quarta-feira, 22 de abril de 2015

O futebol, a fadista e uma fotomontagem

A equipa de futebol do F.C. Porto foi ontem copiosamente derrotada em Munique pela equipa do Bayern, ficando eliminada da Liga dos Campeões. Hoje os jornais desportivos portugueses destacavam em primeira página o “Terror em Munique”, o “Desastre” e o “Dantesco”. Achei estes títulos absolutamente desproporcionados, sobretudo depois da tragédia aérea que aconteceu nos Alpes franceses com o avião da Germanwings e do drama quotidiano dos emigrantes que morrem no Mediterrâneo quando fogem do terror e buscam o sonho europeu. É uma pena que os jornais desportivos portugueses e os seus gatekeepers não tenham noção das palavras que utilizam. O que aconteceu ao F.C. Porto em Munique foi uma derrota num jogo de futebol em que participaram jogadores de 10 nacionalidades. Ninguém morreu por causa dessa derrota.
Quis tirar dúvidas e procurei saber se a imprensa alemã também tinha utilizado palavreado desproporcionado para celebrar a vitória do Bayern. Apesar de não ter conhecimentos da língua alemã pedi ajuda ao meu amigo Google, que faz umas traduções algo imperfeitas mas que facilitam a compreensão do conteúdo das notícias. O diário berlinense Die Tageszeitung, abreviadamente conhecido por Taz, não inclui qualquer chamada de primeira página ao futebol e, no seu interior, dá igual destaque à vitória do Bayern e aos espectáculos que a fadista Carminho vai apresentar a partir do dia 9 de Maio em Munique e em mais quatro cidades alemãs.  Curioso, de facto. 
Finalmente, nesta edição destaca-se a elucidativa fotomontagem publicada na primeira página daquele jornal que alude à tragédia do Mediterrâneo, a lembrar-nos que entre os seus responsáveis há gente engravatada ou que uma imagem vale mais do que mil palavras.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A Europa a chorar lágrimas de crocodilo

As imagens da tragédia que está a acontecer no Mediterrâneo envergonham a Europa, com as suas águas a transformarem-se num gigantesco cemitério para os desafortunados do século XXI, sobretudo no chamado canal da Sicília, no estreito de Gibraltar e no mar Egeu. Milhares de emigrantes têm morrido afogados porque fogem do caos da Síria ou da Líbia ou, simplesmente, porque fogem da pobreza e ambicionam uma vida melhor. Calcula-se que nas costas da Líbia haverá cerca de um milhão de pessoas que espera a sua oportunidade para se lançar na aventura, organizada por mafias que, a troco de 8 mil euros, lhes prometem o sonho europeu.
Esta tragédia humanitária não acontece por acaso. É, sobretudo, uma consequência das políticas que têm sido seguidas por alguns dirigentes europeus e americanos, que têm apostado na intervenção militar e no derrube dos ditadores desta zona do mundo (e do petróleo), casos de Saddam Hussein, Bashar-el-Assad e Muammar Kadaffi, sem que haja alternativas democráticas, daí resultando a completa instabilidade, a anarquia e a destruição destes países.
Todos nos lembramos do que aconteceu na Líbia em 2011. Em poucos meses, com o aval da ONU, os falcões da NATO lançaram os seus Tomahawks sobre o regime líbio, efectuaram 21.200 voos de reconhecimento e 7.958 voos de ataque sobre a Líbia, tendo-se tornado a “componente aérea” da oposição a Kadhafi. A operação apenas teve o apoio de metade dos 28 membros da NATO e a participação de oito - França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Itália e Canadá. A Alemanha, tal como o Brasil, a Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, não apoiaram esta agressão, porque perceberam que era pior a emenda que o soneto. E tinham razão.
A tragédia que hoje se desenrola no Mediterrâneo só pode estar a fazer chorar lágrimas de crocodilo aos dirigentes que apoiaram o derrube de Kadaffi e abriram as portas ao caos na Líbia, muitos dos quais ainda estão no poder ou próximo dele, sem que ninguém nos lembre do mal que nos fizeram. 

domingo, 19 de abril de 2015

Governo existe para defender as pessoas

Há cinquenta anos, num período em que passavam por grandes dificuldades, muitos milhares de portugueses decidiram emigrar para uma Europa ainda não recuperada do drama da guerra e muito carente de mão-de-obra. A França foi o destino mais frequente da emigração portuguesa, mas muitos desses emigrantes escolheram o Luxemburgo como destino e, rapidamente, tornaram-se a maior comunidade estrangeira que vive no Grão-Ducado. Serão cerca de 100 mil pessoas numa população total de cerca de 500 mil habitantes, isto é, cerca de 20% da população do Luxemburgo é portuguesa. A poucos dias de terminar o seu mandato, o Presidente da Confederação das Comunidades Portuguesas no Luxemburgo veio denunciar que os emigrantes portugueses, tanto os da primeira como da segunda geração, estão a ser vítimas de um processo de ostracização, marginalização e desconsideração, o que o Arcebispo do Luxemburgo também denunciara recentemente. O jornal luxemburguês Le Quotidien divulgou ontem este assunto com destaque de primeira página.
A principal queixa da comunidade portuguesa está relacionada com a integração social, o acesso ao emprego e o ensino do português, mas essa será apenas a ponta de um iceberg uma vez que, provavelmente, o que se está a passar é uma descriminação que viola todos os princípios da União Europeia. Sendo assim, aqui temos um caso em que se impõe que os nossos governantes actuem rapidamente e com firmeza para defender a dignidade dos nossos compatriotas emigrados, em vez de serem tão submissos e resignados a acatar os diktats dos “donos disto tudo”. Mostrem que têm coragem!

sábado, 18 de abril de 2015

R.I.P. José Mariano Gago

José Mariano Gago morreu ontem com 66 anos de idade. Antigo ministro da Ciência nos governos de António Guterres (1995-2002) e José Sócrates (2005-2011), foi o político que ocupou um cargo ministerial durante mais tempo em Portugal e foi, também, o responsável pelo desenvolvimento exponencial da ciência portuguesa nos últimos anos.
Tinha sido um dos melhores alunos do seu tempo no Instituto Superior Técnico, para cuja Associação de Estudantes foi eleito presidente em 1969 e destacou-se na luta estudantil contra a ditadura. Após ter concluido a sua licenciatura em engenharia electrotécnica, seguiu para Paris para fazer um doutoramento na área da produção e transferência de energia, mas quando em 1972 se encontrava de férias em Lisboa e soube que tinha um mandato de captura da PIDE, decidiu-se pelo exílio. Já doutorado trabalhou na Suiça e só regressou definitivamente em Portugal em 1986 para presidir à JNICT, que antecedeu a FCT, a principal entidade de financiamento público da investigação portuguesa. Depois assumiu a função de ministro da Ciência, tendo a sua actividade sido elogiada em todos os quadrantes políticos por ter conseguido colocar a ciência na agenda política e demonstrar que essa era a aposta correcta para que Portugal recuperasse o seu atraso. A ciência portuguesa adquiriu então padrões internacionais e muitos doutorados que trabalhavam no estrangeiro regressaram a Portugal.
Porém, apareceu a crise financeira e os governantes portugueses escolheram a contabilidade em vez da ciência, hostilizando a comunidade científica portuguesa. Mariano Gago disse então numa entrevista que “forçar doutorados à emigração é um suicídio nacional”, mas parece que não foi ouvido por quem devia escutar estas avisos.
Homens destes fazem muita falta ao nosso país!

Lafayette "regressa" aos Estados Unidos

Vários jornais franceses, entre os quais o Sud Ouest que se publica em Bordéus, destacam hoje nas suas primeiras páginas a partida de Rochefort da réplica da fragata L’Hermione com rumo à América, 235 anos depois da viagem em que seguiu o jovem Gilbert du Motier, marquês de La Fayette. Então com 23 anos de idade, o marquês partiu no dia 20 de Março de 1780 para se juntar aos revoltosos americanos comandados pelo general George Washington e para lhes anunciar a chegada eminente de reforços franceses. Colocado no comando das tropas da Virginia, tornou-se um quase filho adoptivo de Washington, tomou parte nas grandes batalhas que levaram à derrota dos ingleses e tornou-se um verdadeiro herói nacional dos Estados Unidos com o nome americanizado de Lafayette. Os franceses decidiram evocá-lo como “o símbolo eterno da amizade franco-americana” e para isso decidiram construir uma réplica do L'Hermione.
A sua construção demorou 18 anos de pesquisas históricas, estudos e angariação de fundos para fazer aquele que os franceses afirmam ser o maior navio histórico a navegar, no qual serão usadas as técnicas tradicionais de manobra e navegação.
O navio é comandado por Yann Cariou, tem 54 tripulantes com uma média de idades de 27 anos, dos quais um terço são mulheres. A chegada às costas da Virginia está prevista para o dia 5 de Junho e, depois, o navio visitará 11 portos ao longo da costa americana, entre os quais Baltimore, Filadélfia, Nova York, Newport e Boston. O ponto alto desta viagem-memória será no dia 4 de Julho na Grande Parada de Nova York. Como é costume neste tipo de viagens dos veleiros ocidentais ao novo mundo, esperam-se muitos milhares de espectadores e de visitantes nos portos visitados, assim como milhares de pequenas embarcações à vela e a motor a escoltar o L’Hermione nas entradas e saídas dos portos visitados.
No dia 28 de Agosto de 2015 o navio estará de novo em Rochefort.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Memória lusa: brasão de armas de Ceuta

No próximo dia 24 de Maio vão realizar-se em Espanha as eleições municipais e as eleições autonómicas e mais de 36 milhões de eleitores serão chamados às urnas, incluindo-se neste número os nacionais de países da União Europeia que residam em Espanha e estejam recenseados. Entre esses eleitores recenseados estão 20.684 portugueses.
As eleições estão a despertar muito interesse porque podem apontar tendências, num ano em que haverá eleições legislativas antes do fim do ano. Assim, para além das questões locais e regionais, o que está a despertar o interesse político dos espanhóis é saber qual vai ser a reacção do eleitorado em relação às grandes forças políticas em presença, isto é, que apoio vai dar ao Podemos (Pablo Iglésias), que confiança vai dar à renovação do PSOE (Pedro Sanchez) e que penalização dará ao PP e ao seu desgastado governo (Mariano Rajoy).
As eleições estão a mobilizar a cidade de Ceuta, que fica situada na margem sul do estreito de Gibraltar e que tem 18,5 km2 de superfície e o estatuto político de cidade autónoma. Tem cerca de 80 mil habitantes, dos quais 59 mil são eleitores. Desde 2001 que a cidade é governada pelo alcaide-presidente Juan Jesús Vivas (PP) e nas últimas eleições para o parlamento autonómico o PP elegeu 18 dos 25 deputados (65%).
A edição de hoje do diário El Pueblo de Ceuta dedica toda a sua primeira página às eleições e, na fotografia que retrata a última sessão plenária da Assembleia de Ceuta na actual legislatura, destaca-se o brasão de armas da cidade, um dos seus símbolos identitários herdado dos portugueses.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Hillary e as mulheres presidenciáveis

Hillary Clinton, a antiga Primeira-dama e Secretária de Estado anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais americanas de 2016 e essa iniciativa lembra-me as eleições presidenciais portuguesas que, nos últimos dias, têm ocupado a agenda mediática portuguesa.
Em ano de eleições legislativas que vão escolher as políticas e a equipa que nos vai governar nos próximos quatro anos, o tema das eleições presidenciais é prematuro e inoportuno, mas tem servido para não se falar nos assuntos inconvenientes para o governo, que são muitos. Não se fala na trapalhada das dívidas do Primeiro-ministro à Segurança Social, nem naquela mentirosa afirmação de que não há dívida nova e que os cofres estão cheios, nem naquele Secretário de Estado arrogante e mentiroso que disse que não havia listas VIP, nem nas nomeações de boys e girls para recompensar lealdades partidárias, nem na lata com que o irrevogável se pavoneia sem nada de útil ter feito no governo, para além das passeatas. Não se fala no desemprego, nem na dívida que tem aumentado, nem no défice que encalhou nos 4%, nem na falta de investimento, nem na pobreza que vemos nas ruas desta cidade de Lisboa. O que tem ocupado a agenda mediática são os candidatos presidenciais, já anunciados ou ainda por anunciar, como o neto, o morais, o amaral, o vitorino, o sampaio, o carvalho, o marcelo, o lopes, o rio e outros que hão-de aparecer. É uma grande alegria termos tanta gente capaz de ocupar o palácio de Belém. São todos homens e, com alguma timidez, também têm sido lançadas na praça pública algumas personalidades femininas, o que é muito positivo, mas que tem que ser visto com cuidado.
Já imaginaram se o exemplo dos Estados Unidos atravessa o Atlântico e chega até nós? À semelhança de Hillary Clinton teríamos a actual Primeira-dama candidata e teríamos um Aníbal, tal como o Bill, a fazer de primeiro-damo ou primeiro-cavalheiro. Para quem está satisfeito com os dez anos de cavaquismo presidencial, aqui está uma alternativa para que o Aníbal e a Maria troquem de papéis e nos continuem a divertir. Talvez o primeiro Passos apoie esta divertida solução...

domingo, 12 de abril de 2015

Cuba: reencontro com os Estados Unidos

Cuba sempre suscitou uma enorme curiosidade e simpatia na juventude europeia dos anos 60, sobretudo pela mediatização que foi feita do mítico Ernesto Che Guevara, o jovem médico argentino que se juntou a Fidel de Castro e que em 1957-1958 teve um destacado papel na revolução cubana. Porém, a simpatia pela revolução cubana também resultava de um somatório de episódios protagonizados por um grupo de jovens guerrilheiros que, com muita coragem, tinham lutado contra o regime de Fulgêncio Batista: era o audacioso assalto ao quartel de Moncada, o julgamento e a condenação do jovem advogado Fidel, as peripécias da organização da guerrilha, a viagem do Gramna, o desembarque dos 82 revolucionários, a luta na Sierra Maestra, as batalhas por Santiago e Santa Clara e a entrada em Havana em Janeiro de 1959. Era a fuga de Batista, a vitória e o poder. A corrupção e os interesses americanos instalados na ilha foram atacados. Depois, foi a nacionalização da banca e das grandes empresas, as expropriações e a reforma agrária. A hostilidade americana acentuou-se e foi decretado um embargo comercial. Cuba entrou na órbita da URSS e passou a exportar a revolução.
Passaram-se muitos anos e os tempos mudaram, mas Cuba permaneceu estática, apesar de ter sido eliminado o analfabetismo e de existir um sistema de saúde universal. As transformações revolucionárias não produziram os resultados esperados e os cubanos empobreceram. A URSS implodiu e Cuba perdeu grande parte do apoio do seu aliado. O envelhecido Fidel adoeceu e em 2008 foi substituído pelo seu irmão Raúl Castro.
Agora, depois de quase sessenta anos de isolamento e de recíproca hostilidade, os Estados Unidos e Cuba reaproximam-se e os seus Presidentes – Barack Obama e Raúl Castro – prometem cooperar, apesar de Castro ainda ter afirmado “as nossas profundas diferenças”. Para já espera-se o fim do embargo comercial imposto pelos Estados Unidos em 1962, a retirada de Cuba da lista dos países patrocinadores do terrorismo e a chegada de muitos turistas americanos. O mundo e a imprensa de língua espanhola elogiaram esta reaproximação mas, sobretudo, há 11 milhões de cubanos que agora esperam por uma vida melhor.

sábado, 11 de abril de 2015

Foi você que falou em homens de palavra?

 
Este indivíduo que foi baptizado como António Pires de Lima (APL) é um economista, igual a tantos outros que por aí andam e, através do seu currículo, sabemos que vendeu sumos, cafés e cervejas Super Bock. Agora, pela mão do irrevogável, chegou a ministro e, com ares de uma competência que ainda está por demonstrar e alguma arrogância, faz propaganda, vende disparates e alimenta ilusões. Para ele, a pasta da Economia são empresas e privatizações, não são trabalhadores. Ele é o privatizador-mor e, aparentemente, é isso que faz no governo para, com obcessão ideológica, servir interesses indefinidos.
Quando há tempos foi à Assembleia da República prestar contas dos seus desempenhos não foi capaz ou não quis retratar a nossa débil economia, nem explicar porque não há investimento, preferindo adoptar um lastimável e ridículo comportamento que foi quase insultuoso para o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que nem estava presente nem era para ali chamado. Esperava-se mais de um PL!
Aqui há dias, a propósito das questões da TAP e do insanável impasse que ameaça a empresa com novas greves, veio dizer que “os acordos em homens de palavra são para se cumprir”. Esta frase, dita por um ministro, é para rir à gargalhada.
Então, o que é que os ministros em geral, e o nosso primeiro Passos em particular, têm feito aos acordos que fizeram com os eleitores? Será que esta gente se esquece que está no governo para cumprir um acordo feito com os eleitores que está inscrito no seu programa eleitoral e, naturalmente, na Constituição da República?

Sucesso da indústria aeronáutica francesa

Diversos jornais franceses, como acontece com Le Figaro, anunciam hoje que a Índia encomendou 36 aviões Rafale à França, durante a visita oficial que o Primeiro-Ministro Narendra Modi fez a Paris. Em Fevereiro passado, tinha sido assegurada a venda de 24 unidades do mesmo avião ao Egipto por 5 mil milhões de euros e, desta forma, em pouco tempo a França concretiza a primeira venda deste avião para o estrangeiro com duas encomendas. A economia francesa anima-se e a imprensa faz eco desse entusiasmo.
O Rafale é um caça polivalente de amplo raio de acção, de dupla propulsão e com asa em delta, podendo ter várias versões. Foi concebido pela Dassault Aviation e entrou ao serviço em 2000. Porém, até agora só a Força Aérea e a Marinha francesas tinham adquirido este avião para o seu serviço, dispondo respectivamente de 42 e 26 unidades, embora estejam encomendadas mais 120 aviões. Porém, apesar das suas reconhecidas capacidades operacionais, o Rafale ainda não se tinha imposto no mercado internacional porque a concorrência é muito forte neste sector, com propostas americanas, russas, chinesas, suecas e de vários consórcios europeus.
Actualmente, sabe-se que a Índia mantém conversações para formar uma parceria com a Dassault Aviation e para construir os aviões Rafale na própria Índia, havendo também negociações com os Emirados Árabes Unidos para equipar a sua Força Aérea.
Se faltasse alguma coisa para confirmar que o mundo está cada vez mais inseguro, aqui está esta notícia do sucesso da indústria aeronáutica francesa e da corrida que alguns países vêm fazendo aos aviões de combate, casos do Egipto e da Índia, apesar de terem outros problemas internos graves para resolver. Ou, como diria o Papa Francisco, esta economia mata!

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Os exóticos periquitos da nossa Lisboa

Na sua edição de ontem o diário inglês The Guardian esqueceu alguns dos temas nacionais e internacionais relevantes e dedicou a fotografia da sua primeira página ao psittacula krameri, uma ave que é conhecida em Portugal como periquito-de-colar, periquito-de-colar-rosa, periquito-rabo-de-junco ou periquito-da-Índia.
Trata-se de  uma ave de origem indiana ou africana, com a plumagem verde, com o bico vermelho em forma de gancho e com a cauda longa e afilada. Mede entre 38 e 43 centímetros, mas a sua cauda mede cerca de metade do comprimento total. Os machos têm um colar à volta do pescoço, o que permite distingui-los das fêmeas. Voam em pequenos bandos e são muito barulhentos.
É a única ave da família dos papagaios e periquitos em liberdade na Europa, como resultado de fugas de cativeiro ou de libertações deliberadas, havendo-os em várias cidades europeias. Em Portugal começaram a aparecer há poucos anos, mas a sua população tem aumentado muito rapidamente, sobretudo em Lisboa, onde pode ser visto em muitos parques e jardins, como o Jardim da Estrela, o Jardim Botânico da Ajuda, o Jardim do Ultramar, o Parque Gulbenkian, o Parque Tejo e em muitos outros jardins e zonas arborizadas, mas também já aparecem no Porto, Comporta, Guimarães, Alvor e Torres Novas.
Gosto de ver os psittacula krameri e de os fotografar a partir da minha janela lisboeta, empoleirados nas árvores ou voando em pequenos bandos, porque dão um ar exótico à cidade e nos recordam a vertente exótica do nosso passado histórico, que nos levou a percorrer todos os mares e a reconhecer o mundo, muito para além das limitadas fronteiras da Europa.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Sunitas & xiitas: agora lutam no Iémen

Há actualmente um enorme conflito religioso no mundo islâmico a fazer lembrar os conflitos religiosos entre católicos e protestantes, que atravessaram a Europa no século XVII, estando de um lado a confissão sunita e do outro a confissão xiita, cada uma delas resultante das diferentes interpretações do Alcorão. O conflito é sério e tem-se desenvolvido na Síria e no Iraque, mas agora parece ter-se aberto uma nova frente no Iémen, com uma guerra ainda não declarada entre o Irão xiita e a Arábia Saudita sunita, como revela a edição asiática da TIME.
A República do Iémen tem 527 mil km2 e 24 milhões de habitantes. Estrategicamente situada à entrada do mar Vermelho e com fronteira com a Arábia Saudita, o país tem estado a ser dominado por um conflito nascido da acção dos rebeldes houthis (xiitas) que,  com o apoio do Irão,  desafiaram a autoridade do governo e já dominam a maior parte do país. O Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi refugiou-se em Riad, na Arábia Saudita. A cidade de Sanaa, que é a capital do Iémen está em poder dos rebeldes houthis, enquanto Aden, a segunda cidade do país, está confrontada com violentos combates entre os apoiantes do Presidente e os rebeldes houthis, mas também com uma grave situação humanitária. Uma coligação militar liderada pelos sauditas, com o apoio do Egipto, Jordânia, Marrocos e das monarquias do golfo Pérsico interveio com ataques aéreos e ameaça com uma invasão terrestre. Os Estados Unidos apoiam.
Como pano de fundo deste conflito e desta intervenção saudita no Iémen está a luta pela supremacia regional entre o Irão (xiita) e a Arábia Saudita (sunita). Perante esta situação, as posições dos Estados Unidos são incompreensíveis, aparecendo contra ou ao lado do Irão, conforme as circunstâncias. Em Lausana fazem acordos com o Irão para limitar o seu programa nuclear, no Iraque aliam-se ao mesmo Irão para combater o Estado Islâmico, enquanto na Síria apoiam as forças que lutam contra Bashar-el-Assad e o seu aliado iraniano. Agora, no Iémen, estão ao lado dos sauditas e contra o Irão. Ninguém percebe a política externa americana que, apesar do seu poder, não consegue soluções consequentes. Entretanto, o terrorismo ganha terreno e a indústria do armamento farta-se de fazer negócios e de ganhar dinheiro.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Um chegada inédita na Volvo Ocean Race

Chegaram ontem ao porto brasileiro de Itajai os primeiros quatro veleiros que concluiram a 5ª etapa da Volvo Ocean Race 2014-2015, que ligou Auckland (Nova Zelândia) a Itajai (Brasil). Foi a mais longa e também a mais dura das nove etapas da prova, que decorreu ao longo de um percurso de 6776 milhas, que atravessou o Pacífico Sul, que bordejou as latitudes até onde aparecem os icebergs e que transpôs o temível cabo Horn.
Como salienta o Jornal de Santa Catarina foi uma chegada inédita, porque dos cinco veleiros ainda em prova, os quatro primeiros chegaram a Itajai em menos de uma hora. Depois de tantas milhas e de tantas peripécias, é de facto um final de etapa absolutamente inédito, com quatro veleiros a navegar à vista. O primeiro veleiro a cortar a linha de chegada foi o Abu Dhabi Ocean Racing, cujo skpiper é o inglês Ian Walker e de cuja tripulação internacional fazem parte ingleses (2), australianos (2), neo-zelandeses (2) e um americano, um irlandês e um espanhol. 
A prova é retomada no dia 19 de Abril, quando se iniciar a 6ª etapa entre Itajai e Newport, numa distância de 5010 milhas.
De acordo com o plano da regata, a 7ª etapa ligará Newport a Lisboa, onde se estima que os veleiros cheguem entre os dias 23 e 27 de Maio.

Ronaldo ressuscitou com 5 golos. É obra!

Desde que ganhou pela terceira vez o título de melhor futebolista do mundo que Ronaldo não justificava essa distinção com golos, quer na sua equipa do Real Madrid, quer na selecção nacional portuguesa. Havia alguma preocupação com esse facto que para alguns prenunciava o princípio do fim de uma notável carreira mas que outros, simplesmente, atribuiam à instabilidade emocional do atleta provocada pela sua separação da modelo russa Irina Shaik. Até que ontem, talvez por ser domingo de Páscoa, o homem ressuscitou num jogo para a Liga BBVA, em que a sua equipa defrontou o Granada CF e venceu por números que já não se usam (9-1). Ronaldo marcou 5 golos, coisa que fez pela primeira vez na sua carreira.
Todos ficamos satisfeitos com a performance desse homem que, no quadro das culturas mediáticas contemporâneas, é o mais famoso português de todos os tempos e, certamente, o único que tem notoriedade universal. Alguns jornais portugueses e espanhóis, sobretudo os jornais desportivos, destacaram em primeira página os cinco golos de Ronaldo, um feito que é conhecido na gíria futebolística espanhola como manita, mas esse destaque não surpreende. O que surpreendeu foi o que fez um jornal indiano, ao destacar esse feito num país em que o futebol ainda não é um acontecimento desportivo de primeiro plano.
O Hindustan Times, um diário que tem edições em 8 cidades indianas e cerca de 3,5 milhões de leitores, decidiu vender uma parte do seu título (substituindo hindustan times por hindustan is good) e uma boa parte do seu espaço de primeira página com um anúncio das motocicletas da Honda, mas também destacou os cinco golos de Ronaldo como a principal notícia do dia, escolhendo o título Five-star Ronaldo. A capa do jornal ficou graficamente desfigurada com estas combinações, mas o marketing é assim.

sábado, 4 de abril de 2015

Há sinais muito promissores no Irão

Depois de um longo processo de conversações, as últimas das quais realizadas em Lausana, chegou-se a um entendimento de base que limita o programa nuclear iraniano em troca do fim das sanções internacionais que têm vigorado, o qual foi subscrito pelo Irão e pelo chamado grupo P5+1 (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha).
Hoje, a edição do prestigiado e influente Le Monde chama-lhe um acordo histórico, mas enquanto os iranianos comemoraram esta notícia com grandes manifestações de júbilo nas ruas, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu considerou-o uma ameaça a Israel. Nos Estados Unidos há muita gente que não ficou nada satisfeita, pelo que o Presidente Obama vai ter pela frente a tarefa de convencer os seus opositores republicanos no Congresso.
Nos próximos três meses serão discutidos os pormenores do acordo final que será assinado em Junho, mas não é seguro que os acertos finais decorram sem problemas, sobretudo nos Estados Unidos, apesar de estarem garantidas as principais exigências americanas quanto à impossibilidade do Irão desenvolver armas nucleares e de estar assegurada a aceitação de regulares verificações por inspectores internacionais.
O Irão é um inimigo tradicional de Israel e tem estado envolvido, directa ou indirectamente, na complexa conflitualidade e na guerra que está em curso no Iraque e na Síria, para além de estar empenhado na luta contra as forças do Estado Islâmico. O Irão é uma peça muito importante na região e tem uma equação com muitas variáveis para resolver, mas o passo que agora deu é muito promissor no sentido de estabelecer uma relação de maior cooperação com os Estados Unidos e, por essa via, contribuir para a resolução dos graves conflitos daquela região.
(PS: A mesma edição do Le Monde destaca em primeira página o falecimento de Manoel de Oliveira).