuego" andou por aí

Ao contrário da imprensa portuguesa que hoje destaca o número de mortes que os incêndios florestais já provocaram e salienta as graves responsabilidades do Estado, a imprensa espanhola descreve os efeitos calamitosos da vaga de incêndios que deflagraram no norte de Espanha e defende a tese da sua origem intencional ou criminosa.
O diário ABC afirma mesmo na sua manchete que o que aconteceu no norte de Espanha e de Portugal é um terrorismo del fuego, com a polícia espanhola a atribuir a responsabilidade por todos os fogos havidos na Galiza a um grupo organizado, enquanto em Portugal se discutem as causas da tragédia com base na seca extrema e no descuido das populações, procurando-se identificar os responsáveis políticos. Será prudente que pensemos como os espanhóis e que também adoptemos a tese da intencionalidade ou do terrorismo, porque foram demasiados incêndios a deflagrar em Portugal no passado fim de semana. Não foi apenas a negligência dos homens, nem as condições meteorológicas anormais. Estamos, portanto, perante um problema a que o Ministério Público não pode ficar alheio.
O problema dos incêndios florestais é muito sério e, durante muitos anos, parece não ter merecido a atenção das autoridades e, por isso, quem agora pretende olhar para o assunto como um caso de negligência ou de incompetência política do actual governo comete um erro grave. O problema foi sempre tratado como um assunto menor e sempre se tapou o sol com a peneira, isto é, financiou-se o combate aos incêndios que tem sido uma manjedoura onde vai beber muitíssima gente de vários partidos e de muitos interesses, em vez de se financiar a prevenção e o ordenamento florestal. Construiram-se quartéis imponentes e compraram-se inúmeras viaturas para os bombeiros, mas acabaram-se com os guardas florestais. Facilitou-se a cultura do eucalipto e do pinheiro bravo. Não foi devidamente promovida a limpeza da floresta. Não se percebeu que o mundo rural já não é o que era. O erro é histórico e muito antigo, mas talvez seja possível que, sobre as cinzas das tragédias recentes que devastaram muitas regiões do país, se possa criar um consenso nacional para encarar o problema, sem a mesquinhez política que se tem visto nas televisões e que tem sido apoiada pela cegueira de muitos jornalistas e comentadores.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A tragédia regressou com os incêndios

Todos os jornais portugueses desta manhã dedicaram as suas manchetes aos graves incêndios florestais que têm afectado de forma trágica o norte e o centro de Portugal, anunciando que já tinha havido três mortes. O Jornal de Notícias escreveu em primeira página que “o Diabo andou à solta” e a Protecção Civil classificou o dia de ontem como o pior do ano, com 523 ocorrências.
Hoje, o centro do país estava envolvido numa espessa núvem de fumo, muitos incêndios continuavam activos e anunciavam-se 36 mortes e 63 feridos em consequência do fogo. As imagens televisivas têm mostrado a violência dos incêndios e o dramatismo da tragédia, a escassez de meios para combater o fogo, o desespero das populações e até a imbecilidade de alguns jornalistas, apostados em fazer espectáculo e em antecipar um julgamento político da tragédia.
O drama que está a cair sobre Portugal também chegou à Galiza e os jornais galegos escolheram títulos significativos como “Ataque incendiario y mortal a Galicia” (La Voz de Galicia da Coruña), “Muerte y horror por el terrorismo incendiario” (Faro de Vigo) e “Ataque a Galicia” (El Progresso de Lugo).
Porém, enquanto na Galiza é assumido pela imprensa e pelas autoridades que a vaga de incêndios resulta de ataques incendiários e terroristas, em Portugal continua a tratar-se este assunto como resultado da reconhecida falta de cuidado das populações ou como resultado da actuação casual e criminosa de incendiários, embora já tivesse aparecido alguém com responsabilidades a declarar que acredita “que haja uma organização terrorista que esteja premeditadamente a incendiar o nosso país”.
O país ainda não estava refeito do choque dos incêndios do passado mês de Junho que afectaram dramaticamente Pedrógão Grande e agora vê-se confrontado com nova calamidade. Perderam-se mais de uma centena de vidas nos dois incêndios e as duas tragédias não vão ser esquecidas. O nosso país está de luto. É preciso um esforço colectivo para ultrapassar esta calamidade e, tal como em Junho, é despropositado que alguém faça aproveitamentos políticos desta tragédia. É preciso actuar dando ouvidos a quem sabe.

domingo, 15 de outubro de 2017

Brasília sofre com o calor e com a seca

A cidade de Brasília parece estar a ser vítima das alterações climáticas, pois os termómetros marcaram 35ºC no dia mais quente do ano e a humidade relativa chegou a 12%. O jornal Correio Braziliense pergunta que clima é este, que em pleno mês de Outubro, o mês em que as chuvas começam a chegar, está a sofrer os efeitos de um clima típico do deserto, com excesso de calor e baixa humidade, mas também alguns incêndios florestais e o racionamento de água. O calor e a seca estão a afectar os brasilienses e não se espera que chova nos próximos dias, enquanto as previsões apontam para que esta situação se mantenha por mais uma semana pelo menos. O recorde histórico de 36,4ºC registado em Brasília em Outubro de 2015, pode ser ultrapassado nos próximos dias.
Os brasilienses estão desesperados e a subsecretaria da Defesa Civil declarou o estado de emergência no Distrito Federal, recomendando que seja interrompido o trabalho ao ar livre entre as 10 e as 17 horas.
A juntar ao calor e à seca extremos, também ocorreram alguns incêndios florestais, sobretudo o que afectou o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, enquanto os reservatórios de água estão nos seus limites mínimos e é cada vez mais provável que venha a ser racionado o abastecimento regular de água potável.
Significa que as alterações climáticas são mesmo uma realidade à escala global e que é necessário cumprir com o Acordo de Paris assinado em 2015 por 195 países, para gerir a redução das emissões de dióxido de carbono  e reduzir o aquecimento global.