domingo, 8 de outubro de 2023

E de repente, aí está mais uma guerra

O mundo foi surpreendido ontem com um poderoso ataque do Hamas contra o estado de Israel, lançado a partir da Faixa de Gaza, em que foram dirigidos milhares de rockets sobre o território israelita, ao mesmo tempo que um número indefinido dos seus militantes se infiltrava em território israelita, matando e sequestrando militares e civis. Israel foi apanhado de surpresa mas já reagiu, tendo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisado a população de que o país está em guerra, como se pode ler hoje na manchete do jornal Corriere della Sera.
A Faixa de Gaza é um pequeno território na orla mediterrânica com 365 km2 de superfície, cujo maior comprimento são 41 km, que é governado desde 2007 pelo Hamas que venceu as eleições legislativas de 2006.
O Hamas é um grupo fundamentalista islâmico de origem palestiniana que foi fundado em 1987, cujo lema é “Alá é o nosso princípio, o Profeta o nosso modelo, o Corão a nossa Constituição e a jhiad o nosso caminho”, pelo que os seus objectivos de luta são a autodeterminação da Palestina, a recuperação dos territórios palestinianos ocupados e, naturalmente, a destruição do estado de Israel.
A violência do ataque do Hamas surpreendeu o mundo, mas todos esperam uma resposta proporcional de Israel, a quem os Estados Unidos ofereceram imediato apoio.
Numa altura em que tantos discutem uma saída para a guerra na Ucrânia que tanta tragédia está a causar, a iniciativa do Hamas veio “lançar gasolina sobre a fogueira” da instabilidade mundial. A Humanidade passa por tempos difíceis e, perante estas graves situações de conflito, a generalidade dos países prefere anunciar os seus alinhamentos, em vez de apelar à sua resolução pacífica e negociada. Aqui, temos a particularidade de ser o Supremo Magistrado da Nação a querer aparecer, a ir a todas e a atropelar o governo, que é a entidade responsável pela condução da nossa política externa. Ele sabe disso, mas não resiste e insiste…

sábado, 7 de outubro de 2023

A guerra na Ucrânia e a luta de Zelensky

A guerra na Ucrânia está a revelar-se cada vez mais uma grande tragédia e a necessidade de um cessar-fogo é cada vez mais evidente. Apesar de haver horas seguidas de noticiários televisivos e dezenas de comentadores, não sabemos o que realmente se passa no terreno, nem nas chancelarias. Há narrativas para todos os gostos, Putin e Zelensky foram longe de mais no radicalismo dos seus discursos e nunca haverá vencedores nesta guerra, pois todos sairão derrotados. Qualquer que seja o seu desenvolvimento, as marcas desta guerra irão perdurar por muitos anos em todo o mundo. Porém, nas últimas semanas houve algumas novidades, com Volodymyr Zelensky a andar numa roda-viva a procurar apoios e a ouvir promessas de “apoio duradouro”, mas também alguns conselhos para se sentar à mesa de negociações. No dia 18 de Setembro foi a Nova Iorque para falar na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança das Nações Unidas, encontrou-se com Lula da Silva, discutiu com Joe Biden e ficou a saber que o apoio americano já não é o que foi. No dia 22 seguiu para o Canadá onde, depois dos encontros muito tensos que tivera nos Estados Unidos, foi recebido com grande entusiasmo. De regresso à Ucrânia, esteve na reunião do passado dia 2 de Outubro, que juntou em Kiev os ministros dos Negócios Estrangeiros de 24 dos 27 estados-membros da União Europeia, o que aconteceu pela primeira vez fora das suas fronteiras. No dia 4 de Outubro, Zelensky reuniu em Granada com a chamada Comunidade Política Europeia que junta os líderes de cerca de cinquenta países e, no dia 5, assistiu como convidado à reunião do Conselho Europeu.
Volodymyr Zelensky esteve em todas estas reuniões e em todas voltou a ter um apoio mais ou menos unânime, tendo pedido “um escudo de defesa para o inverno”, não só para enfrentar a agressão russa, mas também pela necessidade de “salvar a unidade da Europa”. Porém, fala-se cada vez mais em fadiga e as opiniões públicas americanas e europeias parecem cansadas. Zelensky nunca estivera tanto tempo fora do país, mas sentiu necessidade de bater a todas as portas, pois já percebeu que a promessa de “apoio enquanto for necessário” ou de “apoio duradouro”, se está a tornar hesitante ou menos firme. Como escreveu o La Vanguardia, o principal jornal da Catalunha, “Zelensky implora a Europa que no desfallezca en su ayuda a Ucrania”.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

McCarthy e a agitação política americana

O deputado republicano Kevin McCarthy, que era o speaker da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, foi destituído do seu cargo na sequência de uma votação em que oito deputados da direita radical do seu partido se aliaram com a minoria democrata e o afastaram por 216 votos contra 210. Toda a imprensa americana destacou esta notícia. Uma situação destas nunca tinha acontecido na história americana e, de acordo com a imprensa, tanto o partido Republicano como a Câmara dos Representantes “estão no caos”, numa altura crítica para o país devido à necessidade de um acordo sobre o orçamento do próximo ano, mas também em relação ao apoio à Ucrânia, ao inquérito de impeachment a Joe Biden e à campanha presidencial que se aproxima. As explicações que a imprensa internacional dá para esta situação são pouco convincentes, pois não pode ser apenas uma questão de rivalidades pessoais entre os deputados Kevin Mc Carthy e Matt Gaetz, ou de combate político entre os dois blocos partidários americanos.
Estão decorridos quase três anos sobre a vitória eleitoral de Joe Biden e a invasão do Capitólio, mas “seis em cada dez republicanos ainda não acreditam que Joe Biden ganhou legitimamente em 2020”. Desde então, os republicanos e o ex-presidente Donald Trump, têm alimentado um intenso combate político a que os americanos não estavam habituados, não só como elemento da normal luta pelo poder nas sociedades democráticas, mas também porque parece serem crescentes as dúvidas quanto ao apoio futuro à Ucrânia que está a ser demasiado caro. Provavelmente, a destituição de Kevin McCarthy está relacionada com as crescentes dúvidas sobre esse problema e o facto é que, de repente, em Kiev e em Granada, os europeus têm procurado alternativas à assistência americana à Ucrânia.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Regiões francesas aspiram à autonomia

Depois da Rússia e da Ucrânia, a França é o maior país da Europa, estando dividida em 18 regiões, das quais 13 pertencem à França Metropolitana e cinco à França Ultramarina. Entre as regiões metropolitanas encontram-se a Córsega e a Bretanha, ambas com identidades culturais específicas, línguas próprias e aspirações autonomistas.
A Córsega tem a sua capital em Ajaccio e é uma ilha mediterrânica onde existem movimentos independentistas com fortes raízes históricas, que por vezes se têm manifestado por via violenta. Recentemente, o presidente Emmanuel Macron, em visita à ilha, propôs um prazo de seis meses para que o governo corso e os partidos locais encontrem uma forma de autonomia política limitada, mas que assegure que a ilha se mantenha no seio da República Francesa, eventualmente com um estatuto semelhante ao das comunidades autónomas espanholas ou das duas regiões autónomas portuguesas.
A Bretanha tem capital em Rennes e é uma península do noroeste da França, onde também existe uma distinta identidade cultural e fortes aspirações autonomistas, incrementadas sobretudo pela imposição da língua francesa contra a vontade local de preservar as línguas e dialectos locais, como o bretão e o galo.
O problema corso e o problema bretão não têm as mesmas características em relação ao centralismo de Paris, mas a edição de hoje do jornal Le Télégramme mostra que a “abertura” de Emmanuel Macron relativamente à Córsega, deixou os bretões com vontade de seguir o exemplo corso.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Os telemóveis perturbam a vida da escola

Todos conhecemos os benefícios que as comunicações móveis trouxeram ao mundo, mas tem havido uma excessiva dependência, ou uma quase escravatura das pessoas em relação ao telemóvel, como facilmente se verifica na vida quotidiana. Essa dependência tem sido estudada, sobretudo no que respeita à sua utilização nas escolas, tendo-se tornado um tema muito polémico. 
Há quem defenda que os telemóveis são úteis para a segurança dos alunos por permitirem que eles comuniquem com os pais, com a escola ou com as autoridades, mas também há quem afirme que os telemóveis afectam a saúde mental dos alunos, que dificultam a socialização juvenil e que constituem uma perturbação constante nas salas de aula. O uso excessivo ou inadequado do telemóvel pelos alunos, nas salas de aula ou em casa, através de smartphones, tablets ou laptops, afecta o desempenho dos estudantes porque distrai e perturba negativamente a aprendizagem. Vários países já decidiram proibir o uso de telemóveis nas escolas e, segundo hoje anuncia o Daily Mail, a Inglaterra vai proibir o seu uso nas escolas públicas, tanto nas aulas como nos intervalos e, segundo o referido jornal, “será um alívio para milhões de pais e professores”. 
Um relatório da Unesco, a agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, publicado no início do corrente ano, concluía que o uso de telefones nas salas de aula era um factor de perturbação, de limitação da aprendizagem e de menor rendimento escolar.
O anúncio hoje divulgado pelo governo inglês representa uma decisão corajosa e acontece depois de muitos anos de debate, embora haja escolas que já proíbem a utilização de telemóveis pelos alunos, que são obrigados a entregá-los todas as manhãs. 

sábado, 30 de setembro de 2023

A “escultura de Picasso” no Guggenheim

Bilbau é uma cidade espanhola que é a capital da Biscaia, uma das três províncias da Comunidade Autónoma do País Basco, ou Euskadi. Com um património histórico importante e enquadrada numa atraente paisagem de mar e montanha, a cidade também se tornou num polo de atracção turística, sobretudo depois do Museu Guggenheim Bilbao ter sido aberto ao público em 1997. A cidade passou a receber milhares de turistas para ver aquela imponente construção, embora muitos deles fiquem desolados com a quase vulgaridade dos conteúdos. Este equipamento cultural foi concebido pelo famoso arquitecto americano Frank Gehry, é coberto exteriormente com placas de titânio e é atravessado por uma artística ponte elevada. É uma construção sumptuosa cujo exterior é mais impressionante que o seu interior, cujas características são mais de centro cultural e menos de museu. Apesar disso, é hoje um símbolo da arte contemporânea, pelas colecções de arte moderna que mostra na sua exposição permanente e pelas suas exposições temporárias.
A direcção do museu está atenta a novas iniciativas e às oportunidades da tecnologia, sobretudo o scanning e a impressão 3D, que abriram as portas a novas formas de produção artística, como a recriação de obras do passado. É o caso da obra do pintor malaguenho Pablo Picasso, uma parte da qual foi recriada em escultura. O Museu Guggenheim Bilbao expõe actualmente 54 obras em escultura produzidas a partir da obra pictórica de Picasso. O jornal El Correo, de Bilbao, destacou na sua edição de ontem esta exposição da “escultura de Picasso” e o facto é que Museu bem precisa de iniciativas como esta, porque só o edifício é pouco...

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Cooperação no Espaço, rivalidade na Terra

Depois de 371 dias no espaço, o astronauta americano de origem salvadorenha Francisco Carlos Rubio, ou simplesmente Frank Rubio, regressou à Terra a bordo da nave espacial russa Soyus MS-23, juntamente com os cosmonautas russos Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin. A nave aterrou nas estepes do Kazaquistão depois de ter efectuado 5.963 órbitas à Terra e, na sua edição de ontem, o The Wall Street Journal deu grande destaque a este acontecimento. A missão foi iniciada no dia 21 de Setembro de 2022 a bordo de uma nave russa e estava previsto ter uma duração de seis meses na Estação Espacial Internacional, mas uma avaria provocada por uma colisão com lixo espacial, impediu o regresso da nave. Em Fevereiro de 2023 a NASA e a Roscosmos chegaram a acordo para trazer os astronautas de regresso à Terra, o que aconteceu agora. O inesperado prolongamento desta missão resultou de atrasos na preparação na equipa de substituição constituída pela americana Loral O’Hara e pelos russos Oleg Kononenkop e Nikolai Chub, que chegaram à Estação Espacial Internacional no dia 15 de Setembro. Este imprevisto tornou Frank Rubio no recordista da maior permanência de um americano no espaço, embora o recordista mundial seja o russo Valeri Polyakov que esteve 437 dias seguidos em órbita a bordo da estação espacial Mir, entre Janeiro de 1994 e Março de 1995. Porém, o que é de salientar neste acontecimento é a boa cooperação espacial mantida entre a Rússia e os Estados Unidos, o que nos obriga a pensar nas razões porque não param a guerra na Ucrânia, ou a perguntar que interesses separam estes dois cooperantes espaciais.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O reaparecimento do “legado do medo”

No último texto que aqui publicamos foi tratado o ex-jornalismo independente e era referida uma comunicação de massas que produz e reproduz ideologias mascaradas de independência e neutralidade em relação aos interesses comerciais, políticos e até do próprio Estado. Os efeitos sociais dos mass media são intensos e são estudados desde há muitos anos, até existindo a “teoria das balas mágicas” que afirma que o processo de comunicação de massas é equivalente ao que se passa numa carreira de tiro, pois bastava atingir o alvo para que este caísse.
No actual contexto em que a comunicação social é um negócio, o jornalista deixou de ser um profissional independente e de valores próprios, para passar a partilhar os valores do seu patrão ou da sua empresa. Esta realidade tem-se agravado nos últimos anos e aplica-se à imprensa, à radio e à televisão. Nessa linha de pensamento, também o iluminado Marshall McLuhan afirmou que a rádio e a televisão estavam a fazer do nosso planeta uma “aldeia global”. De facto, são bem conhecidos os efeitos sociais e culturais dos mass media e, há poucos anos, um jornalista português de referência dizia que “a televisão vende sabonetes e até vende presidentes da república”.
Quando, na sua edição de hoje, o Diário de Notícias diz que “40% dos juízes admite que comunicação social influencia decisões”, confirmamos aquilo que há muito tempo era uma evidência e ficamos preocupados com os correios da manha e outros pasquins que, servindo duvidosos valores e princípios, utilizam a difamação, a inverdade, o sensacionalismo, a violação do segredo de justiça e o “vale tudo”, para estimular os julgamentos e as condenações na praça pública. Assim se ressuscita aquilo que os cientistas sociais americanos designam por “legado do medo”, isto é, o medo dos jornais e das televisões, o medo da difamação e da propaganda, o medo da suspeita malévola e sem fundamento, o medo das redes sociais, isto é, o medo da comunicação de massas.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Os jornais e o ex-jornalismo independente

Os tradicionais meios de comunicação social ou mass media são a imprensa, a rádio e a televisão, mas com o aparecimento de novos suportes como a internet e as redes sociais, a imprensa e a rádio têm perdido influência no espaço mediático. Dessa forma, esses meios de comunicação têm menos leitores e menos ouvintes, as suas audiências regridem, as suas receitas publicitárias descem e as suas equações económicas tornam-se mais difíceis de resolver. Por isso, o jornalismo e os jornais independentes são cada vez mais raros, sendo os leitores e os ouvintes confrontados com manipulações e inverdades de toda a ordem.
No caso dos jornais – mas não só nos jornais – a sobrevivência “obriga” a que os seus espaços cedam a lógica noticiosa e informativa, às lógicas da publicidade comercial e da propaganda política. Assim, para que possam “sobreviver”, os jornais disponibilizam e vendem cada vez mais o seu espaço para fins não informativos, deixando de ser suportes com notícias, para se transformarem em plataformas ao serviço de quem paga para vender produtos, serviços ou ideias. É, evidentemente, o fim do jornalismo independente.
No passado dia 19 de Setembro a primeira página do The New York Times era ocupada com um anúncio das malas de alumínio da marca Rimowa e no dia 21 de Setembro o diário espanhol ABC cedia toda a sua primeira página para expressar a sua gratidão à Coca-Cola, “por estos 25 años juntos”. Ontem foi a Folha de S. Paulo e outros jornais brasileiros, que publicaram em primeira página, um “informe publicitário” relativo à reunião do G20 do próximo ano no Rio de Janeiro, numa evidente cedência à propaganda do governo brasileiro.
Nestes casos, o The New York Times, o ABC e a Folha de S. Paulo puderam facturar muitos milhares para equilibrar a sua tesouraria, mas cada um deles “violou” a sua independência jornalística e abalou a sua credibilidade junto dos seus leitores.  

sábado, 23 de setembro de 2023

Macau: património de origem portuguesa

Quando um dos três jornais de língua portuguesa que se publicam em Macau apresenta com destaque na sua primeira página, uma fotografia aérea da Fortaleza do Monte, é caso para os apreciadores do património histórico ficarem agradados, ao por verem aquela obra de arquitectura militar portuguesa, com os seus quatro baluartes ou bastiões, que hoje integra a Lista do Património Mundial da UNESCO.
A Fortaleza de São Paulo do Monte, juntamente com as ruinas jesuítas da igreja de São Paulo, são os maiores símbolos da história da presença dos portugueses em Macau. Localiza-se no centro da pequena península de Macau e foi construída por iniciativa dos Jesuítas que a concluíram em 1617, tendo sido a sua artilharia dirigida por Lopo Sarmento de Carvalho, que impôs uma pesada derrota aos holandeses da VOC, quando no dia 24 de Junho de 1622 tentaram ocupar a cidade.
A edição de ontem do jtm – Jornal Tribuna de Macau noticia que o Instituto Cultural do governo de Macau e a Melco Resorts & Entertainment, a concessionária do jogo na Região Administrativa Especial de Macau, vão desenvolver um projecto de revitalização das pontes-cais nº 23 e 25 do Porto Interior, construídas em 1948 e 1950. Um outro projecto que vai avançar é relativo ao reforço da utilização dos espaços circundantes da Fortaleza do Monte, que já alberga o moderno e magnífico Museu de Macau, com a finalidade de reordenar e melhorar os espaços periféricos da fortaleza e da sua plataforma. Esses projectos visam o reforço da atractividade turística de Macau, mas irão traduzir-se na preservação do património histórico de origem portuguesa.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

É tempo de repensar a guerra da Ucrânia

O presidente Volodymyr Zelensky atravessou o Atlântico e levou a efeito uma acção de relações públicas, talvez a maior desde que começou a guerra na Ucrânia. Esteve nas Nações Unidas, na Casa Branca e foi ao Canadá, mas as imagens a que tivemos acesso mostraram um homem e uma comitiva cansados e sem ânimo, repetindo os mesmos argumentos contra a invasão russa e pedindo sempre mais dinheiro e mais armas.
A tão anunciada contraofensiva ucraniana que começou em Junho não tem tido sucesso e os americanos estão desolados com os seus resultados, apesar de envolver tropas bem treinadas em vários países ocidentais e ter o apoio de armas ocidentais modernas. A luta tem sido muito dura, têm sido anunciadas baixas elevadíssimas e as destruições têm uma dimensão inimaginável. É cada vez mais evidente que não haverá vencedores, nem vencidos. Todos perdem com esta guerra, sobretudo as populações. A linha da frente, que tem cerca de mil quilómetros, está quase nas mesmas posições desde há vários meses e a Ucrânia, segundo revela hoje o jornal Expresso, apenas terá recuperado menos de 0,25% do território que a Rússia ocupou até Junho. A própria narrativa da guerra parece estar a mudar e, exceptuando as indústrias do armamento, há cada vez mais gente a pedir a paz. Nos Estados Unidos já se duvida do sucesso ucraniano e fazem-se contas aos custos da guerra. Kevin McCarthy, o speaker da Câmara dos Representantes, já ousou perguntar se Zelensky irá prestar contas do dinheiro que lhe foi enviado pelos Estados Unidos, mas também pergunta qual é o seu plano para vencer. O facto é que a fadiga está a tomar conta de muitos americanos, que já enviaram 75 mil milhões de dólares em auxílio humanitário, financeiro e militar.
Hoje o prestigiada revista The Economist reflecte as incertezas que alguma propaganda já não consegue esconder e, com grande destaque escreve: time for a rethink. Talvez esta mensagem estimule os dirigentes que querem mais armas e mais guerra, para que repensem as suas posições, numa altura em que na mesma Europa há a trágica realidade dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo e outros problemas sociais e ambientais bem sérios.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Estarão à procura da paz em Nova Iorque?

A Assembleia Geral das Nações Unidas reuniu em Nova Iorque na passada terça-feira para iniciar a sua 78ª sessão e, porque a instabilidade mundial é grande, juntou muitos líderes mundiais que quiseram estar presentes para discutir a guerra na Ucrânia e as suas consequências a nível mundial, mas também a emergência climática, o aumento da insegurança alimentar, a erosão da democracia e dos direitos humanos, o terrorismo e as ciber-ameaças. O jornal The New York Times deu alargada notícia deste acontecimento. 
O secretário-geral António Guterres, mas também Joe Biden e Volodymyr Zelensky, criticaram aberta e duramente a Federação Russa pela situação que se vive na Ucrânia, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que tanto a Rússia como a Ucrânia têm responsabilidades no conflito. Lula da Silva é importante e falou com Biden e com Zelensky, porque sabe que em todas as guerras os bons não estão só de um lado e os maus do outro. De passagem por Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa esteve lá com os grandes e afirmou-se ao lado do povo ucraniano, do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas.
No dia seguinte reuniu o Conselho de Segurança para discutir a situação na Ucrânia e Marcelo Rebelo de Sousa também lá esteve a desejar um “roteiro de paz justo”, que dê origem a um “cessar-fogo imediato e duradouro”, mostrando-se preocupado com a situação humanitária na Ucrânia, isto é, disse em Nova Iorque coisas diferentes do que dissera em Kyev há 15 dias. Porém, todos se concentraram em Volodymyr Zelensky e em Sergey Lavrov, que estiveram frente a frente, mas não se falaram. Utilizaram linguagens muito agressivas e acusaram-se mutuamente. Talvez essa agressividade seja o prenúncio de que algo de esperançoso possa estar para acontecer. Nestas reuniões, contam mais os encontros bilaterais que se vão fazendo com discrição e realismo. Fechem-se numa sala como se faz nos conclaves papais em Roma, até que haja fumo branco. Quem sabe se, com russos e ucranianos em Nova Iorque, não estão a ser negociadas soluções que conduzam a um rápido fim da guerra como desejam as pessoas de bom senso e o mundo reclama?

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

La Vuelta 23 terminou. Viva La Vuelta 24!

A Volta à Espanha em bicicleta, ou simplesmente La Vuelta, que é uma das três grandes provas por etapas do calendário ciclista internacional, terminou ontem em Madrid com a vitória do ciclista americano Sepp Kuss, ficando nos lugares imediatos o dinamarquês Jonas Vingegaard e o esloveno Primoz Roglic. Pela primeira vez na centenária história do ciclismo, as três grandes voltas – Giro d’Italia, Tour de France e La Vuelta – foram ganhas por três ciclistas da mesma equipa, neste caso a holandesa Jumbo-Visma, pois Roglic ganhou em Itália, Vingegaard ganhou em França e Kuss ganhou em Espanha. O jornal desportivo as destacou esse feito desportivo com o título “Jumbo al cielo”, a mostrar que o domínio daquela equipa em La Vuelta 23 foi absolutamente avassalador, com aqueles três ciclistas nos três primeiros lugares.
Os portugueses cumpriram os mínimos, pois João Almeida ficou em 9º da classificação geral, Rui Costa ganhou a 15ª etapa disputada entre Pamplona e Lekunberri e outros três ciclistas portugueses concluíram a corrida.
As transmissões televisivas da Eurosport foram espectaculares, tanto no plano desportivo, como no plano turístico-cultural. As imagens captadas de helicóptero ou por drones, permitem que o espectador acompanhe a corrida como se fosse uma “visita guiada” ao país que um professor dizia ser “o maior museu ao ar livre da Europa”, mostrando o património e a paisagem, os castelos e os palácios, as igrejas e os conventos, os rios e as pontes, as montanhas e os vales, os bosques e as searas.
Consta que La Vuelta 24 partirá de Lisboa e terá duas etapas em Portugal. Se assim for, vai ser uma grande festa popular.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

As alianças e os interesses na Geopolítica

O negócio do armamento é um importante sector da economia de alguns países e, segundo revelou o Sipri – Stockholm International Peace Reserarch Institute, há cinco países que controlam três quartos do mercado mundial da venda de armas: Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e China. A produção e a venda de armamento é essencial para as suas economias, incluindo o emprego e a balança de pagamentos. Por isso, eles competem entre si pela conquista dos mercados mundiais, que se localizam sobretudo no Médio Oriente, que é o principal destino da produção de armamento, mas também em países como a Índia, o Paquistão, a Arábia Saudita, a Coreia do Sul e alguns outros. Este quadro exportador também se relaciona com as necessidades próprias de cada um dos nove estados que dispõem de armamento nuclear – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte – que continuam a reforçar os seus arsenais nucleares e convencionais. Pode mesmo afirmar-se que, todos estes países concorrem entre si e mostram que os egoísmos e os seus interesses nacionais se sobrepõem às alianças e às solidariedades, havendo algumas teorias que defendem que as guerras são uma necessidade para alimentar este sistema.
Hoje, o jornal francês Le Télégramme recorda a “traição” australiana anunciada no dia 15 de Setembro de 2021, exactamente há dois anos, quando aquele país, contra todas as expectativas das relações comerciais internacionais, decidiu anular o “contrato do século” relativo à encomenda de doze submarinos que seriam construídos pela França. Essa construção resultara de um concurso internacional que os franceses ganharam em 2016, mas os interesses de um acordo de cooperação militar denominado Aukus, assinado pela Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, traiu a França e a economia francesa. Para os franceses foi uma traição de "amigos e aliados" e “uma facada nas costas”, enquanto o primeiro-ministro Scott Morrison é acusado de ter feito jogo duplo e de ser desonesto. Egoísmos fortes e alianças fracas.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

As imensas preocupações do nosso tempo

A frequência com que se vão realizando cimeiras de alto nível e se vão afirmando solidariedades no mundo contemporâneo é muito preocupante, apesar das continuadas manifestações de vontade de cooperação económica e de redução das tensões internacionais. 
Os últimos meses têm acentuado essas preocupações e muita gente teme as políticas armamentistas que estão em curso por toda a parte. Poucos falam de paz, de cooperação, de desenvolvimento, da resolução dos problemas da fome e da doença. Ouvem-se os comentadores televisivos e parece que o futuro da Humanidade passa pela confrontação, o que exige que cada um se arme até aos dentes. Um dos mais evidentes sinais desta situação são as recentes reuniões da NATO em Vilnius, a cimeira dos BRICS em Joanesburgo, ou o encontro dos países do G20, mas também muitas outras cimeiras que se realizaram nos últimos meses para fazer negócios, sobretudo a venda de aviões, de mísseis e de outros armamentos, mas principalmente para procurar firmar alianças e afirmar solidariedades.
A lista é muito extensa. Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen visitaram a China, enquanto Narendra Modi foi recebido em festa em Washington e Paris. Xi Jinping visitou Moscovo e recebeu meio mundo em Pequim, incluindo Lula da Silva, Nicolas Maduro e Antony Blinken. Recep Tayyp Erdogan esteve na Arábia Saudita, no Qatar e nos Emirados, falando com Moscovo e com Kiev, enquanto Joe Biden esteve em Londres, em Bruxelas, em Vilnius e se prepara para ir ao Vietnam. Ontem Vladimir Putin encontrou-se com Kim Jong-un e a imprensa mundial, designadamente o londrino The Times, registou essa nova aliança entre dois líderes e dois regimes dispondo de armamento nuclear. Se havia quem se preocupasse com tanta "contagem de espingardas", a aliança entre estes dois dirigentes é um motivo adicional de preocupação para o mundo.