terça-feira, 14 de junho de 2022

Os roteiros de Marcelo são uma roda-viva

Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso venerando Chefe do Estado, tem andado numa roda-viva e em ambiente de euforia, como ele tanto gosta. Nos últimos dias encheu as nossas televisões com discursos, declarações e comentários sobre tudo, informou sobre o estado de saúde de António Costa e irradiou satisfação como se tudo estivesse a correr bem no país e como se os tempos que aí vêm não fossem muito preocupantes. É saudável que o país tenha um presidente que irradia felicidade e que procura incentivar a autoestima da “arraia miúda”, mas tem que haver proporcionalidade e contenção nos beijinhos, nas selfies, nas gargalhadas e nos elogios que faz aos seus concidadãos. Somos bons, sim senhor, mas talvez não sejamos os melhores do mundo, como o nosso presidente gosta de repetir e até haja quem acredite nisso.
No dia 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Braga a celebrar o Dia de Portugal, mas no dia 12 à noite já estava em Lisboa nos festejos de Santo António. Entre estes dois eventos que lhe deram um enorme tempo de antena como ele tanto gosta, ele visitou a comunidade portuguesa de Londres, onde conviveu com “as várias centenas de cristianos-ronaldos que Portugal enviou para a Inglaterra” e condecorou o enfermeiro Luís porque, por mero acaso, foi ele que tratou o Boris quando ele teve covid-19, mas essa visita não teve qualquer impacto nos media ingleses. Depois, o supremo magistrado da Nação voou para Andorra, onde anunciou coisas que não lhe competem, como por exemplo o estabelecimento de um consulado-geral em Andorra la Vella e a desejável activação de um voo directo entre Lisboa e o principado. O jornal El Periòdic d’Andorra foi apenas um dos jornais que destacaram a visita do Presidente da República de Portugal, com fotografia de primeira página
Tudo isto me parece um exagero e faz-me lembrar um provérbio popular português: Quem não aparece esquece, mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece.

domingo, 12 de junho de 2022

O trumpismo também ameaça o Canadá

As recentes revelações feitas pela comissão parlamentar de inquérito, que está a investigar as responsabilidades de Donald Trump no assalto ao Capitólio, em Washington, ocorrido no dia 6 de Janeiro de 2021, parecem ter deixado a opinião pública americana muito apreensiva e na expectativa do que poderá vir a seguir, não só no curto prazo, mas também quanto à possibilidade de Trump voltar a candidatar-se à Casa Branca.
A apreensão pelo trumpismo e pelo seu significado anti-democrático, populista e com ligações à extrema-direita americana violenta, ultrapassou as fronteiras americanas e, segundo hoje mostra a edição dominical do jornal The Toronto Star, a ameaça do trumpismo já paira sobre o Canadá. Na sua primeira página, aquele jornal mostra a sombra de Trump sobre o território canadiano e diz que “Donald Trump não é apenas o líder, mas a personificação de uma marca política de extremismo direitista, que está presente no seu mundo mediático e ideológico”, acrescentando que o trumpismo também pode ser em breve um problema sério para o Canadá.
Quando a Europa estás a passar por uma crise muito séria e de imprevisível solução, as notícias que se esperava que chegassem do outro lado do Atlântico deveriam ser um sinal de estabilidade, mas estão a ser um sinal de alguma preocupação. As revelações que têm sido tornadas públicas, a propósito do comportamento de Trump nos acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, mostram que o impensável podia ter acontecido e que os Estados Unidos, tal como o Canadá, ainda não estão livres do trumpismo.

sábado, 11 de junho de 2022

A Cimeira das Américas vale muito pouco

Decorreu em Los Angeles a Cimeira das Américas, uma reunião entre os estados americanos do norte, do sul e das Caraíbas, que se realizou pela primeira vez em 1994 por iniciativa do presidente Bill Clinton. Segundo foi divulgado, os principais temas a abordar nesta Cimeira eram a pandemia do covid-19, as migrações, as alterações climáticas e a segurança alimentar, mas as notícias que foram transmitidas mostram que a reunião foi um fiasco e que os Estados Unidos se afastaram do principal objectivo destas Cimeiras das Américas que é, sobretudo, o fortalecimento da coesão entre os países do continente. 
Assim, houve sete países que não participaram na Cimeira em protesto contra o facto de os Estados Unidos não terem convidado Cuba, Nicarágua e Venezuela, com o argumento de que não eram regimes democráticos. Entre os países que mais criticaram o autoritarismo da opção americana estiveram o México, a Bolívia, o Chile, a Argentina e as Honduras que, explícita ou implicitamente, rejeitaram a postura hegemónica ou neo-colonial dos americanos. 
Aparentemente, os americanos incentivaram a desunião latino-americana, mas conseguiram reafirmar a sua liderança do continente, enquanto os líderes dos países participantes ficaram satisfeitos com a sua fotografia ao lado de Joe Biden, o que lhes bastou para impressionar as suas próprias opiniões públicas no regresso a casa. À margem deste encontro que constituiu a IX Cimeira das Américas, o Brasil esteve em destaque, pois Jair Bolsonaro – que foi fotografado com Joe Biden – garantiu-lhe que sairá da presidência do Brasil de forma democrática, se for esse o sentido do voto popular, o que foi destacado pelo jornal Folha de S. Paulo. Por outro lado, houve sete dezenas de organizações não-governamentais que acusaram Bolsonaro de mentir em relação à protecção ambiental, à segurança alimentar mundial e à preservação da Amazónia, isto é, a IX Cimeira das Américas parece ter sido uma grande operação de Relações Públicas e pouco mais. 

O golpe de Trump e o assalto ao Capitólio

Nas eleições presidenciais americanas realizadas no dia 3 de Novembro de 2020, o candidato Joe Biden conseguiu eleger 306 delegados para o Colégio Eleitoral, enquanto o então presidente Donald Trump só conseguiu 232 delegados. No contexto de todo o território americano, Biden recolheu 51,4% dos 155 milhões de votos e Trump ficou-se pelos 46,9%. Porém, Donald Trump não aceitou o resultado eleitoral e afirmou terem sido contados votos fraudulentos, mas a recontagem dos votos não revelou quaisquer irregularidades substantivas. Vieram dezenas de processos judiciais a impugnar os resultados, mas Trump perdeu-os todos. Depois repetiu exaustivamente a acusação de fraude eleitoral e procurou impedir a vitória de Joe Biden, mas em meados de Dezembro o Colégio Eleitoral confirmou-a. Até que chegou o dia 6 de Janeiro de 2021, em que o Congresso dos Estados Unidos ratificou oficialmente a vitória de Biden, ao mesmo tempo que Donald Trump e os seus apoiantes se concentravam em Washington, provocavam tumultos e decidiam invadir o Capitólio, a casa da democracia americana, onde reúnem o Senado e a Câmara dos Representantes. Houve falhas de segurança e com muita violência os invasores destruíram o que encontraram e ameaçaram quem encontraram. Houve cinco mortos e dezenas de feridos.
Agora, uma comissão parlamentar de inquérito que está a investigar o papel de Trump nesse assalto ao Capitólio, veio revelar que não foi um momento espontâneo, mas um attempted coup, isto é, uma tentativa de golpe de estado. Naturalmente, esta conclusão preliminar está a ter um efeito devastador nos princípios democráticos americanos e na herança das convenções de Filadélfia de 1776 e de 1787. Era impensável que isto acontecesse. Porém, Donald Trump já veio declarar que “o seis de Janeiro não foi apenas um protesto, pois foi um dos maiores movimentos da História do nosso país para tornar a America great again”.
Os Estados Unidos já têm muitos problemas e bem podiam evitar esta indesejável perturbação da sua Democracia, que tanto inspira muitas outras democracias por este mundo. America is watching escreve o Daily News, mas nós também observamos com preocupação estes sinais de instabilidade política no mais poderoso país do mundo.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

R.I.P. Paula Rego

Com 87 anos de idade faleceu em Londres a pintora Paula Rego que, juntamente com Maria Helena Vieira da Silva, que como ela também nasceu em Lisboa, são as mais apreciadas artistas portuguesas a nível internacional.
Incentivada pelo seu pai que a queria ver longe do regime salazarista, entre 1952 e 1956 estudou na Slade School of Fine Art da University College London (UCL), onde desenvolveu os seus talentos na pintura e nas artes visuais, tornando-se um nome de referência no movimento estético modernista. Entre 1957 e 1970 viveu na Ericeira e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, mas o apreço pelo seu trabalho não a entusiasmou, pelo que regressou a Londres com o marido e os seus três filhos. A partir de 1975 a sua produção passou a inspirar-se no universo literário dos contos populares portugueses e, como acontece com os artistas de eleição, passou por outros ciclos e outras inspirações zoomórficas e fantasistas. Em meados dos anos 1980 teve o reconhecimento da crítica e as grandes galerias internacionais abriram-lhe as portas, enquanto de Portugal veio o convite para expor na Fundação Gulbenkian e na Fundação de Serralves, bem como uma proposta da Câmara Municipal de Cascais para reunir em Cascais uma parte da sua obra, assim nascendo a Casa das Histórias de Paula Rego, que foi inaugurada em 2009. As homenagens que muitas universidades lhe fizeram ao conferirem-lhe doutoramentos honoris causa e as condecorações que lhe foram atribuídas, nomeadamente pela Rainha Isabel II e por dois presidentes da República Portuguesa, constituem distinções muito raras no panorama artístico português, onde o reconhecimento internacional é uma barreira quase inultrapassável. Não sou crítico de arte mas apenas um apreciador e, por isso, sempre que possível vi a obra de Paula Rego em Lisboa, no Porto e em Cascais. 
A morte de Paula Rego originou que fosse decretado luto nacional em Portugal e a notícia da sua morte foi destacada na primeira página do jornal londrino The Guardian.

terça-feira, 7 de junho de 2022

A história do galeão espanhol San José

Iván Duque, o presidente da República da Colômbia anunciou ontem que uma equipa especializada da Marinha colombiana tinha conseguido localizar e filmar, a cerca de 600 metros de profundidade, os destroços do galeão espanhol San José, afundado em 1708 nas proximidades de Cartagena das Índias na batalha de Barú por acção de navios ingleses. Durante a batalha foram atingidos os paióis da pólvora do San José que explodiu, salvando-se apenas onze dos seus seiscentos tripulantes e passageiros.
O galeão San José tinha sido construído em 1698 no País Basco, tinha três mastros e 64 canhões e estava carregado com ouro, prata, esmeraldas e outras riquezas, que actualmente se avaliam em 17 mil milhões de dólares.
O interesse pelo San José e pelas riquezas que transportava é muito antigo e teve muitos interessados, mas os seus destroços só terão sido localizados em 1981 por uma organização caça-tesouros denominada Sea Search Armada. No entanto, entre promessas e compromissos, o governo colombiano acabou por não aceitar a proposta de repartição do espólio e não autorizou as operações para a sua recuperação. Mais tarde, em 2015, também a Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), um centro de pesquisas americano privado e, estatutariamente, sem fins lucrativos, se interessou pelo San José. A Espanha também mostrou interesse no assunto, “solo para honrar el cementerio de los marinos españoles”. Porém, só agora e após a localização dos destroços pela Marinha colombiana é que a Colômbia reivindicou o galeão San José como parte do seu património submerso, estando constitucionalmente obrigada a proteger e preservar o navio e todo o seu conteúdo, tendo classificado a sua exacta localização como segredo de Estado. Para trás fica um enorme contencioso entre o governo colombiano e várias organizações caça-tesouros, mas para a frente poderá estar um case study no que respeita à defesa e protecção do património submerso contra a sua delapidação por estes corsários dos tempos modernos.
O jornal El Universal que se publica em Cartagena das Índias, destaca hoje essa notícia e ilustra-a com várias fotografias.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Nadal ganha e a Espanha entra em euforia

A selecção nacional de futebol ganhou ontem à Suiça por 4-0, mas podiam ter sido mais golos, pois os atacantes portugueses estiveram muito perdulários. A imprensa desportiva portuguesa entusiasmou-se com a vitória e o Cristiano Ronaldo, que marcou dois golos e falhou alguns mais, voltou a ver a sua fotografia nas primeiras páginas dos jornais portugueses e a ouvir os elogios de que já não estava habituado. Um jornal desportivo português até escolheu o título "Ronaldo infinito", o que é simplesmente despropositado.
Porém, o grande acontecimento desportivo de ontem foi a vitória de Rafael Nadal no Torneio de Roland Garros, o famoso torneio de ténis que se realiza em Paris desde 1891, pois foi a 14ª vez que Nadal venceu esta prova, o que é verdadeiramente notável. Com este triunfo, Rafael Nadal passou a ter 22 vitórias nos torneios do Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), o que supera os vinte troféus conquistados pelo suiço Roger Féderer e pelo sérvio Novak Djokovic. 
A imprensa espanhola tratou este sucesso de Nadal com uma enorme euforia e, se nos últimos dias a imprensa britânica só viu a Rainha Isabel, agora é a imprensa espanhola que só vê o Rei Rafael. 
O jornal El País, que é uma referência internacional do jornalismo, publicou uma fotografia de Rafael Nadal a toda a largura da sua primeira página, em homenagem àquele que será o maior atleta espanhol de todos os tempos e que aos 36 anos de idade promete que vai continuar a procurar vitórias.

sábado, 4 de junho de 2022

Os 100 dias de brutal guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia chegou ao seu centésimo dia e continuamos a saber pouco sobre o que se passa no terreno. Há muitas informações contraditórias e cada uma das partes afirma que vai ganhar a guerra, mas hoje é evidente que são as duas superpotências que se defrontam numa guerra por procuração, como mostra a recente declaração de Antony Blinken a pedir a Vladimir Putin que cesse imediatamente o conflito.
Enquanto isto, as televisões massacram-nos com directos e com demasiados comentadores que pouco nos esclarecem. O rigor e a exactidão, bem como muitas outras regras deontológicas, são grosseiramente ignoradas. Não se percebe onde acaba a notícia e começa a opinião, nem se distingue claramente o que é informação e o que é propaganda. Chama-se a isto a batalha da informação que, aparentemente, é tão violenta quanto a guerra das armas e dos tiros.
As opiniões públicas, tal com as partes directamente envolvidas no conflito, parecem estar cansadas da guerra e das suas consequências na vida das comunidades.
Durante muitas semanas, aqui desejamos o fim da guerra, um cessar-fogo e o início de negociações, mas as últimas semanas mostraram que esse cenário está mais difícil. Os russos intensificaram o seu assalto ao Donbass, enquanto os americanos disponibilizaram aos ucranianos mais um pacote de armamento, com mísseis antitanque Javelin, mísseis antiaéreos Stinger, artilharia pesada e rockets de precisão, radares, drones, helicópteros Mi-17 e munições, embora Joe Biden e Antony Blinken tenham avisado os ucranianos de que aquele material apenas deve ser usado no campo de batalha da Ucrânia. Perante este anúncio, os russos vieram afirmar que os Estados Unidos estão deliberadamente a deitar gasolina para a fogueira.
Significa, portanto, que será entre Washington e Moscovo que a guerra se vai resolver e que as outras partes, incluindo a União Europeia e a Ucrânia, pouco terão a dizer. Isso mesmo se pode concluir da primeira página da edição de ontem do jornal francês Le Parisien, a propósito do 100º dia de guerra, ao publicar a fotografia de Volodymyr Zelensky e o título - héroïques… jusqu’à quand? – insinuando que a resistência ucraniana durará enquanto  os Estados Unidos estiverem dispostos a apoiá-la. Porém, nestas coisas não são as amizades nem as alianças que contam, mas apenas os interesses...

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O Reino Unido em festa por Isabel II

O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou simplesmente Reino Unido, está a celebrar o Jubileu de Platina da Rainha Isabel II com um vasto conjunto de cerimónias que comemoram os setenta anos do seu reinado. Essas cerimónias decorrerão em muitas cidades das ilhas Britânicas e nos 54 países membros da Commonwealth e, segundo foi anunciado, será realizado “um show espectacular, único numa geração, que combinará o melhor do esplendor da realeza britânica com a arte e as tecnologias de ponta”. A imprensa britânica esqueceu a guerra da Ucrânia, as excentricidades de Boris Johnson e os desvios protocolares de alguns filhos e netos de Isabel II, para se concentrar no elogio da Rainha de 96 anos de idade, a quem não tratam por Her Majesty, porque preferem, com muito afecto, tratá-la apenas por Ma’am.
Ninguém, mesmo aqueles que não gostam das realezas nem dos regimes monárquicos, fica indiferente a esta rainha que trabalhou com catorze primeiros-ministros, que conheceu treze presidentes dos Estados Unidos e quatro Papas, que visitou mais de cem países, com destaque para o Canadá e a França, que visitou 22 e 13 vezes, respectivamente.
Isabel II subiu ao trono em 1952 por morte do seu pai Jorge VI e, em Fevereiro de 1957 visitou Portugal. Foi há 65 anos e eu estive à beira da estrada por onde ela passava e via-a a acenar de dentro da sua viatura, num tempo em que ainda não havia televisão. Ela gostou do país e voltou em 1985. Quem sabe se não veio em penitência pelos males feitos pela sua antepassada Isabel I e os seus corsários, que tantas desgraças nos trouxeram... mas isso são coisas de finais do século XVI.
Como se referiu, toda a imprensa britânica destaca as cerimónias do Jubileu da Rainha e publica a sua fotografia, designadamente com a família real na varanda do Palácio de Buckingham, mas são muito raros os jornais estrangeiros que destacam a festa britânica. Um deles é um jornal francês de Nancy e, curiosamente, chama-se L’Est Républican, o que significa que até os jornais republicanos têm apreço pela figura de Isabel II.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Aplauso pelo novo Museu do Tesouro Real

Foi inaugurado na tarde de hoje com a devida pompa, o novo Museu do Tesouro Real que está instalado na nova ala do Palácio da Ajuda em Lisboa e que será aberto ao público a partir de amanhã. Desta forma se concretiza uma ideia antiga que era a de expor ao público as jóias da Casa Real portuguesa, muitas das quais nunca foram mostradas e que, nalguns casos, estiveram guardadas em cofres durante muitas dezenas de anos. Trata-se, portanto, de um grande acontecimento cultural que só pode orgulhar os portugueses, que a edição do jornal Público justamente destacou.
O novo museu representa um investimento de 31 milhões de euros, que foi financiado por uma parceria em que participaram o Ministério da Cultura, a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação do Turismo de Lisboa, podendo afirmar-se que é menor do que o investimento que fazem muitos clubes de futebol portugueses com a compra futebolistas.
Das notícias divulgadas destacam-se as informações relativas aos aspectos museológicos, uma vez que a exposição permanente começou a ser pensada há seis anos por uma equipa de especialistas, mas também à segurança do conteúdo expositivo. Este foi, porventura, o maior desafio para o projecto de arquitectura da nova ala do Palácio da Ajuda, inacabada há 226 anos. Nele está “incrustada” uma caixa-forte que é uma das maiores do mundo, com 40 metros de comprimento por 10 de largura e 10 de altura. A caixa-forte dispõe de duas portas blindadas de 5 toneladas cada uma, à entrada e à saída. Quando estas portas estão abertas, a entrada e a saída na caixa-forte é protegida por portas com vidros à prova de bala. Para entrar no Museu do Tesouro Real os visitantes terão de passar por um controlo de segurança semelhante aos dos aeroportos, que é inédito nos museus portugueses.
A caixa-forte guarda de forma permanente 736 peças, entre as quais a Coroa Real mandada fazer por D. João VI, bem como 22 mil pedras das quais 18 mil são diamantes, mas o conteúdo das 76 vitrinas da exposição, que também estão protegidas por vidros à prova de bala, contém inúmeras e belas peças a a guardar a nossa contemplação.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Um novo cardeal para a Igreja de Goa

A edição de hoje do jornal oHeraldo, um diário que foi fundado em Goa no ano de 1900 e que até 1983 se publicou em língua portuguesa, anunciou com grande destaque que o Arcebispo Filipe Neri Ferrão vai ser elevado a cardeal pelo Papa Francisco, no consistório marcado para o próximo dia 27 de Agosto.
Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão é natural de Goa onde nasceu em 1953, quando aquele território estava sob soberania portuguesa, tendo enveredado pela vida religiosa e pelo catolicismo, num país maioritariamente hindu. Foi sacerdote em várias paróquias de Goa e estudou em Itália e na Bélgica. Em 1994 o Papa João Paulo II escolheu-o para Bispo Auxiliar de Goa e Damão e, em 2004, nomeou-o Arcebispo de Goa e Damão, o mais antigo arcebispado da Ásia que tinha sido criado em 1557, com direito ao título honorífico de Patriarca das Índias Orientais, a que aquela diocese tinha sido elevada em 1886.
O Arcebispo Filipe Neri Ferrão fala fluentemente várias línguas, entre as quais o português, tendo presidido às cerimónias de Fátima em Outubro de 2014. A sua escolha para o Cardinalato deve ter sido recebida euforicamente pelos católicos de Goa, numa altura em que o catolicismo já não é a religião maioritária naquele estado e em que há tensões religiosas em alguns estados indianos vizinhos. 
A comunidade católica goesa que vive em Portugal também acolheu esta notícia com enorme alegria e eu, que conheço o homem de cultura e o amigo de Portugal que é o futuro cardeal, também aqui deixo o meu aplauso à escolha do Papa Francisco. 

Sucessos e alegrias do desporto português

No passado fim-de-semana ocorreram alguns acontecimentos desportivos internacionais em que, a título colectivo ou individual, se destacaram alguns dos nossos compatriotas. Sou do tempo em que os portugueses, exceptuando o caso singular do hóquei em patins, só tinham vitórias morais e, por isso, estamos perante uma grande satisfação, sobretudo os que praticaram ou os que gostam de desporto.
No topo colocamos a vitória do Benfica sobre os alemães do Magdeburgo e a conquista da Liga Europeia de andebol ou EHF Champions League, improvável e inesperada, mas muito justa, que passa a constituir o maior feito da história do andebol português. É certo que a selecção portuguesa já em 2021 entrara definitivamente para a elite mundial do andebol com o 10º lugar no Mundial do Egipto e o 9º lugar nas Olimpíadas do Japão, mas a vitória benfiquista sobre os poderosos alemães é mesmo um feito desportivo histórico. Porém, no mesmo patamar de destaque, colocamos Fernando Pimenta, o canoísta português que tem duas medalhas olímpicas e que é, certamente, o maior atleta português de todos os tempos e que, num só dia, conquistou quatro medalhas de ouro na Taça do Mundo de Poznan em canoagem, ao vencer as provas de K1 500, K1 1000, K2 500 (com Teresa Portela) e K1 5000.
Porém, os atletas portugueses não tiveram só vitórias. A equipa de futebol sub-17 perdeu com a França na “lotaria dos penaltis” e foi afastada da final do UEFA Under 17 Championship, enquanto o ciclista João Almeida desistiu do Giro d’Italia quando lutava pelos primeiros lugares e foi apanhado pelo covid-19.
Foi, portanto, um fim-de-semana com algumas boas alegrias desportivas, mas lamenta-se que a imprensa desportiva e não só, apenas se tivesse fixado nos êxitos do andebol e tenha ignorado Fernando Pimenta, João Almeida e os jovens futebolistas sub-17. A capa do jornal A Bola confirma o que se escreveu.

domingo, 29 de maio de 2022

O imparável Real Madrid ganhou outra vez

O Real Madrid bateu ontem o Liverpool na final da Liga dos Campeões da UEFA e conquistou o seu 14º troféu nesta prova, o que constitui um feito desportivo notável. A imprensa espanhola ficou eufórica e encheu as suas primeiras páginas com imagens dos festejos dos vencedores e com títulos como “Madrid eterno”, ou “Campeón infinito”, ou ainda, “El Real Madrid agiganta su mito”. Essa euforia é natural, porque traduz a expressão do entusiasmo popular dos madrilenos e da maioria dos espanhóis pela enorme supremacia futebolística do Real Madrid com os seus 14 títulos, claramente acima dos seus rivais que são o Milan com sete, o Liverpool e o Bayern de Munique com seis e o Barcelona com cinco.
Contrariamente à euforia da imprensa espanhola, a imprensa britânica ficou decepcionada e, nas suas edições de hoje, ignora a final da Liga dos Campeões da UEFA. No entanto, o jornal The Independent dá uma lição de desportivismo e fair play, ao publicar a fotografia dos festejos dos vencedores e ao destacar como título “Real Madrid end Liverpool’s dream”. 
Como nota de curiosidade relativamente a Portugal e aos portugueses, aqui se salienta que tanto o Benfica como o FC Porto venceram esta prova e este troféu por duas vezes cada um, enquanto Cristiano Ronaldo é o recordista da competição pelos 183 jogos que disputou e pelos 140 golos que marcou.

sábado, 28 de maio de 2022

Boston Common e Jardim das Bandeiras

A edição de hoje do jornal The Boston Globe publica uma interessante fotografia que mostra duas pessoas a passear por entre “a sea of more than 37,000 American flags”, como explica a respectiva legenda. 
A cena passa-se no Boston Common, um parque público da cidade de Boston com 20 hectares, que é considerado o mais antigo parque urbano dos Estados Unidos. Nele se encontra um pouco de tudo, desde jardins e espaços culturais, até equipamentos de diversões e espaços de memória para perpetuar figuras de referência, incluindo as sepulturas de grandes personalidades do estado de Massachusetts.
Desde 2010 que uma organização de voluntários criou um imponente jardim no interior do Boston Common, no qual foi instalado um Monumento aos Soldados e Marinheiros do estado de Massachusetts que deram a vida pelo país, desde a Guerra da Independência. Nesse jardim são anualmente colocadas 37.000 bandeiras americanas em memória dos mortos do estado de Massachusetts nas diferentes guerras em que participaram. Esta gigantesca operação é realizada por centenas de voluntários e acontece nas vésperas da última segunda-feira do mês, o dia em que é celebrado por todo o país o Memorial Day, um feriado em que se homenageiam os homens e as mulheres que morreram enquanto serviam nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Segundo referem as notícias o espectáculo proporcionado pelas 37.000 bandeiras é imponente.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

A nau Victoria a fazer... História ao vivo

A cidade de Avilés é a terceira maior cidade do Principado das Astúrias e o seu porto é o segundo maior daquela região, logo a seguir ao porto de Gijón. Nos últimos dias tem estado atracada no porto a réplica da nau Victoria, que foi construída nos estaleiros da Isla Cristina, em Huelva, por ocasião da Exposição Universal de Sevilha de 1992.
A nau Victoria foi o navio em que Juan Sebastián de Elcano concluiu a primeira volta ao mundo em 1522, mas que antes tinha sido comandado por Duarte Barbosa, cunhado de Fernando de Magalhães e que lhe sucedera no comando da expedição após a sua morte em Abril de 1521, na ilha de Mactan.
A base da réplica da nau Victoria é o porto de Cádis, mas segundo refere o jornal La Voz de Avilés, “realmente, pocas veces está parado porque navega por Europa dando a conocer la gran hazaña de Magallanes y Elcano”. De facto, as actividades da réplica são destinadas a promover a epopeia espanhola e são geridas pela Fundación Nao Victoria. Assim, a réplica antes esteve na Corunha e, depois desta visita a Avilés, seguirá para Laredo, na Cantábria e, depois, para Bordéus, em França. Em setembro navegará para Sevilha, para estar presente nas cerimónias finais das comemorações dos 500 anos da volta ao mundo de 1519-1522. Naturalmente, a nau Victoria vai cumprindo a sua missão de promover a Espanha e estará aberta a visitas em todos os portos. No caso de Avilés as entradas custam 5 euros para adultos, 3 euros para jovens dos 5 aos 10 anos e 13 euros para famílias. É um caso de História ao vivo e de divulgação histórica, mas também de boa promoção, que se financiam a si mesmo, ou um caso de pay yourself first.