quinta-feira, 11 de junho de 2020

Mário Centeno: aprovado com distinção

O ministro Mário Centeno demitiu-se ontem, depois de ter estado 1664 dias à frente do Ministério das Finanças, o que é um caso único em Portugal. Quando no dia 26 de Novembro de 2015 iniciou as suas funções no XXI Governo Constitucional, a credibilidade financeira externa portuguesa era péssima, com a notação de crédito da República classificada como
lixo pela famosa agência de rating Moody’s e com o governo sujeito ao chamado procedimento por défice excessivo. Dois anos depois, a competência e a reputação de Mário Centeno, bem como a imagem de responsabilidade orçamental que criou para o país, fizeram com que fosse eleito presidente do Eurogrupo. Os bancos europeus já tinham passado a recomendar a compra de dívida portuguesa e os juros baixaram substancialmente fazendo poupar muitos milhões de euros aos contribuintes portugueses. Um a um, os handicaps das finanças portuguesas foram sendo ultrapassados. Em 2019, pela primeira vez em quase cinquenta anos de democracia, as contas públicas fecharam com um saldo positivo e o Orçamento do Estado para 2020, aprovado antes da chegada do covid-19, previa um saldo novamente positivo.
Mário Centeno foi o rosto e o principal responsável por esta evolução. Ele é um dos raros portugueses que se doutorou na Harvard Business School da Universidade de Harvard, que é considerada a melhor escola de economia do mundo e é professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, que é considerada a melhor escola de economia de Portugal. O anúncio da sua saída do governo deu origem a rasgados elogios do Presidente da República e do Primeiro-Ministro, enquanto a sua saída da presidência do Eurogrupo suscitou uma série de reacções elogiosas na União Europeia. Ninguém tem dúvidas que a acção de Mário Centeno, a sua competència e as suas “contas certas”, foram decisivas para o verdadeiro milagre que tem sido a recuperação do prestígio financeiro português.
Não é costume fazer elogios de políticos neste espaço, até porque são muito poucos os que os merecem. A generalidade dos políticos não entende que são servidores públicos, fala do que sabe e do que não sabe, é pouco qualificada e não tem qualquer experiência profissional. Lamentavelmente, são alguns deles que não alinham no louvor geral à acção de Mário Centeno, que aqui justamente se aplaude.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Black Lives Matter: um cartaz e uma luta


A onda de manifestações de protesto contra o racismo que surgiu há treze dias nos Estados Unidos como reacção à morte de George Floyd, estendeu-se pelas cidades americanas e alastrou por todo o mundo como um autêntico tsunami, incluindo várias cidades portuguesas onde milhares de pessoas se manifestaram no passado fim-de-semana. Esses protestos estão a ser dinamizados pelo Black Lives Matter (As vidas negras importam), um movimento activista internacional nascido em 2013 na comunidade afro-americana e que luta contra a discriminação racial, a brutalidade policial e a desigualdade étnica.
A imprensa mundial tem noticiado a onda de indignação e as manifestações por vezes violentas, enquanto alguns jornais ingleses destacam hoje o que ontem se passou na cidade inglesa de Bristol.
No centro da cidade existia desde 1895 uma estátua de Edward Colston, um rico mercador que, sendo membro do Partido Conservador, chegou a ser deputado no Parlamento inglês em representação da cidade de Bristol. Essa estátua consagrava a acção filantrópica de Edward Colston e homenageava-o como grande benfeitor da sua cidade. Porém, desde 1990 que havia petições para que a estátua fosse removida, pois os recursos utilizados por Colston nas suas actividades de filantropia, eram uma cortina que escondia os fabulosos lucros que realizara no lucrativo tráfico de escravos em que se empenhara na segunda metade do século XVII.
O movimento de protesto em Bristol ultrapassou as petições e “fez justiça pelas suas próprias mãos”, isto é, a estátua foi removida e lançada ao mar, tendo a fotografia dessa acção sido publicada pelo The Guardian e por vários outros jornais.

sábado, 6 de junho de 2020

Trump, a onda de protesto e as eleições


Na sua edição de hoje a revista alemã Der Spiegel dedica a sua primeira página a Donald Trump com uma ilustração em que este aparece numa sala com um fósforo na mão, enquanto em segundo plano se observam chamas e grossos rolos de fumo. O título e o sub-título da revista, que traduzi com a ajuda do amigo Google, são Der Feuerteufel (O demónio do fogo) e Ein Präsident setzt sein Land in Brand (Um Presidente incendeia o seu país).
Os Estados Unidos foram atingidos como nenhum outro país pelo covid-19 e daí resultou uma grave crise económica e social, com o número de desempregados a ultrapassar os 40 milhões, a juntar a uma política incapaz de competir com a China e, a somar a isto, com a rádida degradação da imagem americana no mundo e com o desprestígio internacional do seu presidente. Foi nesse contexto de crise e de protesto que morreu George Floyd. O presidente Donald Trump revelou então a sua face mais provocatória e, em vez de apaziguar os ânimos, optou pela ameaça da intervenção dos militares. Porém, os militares não gostaram e, através dos militares na reserva que são os que podem falar, reagiram e condenaram as atitudes ameaçadoreas de Trump.
Donald Trump parece estar como o ministro da informação do Iraque, pois recusa-se a ver a realidade e opta por “incendiar a América”, amedrontando os americanos para aparecer depois como o seu salvador. Está obcecado com a sua reeleição e não percebe que está num plano inclinado, embora haja quem pense que a sua estratégia eleitoral é exactamente essa. Num recente texto publicado no Financial Times, é salientado que o desejo de Trump em ser reeleito resulta sobretudo dos seus medos porque, no caso de não reeleição, a sua Trump Organization poderá vir a sofrer muito nos tribunais e ele próprio até poderá ter que passar pela prisão.
As eleições presidenciais americanas realizar-se-ão no dia 3 de Novembro de 2020 e o novo presidente será eleito por um colégio eleitoral. Vai ser um dia muito importante para o mundo.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Victoria 500: um novo museu em Sevilha

Uma réplica da nau Victoria, que deu a volta ao mundo entre 1519 e 1522, já está atracada na cidade de Sevilha, junto da histórica Torre do Ouro, passando a constituir um museu flutuante que vai funcionar como um centro de interpretação da famosa viagem. O Diario de Sevilla apresenta na sua edição de hoje o novo museu que comemora os cinco séculos da viagem de Magalhães e Elcano e que pretende reivindicar Sevilha como “la capital mundial de los viajes”. A réplica foi construída nos estaleiros de Punta Umbria por encomenda da Fundación Nao Victoria e no projecto participaram o Ayuntamiento de Sevilla, a Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía e outros patrocinadores privados, que se uniram para dotar a cidade de um equipamento cultural de grande visibilidade estética e que vai permitir melhorar a oferta cultural e turística da cidade.
Segundo refere o jornal, a construção da nau demorou 18 meses e nela participou uma equipa multidisciplinar de seis dezenas de pessoas, entre historiadores, engenheiros navais, carpinteiros, artesãos e outros trabalhadores das províncias de Sevilha e Huelva que ressuscitaram uma arte quase extinta na Andaluzia.
Neste mesmo fim-de-semana em que a nau Victoria abre as suas portas ao público, embora com as restrições inerentes à pandemia do covid-19, também o Museu Marítimo da Torre do Ouro, uma filial do Museu Naval que foi instalada em 1944 na imponente torre construída em 1221 durante a dominação árabe, reabre as suas portas. Esta simbólica oferta de um monumento árabe, de uma réplica da nau quinhentista que deu a volta ao mundo e de dois museus, valoriza as margens do rio Guadalquivir e tem um importante significado cultural e turístico. Provavelmente, apesar das obras de requalificação da orla ribeirinha do rio Tejo, nada disto está pensado para Lisboa. E é pena.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Na América nada vai ser como dantes

A imagem em que o agente policial Derek Chauvin aparece com um joelho sobre o pescoço do cidadão afro-americano George Floyd voltou hoje a ser publicada em vários jornais da cidade de Nova Iorque, quando foi anunciado que três outros ex-polícias que assistiram à agressão e nada fizeram para evitar o que aconteceu no dia 25 de Maio, foram também acusados. Aqueles sete minutos de pressão sobre o pescoço de Floyd, quando este se encontrava algemado e deitado de bruços na estrada, sem que fosse atendido o seu aflitivo aviso de que não conseguia respirar, estão a deixar a América revoltada.
Na versão policial, George Floyd teria tentado trocar uma nota falsa de vinte dólares numa loja, mas quando interceptado pela polícia não terá oferecido resistência. O que o polícia Chauvin fez com a sua intervenção de desproporcionada violência, certamente não aconteceu porque ele tenha instintos assassinos, mas porque foi formatado para o uso da violência física em todas as circunstâncias e porque vive num ambiente político de violência verbal e de ameaça, que está sempre presente no discurso de Donald Trump e dos seus apoiantes. Como sempre acontece nestes casos, quem se vai tramar é o mexilhão, mas é preciso ver que este Chauvin e muitos outros que existirão na América e no mundo, são o resultado de práticas autocráticas, em que existe a violação grosseira dos direitos humanos e se mantém as desigualdades sociais, em paralelo com a pobreza e o racismo.  
A revolta social e a onda de protestos anti-racistas e contra a violência policial iniciaram-se em Minneapolis mas estenderam-se a muitos outros estados e cidades americanas. Provavelmente, nada será como dantes, porque a força das redes sociais é um dado novo nos tempos que correm e George Floyd pode ser uma bandeira. A imagem que hoje foi publicada pelo New York Post vai figurar ao lado das mais importantes fotografias da história dos Estados Unidos.

O regresso da louca pandemia do futebol

O futebol recomeçou ontem em Portugal e, de imediato, tornou-se o assunto mais importante para a imprensa e para a televisão, bem como para os jornalistas, os jornalistas estagiários, os incontáveis comentadores e toda a enorme tribo que vegeta à volta do futebol. O recomeço da actividade futebolística em Portugal até foi notícia internacional, com o famoso diário francês L’Équipe a destacar esse acontecimento em primeira página. Realmente, neste canto lusitano da Europa não se fala de outra coisa e a chamada comunicação social rende-se a esta situação que é culturalmente deplorável e que é um atentado à nossa inteligência colectiva, com a televisão a gastar boa parte do seu tempo a falar dos aspectos marginais do futebol. Assim vive o nosso país em que, diariamente, há tantos jornais desportivos ou de futebol, como jornais de informação geral.
O futebol domina e torna-se secundário noticiar sobre a gravidade da crise pandémica, a preocupante situação económica e social, o desemprego e a quebra nas exportações, a falência do turismo, a situação nas escolas, a falta de credibilidade da Justiça e em especial do Ministério Público, a solução para a TAP e as incertezas do amanhã. Pouco sabemos do que se passa em Timor, em Honk Kong ou em Nova Iorque. Como é possível que directores, editores, coordenadores e os gatekeepers, se acomodem a esta situação em que, todos os dias, assistimos à criação de notícias em torno dos pseudo-acontecimentos futebolísticos?
O futebol é um espectáculo popular onde se revêm as paixões clubistas dos portugueses e, por isso, deve ter o seu espaço, embora limitado aos noventa minutos de jogo e pouco mais. Mesmo os que, como eu, gostam de futebol, o que se está a passar é um escândalo e está a estupidificar o país. Não consigo arranjar outras palavras para definir esta situação. Um extra-terrestre que aterrasse em Portugal ficaria a pensar que os dez milhões de portugueses vivem do futebol.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Os jacarandás estão de volta a Lisboa


Os jacarandás começam a florir em Lisboa em meados de Maio e, quando se entra no mês de Junho, muitas praças e ruas da cidade cobrem-se de manchas floridas de um azul-lilás que nos enche a vista e nos descansa a alma. Muitas ruas são orladas de jacarandás que formam extensas manchas desse azul-lilás único, enquanto as suas pétalas caídas acrescentam ainda mais cor à paisagem urbana. 
A cidade de Lisboa, que ainda não recuperou a sua habitual dinâmica depois da invasão do covid-19, veste-se com as flores azuis-lilás e cobre-se com as pétalas dos jacarandás que formam tapetes floridos sobre as pedras das calçadas, que deslumbram, que parecem iluminar o ambiente e que nos recordam uma cidade que está despovoada de turistas e não tem o bulício dos últimos anos.
Algumas ruas são particularmente belas e eu recordo sempre a avenida D. Carlos I ou a praça do Campo Pequeno como dois dos melhores exemplos das ruas azuis-lilás da cidade, embora sejam cada vez mais os sítios em que têm sido plantados jacarandás, o que faz prever que dentro de poucos anos a cidade ganhará uma dimensão estética singular. Naturalmente, com os dias de sol que têm iluminado a cidade e com os jacarandás, os entusiastas da fotografia estão nas suas “sete quintas”. 

Diálogos com Picasso para ver em Málaga

Na passada segunda-feira o Museo Picasso Málaga inaugurou aquilo a que chamou a nova arrumação da sua colecção da obra de Picasso na sua exposição permanente e deu-lhe por título Diálogos com Picasso.
O jornal Málaga hoy apresenta hoje uma desenvolvida reportagem sobre a exposição que homenageia o mais famoso de todos os malagueños e, para ilustrar a capa dessa edição, escolheu a fotografia da tapeçaria encomendada em 1958 pelo museu, que reproduz o óleo sobre tela intitulado Les Demoiselles d'Avignon, que foi pintado em 1907 e que hoje pertence ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Segundo refere o jornal, a mostra “reúne 120 obras de um legado que compreende as 233 obras que constituem os fundos do Museo Picasso Málaga”, acrescidas de 162 obras cedidas pela Fundación Almine y Berrnard Ruiz-Picasso para el Arte (FABA), pelo que o visitante poderá observar 44 pinturas, 49 desenhos, 40 trabalhos gráficos, dez esculturas, 17 cerâmicas, uma tapeçaria e muitos trabalhos em linóleo. É muita coisa para ver. Nesses casos, o visitante por vezes perde-se e confunde-se com o excesso de informação, mas a direcção do museu afirma ter proposto uma exposição que satisfaça esteticamente o visitante e que permita que ele termine a visita com a sensação de “haber entendido a Picasso”.
De Lisboa a Málaga são 650 quilómetros e os Diálogos com Picasso estarão disponíveis até 2023. Sabe-se lá se, depois do covid-19, ainda me meto a caminho.

terça-feira, 2 de junho de 2020

O protesto chegou às cidades americanas

Muitas cidades americanas estão a passar por uma inesperada turbulência com dezenas de cidades a assistirem a manifestações pacíficas de protesto contra a violência policial e o racismo, mas também com tumultos e manifestações violentas, bloqueios de estradas, ataques a carros e esquadras da polícia, destruição de mobiliário urbano e assaltos e pilhagens a lojas nos centros das cidades. A morte de George Floyd agitou a América e gerou o protesto. Em muitas cidades foi decretado o recolher obrigatório e alguns governadores estaduais pediram a intervenção da guarda nacional, enquanto já terá havido mais de 1.400 pessoas detidas.
A situação desenvolve-se num contexto social muito preocupante devido ao desemprego que já se instalou na sociedade americana e, perante este quadro, o presidente Donald tem-se desdobrado em declarações agressivas, em insultos aos governadores estaduais e tem ameaçado com a intervenção das Forças Armadas.
As manifestações chegaram às portas da Casa Branca, uma coisa que não se via desde a guerra do Vietnam. O Donald assustou-se e refugiou-se no bunker que, supostamente, deveria abrigar o presidente em caso de ataque nuclear. Centenas de manifestantes gritaram em frente da Casa Branca em homenagem a George Floyd e gritaram palavras de ordem contra Trump, mas ele ameaçou-os com “os cães mais cruéis e as armas mais ameaçadoras que eu já vi”. A indignação e o protesto chegaram a todo o mundo e, nas suas edições de hoje, dezenas de jornais de toda a Europa, noticiam a grave crise por que passam os Estados Unidos e publicam a mesma fotografia dos manifestantes em frente Casa Branca, mas nenhum jornal português publicou essa fotografia, o que mostra que a imprensa portuguesa absolutamente desalinhada com a imprensa europeia.

domingo, 31 de maio de 2020

A América em protesto contra a violência

As cidades americanas estão a ser varridas por uma onda de raiva e de angústia, segundo anuncia a edição de hoje do The Washington Post, na sequência da brutalidade de um polícia da cidade de Minneapolis, no estado do Minnesota, que asfixiou até à morte, com o joelho sobre o seu pescoço, um indivíduo que afinal se verificou depois ser inocente. Esse homem chamava-se George Floyd e as televisões têm mostrado as imagens da brutalidade do agente policial que o matou, enquanto aquela cidade e o mundo se mostram indignados.
A revolta em Minneapolis deu origem a grandes distúrbios, com lojas e automóveis incendiados e destruição de mobiliário urbano, pelo que foi decretado o recolher obrigatório, a que a maioria da população não obedeceu. Entretanto, pelos contornos racistas do assassinato de George Floyd, a onda de protesto e de indignação contra a violência e o racismo alargou-se a outras cidades americanas.
De vez em quando explodem as tensões sociais acumuladas nos países ou nas cidades onde predomina a desigualdade, quer seja perante a cidadania, quer perante o nível de rendimentos. As minorias étnicas e os mais pobres são sempre os grupos que mais sofrem e sobre os quais mais actua a violência policial mas, de vez em quando, a população reage quando aparece um qualquer facto detonador, como agora está a acontecer em Minneapolis, num tempo de incerteza, angústia e de muito desemprego.
O presidente dos Estados Unidos apareceu ontem a pedir mão pesada contra os manifestantes de Minneapolis, que classificou como “esquerda radical”, oferecendo-se para mandar o exército para reprimir os protestos contra a morte de George Floyd e contra a violência policial. É caso para dizer que o Donald não percebe nada do que anda a fazer.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

A Europa reage à máxima velocidade

A gravidade da situação sanitária e económica que nos vêm atropelando, não nos dá suficientes sinais de se atenuar. A incerteza continua a ser a única coisa… certa. A dúvida permanece. No meio de tantas preocupações, têm-se amontoado as reivindicações corporativas e as exigências de apoios estaduais, frequentemente irrealistas e até irresponsáveis, como se houvesse uma varinha mágica que resolvesse a pandemia, a recuperação da confiança e a superação da crise económica. Na economia, como na vida, as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos e, perante esse postulado, há que travar os que mais gritam, para que não sejam penalizados os que menos gritam.
De uma forma geral, o governo, a oposição e as autoridades sanitárias portuguesas têm estado à altura das circunstâncias e, quando vemos o que se passa noutras regiões, temos que nos congratular e agradecer a determinação com que enfrentam a situação.
A União Europeia pela voz de Angela Merkel e Emmanuel Macron deu o primeiro sinal de que era necessária uma resposta coordenada e pan-europeia, mas Ursula Gertrud von der Leyen soube pegar naquele impulso e apresentar uma proposta da Comissão Europeia para um Fundo de Recuperação, cujo montante tem muitos zeros à direita. A Europa reagiu à máxima velocidade como escreveu o Libération. Esse Fundo de 750 mil milhões de euros ainda deverá ser aprovado pelo Conselho Europeu, repartindo-se em 500 mil milhões de euros a fundo perdido e 250 mil milhões de euros de empréstimos.
A reacção nos países do sul foi entusiástica e, no caso português, estão previstos 26,3 mil milhões de euros, dos quais 15,5 mil milhões de euros em subvenções e 10,8 mil milhões de euros em empréstimos. Este montante corresponde a cerca de 13% do PIB português em 2019 e a cerca de 3,5% do valor total do fundo de 750 mil milhões de euros. Se se vier a confirmar, será uma benção divina, como dirá qualquer cristão.
Será que esta proposta vai ser aprovada? De onde vem o dinheiro para financiar este novo plano Marshall ou plano MM? E como vai ser a distribuição desses dinheiros em Portugal, onde os abutres dos fundos comunitários que aqui têm entrado desde 1986,, andam por aí sedentos de novas rapinas.

A América evoca os seus 100 mil mortos


Nas suas edições de hoje os principais jornais americanos evocam as vítimas que o covid-19 já causou nos Estados Unidos, onde a pandemia ainda está por controlar, mas que já adquiriu o estatuto de grande catástrofe. O número 100 000 aparece na primeira página de muitos jornais a homenagear os mortos, a denotar preocupações e a mostrar perplexidade quanto à surpreendente indiferença de Donald Trump perante esta calamidade. 
Segundo as últimas informações conhecidas, o número de infectados pelo covid-19 no mundo já atinge 5 685 523 pessoas em mais de 187 países e duzentos territórios, incluindo 26 navios de cruzeiro, enquanto o número de óbitos já atingiu 354 985 pessoas. Nos Estados Unidos há 1 734 704 casos confirmados e 101 700 óbitos, o que representa cerca de 30% do total mundial, quer em número de infectados, quer em número de óbitos.
Estes números, quando comparados com cerca de 415 mil americanos mortos durante os cerca de quatro anos que durou a sua participação na 2ª Guerra Mundial, ou com os 58 mil mortos que os Estados Unidos tiveram na guerra do Vietnam, dão-nos a verdadeira dimensão desta tragédia.
O jornal The Washington Post salienta que esta pandemia expôs as enormes vulnerabilidades do país mais rico do mundo que, em menos de três meses, perdeu mais de cem mil cidadãos, sobretudo idosos, afro-americanos e trabalhadores pobres. O jornal também se interroga quanto à quase indiferença do presidente Donald Trump perante a tragédia e por não dar quaisquer sinais de partilhar a tristeza colectiva da sociedade americana, nem ter quaisquer manifestações de silêncio e recolhimento em memória dos que não resistiram ao covid-19.
Donald Trump que é tão obcecado por números, parece pensar apenas na sua reeleição e talvez nos seus negócios, estando a mostrar-se estranhamente silencioso neste marco sombrio da história dos Estados Unidos e não parecendo estar à altura dos seus deveres presidenciais. Porém, esse não é só um problema dos americanos, mas é também um problema do mundo.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Itália começou a reagir à crise pandémica

Durante algumas semanas a Itália esteve nas primeiras páginas dos jornais mundiais como a grande vítima da crise pandémica que tem sido a covid-19 e, apesar de depois terem surgido outros países com uma alargada contaminação - casos dos Estados Unidos, do Brasil, da Rússia, do Reino Unido e da Espanha - o facto é que os últimos números divulgados pela Itália ainda apontam para mais de 230 mil pessoas infectadas e cerca de 33 mil óbitos.
A Itália terá sido o primeiro país europeu onde apareceu o covid-19, quando no dia 23 de Janeiro foram detectados em Roma dois turistas chineses que testaram positivo. O governo italiano suspendeu todos os voos de e para a China e ficou na expectativa, até porque era o primeiro país da União Europeia a confrontar-se com este problema que era novo. Porém, no dia 19 de Fevereiro, mais de 40 mil adeptos da Atalanta de Bérgamo deslocaram-se a Milão para assistir a um jogo de futebol com o Valência a contar para a Liga dos Campeões. Este jogo foi considerado uma bomba biológica e terá dado origem a uma multiplicação dos contágios, pelo que no dia 21 de Fevereiro o governo italiano declarou a quarentena obrigatória.
Passaram cerca de três meses muito difíceis, mas a situação parece estar agora controlada, embora a dimensão da crise social e económica seja incalculável. Por isso, as medidas de desconfinamento estão a ser aceleradas, mas porque é necessário elevar a confiança e a moral dos italianos e ajudá-los a vencer o trauma por que estão a passar, foi organizado um programa em que a Frecce Tricolori, uma equipa de demonstração e de exibição acrobática da Força Aérea Italiana se apresentará sobre as principais cidades do país. Ontem foi no norte da Itália e os nove jactos da Frecce Tricolori exibiram-se sobre algumas cidades, designadamente Trento, Codogno, Milão, Turim e Aosta. Todos os grandes jornais italianos e até um jornal brasileiro, deram destaque de fotográfico de primeira página a este acontecimento, tendo o jornal romano La Repubblica publicado uma excelente fotografia da Frecce Tricolori sobre a catedral de Milão.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Israel, a Palestina e o velho covid-1948


Numa altura em que as preocupações mundiais se centram no problema do covid-19, o jornal Tehran Times veio lembrar a situação palestiniana e chamou-lhe o problema do covid-1948, uma pandemia com mais de setenta anos. Nessa reportagem não é o texto que se destaca, mas uma sequência de quatro mapas em que estão assinalados os territórios de Israel e da Palestina, onde se pode observar como tem diminuído a percentagem de território ocupado pelos palestinianos ou como têm sido os avanços territoriais israelitas. No mapa (1) está assinalado o território histórico da Palestina (100%); no mapa (2) estão assinalados os territórios resultantes do plano de partição da Palestina aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas e que criava dois Estados – um judeu e outro árabe – ficando as cidades de Jerusalém e Belém sob controlo internacional (44%); no mapa (3) está assinalada a divisão do território depois da guerra de 1967 e da aceitação do acordo de paz de 1993 assinado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, com a mediação de Bill Clinton (22%); no mapa (4) está a situação actual em que o território palestiniano voltou a ser reduzido por terem sido construídos mais colonatos israelitas e por Donald Trump ter decidido reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel, em desafio das resoluções das Nações Unidas (15%). Significa que a Palestina ocupa apenas 15% do seu território histórico e que os seus territórios de Gaza, que é considerada a maior prisão a céu aberto do mundo, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia, estão cercados e sob atenta vigilância israelita, enquanto os palestinianos são tratados como cidadãos de segunda classe no seu próprio país. Nesta altura o covid-19 tem deixado adormecido o covid-1948, mas é bom que o mundo não se esqueça desta pandemia com mais de setenta anos e procure soluções que assegurem a paz e a convivência entre israelitas e palestinianos.

domingo, 24 de maio de 2020

Dias sombrios aproximam-se do Brasil


O mundo ficou estarrecido e incrédulo quando viu e ouviu uma recente intervenção do presidente da República Federativa do Brasil que atravessou as fronteiras e foi mostrada pelos canais televisivos internacionais. Alguns jornais brasileiros, reproduziram a alocução insultuosa e obscena do Jair. Raramente alguém com responsabilidades institucionais foi tão longe. Com o Jair na presidência, o Brasil tem o seu prestígio internacional ameaçado e isso perturba muita gente, dentro e fora do Brasil.
Embora o Jair já mostrasse, por vezes, alguns sinais de desequilíbrio mental e de um elevadíssimo défice cultural, nunca como agora tinha utilizado um tom tão autoritário, insultuoso e grosseiro, como aquele que todos pudemos ver na famosa reunião do dia 22 de Abril com os seus ministros. O Jair mostrou uma absoluta boçalidade, muita impreparação e uma total falta de respeito democrático pelo povo brasileiro e por aqueles que o representam, ao recorrer à obscenidade e ao insulto, designadamente em relação aos governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como aos juizes do Supremo Tribunal Federal. Numa explosão de fúria inaceitável em quem preside a um grande país, o Jair afirmou querer que o povo se arme e que era fácil impor uma ditadura no Brasil. Além de autoritário e impreparado, também irresponsável.
Entretanto, no quadro da incidência do covid-19, o Brasil está no epicentro da pandemia e já chegou à segunda posição desse ranking mundial, logo a seguir aos Estados Unidos. As imagens que nos chegam dos cemitérios são chocantes e, com a generalizada crise económica mundial que já aí está, são sombrios os dias que se aproximam para os brasileiros. Era necessário que o Brasil tivesse um presidente à altura das circunstâncias em vez deste Jair Messias Bolsonaro, ignorante, grosseiro e que insulta meio mundo, além de continuar sem se retratar por ter classificado como gripezinha ou resfriadinho uma pandemia que já causou mais de vinte mil mortes no Brasil.