quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um Branquinho que gosta de dinheirinho

Por vezes somos confrontados com pequenas coisas da vida política que só servem para nos incomodar e para nos tornarem mais cépticos em relação à viabilidade de um projecto colectivo gizado por um tal Afonso Henriques, que já leva quase nove séculos e se chama Portugal. Então não é que, apesar da austeridade e da necessidade de forte contenção orçamental imposta pelo governo em 2013 e 2014, um tal Branquinho ao ser nomeado secretário de Estado, optou por não abrir mão do seu subsídio de alojamento por não ter residência em Lisboa? Não lhe bastava o salário e as despesas de representação, mais as ajudas de custo e o subsídio de alimentação, as despesas de telefone, a viatura com motorista e o cartão de crédito. Etc. A sua ânsia de facturar levou-o a não prescindir destes 753 euros por mês! Esta pobreza de espírito e esta ganância por dinheiro faz-me uma azia, que nem o Kompensan me alivia. Mas quem é este Branquinho?
Branquinho foi um jota precoce e com 27 anos já era deputado, mas basta ver o seu currículo oficial para concluir que nunca exerceu uma profissão e que é um boy que tem vivido à custa do seu partido e dos contribuintes, tendo-se tornado conhecido por alguns casos muito confusos que envolvem muito dinheiro. Em 2002 era o único detentor da empresa de publicidade NTM à qual foi adjudicada uma campanha de comunicação para um programa de formação profissional autárquico gerido pelo seu guru Miguel Relvas, no valor de quase 450 mil euros, caso que está a ser investigado pelo Ministério Público. Mais tarde voltamos a ouvir falar dele quando foi contratado pela famosa Ongoing que, em dez meses, lhe pagou 200 mil euros pelos serviços prestados. Agora está no governo e requereu 753 euros por mês, a que tem direito como subsídio de alojamento. Podia recusar o subsídio e o ridículo, mas não o fez. É assim este Branquinho que gosta de dinheirinho, que é Agostinho mas que não passa de um coitadinho!

Os novos paraísos fiscais dos chineses

A página da ICIJ - International Consortium of Investigative Journalists na internet e as edições de vários órgãos de comunicação internacionais como a BBC, o Le Monde, o Washington Post, o The Guardian e o El País, entre outros, deram a notícia: há 37 mil chineses com activos em paraísos fiscais e, entre eles, há muitos familiares da élite comunista da China, assim como políticos, empresários de sucesso e grandes companhias estatais. Esta notícia resultou de uma demorada investigação em que participaram 86 jornalistas de 46 países que consultaram dois milhões de documentos em arquivo e revelou informações sobre as fortunas escondidas das élites chinesas e sobre a gigantesca rede de abusos, ilegalidades e corrupção que sustentam a segunda economia do mundo. É o Chinaleaks.
A China escolheu a liberalização da sua economia mantendo a ditadura do partido único segundo a fórmula de Deng Xiao Ping - um país, dois sistemas - e isto gerou algumas disfunções. A par de um impressionante crescimento económico que tirou milhões de chineses da pobreza e que enriqueceu a camada dirigente, acentuou-se um brutal crescimento das desigualdades sociais e geográficas, a corrupção alastrou em larga escala e até surgiu uma bolha imobiliária semelhante à que tanta desgraça causou no Ocidente. O enorme escândalo agora revelado por esta investigação da ICIJ até obrigou o governo chinês a bloquear a informação da internet sobre este caso.
O que é interessante é ver a forma como essa teia de corrupção e lavagem de dinheiro dos milionários chineses se estendeu à Europa, cada vez mais transformada num paraíso fiscal para os chineses. Portugal não ficou fora da rede e aqui compraram a EDP, a REN e a EDP Renováveis. Depois ficaram com a Caixa Seguros, o que significa que a Multicare também é chinesa. Já andam a namorar as águas, os mármores, a banca e a energia solar. Centenas deles já têm o visto gold. Pequeninos, muito pequeninos, alguns dos nossos dirigentes deslumbraram-se. Julgam que o dinheiro vale tudo. São uns vulgares vende-pátrias. O que dirão a isto o irrevogável Portas, o goldman Arnaut, o oriental Catroga, o eléctrico Mexia e a malta do Conselho Geral e de Supervisão da EDP?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Síria: à procura da paz em Montreux

A desejada conferência de paz para a Síria começa hoje em Montreux, mas não se esperam quaisquer resultados imediatos. Depois de cerca de três anos de guerra cruel e sangrenta que matou mais de 130 mil pessoas, fez milhões de refugiados, devastou a economia e destruiu as cidades que antes eram prósperas, os representantes de mais de trinta países vão apelar às partes para negociarem uma solução para o conflito, a que se seguirá, o primeiro frente-a-frente entre os beligerantes ainda esta semana, apenas com a presença dos mediadores das Nações Unidas.
De um lado estarão o Governo Sírio de Bashar el-Assad e os seus aliados libaneses do Hezbollah. Do outro lado estarão os representantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, dos extremistas da Jabhat Al-Nusra, da Frente Islâmica e do Conselho Superior Militar Sírio. Aparentemente, nenhuma das partes procura ou espera um fim rápido para o conflito, porque do lado do governo tem havido algumas vitórias militares no terreno que pretende consolidar e, do lado da oposição, continua a divisão e a conflitualidade, além de ainda estar longe de alcançar os objectivos mínimos a que se propõe, em especial o afastamento de Bashar el-Assad. Esta primeira ronda de negociações directas mediadas pela Rússia e pelos Estados Unidos vão decorrer durante sete a dez dias, a que se seguirá um curto período de reflexão e de consultas, esperando-se que os diplomatas saibam criar medidas de confiança e levar as partes a dar pequenos passos na direcção da paz, através de acordos de cessar-fogos locais e da abertura de corredores humanitários.
Entretanto, é preciso ter presente que o conflito evoluiu para uma “guerra por procuração” entre o Irão (xiita) e a Arábia Saudita (sunita), mas também entre os interesses da Rússia e dos Estados Unidos. As negociações são, por isso, demasiado complexas e, como diz hoje o Libération, é a paz impossível. Porém, é preciso que não seja assim.

A França recupera as línguas regionais

A Europa foi sempre um mosaico de povos, de culturas e de línguas que, ao longo do processo histórico, se confrontaram ou se aculturaram, dando origem a uma enorme variedade de nações e línguas nacionais.  A França é um exemplo dessa evolução, pois no território francês viveram (e vivem) povos com línguas e dialectos distintos, como sucede com o bretão, o occitano, o provençal, o corso, o basco, o catalão, o baixo-alemão e alguns mais. Com o tempo, o dialeto da região de Paris – o franciano – acabou por suplantar os outros dialetos e transformou-se na base da língua oficial da França, num processo semelhante ao que sucedeu em Espanha com o castelhano, que se transformou na língua espanhola. A unificação linguística acentuou-se em França com o Decreto de Villers-Cotterêts de 1539, com o qual o Rei Francisco impôs o francês como a língua oficial  da Corte e dos procedimentos administrativos, em vez do latim que era usado até então.
O francês impôs-se mundialmente e é a língua oficial de três dezenas de países de vários continentes e, na Europa, é falado na Bélgica, Suíça, Luxemburgo e Mónaco. Porém, quando o fenómeno da globalização se acentua e tende a unificar padrões culturais, comportamentos e línguas, está a verificar-se um interesse renovado pelas línguas regionais da França, algumas das quais a UNESCO classifica como línguas em extinção.  O jornal La Croix trata hoje desse problema e revela que o governo francês aposta e apoia a promoção dessas línguas e que o número de escolas bilingues está a aumentar, sobretudo na Bretanha e na Córsega, mas também na Alsácia e no País Basco francês. Contudo, este interesse pelas línguas regionais não parece estar associado a movimentos separatistas.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os bifes do Café Império

No número 205 da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, localiza-se o famoso Café Império, num edifício de traço arquitectónico modernista que foi projectado por Cassiano Branco em 1947. Esse edifício foi concluído em 1952, embora o café só tivesse sido inaugurado em 1955, tendo sido classificado em 1966 como imóvel de interesse público pelo IPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico. O Café Império tornou-se então um importante espaço de convívio da vida lisboeta, sobretudo para quem estudava ou para quem conspirava naquele tempo da ditadura. Havia a imponente escadaria de acesso ao café, as inúmeras mesas redondas, os empregados de calça preta e jaqueta branca, os engraxadores e a sala dos bilhares mas, sobretudo, havia muitas tertúlias. O café fechava às duas e meia da madrugada e pela noite dentro servia os famosos "bifes à Império"que lhe trouxeram fama e rivalidade com os bifes da Portugália, cada qual com os seus adeptos e o seu apreciado molho.
Um dia a IURD adquiriu todo o edifício onde também existia o Cinema Império, encerrou o café e iniciou obras para o transformar num local de culto, mas a contestação levou a que a obra fosse embargada pela Câmara Municipal. Nessas circunstâncias, a IURD viu-se obrigada a trespassar o café a uma empresa de restauração que manteve os empregados da casa e renovou o estabelecimento com o objectivo recuperar a qualidade e o simbolismo que no passado havia sido reconhecido. O Café Império abriu ao público em 2006 com assinalável sucesso, voltando a reunir tertúlias e a servir os bifes que lhe deram fama e, agora, junto à sua porta, decidiu publicitar esses mesmos “bifes à Império”, sobretudo para quem está “farto de Coelho”. A clientela vai certamente aumentar!

Sobre o estado da nação

Depois de mais de trinta meses de governação da actual maioria e a quatro meses de terminar o programa de ajustamento que foi acordado com a troika, é altura de se começarem a fazer balanços, até porque se aproximam as eleições europeias. O governo e a sua gente querem passar a ideia de que o programa foi um sucesso e até parece estar a ser criado um ambiente de euforia. É bom que se contenham e que não ofendam quem passou e está a passar mal por causa da sua insensibilidade e do seu fanatismo ideológico. A troika vai-se embora, mas os problemas acumulados desde há muitos anos ficam cá, com um país mais triste, mais desigual e mais envelhecido. Porém, é preciso recordar quem chumbou o PEC4 e chamou a troika, dizendo que o seu programa era o programa da troika e que iria surpreender por ir mais longe do que as imposições da dita troika. Nem se pode esquecer a promessa de resolver o problema das Finanças Públicas com o corte nas “gorduras do Estado”, nem a declaração pré-eleitoral mais simbólica de Passos: "Nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos que não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro".
Foi uma enorme mentira. Sem qualquer pudor, o governo foi ao bolso dos mais pobres e cortou salários e confiscou pensões. Não tocou nos interesses instalados. Não corrigiu o défice público que continua excessivo. Fez aumentar substancialmente a dívida pública. Atacou as políticas sociais e, em especial, cortou na saúde e na educação. Privatizou sem cuidar do interesse nacional. Humilhou as Forças Armadas. Tentou repetidamente violar a Constituição.
Como consequência das suas políticas, o produto nacional regrediu e o desemprego tornou-se um grave problema social. Foram destruídos mais de 300 mil postos de trabalho líquidos. Aumentaram as desigualdades, as injustiças e a pobreza. Foram empurradas mais de 200 mil pessoas para a emigração, incluindo jovens altamente qualificados. O aparelho de Estado foi ocupado por “assessores de aviário”, uns ex-jotas ambiciosos e impreparados para os quais não faltam bons salários, nem Audi, nem BMW.
Para saber o que se passa nem é preciso consultar estatísticas. Basta observar ou, então, escutar o que dizem Bagão Félix, Ferreira Leite ou Pacheco Pereira.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O impacto da tecnologia sobre o emprego

Na sua última edição, a revista The Economist escolheu as questões da tecnologia e do emprego como tema central, ilustrando-o com a imagem de um tornado a destruir um escritório. É uma imagem eloquente. Na realidade, o efeito das tecnologias sobre o emprego foi sempre muito importante e se na Revolução Industrial substituiu os tecelões artesanais pelos teares mecânicos, também na Revolução Digital dos nossos dias está a destruir muitos dos postos de trabalho que sustentaram a classe média no século XX. Há cem anos, nos países industrializados, a agricultura ocupava um terço da mão-de-obra, mas actualmente a agricultura ocupa apenas 2% da população e produz muito mais. Porém, esses trabalhadores excedentários não foram para o desemprego, tendo sido absorvidos por outros empregos mais sofisticados e mais bem pagos. A sociedade desenvolveu-se e o ser humano passou a viver melhor.
O que se passa actualmente é semelhante pois estão a desaparecer postos de trabalho em consequência da inovação tecnológica, caso dos dactilógrafos, dos vendedores de bilhetes, dos caixas dos bancos e de muitos outros intervenientes nas linhas de produção. Até agora, os postos de trabalho mais vulneráveis ​​às novas tecnologias eram os que envolviam tarefas repetitivas de rotina, mas graças ao aumento exponencial da capacidade de processamento e à presença da informação digitalizada, os computadores são cada vez mais capazes de realizar tarefas complexas de forma mais barata e eficaz do que as pessoas. Assim se gera o desemprego e se acentua um desemprego estrutural de efeitos sociais imprevisíveis. Por isso, o The Economist afirma que é preciso mais investimento na educação, nomeadamente em educação pré-escolar, uma vez que as capacidades cognitivas e sociais que as crianças aprendem nos seus primeiros anos definem grande parte do seu potencial futuro, enquanto os adultos vão precisar cada vez mais de formação continuada. Segundo aquela revista, é preciso mais inovação e uma renovada capacidade para inventar novos bens e serviços para empregar os milhões de pessoas que cairam no desemprego mas, ainda segundo o The Economist, os governos não estão preparados para isso.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Goa recebe os III Jogos da Lusofonia

A terceira edição dos Jogos da Lusofonia iniciam-se amanhã em Goa e decorrerão até ao dia 29 de Janeiro, com a participação de cerca de 1500 atletas provenientes de 12 países - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor (membros plenos da ACOLOP - Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa) e Guiné Equatorial, Índia (Goa) e Sri Lanka (membros associados da ACOLOP).
Os Jogos da Lusofonia são um evento desportivo entre os países de língua portuguesa, constituindo a versão portuguesa dos Jogos Olímpicos, dos Jogos da  Commonwealth ou dos Jeux de la Francophonie. As duas primeiras edições dos disputaram-se em Macau (2006) e em Lisboa (2009), tendo os resultados desportivos favorecido o Brasil (133 medalhas), Portugal (125), Macau (26), Angola (19) e Cabo Verde (13). Nesta edição Portugal vai estar representado por 57 atletas que participarão apenas em seis das dez modalidades presentes nos Jogos, designadamente nas provas de atletismo, judo, taekwondo, ténis de mesa, voleibol de praia e wushu, mas não vai estar presente nas provas de basquetebol, voleibol, desporto para deficientes e, sobretudo, no torneio de futebol, o que constitui uma desilusão para os goeses, uma vez que o futebol é o desporto-rei de Goa.
É lamentável que as nossas autoridades desportivas e até governamentais não tenham actuado no sentido de que fosse apresentada uma representação mais numerosa e mais credenciada, uma vez que só uma atleta olímpica estará em Goa (a judoca Yahima Ramirez). O atraso nas datas dos Jogos da Lusofonia, deslocados de Novembro para Janeiro devido a atrasos verificados na construção de novos recintos desportivos, terá alterado a programação da representação portuguesa e desviado os principais nomes do desporto nacional, muitos deles subsidiados pelo Estado. Porém, isso não é razão suficiente para justificar este desinteresse e esta presença tão pobre. A memória portuguesa em Goa merecia um outro tipo de representação.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A minha Pátria é a língua portuguesa

A cerimónia de entrega do prémio de melhor futebolista do mundo a Cristiano Ronaldo, ontem transmitida pela televisão a partir de Zurique, foi vista por muitos milhões de espectadores em todo o planeta. Hoje, tive a curiosidade de observar as primeiras páginas de um grande número de jornais que se publicam em todo o mundo e verifiquei que essa notícia é destacada em muitas dezenas deles e que é ilustrada com expressivas fotografias. Não há memória de alguma vez, designadamente nesta era da globalização da informação, o nosso país ter estado envolvido num acontecimento mediático desta envergadura.
Um dos aspectos mais curiosos da espectacular Gala da FIFA foi o facto de ter sido falada em várias línguas, com destaque para o inglês e o português. A língua portuguesa esteve em evidência por ter sido utilizada nos emocionados agradecimentos de Pélé (que recebeu um prémio honorário que homenageia a sua carreira) e por Cristiano Ronaldo que recebeu a Bola de Ouro 2013. O Correio Braziliense aproveitou esse facto e "clonou" um futebolista ideal que fala português, meio-Pélé e meio-Ronaldo. Além disso, também as velhas glórias brasileiras que subiram ao palco para promover o Mundial de 2014 utilizaram o português, tal como a apresentadora Fernanda Lima que alternou as suas intervenções entre o inglês e o português.
A imprensa brasileira reparou em tudo isto e utilizou alguns títulos muito sugestivos:
     O português é a língua da bola (Correio Braziliense)
     Os génios falam português (revista Lance)
     Festa em português (O Globo)
Os prémios de Cristiano Ronaldo e Pélé acabaram por prestar um relevante serviço à língua portuguesa e razão tinha Fernando Pessoa quando, pela pena do seu heterónimo Bernardo Soares, escreveu que “a minha Pátria é a língua portuguesa”.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Ronaldo conquistou o Ballon d’Or 2013

Cristiano Ronaldo conquistou a Bola de Ouro de 2013, o que significa que foi eleito como o melhor jogador de futebol do mundo e que deu uma enorme alegria a todos os portugueses, que têm poucas oportunidades para ver internacionalmente reconhecido o mérito dos seus filhos. Numa época em que o futebol se globalizou e se tornou no maior fenómeno social de massas, esta distinção premeia as superiores qualidades e talentos futebolísticos de Ronaldo, o seu profissionalismo e a sua dedicação, mas também a sua correcta atitude perante os interesses que o rodeiam, nomeadamente o complexo mundo do futebol e as sofisticadas máquinas publicitárias. 
Evidentemente que a Bola de Ouro tem um valor simbólico e que há muitos outros futebolistas talentosos, mas no prolongado período de empobrecimento económico e social por que passamos, aquela distinção constitui um prémio que emociona toda a nossa sociedade, em especial os mais desfavorecidos e aqueles que cantam “A Portuguesa” nos estádios e andam vestidos com a camisola 7 da selecção nacional. Para além de levar o nome de Portugal a todo o mundo por muitas e boas razões, o prémio de Ronaldo e as circunstâncias emocionais como o recebeu na gala de Zurique da FIFA também encheram de orgulho os portugueses da diáspora e os novos emigrantes que agora procuram um rumo para a sua vida, dando-lhes um acrescido motivo de satisfação, mas são também uma pequena resposta para aqueles que na esfera internacional nos têm subvalorizado e humilhado.
Cristiano Ronaldo está de parabéns. Os portugueses merecem este Ronaldo e é uma pena não termos muitos mais Ronaldos, espalhados pelos nossos centros de decisão, para nos darem alegrias como esta. 

 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Arnaut premiado pelos serviços prestados

O antigo ministro Arnaut, que também foi secretário-geral do partido que nos governa, acaba de ser nomeado para o conselho consultivo internacional do banco americano Goldman Sachs, uma assembleia de 18 consultores especializados em relações promíscuas e contratos especulativos com alguns governos, conforme um filme recente bem evidenciou. Foi óptimo para ele, mas também para nós porque nos livramos das suas aparições televisivas a transpirar de vaidade.
Esta nomeação acontece quando está em curso um programa de privatizações que o governo tem seguido desde 2011 com vista à redução da dívida pública, mas também para cumprir uma orientação ideológica que visa afastar o Estado da actividade económica. Nessas privatizações destacou-se o escritório de advogados CSM Rui Pena & Arnaut e o seu sócio J. L. Arnaut, que estiveram envolvidos em todas elas, além de terem contado com o lobbying feito nas televisões pelo mesmo Arnaut, embora disfarçado de comentador. Arnaut começou por estar na privatização da EDP, seguiu-se a privatização da REN (para onde foi depois nomeado administrador) e depois a privatização da ANA (onde fez aconselhamento jurídico à empresa francesa Vinci e onde passou a ser presidente da Assembleia Geral). Esteve depois na falhada privatização da TAP (onde fez assessoria jurídica) e, depois na venda em bolsa dos CTT, em que a Goldman Sachs se tornou o seu maior accionista.
Arnaut é um exemplo da promiscuidade entre o interesse público e o interesse privado. Uma vezes esteve com o Estado, outras vezes com as empresas vendidas e outras, ainda, com as entidades compradoras. Esteve sempre com quem lhe pagou melhor. Sempre em completa confusão entre política e negócios. Sem o mínimo pudor. Representou os interesses de bancos como o Goldman Sachs e o JP Morgan nas negociações com os swaps, foi contratado pelo governo português para assessorar a emissão de dívida pública e acusou os juízes do Tribunal Constitucional de quererem manter privilégios. Tudo isto está escrito nos jornais. Todos esses serviços foram agora premiados com a sua nomeação para o conselho dos abutres.
 

sábado, 11 de janeiro de 2014

A RTP e o perspicaz Maduro

A programação televisiva que temos é geralmente uma desgraça e a nossa RTP, que é uma máquina que funciona com o dinheiro dos nossos impostos e que alimenta e faz favores a muita gente que por aí anda, é o melhor exemplo dessa desgraça.
Antes de chegar ao poder, o nosso primeiro anunciou que a RTP devorava um milhão de euros por dia e prometeu acabar com esse forrobodó, tendo encarregado dessa tarefa o um homem que era o seu braço direito e que ficou famoso pelas emboscadas políticas em que caiu. Chamava-se Relvas, estará ausente no Brasil, eventualmente a estudar.
O nosso primeiro foi então buscar alguém a Vila Nova de Poiares. Um Poiares Maduro! Um homem com um currículo maior do que ele, um talento, uma sumidade. Porém, os meses passaram e a RTP tem andado de mal a pior. Agora o ministro Maduro actuou e, depois de vários meses de estudo, veio dizer-nos que a RTP tem demasiados gastos com os seus trabalhadores. Uma inesperada e surpreendente novidade! Uma perspicácia madura!
Entretanto, o ministro Maduro também nos disse que pela prestação do serviço público, a RTP vai deixar de receber a habitual indemnização compensatória a partir da transferência do Orçamento do Estado, para passar a receber financiamento público apenas por via da contribuição para o audiovisual, que os portugueses pagam através da factura da electricidade. Uma atrevida esperteza que faz com que os mesmos continuem a pagar! Uma perspicácia madura!
E nós, contribuintes ávidos de verdadeiras reformas e de verdadeiras correcções ao que precisa de ser corrigido, ficamos estupefactos com mais este Maduro a juntar a tantos outros que por aí circulam.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O governo ataca os pensionistas de novo

Num exercício de cegueira política e de chocante insensibilidade social, o governo decidiu atacar uma vez mais aqueles que constituem a camada mais débil da nossa sociedade e, com um ar triunfante, anuncia as medidas tomadas. Não foi isso que prometeram em campanha eleitoral. Mentiram. Não merecem o nosso respeito!
Com mais esta violência vão arranjar duas ou três centenas de milhões de euros para reduzir o défice público em 0,2%, quando o mesmo resultado poderia ser conseguido por diversas outras vias, desde uma negociação com a troika, até ao corte de uma pequena fatia dos lucros da EDP. Os antigos ministros Bagão Félix e Ferreira Leite já explicaram como poderia ter sido evitado este ataque ao bolso e aos direitos dos pensionistas, porque as pensões não são um subsídio nem um favor. São um direito e resultam da regular entrega ao Estado de valores que as pessoas retiraram dos seus rendimentos salariais para receberem quando se reformam. O direito à pensão tem uma legitimidade igual ao direito à propriedade privada e, com estas decisões governamentais, o Estado está a perder a confiança dos cidadãos. Ao proceder ao confisco das pensões, o Estado deixa de ser uma pessoa de bem e mostra-se cada vez mais tomado por interesses e por promiscuidades, sem vontade de corrigir as desigualdades gritantes que atravessam a nossa sociedade, nem procurar servir o interesse público, nem o bem comum. O Jornal de Notícias informa hoje que 401.858 pensionistas, dos quais 262.577 pertencentes ao regime da CGA e 139.281 pertencentes ao regime da Segurança Social, vão ser afectados pela CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade), que vai passar a ser aplicada às pensões superiores a mil euros. Não são os mais pobres da sociedade, mas é para a pobreza que esta gente os quer atirar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A grande guerra dos licores nacionais

No passado ano de 2013 aconteceu uma pequena guerra jurídica entre dois licores portugueses, protagonizada pelo “velho” Licor Beirão (da Lousã) e o “novíssimo” Licor Nacional (da Anadia). O Licor Beirão nasceu no século XIX e adoptou, desde 1940, o slogan “o licor de Portugal”, enquanto o Licor Nacional foi lançado no mercado pelas Caves da Montanha em 2012.
Perante esta ameaça comercial a empresa do Licor Beirão reagiu e requereu ao Tribunal de Propriedade Intelectual que a nova marca fosse impedida de ser fabricada, engarrafada, distribuída, promovida e vendida, alegando que estavam a ser apropriados os valores nacionais que considerava serem seus, além de que a expressão “licor de Portugal” e o nome Licor Nacional poderiam ser confundidos pelo consumidor. O Tribunal considerou que a expressão "o licor de Portugal” não pode ser considerada de uso exclusivo pelo Licor Beirão, pelo que nada impede que o Licor Nacional utilize expressão igual ou semelhante na composição do seu slogan. A decisão judicial reforça, ainda, que não se verifica qualquer semelhança gráfica, fonética ou outra que induza o consumidor médio de bebidas espirituosas em erro ou confusão entre as marcas Licor Nacional e Licor Beirão.
Com base nesta decisão, o Licor Nacional desencadeou uma campanha publicitária em vários suportes, nomeadamente em cartazes, com uma dimensão como já se não via em Portugal há muito tempo. Segundo a marca, a campanha pretende mostrar que Portugal é feito de coisas boas e escolheu a artista de telenovela Rita Pereira para bem representar esses bons valores, ou seja, para mostrar aos consumidores que o que é português é bom ou “É Daqui”.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Temporal violento na costa portuguesa

Toda a costa continental portuguesa desde Caminha a Vila Real de Santo António, foi assolada por um temporal de magnitude pouco habitual e com forte agitação marítima. Muitas pessoas disseram nunca ter visto ondas tão grandes e chamaram-lhes “ondas gigantes”. As televisões mostraram as imagens das ondas e dos seus efeitos. O Instituto Hidrográfico registou na sua rede de ondógrafos as ondas de 19 metros de altura e os ventos de 107 quilómetros por hora ao largo da Nazaré. Ao largo de Sines registaram-se ondas de 17,5 metros de altura, o que corresponde ao maior valor registado naquela zona nos últimos 25 anos. Foram ainda registadas ondas de 15,6 metros de altura em Leixões e de 9,1 metros de altura em Faro. A forte agitação marítima provocou avultados estragos na generalidade das praias portuguesas, tendo sido destruídos muros de protecção, embarcações, estabelecimentos, mobiliário urbano e árvores. A Foz do Douro foi uma das áreas mais afectadas, tendo sido arrastadas e danificadas pelo mar algumas dezenas de carros.
A agitação marítima proporciona sempre imagens muito atraentes e o jornal i não perdeu a oportunidade, tendo utilizado a espectacular fotografia do mar a saltar sobre o farol da Foz do Douro para ilustrar a primeira página da sua edição de hoje.