domingo, 21 de julho de 2024

Um boné como símbolo de uma campanha

Os americanos estão a cerca de quatro meses de escolher o seu presidente, naquela que será a 60ª eleição presidencial dos Estados Unidos que, desde 1788, se realiza de modo ininterrupto, a cada quatro anos.
O processo iniciou-se com a apresentação individual das candidaturas do Partido Democrata, cujo símbolo é um burro, bem como do Partido Republicano, cujo símbolo é um elefante. Depois, entre Janeiro e Junho realizaram-se as eleições primárias em cada um dos cinquenta estados para seleccionar os delegados dos dois principais partidos políticos americanos, que iriam representar os diversos candidatos na convenção dos partidos.
Esses delegados escolhidos nas eleições primárias, participam nas convenções dos partidos que se realizam em julho e agosto, para nomear e aclamar o candidato de cada partido. A convenção republicana já se realizou em Milwaukee, entre os dias 15 e 18 de julho, tendo nomeado Donald Trump. A convenção democrata será realizada em Chicago entre os dias 19 e 22 de agosto e, até agora, tem o actual presidente Joe Biden como favorito à nomeação.
Porém, se a idade dos candidatos já era um preocupante problema nacional, alguns acontecimentos recentes vieram perturbar o normal andamento do processo eleitoral, nomeadamente o atentado contra Donald Trump e a cada vez mais evidente senilidade de Joe Biden. As sondagens estão a favorecer Trump e os republicanos já exibem o seu radicalismo triunfante, enquanto o democrata Joe Biden é pressionado para abandonar a corrida eleitoral. 
Os americanos estão preocupados e a edição de hoje da revista alemã Der Spiegel mostra que também há preocupações na Europa, ao publicar a imagem do boné e a referência à orelha ensanguentada de Trump como símbolos da sua campanha, perguntando se “os Estados Unidos estão ameaçados por uma guerra civil”, porque a figura de Donald Trump suscita tantos apoios como rejeições, sendo ambas demasiado perigosas. No mesmo sentido se expressa o jornal El País ao escrever que "un tornado politico de alcance imprevisible planea sobre EE UU".

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Mais cinco anos para Ursula von der Leyen

Ursula von der Leyen, uma política alemã com 65 anos de idade, foi ontem reeleita presidente da Comissão Europeia com 401 votos a favor, 284 votos contra, 15 abstenções e sete votos nulos. Precisava de 360 votos mas superou essa fasquia por 41 votos, significando que teve mais votos do que tivera em 2019, o que pode ser interpretado como uma grande vitória e uma prova de confiança no trabalho realizado durante o seu anterior mandato. Porém, apesar do voto ser secreto, esta eleição é o resultado do acordo celebrado entre algumas famílias políticas para os chamados top jobs (Conselho Europeu, Parlamento Europeu e Comissão Europeia). De qualquer forma, Ursula von der Leyen foi a escolha dos eurodeputados, embora tivesse recebido um significativo número de votos contra.
Durante o seu mandato de 2019 a 2024, a União Europeia estagnou por efeitos diversos, desde o covid-19 até ao conflito na Ucrânia, com Ursula von der Leyen a secundarizar os problemas dos europeus, designadamente as alterações climáticas, as migrações, a energia, a habitação, a demografia, a pobreza, a independência científica, a capacidade tecnológica, as concorrências chinesa e americana, mais outros tantos problemas, enquanto demasiadas vezes, mostrou um espírito belicista contrário à lógica de paz e de cooperação que levou à criação da União Europeia, que é um projecto de paz e de progresso. Em vez de ser o motor do desenvolvimento e do bem-estar dos europeus, a sua acção esqueceu-os e ela nada se esforçou na busca de soluções para fazer a paz na Ucrânia, mostrando-se obcessiva no apoio militar a Zelensky e subserviente em relação às orientações americanas. Além disso, ao contrário do que se esperava, sempre apoiou os excessos cometidos por Israel, sem se demarcar da violência ou criticar a crueldade que está a ser praticada contra o povo palestiniano.
A senhora von der Leyen pensa mais em guerra do que em paz. As indústrias militares agradecem-lhe. Como vão longe os tempos de Jean Monnet, que acreditava que o projecto europeu iria impedir novos conflitos militares na Europa, ou de Jacques Delors, que foi o principal arquitecto da unidade, do progresso e da paz na União Europeia.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Mbappé e os milhões do negócio do futebol

O Real Madrid C. F. que é o mais famoso clube de futebol do mundo e que já conquistou 15 títulos da Champions League, acaba de contratar o futebolista francês Kylian Mbappé por cinco temporadas. A sua apresentação no estádio Santiago Bernabéu aconteceu ontem perante mais de 80.000 entusiastas, um número semelhante ao que teve em 2009 a apresentação de Cristiano Ronaldo.
Como sempre acontece com as transferências dos grandes jogadores de futebol, os valores envolvidos neste negócio não são tornados públicos, embora a imprensa acompanhe este mercado e revele que este jovem de 25 anos de idade esteja cotado em 180 milhões de euros.
Segundo tem sido divulgado pela imprensa, o Real Madrid terá de pagar ao jogador um bónus de assinatura de contrato que a Sky Sports estima em 117 milhões de euros e que a BBC avalia em 150 milhões de euros, mas a este valor acresce um salário anual de 15 milhões de euros. Depois ainda há os direitos de imagem e os valores a receber como bónus, em função do desempenho do jogador e dos troféus conquistados pela equipa.
Estes números impressionam e, provavelmente, não têm nada de comparável em qualquer actividade empresarial, mostrando como o futebol se tornou um negócio de muitos milhões em que a parte desportiva parece ser secundária e servir para encapotar outros poderosos interesses.
Naturalmente, a imprensa espanhola que ainda anda excitada com a vitória espanhola no Euro 2024, também se concentrou na contratação e na apresentação de Mbappé. Porém, o acontecimento ultrapassou as fronteiras espanholas e chegou a outros países, como por exemplo à Venezuela, onde o diário desportivo Líder destacou a chegada a Madrid de Kylian Mbappé que, definitivamente, se tornou o sucessor de Messi e de Ronaldo.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Donald, o penso na orelha e as fake news

A tentativa de assassinato de Donald Trump, ocorrida no passado sábado durante um comício no estado da Pensilvânia, foi um acontecimento importante e encheu as primeiras páginas dos jornais de quase todo o mundo, porque é um caso de extrema violência política e se dirigiu a um ex-presidente do Estados Unidos, que é candidato à reeleição presidencial americana do próximo mês de Novembro.
O caso está a tornar-se em mais um case study porque, sob a influência das redes sociais, estão a proliferar as fake news ou a desinformação, que têm posto a circular as mais diversas interpretações sobre o que se passou, havendo afirmações de que o tiroteio teria sido encenado pela equipa de Trump, ou mesmo ordenado pelo presidente Joe Biden, que também é candidato presidencial. Segundo informações divulgadas como verdadeiras mas que ninguém autenticou, até o ex-presidente Barack Obama e os Clinton poderiam estar envolvidos nesta tentativa de assassinato. Até parece que vale tudo!
As teorias explicativas deste incidente são numerosas e dizem uma coisa e o seu contrário, propagam-se como verdades absolutas e cada uma tem objectivos específicos para favorecer alguém ou alguma coisa, através de conteúdos sensacionalistas e atraentes. Lá como cá, o telespectador, o ouvinte ou o leitor, tendem a perder a confiança no que vêem, no que ouvem e no que lêem, mas muitos acreditam religiosamente nas manipulações que lhes são servidas. Assim se vai moldando a opinião pública com inverdades e em benefício dos mais diversos tipos de interesses não explícitos.
A tentativa de assassinato de Donald Trump, que o próprio afirmou ter sido salvo “graças a Deus ou à sorte”, ainda vai fazer correr muita tinta. Porém, o “homem do penso na orelha” - tornado um herói e um símbolo de resistência à adversidade como o povo gosta - foi recebido em apoteose na Convenção Republicana em Milwalkee, que o confirmou como candidato presidencial e na qual anunciou o senador J. D. Vance como a sua escolha para vice-presidente.
Os americanos decidirão o que entenderem.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

España reina en Europa y Alcaraz también

A Espanha vive horas de grande euforia porque a sua selecção nacional de futebol – la roja – ganhou o Euro 2024, somando sete indiscutíveis vitórias em sete jogos. Ontem bateu a selecção da Inglaterra, depois de, sucessivamente, ter derrotado as selecções da Croácia, da Albânia, da Itália, da Geórgia, da Alemanha e da França. O triunfo espanhol resultou do valor dos seus jogadores e da coesão da equipa, não assentou em quaisquer polémicas e tem o aplauso unânime da crítica internacional.
Toda a imprensa espanhola alinha na enorme onda de entusiasmo que inunda o país, quase esquecendo o brilhantismo da vitória de Carlos Alcaraz sobre Novak Djokovic no Torneio de Wimbledon, enquanto a imprensa internacional centra a sua atenção na tentativa de assassinato de Donald Trump, um caso de violência política que que está a perturbar a América e a preocupar o mundo.
Porém, justificando os seus créditos como jornal de referência internacional, a edição de hoje do jornal El País destaca em primeira página esses três acontecimentos importantes para a Espanha, mas também para o mundo, com os seguintes títulos: “España reina en Europa”, “Alcaraz abre outra era en Wimbledon” e “el intento de asesinato a Trump sacude EE UU en plena campaña”. O jornal mostra como é possível identificar os assuntos que são notícia e informar com rigor, sem alinhar em sensacionalismos, nem em distorções com objectivos “cirúrgicos”, nem nas práticas cada vez mais comuns de desinformação.
Hoje, no meio do turbilhão de louvores e de discursos, por vezes demasiado exaltados e desproporcionados que toda a imprensa espanhola presta à la roja, o El País dá um exemplo de bom jornalismo. 

domingo, 14 de julho de 2024

Atentado contra Donald Trump e o futuro

Donald Trump, o ex-presidente dos Estados Unidos e que actualmente está na corrida presidencial contra Joe Biden, foi alvo de um atentado num comício que se estava a realizar em Buller, no estado da Pensilvânia. Ele discursava, quando foram ouvidos tiros no meio da multidão e se viu que Donald Trump levara a mão direita ao pescoço. As imagens entretanto divulgadas mostram que Trump foi atingido na orelha direita, que sangrou abundantemente, ao mesmo tempo que alguns agentes dos serviços secretos correram para o palco para o proteger. Segundo foi divulgado pelo próprio, o candidato presidencial está fora de perigo.
As consequências políticas deste acontecimento são evidentes e vão beneficiar Trump, consolidando o seu favoritismo para chegar à Casa Branca. Até parece que foi uma montagem destinada a favorecê-lo, mas o jornal The Washington Post foi claro ao noticiar que, segundo o FBI, “o tiroteio em comício de Trump foi tentativa de assassinato”.
Trata-se de mais um caso da extrema violência que atravessa a sociedade americana, neste caso com contornos políticos, cujas consequências se assemelham ao que aconteceu no Brasil em 2018 quando Jair Bolsonaro foi esfaqueado, vindo a vencer as eleições presidenciais brasileiras que se realizaram um mês depois.
Numa altura de grande preocupação universal, como se viu nas conclusões da recente cimeira da NATO e na cegueira de tantos dirigentes mundiais, na guerra da Ucrânia e no continuado massacre do povo palestiniano, no agravamento das consequências das alterações climáticas e na subserviência europeia aos interesses americanos, a tentativa de assassinato de um candidato presidencial americano, tal como o atentado em Maio contra o primeiro-ministro da Eslováquia Robert Fico, mostram como está a intolerância política. 
No caso dos Estados Unidos, que é a mais poderosa nação do mundo, a preocupação é naturalmente maior com tudo o que vamos sabendo sobre a corrida presidencial.

Tadej Pogačar, o ídolo mundial do ciclismo

A 111ª edição do Tour de France está a decorrer e ontem disputou-se a 14ª etapa entre Pau e a estância de Saint-Lary-Soulan, ou pla d’Adet, nos Pirinéus franceses. Depois de subirem várias montanhas, incluindo o famoso Col du Tourmalet, os ciclistas aproximavam-se da meta quando o esloveno, que enverga a camisola amarela e se chama Tadej Pogačar, decidiu arrancar. Estava a cerca de cinco quilómetros da meta e ninguém o conseguiu acompanhar. O dinamarquês Jonas Vingegaard ficou a 39 segundos e o belga Remco Evenepoel chegou 01.10 minutos depois. O português João Almeida, que é companheiro de equipa de Pogačar, conseguiu chegar à meta com um atraso de 01.31 minutos, o que lhe permitiu conservar o 4º lugar da classificação geral.
Vários jornais franceses e espanhóis destacaram a vitória de Tajed Pogačar no pla d’Adet, com fotografias de primeira página, como aconteceu com o L’Esportiu, que se publica em Barcelona. De facto, estamos perante um campeão de eleição. que já é um ícone do ciclismo mundial.
Porém, para além dos aspectos desportivos e competitivos, o aspecto porventura mais relevante desta e das outras etapas do Tour de France é a sua realização televisiva, pois permite viver o desenvolvimento e a emoção da prova, mas também a beleza das paisagens, a monumentalidade do património e a entusiástica adesão popular à prova.
Hoje há mais e os ciclistas terão que subir cinco montanhas de 1ª categoria! Desejamos e até esperamos um bom desempenho de João Almeida.

sábado, 13 de julho de 2024

Brest 2024 Maritime Festival

O Brest 2024 Maritime Festival iniciou-se ontem, vai prolongar-se até ao dia 17 de julho e, como destaca na sua edição de hoje o jornal Le Télégramme, “les brestois pavoisent”, isto é, o povo de Brest exibe-se e mostra toda a sua vocação atlântica.
Brest é a cidade mais ocidental da França, localiza-se na Bretanha e é a sede do departamento da Finisterra. O mar e o Atlântico fazem parte da sua identidade cultural e, oito anos depois da sua última edição, está de volta o já famoso Festival Marítimo Internacional de Brest, agora na sua 8ª edição, reunindo “uma multidão de barcos de todo o mundo”, do passado e do presente, cuja presença mostra as diferentes formas pelas quais se navegou ao longo do processo histórico e como é diversa a herança cultural marítima dos povos.
Destaca-se a presença de alguns navios classificados como tall ships, provenientes de diversos países europeus, entre os quais se anuncia a presença do Santa Maria Manuela, um lugre de quatro mastros português. Porém, a organização tem insistido que o Festival Marítimo Internacional de Brest é muito mais do que um encontro de navios e embarcações, pois preparou um programa para todos os públicos que envolve música, dança, artes de rua, workshops, gastronomia, visitas a navios, desfiles e outras actividades dirigidas aos milhares de visitantes que a cidade e o porto de Brest vão receber.
Depois das frustrações futebolísticas que vieram fdo Euro2024 e das emoções políticas e eleitorais por que passaram nos últimos tempos, os bretões e o povo de Brest talvez se possam divertir.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

75 anos da NATO: a cimeira e a apreensão

Decorreu ontem e anteontem em Washington, a cimeira da NATO que assinalou o 75º aniversário da organização criada em 1949, da qual Portugal é um dos fundadores. 
Segundo foi divulgado, a cimeira tratou especialmente da guerra na Ucrânia, que resultou da invasão russa de Fevereiro de 2022, mas também tratou dos desafios resultantes do forte investimento militar da China e da coesão política entre os membros da NATO. Não sabemos se houve discursos dissonantes, sobretudo por parte de Viktor Órbán e até de Justin Trudeau, como hoje sugere a capa do jornal canadiano National Post, que se publica em Toronto. 
Os chefes de Estado e de governo presentes comprometeram-se com um mínimo de 40 mil milhões de euros para apoiar o esforço de guerra ucraniano, mas parece que nem todos assumiram esse compromisso.
Joe Biden esteve a “fazer prova de vida” em vésperas das eleições americanas e tratou de dizer que “a Ucrânia vai travar Putin” e que “vamos defender cada centímetro da aliança”, esquecendo-se que em Novembro pode haver outras ideias na Casa Branca. Porém, a grande surpresa da cimeira terá sido a declaração de Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO em fim de mandato, que garantiu o apoio à Ucrânia para a sua futura integração na NATO. Em Moscovo esta declaração foi considerada uma “grave ameaça para a segurança nacional russa” porque a Rússia sempre recusou a expansão da NATO para a Ucrânia e vê agora ser afirmada a garantia da sua futura integração na NATO. Até parece uma declaração de guerra. A Rússia reagiu a essa declaração, acusou a NATO de estar "totalmente envolvida no conflito com a Ucrânia" e os Estados Unidos e a Europa de não serem partidários do diálogo, nem da paz, apostando na confrontação. A cimeira também acusou a China de ser “facilitador da guerra”, pelo que esta condenou a declaração da NATO, acusando-a de usar “retórica beligerante” e de “incitar ao confronto” entre blocos. 
Entretanto, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que esteve na cimeira, manifestou-se apreensivo e assumiu que a perspectiva de um conflito directo entre a NATO e o Kremlin é muito preocupante. Também me parece.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

As sucessivas derrotas políticas de Macron

A França é um país muito instável do ponto de vista político, como se verificou nas recentes eleições parlamentares. Na 1ª volta, realizada no dia 30 de junho, o Rassemblement National ou Frente Nacional, assumidamente de extrema-direita, foi a força mais votada, o que deu origem a protestos, confrontos e distúrbios, bem como a uma enorme mobilização das forças políticas que a combatem. Na 2ª volta, realizada no dia 7 de julho, a situação inverteu-se e a Nova Esquerda Popular, uma coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, com socialistas, ecologistas e comunistas, foi o grupo mais votado e conseguiu eleger 182 deputados numas eleições que bateram recordes de afluência às urnas. A coligação Ensemble, que inclui o partido Renascença do Presidente Emmanuel Macron, apareceu em segundo lugar, tendo conseguido eleger 168 deputados. Seguiu-se o Rassemblement National de Marine Le Pen e Jordan Bardella, que passou de 88 para 143 deputados, o que sendo um crescimento significativo, foi uma enorme decepção pois ficou aquém das perspectivas sugeridas na 1ª volta. 
O Parlamento francês ficou fragmentado ou tripartido e nenhum dos partidos ou coligações vai poder assegurar os 289 lugares necessários para criar uma maioria absoluta num Parlamento com 577 deputados. Emmanuel Macron está, por isso, a passar por grandes dificuldades e o jornal Le Figaro, escolheu como título de primeira página a frase “la coalition introuvable”, isto é, a coligaçao que não se encontra. Dizem os especialistas que Macron teve uma vitória eleitoral porque travou o avanço da extrema-direita, mas outros dizem que sofreu uma grande derrota pois forçou a realização de eleições antecipadas que levaram o país para uma situação que pode vir a tornar-se caótica. O facto é que ninguém sabe como se vai sair deste imbróglio.
O sonho que Macron alimenta, desde há muito tempo, de se tornar uma figura de referência na Europa, sofreu mais um duro revés.

sábado, 6 de julho de 2024

J. Biden, D. Trump e o drama americano

O debate realizado no dia 27 de junho em Atlanta, em que se enfrentaram os candidatos presidenciais Joe Biden e Donald Trump, trouxe para o primeiro plano da política americana o problema da idade dos candidatos e até a sua saúde mental. O debate foi considerado um desastre e a generalidade da imprensa classificou Biden como senil e Trump como mentiroso. No campo democrata surgiu uma onda de pânico e as capacidades de Joe Biden para um novo mandato estão a ser postas em dúvida. Segundo divulgou o The New York Times, uma recente sondagem revela que como consequência do desempenho de Joe Biden no debate, o candidato Donald Trump ampliou a sua vantagem em seis pontos percentuais e Joe Biden passou a ser considerado “velho demais para o cargo” por 74% dos eleitores.
As dúvidas a respeito de Biden são crescentes em todos os grupos demográficos, geográficos e ideológicos, sobretudo no eleitorado democrata e nos independentes, havendo muita gente que lhe pede que renuncie à sua recandidatura.
Esta embaraçosa situação por que passa a corrida presidencial americana está a ser caricaturada por alguma imprensa internacional, como por exemplo pela revista Newsweek, cuja capa mostra um George Washington assustadoe pela revista The Economist, cuja capa mostra uma cadeira de rodas com os símbolos presidenciais. Porém, a ilustração escolhida como capa da revista alemã Stern trata do “drama americano”, refere “o velho e o mentiroso”, diz que “os Estados Unidos ainda podem ser salvos” e mostra Trump a engolir Joe Biden. Talvez seja a mais expressiva de todas essas capas.

O Reino Unido e a sua viragem política

As eleições realizadas no passado dia 4 de julho no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte tiveram um resultado demolidor para o governo do Partido Conservador e deram a vitória ao Partido Trabalhista de Keir Starmer, que conquistou 412 dos 650 lugares do Parlamento (antes tinha 205), o que significa que conquistou a maioria absoluta.
Depois dos trabalhistas Tony Blair e Gordon Brown, a partir de 2010 o governo de Sua Majestade foi exercido pelos primeiros-ministros conservadores David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak. Foram 14 anos em que aconteceu o Brexit, o covid-19, vários escândalos políticos e a instabilidade global se acentuou nos serviços públicos, na economia, na segurança e na imigração. Os Conservadores foram fortemente penalizados e têm agora 121 deputados (antes tinham 344).
A terceira força política britânica são os Liberais Democratas que passaram a ter 71 deputados (antes tinham apenas 15). Como nota de curiosidade, regista-se a eleição à oitava tentativa de Nigel Farage, lider dos Reformistas de extrema-direita e considerado o pai do Brexit, que passaram a ter 4 deputados.
Os britânicos votaram na 4ª feira e na 6ª feira de manhã o rei Carlos III recebeu Keir Starmer no Palácio de Buckingham e convidou-o a formar governo. Aceite o convite, Starmer foi investido ao início da tarde e dirigiu-se depois para o número 10 de Downing Street, onde fez uma curta declaração a anunciar a necessidade de uma “renovação nacional” e da “devolução da política ao serviço público”, começando de imediato a trabalhar. Tudo rápido como deve ser.
Porém, a maior curiosidade da política britânica é a sua viragem à esquerda, quando na Europa e nos Estados Unidos parece estar em curso uma viragem para a direita.

O Euro 2024 terminou para Portugal

Ontem em Hamburgo estiveram frente a frente as selecções de Portugal e da França para disputar um lugar nas meias-finais do Euro 2024. Durante 120 minutos o jogo foi equilibrado, muito equilibrado, mas nenhuma das equipas marcou golo. Seguiu-se a lotaria dos penaltis, a mesma lotaria que nos permitira ultrapassar a Eslovénia. Tudo podia acontecer e nenhuma das equipas merecia perder.
João Félix acertou no poste, Diogo Costa não fez nenhum milagre, a França acertou nos cinco penaltis e Portugal, que estava entre os oito melhores, não passou ao grupo dos quatro melhores. C’est fini, como diz o título da edição de hoje do jornal O Jogo.
Um outro jornal desportivo português escreveu que houve falta de pontaria e que a selecção esteve “seis horas sem marcar”. É verdade. A equipa portuguesa marcou um golo à República Checa (Francisco Conceição) e dois golos à Turquia (Bernardo Silva e Bruno Fernandes), aproveitou dois auto-golos dos adversários, mas não marcou qualquer golo à Geórgia, nem à Eslovénia, nem à França.
O futebol é uma arte que deve ser representada por artistas de excelência, como são os jogadores portugueses, mas nessa representação artística não podem faltar os golos que são a parte mais emocionante do espectáculo. Muitas vezes, os jogadores portugueses parecem esquecer esse axioma e parecem satisfazer-se com a continuada e inconsequente troca da bola de uns para os outros. Os jogadores portugueses são habilidosos e experientes como poucos, são temidos pelos adversários, mas depois esquecem-se de rematar para fazer golo.
Como disse o seleccionador português Roberto Martinez, “o futebol pode ser cruel”. Desta vez foi mesmo cruel, pois uma equipa onde está a élite do futebol europeu, ficou pelo caminho porque, entre outros erros e adversidades, houve um João Félix que acertou no poste

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Viktor Orbán procura o caminho da paz?

A Hungria é um país da Europa Central que tem fronteira com sete países, é membro da NATO desde 1999 e aderiu à União Europeia em 2004. O seu governo é presidido por Viktor Orbán, que também preside ao partido nacional-conservador, que foi primeiro-ministro entre 1998 e 2002 e que, depois de 2010, ganhou todas as eleições parlamentares húngaras, o que faz dele o primeiro-ministro com mais tempo em funções na União Europeia.
A Hungria assumiu a presidência rotativa e semestral do Conselho da União Europeia no dia 1 de julho e, logo no dia seguinte, Viktor Orbán realizou a sua primeira visita à Ucrânia desde o início da invasão russa. Embora esta viagem possa ter sido resultado de uma vontade autónoma, é bem possível que tenha sido previamente acordada com as várias partes interessadas e, em especial, com Putin e com Zelensky. Curiosamente a imprensa internacional não se interessou por este encontro e o The Wall Street Journal foi a excepção.
Viktor Orbán tinha-se encontrado com Putin em outubro de 2023 e é considerado o seu mais próximo aliado europeu, o que significa que é um dos principais obstáculos aos esforços europeus para ajudar a Ucrânia, financeira e militarmente. Ao contrário dos restantes líderes da União Europeia, a Hungria tem bloqueado sistematicamente o apoio à Ucrânia e tem mantido posições próximas de Moscovo. Durante a sua visita a Kiev, Viktor Orbán apelou a um cessar-fogo imediato que abra as portas a uma negociação de paz, enquanto Zelensky considera que é prioritário falar numa “paz justa e duradoura”. 
Pode ser o início de uma caminhada difícil, mas que é necessário fazer.
Porém, Viktor Orbán também terá estado atento às tensas relações entre a Ucrânia e a Hungria, sobretudo, porque existem minorias húngaras na região da Transcarpátia que os ucranianos têm tentado desnacionalizar, o que pode conduzir a um conflito adicional. 
A Europa é mesmo uma manta de retalhos, com muitas pátrias, pelo que é preciso tratar tudo com muito cuidado.

terça-feira, 2 de julho de 2024

A grandeza de Ronaldo até se vê no choro

A figura de Cristiano Ronaldo é reconhecida e admirada em todo o mundo, não só pelo seu currículo futebolístico, mas também por muitas das atitudes que toma fora dos campos de futebol, sobretudo em acções de solidariedade.
A sua carreira, bem como os seus sucessos ou os seus insucessos, são notícia na imprensa de vários países, sobretudo naqueles onde jogou e entusiasmou multidões. Assim acontece em Espanha, onde jogou na equipa do Real Madrid durante nove anos, tendo feito 438 jogos e marcado 451 golos, o que faz dele o maior marcador de golos da história do clube, onde conquistou quatro Ligas dos Campeões Europeus e quatro Bolas de Ouro. Depois do Real Madrid, jogou em Itália e, com 39 anos de idade, ainda joga na Arábia Saudita e na selecção nacional de futebol.
Cristiano Ronaldo é um ídolo que continua a ser recordado em Espanha, sobretudo pelos adeptos do Real Madrid e, na sua edição de hoje, o jornal desportivo as dedica-lhe a sua primeira página com uma expressiva fotografia, em que ele chora por ter falhado um penalti que podia ter resolvido a favor de Portugal, o jogo que disputava com a Eslovénia. O título diz “a cuartos llorando”, o que significa que Portugal passou aos quartos-de-final apesar do choro de Ronaldo, mas a fotografia também mostra como o futebol desperta emoções profundas nos jogadores.
O jogo veio a ser resolvido por penaltis, tendo Cristiano Ronaldo sido o primeiro a marcar e com sucesso. Porém, a sua fotografia num jornal espanhol, é uma homenagem e exprime a grandeza deste jogador português que marca golos e que é rico e poderoso mas que perante o insucesso chora como o mais comum dos mortais.