terça-feira, 16 de abril de 2013

Alemanha: dois pesos e duas medidas



Segundo revelou o jornal i na sua edição de ontem, o governo grego vai recorrer aos tribunais internacionais para exigir à Alemanha que pague o que ainda lhe deve, a título de reparações de guerra, pela ocupação do seu território pelas tropas nazis entre 1941 e 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, e que se estima tenha causado cerca de 300 mil mortes. O jornal informa que “69 anos depois da saída das tropas de Hitler do país”, a Grécia mostra-se disposta a ir até às últimas consequências para reaver a indemnização de guerra a que tem direito e que nunca foi paga na totalidade, acrescida de juros de mora. Essa indemnização, que a Alemanha ainda deve à Grécia, está calculada em mais de 162 mil milhões de euros.
O todo poderoso Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, já avisou os gregos da inconveniência de trazerem esse assunto à discussão pública, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, também já avisou que os gregos não vão esquecer o passado e que serão, em última instância, os tribunais internacionais a decidir. Ora, o ministro Schauble – que parece ser o tutor do nosso gaspar - foi o tal que disse que as críticas à Alemanha se deviam à inveja, o que originou que o acusassem de acordar fantasmas.
Este caso é uma curiosidade pouco conhecida da História da Europa, mas mostra claramente a forma como a Alemanha tem procurado impor-se no espaço europeu, em clara violação do princípio da igualdade dos Estados-membros, da prosperidade partilhada e da solidariedade comunitária, usando dois pesos e duas medidas, isto é, não cumpre as suas obrigações para com alguns países e, sem qualquer contemplação, exige aos outros que cumpram rigorosamente as suas dívidas com juros especulativos.

A monarquia espanhola sob contestação



No ano passado, quando a Espanha já estava mergulhada numa crise económica de enorme dimensão, a sua opinião pública soube que o Rei Juan Carlos tinha viajado para o Botsuana para participar numa dispendiosa caçada aos elefantes, durante a qual partiu uma anca, pelo que veio mais tarde a pedir desculpa aos espanhóis. Porém, os problemas de saúde do Rei continuaram e isso fez cair a sua popularidade nos últimos meses, que se acentuou à medida que se iam conhecendo os pormenores do processo judicial que envolve o seu genro Iñaki Urdangarin e, mais recentemente, também a infanta Cristina, sua filha. Com todos estes casos e a divulgação de alguns escândalos na Família Real, verdadeiros ou falsos, a popularidade do Rei tem caído continuamente e, de acordo com uma sondagem publicada recentemente pelo El País, verifica-se que 53% dos inquiridos desaprovam a forma como o Rei exerce as suas funções. 
Neste contexto, as celebrações do 14 de Abril tiveram este ano uma participação mais significativa do que antes. Todos os anos, nesse dia, os republicanos celebram o início da Segunda República em 1931, que terminou oito anos mais tarde com a vitória do general Franco na guerra civil espanhola. No passado domingo, mais de oito mil manifestantes desfilaram no centro de Madrid agitando centenas de bandeiras republicanas, para comemorar os 82 anos da II República e para exigir o advento da terceira, num país em que o regime monárquico está cada dia mais manchado por escândalos e a perder popularidade. Daí a crescente contestação dos nostálgicos, como lhes chama o jornal madrileno La Gaceta.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Apesar do mau tempo no canal…


Sob o ponto de vista astronómico a Primavera chegou aos Açores há mais de três semanas, mas numa óptica puramente meteorológica parece que o Inverno se continua a estender pelo mês de Abril, pois há uma chuva intensa e persistente, quase quotidiana, assim como uma forte ventania com rajadas frequentes, pelo menos nas ilhas do Grupo Central. Nos canais do Faial e de S. Jorge, o mar corre dos quadrantes de oeste, mostra-se revolto e por vezes alteroso, com muita espuma e alguma rebentação na crista das ondas. O anticiclone continua emigrado para latitudes mais altas e, evidentemente, está a fazer muita falta, pois não se vêem embarcações na faina da pesca.
Porém, as lanchas do Pico desafiam todas as condições meteorológicas porque são tripuladas por marinheiros experientes e, apesar do “mau tempo no canal”, cumprem religiosamente os seus horários e fazem a travessia do canal com segurança. Assim, é sempre possível ir do Pico ao Faial ou da Madalena à Horta, regressando algumas horas depois, porque embora a navegação tenha algum desconforto, esse esforço é compensado pela alegria do reencontro com amigos de há muitos anos, daqueles com quem nos identificamos social e culturalmente e que, entre outras coisas, nos oferecem a partir da sua varanda, o mais deslumbrante panorama paisagístico que é possível apreciar nestas ilhas.
Muito obrigado! Que em breve tenham grandes alegrias, como merecem.

sábado, 13 de abril de 2013

As reflexões de Mário Soares



As coisas da governação não têm corrido bem àquela malta e, recentemente, foi dito que “o país está a ser destruído” e que, assim, iremos afundar-nos. Porém, o governo decidiu dramatizar e teatralizar a situação e tem pretendido passar a mensagem de que não há alternativa política ao actual rumo e tem procurado contrariar a realidade com a falsa ideia de que tudo tem corrido bem (até ao chumbo do Tribunal Constitucional). Assim, a entrevista de Mário Soares ao jornal i é mais um sinal de lucidez a denunciar “o tremendo desastre que está realmente em curso” e o que por ele foi dito, com a sua experiência e sabedoria, é realmente para ser levado em conta.
Perante a grave crise da União Europeia e do euro, Mário Soares considera que é necessário começar por “repor os mercados usurários a obedecer aos estados, e não o contrário”. Por isso, critica a subserviência do governo em relação à troika, que vem operando e ameaçando com arrogância e que tem sido aceite passivamente “como se fosse dona de Portugal”. Na realidade, a troika devia ser uma representante do projecto europeu de solidariedade e de progresso partilhado, mas comporta-se como um verdadeiro bando de abutres que, através de condições muito severas e de juros especulativos, vem atentando contra a dignidade nacional de um estado-nação que é o mais velho da Europa. O que, provavelmente, nem a troika nem os seus luso-interlocutores, sabem.
Mas a crítica de Mário Soares também se dirige ao homem do leme que “se permite passar uma semana na Colômbia e no Peru” e que não tem consciência da gravidade da crise que se vive no país. E, recorrendo à História, recorda o que se passou há 105 anos, em que “por muito menos que isto foi morto o rei D. Carlos”. São apenas algumas das reflexões de Mário Soares.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma navegação sem rumo e sem destino



A situação que atravessamos é cada vez mais complexa e a recente decisão do Tribunal Constitucional apenas veio confirmar que o governo já não consegue disfarçar a sua incapacidade para mudar de políticas. O governo diz tudo e o seu contrário. Que não tinha Plano B e afinal…Que não tinha necessidade de mais tempo nem de mais dinheiro e afinal… As previsões são grosseiramente erradas e o professor Marcelo já veio dizer que o ministro Gaspar parece um astrólogo e perdeu credibilidade. O discurso dos partidos da coligação é completamente diferente do discurso que fizeram durante a campanha eleitoral. Não se prepararam. Não estudaram. Não sabem o que se está a passar na economia e na sociedade, nem na eminente ruptura social que nos ameaça. As oposições reclamam o fim desta caminhada sem rumo e desta teimosa escolha de austeridade, sem que seja feita qualquer coisa pelo crescimento e pelo emprego. Mas não são apenas as oposições a protestar. 
Hoje, o Jornal de Notícias destaca em primeira página que “Barões laranja levantam a voz contra o Governo” e lá estão plasmadas as declarações de Manuela Ferreira Leite, António Capucho e Rui Rio. E o que dizem? Que a insistência na austeridade não vai levar a lado nenhum, que há um despacho a proibir novas despesas que “não tem ponta por onde se lhe pegue” e “é sintoma de um governo que já está sem norte e faz disparates desta natureza”, ou que se trata de um governo que “é incapaz e incompetente”. Depois, há Pacheco Pereira que pede a demissão do governo e salienta o seu “espírito de vingança em relação a todos os que lhe criam obstáculos”; e Ângelo Correia que se mostra indignado com a receita de austeridade imposta pelo governo”; e Alberto João Jardim a dizer que “não basta a demissão do ministro das Finanças, mas que tem que ser um novo governo”. E são muitos mais. Contudo, o nosso primeiro é surdo e teimoso. Acusado de ter à sua volta gente inexperiente e incompetente, decidiu recorrer a um maduro. Já tinha um branco, agora tem um maduro. Infelizmente não deve ser com estes maduros que podemos alimentar a esperança em dias melhores.



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Lisboa abandonada



Com este título, a última edição da revista Visão inclui uma reportagem que informa que a cidade de Lisboa tem quase cinco mil edifícios devolutos, todos em mau estado de conservação ou a desmoronar-se.
As causas desta situação, que se tem agravado nos últimos anos, são diversas e complexas. São apontadas o êxodo que nos últimos anos tem afastado as pessoas do centro para as periferias, os problemas de heranças em que os herdeiros não se entendem quanto ao destino do imóvel, a exigente burocracia camarária em relação aos projectos de construção ou reconstrução, a rigidez das rendas que ainda não estimula os senhorios a fazer obras e a especulação imobiliária que prefere as construções novas e mais rentáveis do que a reabilitação de prédios antigos. Todas estas causas podem sintetizar-se em especulação imobiliária e crise económica.
Dizem os especialistas que a lei devia facilitar a reconstrução e dificultar a construção, como acontece na França e na Suíça, mas também que, se os proprietários não dão uso à propriedade, o Estado deve intervir e expropriá-la, para a negociar depois a preço justo. A situação ainda é mais complexa porque com a actual crise faltam recursos para tantas obras e, para além disso, actualmente não há gente para encher tanta casa vazia. Porém, é preciso salvar a cidade abandonada e encontrar soluções com urgência, até porque a defesa do património e a reabilitação urbana podem ser boas saídas para a crise económica que atravessamos. Foi isso que John Maynard Keynes nos ensinou!


terça-feira, 9 de abril de 2013

R.I.P. Margaret Thatcher


A morte de Margaret Thatcher aos 87 anos de idade não deixa ninguém indiferente, como de resto se observa na imprensa mundial que hoje destaca o desaparecimento da antiga Primeira-Ministra d0 Reino Unido, enquanto toda a imprensa britânica é unânime na homenagem que lhe presta. Entrou na vida política em 1950, mas só em 1959 conseguiu ser eleita deputada pelo Partido Conservador. A partir de 1961 ganhou notoriedade quando passou a ocupar postos governamentais, primeiro como Secretária de Estado do Ministério de Pensões e Segurança Social no governo de Harold MacMillan e, em 1970, como Ministra da Educação e Ciência no governo de Edward Heath. Em 1975 foi eleita líder do Partido Conservador pelo que também se tornou líder da oposição, sendo a primeira mulher a liderar um dos grandes partidos britânicos.
No início de 1979 o governo trabalhista de James Callaghan foi afastado por uma moção de censura e, depois de eleições gerais, Margaret Thatcher tornou-se na primeira mulher a desempenhar as funções de primeira-ministra do Reino Unido e a ocupar o número 10 de Downing Street, o que sucedeu entre 1979 e 1990. A sua acção contra o declínio nacional e pela afirmação da autonomia britânica foi persistente, resistindo à criação da União Europeia e criticando a União Soviética, o que levou os russos a chamarem-lhe Dama de Ferro. Porém, foi a sua pronta reacção à invasão argentina das Falklands e a vitória britânica que, em 1982, lhe trouxeram apoios internos e reconhecimento internacional. Polémica e teimosa até ao limite do razoável, mas com uma carreira política marcada pela competência e pela coragem, Margaret Thatcher foi uma grande dirigente europeia.

domingo, 7 de abril de 2013

Como eles gostam de viajar à nossa custa



Entre os dias 15 e 19 de Abril e a convite dos seus homólogos, o primeiro magistrado da nação efectuará visitas oficiais à Colômbia e ao Peru que, por acaso, são os dois maiores produtores mundiais de cocaína. É a sua primeira viagem oficial em 2013 e, sabendo-se que os seus antecessores fizeram muitas mais viagens, ficamos na dúvida se é bom ou mau fazer tão poucas viagens. Para esclarecer essa dúvida, era muito desejável que os contribuintes soubessem quanto custou cada viagem oficial, quem integrou a comitiva e que resultados foram obtidos por cada um dos seus membros, isto é, que houvesse uma avaliação custo/benefício de cada viagem presidencial ou ministerial. Se isso não for feito, então todos podemos pensar que essas viagens não passam de requintadas passeatas que os jornalistas-acompanhantes relatam como se fossem coisa importante para o país. 
Nesta viagem, a comitiva presidencial incluirá vários membros do governo, alguns deputados em representação dos grupos parlamentares da Assembleia da República, uma delegação empresarial com representações dos sectores da banca, eléctricas, tecnológicas, distribuição e construção, entre outros e, naturalmente, muitos jornalistas. Não sei qual o interesse do Chefe do Estado em ser acompanhado por tão alargada e dispendiosa comitiva. Muita gente, demasiada gente. Tudo à grande, tudo à nossa conta e tudo a aprofundar o défice e a dívida. Haverá encontros e recepções, troca de comendas, visitas às câmaras municipais de Bogotá e Lima, algumas inaugurações, a presença em seminários económicos a realizar nas duas capitais e os habituais encontros com a comunidade portuguesa desses países que, em ambos os casos e fora os “correios de droga” que cumprem pena de prisão, não chegarão às duas centenas, isto é, a comitiva presidencial será provavelmente maior do que a comunidade que vai ser visitada. Como eles gostam de viajar à nossa custa!

sábado, 6 de abril de 2013

Relvas ou o ministro faz-de-conta

Nas actuais circunstâncias que se vivem na nossa terra, o desafio de governar e ser governante é muito exigente. É para gente experiente, sabedora e com vocação para servir. Não é tempo de facilidades. Por isso, foi com muita surpresa que a opinião pública tomou conhecimento da facilidade com que o ministro Relvas tinha adquirido um diploma de licenciatura, enquanto o comum dos mortais gastou muitos anos das suas vidas para atingir igual objectivo. Foi um caso de batota e de esperteza. Não era preciso esse diploma para ser ministro, nem uma licenciatura é garantia de melhor prestação como governante. Mas o rapaz era atrevido, viu que era fácil ser doutor, que isso lhe dava estatuto político e social e… pronto! Encomendou. Foi uma espécie de take away.
Ao fim de alguns meses de humilhações e de uma entrada directa no anedotário nacional, que as redes sociais difundiram e até internacionalizaram, o ministro Relvas demitiu-se. Devia ter sido demitido há muito tempo, mas o amigo não teve coragem. O seu controverso percurso ministerial foi um rosário de fintas, truques e trafulhices, misturadas com muita arrogância e algumas pouca vergonhas. Recordo o insulto que foi para todos nós o seu réveillon no Copacabana Palace, a emboscada em que caiu no ISCTE e o pavor com que reagiu à grandolada e, finalmente, o deslumbrado e desastrado balanço de despedida, em que se auto-elogiou, se vangloriou por ter feito um primeiro-ministro e se imaginou com um lugar na História. Poor boy! Saiu pela porta das traseiras, sem coragem e sem dignidade, a mostrar que aqueles que o contestavam tinham toda a razão.  

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Angola: onze anos de paz e de progresso

Angola comemorou 11 anos de paz e de progresso e o Jornal de Angola evocou o “dia que mudou o curso da História”, ao relembrar que o país atravessou quatro décadas da sua história em guerra – de 1961 a 1974 contra o poder colonial português e a partir de 1975 numa guerra civil. No dia 4 de Abril de 2002 foi assinado o acordo que pôs fim à guerra entre o governo do MPLA-Popular de Libertação de Angola e a UNITA-Nacional para a Independência Total de Angola, as duas formações políticas de maior influência no país. Os dois partidos calaram as armas e puseram um ponto final a 27 anos de guerra civil.
O impacto da paz repercutiu-se de imediato na economia angolana que, entre 2004 e 2008, registou um crescimento médio de 17% ao ano, suportado pelos aumentos da produção e do preço do petróleo. Porém, com a crise internacional e a acentuada descida das receitas petrolíferas as taxas de crescimento reduziram-se para valores entre 2,4% e 3,4% entre 2009 e 2011. Essa realidade revela que o boom económico angolano deve ser visto com prudência, porque assenta largamente no petróleo que constitui a quase totalidade das exportações do país, mas também porque ainda há muitos angolanos a viver numa situação de pobreza e existe uma desproporcionada concentração de actividades em torno da cidade de Luanda. Para além disso, existem elevados níveis de corrupção, claramente revelados pelos Corruption Perceptions Index 2012 da Transparência Internacional que colocam Angola em 157º lugar entre 174 países.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A importância da criação de emprego

Segundo uma informação veiculada pela imprensa brasileira, o governo federal criou o seu 39º ministério – a Secretaria da Micro e Pequena Empresa - exclusivamente vocacionado para a prossecução de políticas de apoio a micro e pequenas empresas. Essa decisão revela a atenção que é prestada às PME pela sua importância na economia brasileira.
As PME também são muito importantes na economia portuguesa. Segundo os dados fornecidos pelo INE relativos ao ano de 2008, existiam 349 756 PME (classificadas de acordo com a definição europeia) que empregavam 2 178 493 pessoas (72,5% do emprego nacional) e realizavam um volume de negócios de 201,7 mil milhões de euros (57,9% do volume de negócios nacional). Apesar da sua importância, a dimensão da economia portuguesa não justifica que seja criado um ministério específico para as apoiar, como é óbvio.
Porém, nas actuais circunstâncias de recessão e desemprego, o Poder Local e em especial as Câmaras Municipais, têm uma potencialidade única para criar uma estrutura – uma espécie de balcão único municipal – vocacionado para a promoção do desenvolvimento económico local e para apoio à comunidade empresarial, para a ligação às agências do poder central e para a atracção do investimento, a oferta de incentivos apropriados, a desburocratização administrativa, o empreendedorismo e a criação de empresas, a motivação da iniciativa e, sobretudo, a criação de emprego. A Câmara Municipal que tem pelouros para as áreas do Ambiente, Segurança, Urbanismo, Desporto, Habitação, Cultura, Espaços Verdes, Higiene Urbana, etc., etc., deverá ter um papel económico mais activo e ter um pelouro para as actividades económicas e para o emprego, dirigido por um vereador especialmente qualificado para esse efeito.  Isso já acontece em alguns Municípios, mas esse conceito deverá estender-se rapidamente a todo o país. É uma obrigação do Poder Local e é uma necessidade que não pode ficar apenas dependente do "Terreiro do Paço" e de gente que não conhece a realidade local.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Uma preocupante faceta da nossa crise

As dificuldades por que vamos passando e a severa austeridade que nos tem sido imposta, não têm produzido os resultados que todos ambicionávamos. Os indicadores disponíveis sobre as variáveis macroeconómicas e sociais são um retrato da famosa espiral recessiva em que estamos atolados, mas há muitos outros indicadores secundários que retratam a crise. São sinais da nossa espiral depressiva ou de algum desespero que está a tomar conta do nosso quotidiano ou, talvez até, de um certo vale tudo.
A edição de hoje do Jornal de Notícias divulga uma informação de índole estatística que é verdadeiramente alarmante: há 750 condutores por dia a abastecer as suas viaturas de combustível e a fugir sem pagar. Esta estimativa foi divulgada pela Associação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (ANAREC) que afirmou que, diariamente, cerca de 30% dos cerca de 2500 postos de combustível instalados em Portugal são vítimas de um caso de abastecimento e fuga que, no final do ano, correspondem a um prejuízo global de quase 7 milhões de euros. Porém, a ANAREC adianta, ainda, que estes números correspondem a estimativas por defeito, pois muitos dos revendedores lesados por esta onda já desistiram de se queixar.
Estes números poderão ser exagerados e corresponder a uma forma de pressão da ANAREC para que este problema seja estudado pelas autoridades, mas reflectem de facto a grave dimensão da crise económica e social que está a afectar a sociedade portuguesa.
                                                                                                

Uma estimulante vitória em Montreux

Desde 1921 que se disputa na cidade suíça de Montreux um dos mais antigos e mais importantes torneios de hóquei em patins do mundo. Ao longo de quase uma centena de anos o torneio tem tido diferentes formatos e várias designações, podendo ser disputado por clubes e selecções nacionais de hóquei em patins. A partir de 1949 passou a disputar-se de dois em dois anos e retomou a designação que já tivera antes: Taça das Nações.
A sua 65ª edição disputou-se entre os passados dias 27 e 31 de Março e a vencedora foi a selecção nacional portuguesa, depois de bater a selecção espanhola na final. Já não era sem tempo que a equipa portuguesa levava de vencida a equipa espanhola porque, nos últimos anos, tem sido demasiadas vezes derrotada pela sua rival espanhola. O palmarés do hóquei em patins português ainda supera o palmarés espanhol, mas nos últimos anos a Espanha tem-se superiorizado francamente à selecção portuguesa: no Campeonato do Mundo a equipa portuguesa não ganha desde 2003 e a Espanha ganhou os últimos quatro títulos, enquanto no Campeonato da Europa a selecção portuguesa não ganha desde 1998 e a Espanha ganhou os últimos sete títulos. Significa que, nos últimos anos, Portugal perdeu onze títulos para a selecção espanhola.
Por isso, a vitória na Taça das Nações deve ser realçada até porque, lamentavelmente, a chamada imprensa desportiva portuguesa não lhe deu destaque nenhum. Em vésperas do Campeonato do Mundo 2013 que se disputa em Angola, esta vitória é estimulante para a auto-estima desportiva dos portugueses.
                                                   

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Moçambique na rota mundial do gás

A versão moçambicana da revista Exame que se publica em Maputo chama-lhe “o novo tesouro do país” e dedica uma extensa reportagem à recente descoberta de grandes reservas de gás natural na chamada bacia do Rovuma, isto é, uma extensa área marítima situada ao longo da costa moçambicana do distrito de Cabo Delgado, até à fronteira com a Tanzânia. Para um português que, por dever de ofício, tanto por ali navegou, a notícia de que Moçambique entrou na rota mundial do negócio do gás natural só pode ser recebida com entusiasmo.
O Estado moçambicano constituíu no offshore moçambicano  seis áreas para prospecção/exploração do gás natural e a intervenção nessas áreas é regulada por contratos assinados com alguns consórcios internacionais. Ao longo da costa norte do distrito de Cabo Delgado situa-se a Area 1, mais próxima da costa, sendo o consórcio formado pela americana Anadarko com 36,5% das acções, a japonesa Mitsui com 20%, as indianas BPRL Ventures e Videocon com 10% cada uma, a tailandesa PTTEP com 8,5% e a moçambicana ENH com 15%. Na Área 4, que é contígua à Área 1 e se estende para Leste do arquipélago das Quirimbas, o consórcio é formado pela italiana ENI com 70% das acções, a coreana Kogas, a Galp Energia e a moçambicana ENH com 10% cada uma. Os consórcios que exploram as outras áreas são dominados pela norueguesa Statoil e pela malaia Petronas.
Nas Áreas 1 e 4 têm sido anunciadas importantes descobertas de gás natural e, no caso da Área 4, o poço recentemente descoberto – Mamba Sul - encontra-se a 40 Km da costa e a cerca de 1585 metros de profundidade, tendo a perfuração atingido cinco mil metros.
A produção intensiva de gás natural e a sua liquefacção para transporte poderão iniciar-se em 2018 e irão criar dezenas de milhar de postos de trabalho, que bem podem induzir um novo e bem promissor ritmo de prosperidade a Moçambique.

domingo, 31 de março de 2013

Can India become a great power?

Na sua última edição a revista The Economist dedica alguns artigos à Índia, um país do chamado grupo dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa  – interrogando-se sobre se o segundo país mais populoso do mundo se pode tornar numa grande potência.
O tema é muito oportuno, porque a Índia será brevemente a quarta potência militar mundial, aspira ao domínio da Ásia do Sul e é um mercado económico de elevado potencial. Tendo-se tornado independente em 1947, já sustentou guerras com os seus vizinhos - Paquistão e China – disputando com eles as fronteiras e alguns territórios fronteiriços, além de os considerar perigosas ameaças à sua integridade territorial. No entanto, enquanto ninguém duvida da ascensão da China ao estatuto de grande potência, havendo até quem fale de um G2, isto é, uma cúpula mundial polarizada pelos Estados Unidos e pela China, a Índia ainda não viu reconhecido esse estatuto, apesar da sua dimensão demográfica, potencial económico, mercado interno e crescente capacidade militar. De resto, a Índia nem sequer tem assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, embora todos os seus membros permanentes apoiem a sua entrada nesse restrito clube.
Segundo o The Economist a Índia tem falta de “cultura estratégica” e “precisa de desistir da sua ultrapassada filosofia de não-alinhamento” para se tornar uma grande potência. A revista recorda a sua herança da potência colonial, designadamente as instituições democráticas, o sentido do Estado de Direito, o respeito pelos direitos humanos e muitos outros valores ocidentais, que não são integralmente partilhados pelos seus vizinhos. Ao invocar esssa herança, o The Economist presta-se a fazer lobbying a favor de um alinhamento com o ocidente (e com a sua indústria de armamento), ao querer desviar a Índia do seu tradicional aliado e principal fornecedor de equipamento militar que é a Rússia.
Porém, o país tem uma enorme diversidade étnica e linguística, enormes assimetrias de desenvolvimento, elevados níveis de pobreza e é muito vulnerável em termos energéticos, pois possui apenas 0,8% das reservas de petróleo e gás conhecidas. Por isso, a gestão do primeiro-ministro Manmohan Singh tem sido baseada numa combinação acertada entre “canhões e manteiga”, isto é, entre desenvolvimento económico, combate à pobreza, abertura ao exterior, coesão nacional, orçamentos militares e diversificação de alianças.  Para quem se interessa pela Índia e pelos seus problemas, é muito recomendável esta edição do The Economist.