domingo, 10 de maio de 2015

O orgulho russo está a renascer

A edição de hoje do South China Morning Post que se publica em Hong Kong, assinala as celebrações do 70º aniversário da derrota da Alemanha nazi e destaca a presença do Presidente Xi Jinping na Praça Vermelha de Moscovo, a chefiar uma delegação do PLA (People’s Liberation Army), ao lado de Vladimir Putin, durante a gigantesca parada militar que se realizou.
O mundo viu as imagens na televisão e não pode ter deixado de ficar impressionado com esta exibição de poder, que ressuscita o orgulho russo depois da humilhação que foi a implosão da União Soviética. Esta iniciativa ultrapassa os limites da própria Rússia e, simbolicamente, parece fazer renascer um mundo bipolar, ao aproximar a China e a Rússia, mas também outros países como a Índia, o Vietname, a Mongólia, a Sérvia, Cuba e a Venezuela, entre outros, mas significa também o apoio chinês à Rússia, quando esta está a sofrer um boicote ocidental devido ao seu envolvimento na Ucrânia. Os representantes ocidentais faltaram à “festa russa”, mas Putin mostrou que tem muitos e bons amigos. Foi uma parada militar “à moda antiga” e como há muitos anos não se via, com 16 mil soldados, incluindo uma representação do Exército Popular Chinês, com um desfile de sofisticado equipamento militar, onde se incluiam tanques e mísseis balísticos intercontinentais, enquanto a mais moderna aviação russa sobrevoava o desfile. O Presidente Vladimir Putin discursou e apelou para que não seja esquecido “o património comum de valores” dos vencedores da guerra, mas também disse que “a História pede-nos que sejamos de novo vigilantes”. Assim se vê, como uma atrevida intervenção ocidental nos tumultos de Kiev degenerou, se agravou e provocou a Rússia que já está a acordar o seu orgulho e a suscitar muito mais preocupações no ocidente.

sábado, 9 de maio de 2015

O porta-voz Monteiro

Durante muitos anos habituei-me a ver na televisão um tal António Monteiro como porta-voz da TAP. Era ele que "dava a cara" e que falava das greves, dos atrasos e dos problemas que por vezes apareciam na companhia e que afectavam o público. Nos últimos tempos, com a teimosia governamental em privatizar a TAP e com a prolongada greve dos pilotos, o porta-voz Monteiro que é um funcionário da TAP, parece ter sido substituido pelo porta-voz Monteiro que é, nada mais nada menos que o licenciado Sérgio Monteiro, o Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Este porta-voz Monteiro, que também é Secretário de Estado, é um homem de quem se conhece pouco, embora se saiba que é militante partidário e que, por isso, rapidamente se encaixou e chegou ao conselho de administração do CaixaBI, isto é, o Banco de Investimento do Grupo Caixa Geral de Depósitos. Segundo se lê, foi no exercício dessas funções que, no tempo do governo socialista, “desenhou, geriu ou cofinanciou todas as PPP ruinosas contratualizadas em Portugal nos últimos anos”. Um dia, o famoso Miguel Relvas veio dizer que "as PPP do sector rodoviário são uma verdadeira ruína para o país” e são exactamente essas PPP, que valem 5,5 mil milhões de euros, que hoje são tuteladas pelo mesmo Sérgio Monteiro. O homem serve para tudo e para o seu contrário! Nas suas actuais funções, coube-lhe renegociar essas PPP que antes tinha negociado e, além disso, gerir as privatizações da ANA, CTT, CP Carga e TAP. Será possível fazer tudo isto sem afectar o interesse nacional? Há quem lhe chame o Senhor Privatizações pela forma empenhada e obcecada como se comporta, sobretudo quando se deslumbra com os microfones à sua frente. No caso da TAP, tem sido ele a substituir a administração da companhia e a informar sobre o”insucesso da greve”, sobre o número de voos realizados, sobre os prejuízos acumulados, sobre tudo. Afinal, ele é que é o porta-voz da TAP, calando o outro Monteiro, o presidente Pinto e até o ministro Lima.

O Reino Unido é o exemplo da Democracia

Ontem celebrou-se o 70º aniversário da captura de Berlim pelas tropas soviéticas e polacas e a rendição incondicional da Alemanha, quando os exércitos aliados também já tinham penetrado no território alemão. A efeméride foi comemorada em diversas capitais e, em Londres, teve a presença dos seus líderes políticos, respectivamente David Cameron (Primeiro-ministro e líder dos Conservadores), Nick Clegg (líder dos Liberais Democratas que ainda está coligado com os Conservadores) e Ed Miliband (líder dos Trabalhistas).
Na véspera tinham-se realizado as eleições legislativas no Reino Unido e os resultados surpreenderam a opinião pública, os analistas e até as próprias sondagens. Os Conservadores obtiveram 36,9% dos votos mas elegeram 331 deputados, o que lhes dá a maioria absoluta e torna dispensável a aliança que têm mantido com os Liberais Democratas que apenas elegeram 8 deputados, enquanto os Trabalhistas obtiveram 30,4% dos votos, o que só lhes garantiu 232 deputados.
Entre as diversas consequências destas eleições está o facto do Partido Nacional Escocês ter eleito 56 deputados nas 59 circunscrições eleitorais escocesas, o que de certa forma reabre a questão da independência da Escócia, mas também o facto de David Cameron ter prometido para 2017 um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, isto, os britânicos ficaram com duas enormes “bombas” que ameaçam explodir.
Uma outra consequência destas eleições foi a demissão dos grandes derrotados do dia 7, respectivamente Ed Miliband e de Nick Clegg. Porém, no dia seguinte, numa postura democrática que no nosso país seria improvável, eles estiveram lado a lado com David Cameron, nas cerimónias da celebração do fim da guerra na Europa. A fotografia que ilustra a edição de hoje do The Times regista esse acontecimento e simboliza o elevado valor da Democracia no Reino Unido.
Era bem bom que aqui também se vivesse uma Democracia como estas.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O inacreditável discurso da queijaria

Desde há alguns dias que estou quase em estado de choque, depois daquela intervenção do nosso primeiro na inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira, ao branquear " de forma muito amiga e muito especial" um indivíduo que está ligado às mais negras páginas do nosso passado recente, com perigosíssimas ligações a interesses libaneses, marroquinos e portoriquenhos, para além de ser um dos mais destacados rostos do BPN. Trata-se de alguém que, segundo revelam os jornais, acumulou em poucos anos um património de muitos milhões, mas que o nosso primeiro apresentou como “um empresário bem sucedido e que viu muitas coisas por este mundo fora”.  Em vez de fazer o elogio do mérito, do esforço e da seriedade, o nosso primeiro fez o contrário e fez a apologia de quem andou pela política, a partir da qual criou uma rede de influências poderosas e que “venceu na vida” à custa de favores, esquemas, heranças e negociatas pouco transparentes, muitas delas associadas a buracos de muitos milhões que os contribuintes portugueses estão a pagar, como sucede com a gestão ruinosa e criminalmente suspeita do BPN. É caso para perguntar ao Passos, se se passou.
O que se passou naquela queijaria em Aguiar da Beira quando o nosso primeiro fez o elogio de um tipo de carreira sem princípios de ética nem de responsabilidade social, foi um insulto para os portugueses de bem, que se esforçam e trabalham e que não recorrem à política para se servirem. O discurso da queijaria classifica um homem e vai ficar no mais triste historial da política portuguesa.
Realmente, é verdade: estou quase em estado de choque, porque ainda não quero acreditar que o nosso primeiro quis dizer o que disse.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

As sumptuárias viagens presidenciais

A ver navios...
O nosso Presidente da República, que um dia se classificou a si próprio como o homem do leme, partiu para mais uma visita de Estado a juntar às visitas oficiais, às visitas às comunidades, às deslocações para as cimeiras e encontros em que participou e a outras visitas e viagens. Nunca um cidadão de Boliqueime viajou tanto e esse cosmopolitismo deve ser devidamente assinalado, até porque nunca houve um Aníbal tão famoso nos algarves.
Aparentemente, a website da Presidência da República tem muita informação sobre as viagens presidenciais e até parece um exemplo de transparência, mas não é assim. Na realidade, os cidadãos que são eleitores e contribuintes deveriam ter acesso a algo mais do que as reportagens de circunstância que os jornais e as televisões divulgam sem nada questionar sobre o interesse ou o resultado da visita, servindo apenas para promover o homem do leme. Era preciso saber-se, para cada viagem presidencial, qual a constituição detalhada das comitivas, assim como o seu custo total e por rubricas. Num outro plano, igualmente importante, era necessário saber os resultados concretos das viagens presidenciais, isto é, saber, por exemplo, que resultados concretos, económicos ou outros, tiveram as viagens presidenciais de 2007 à Índia e ao Chile. Isto é que é transparência. Isto é que é rigor económico.
Desta vez o destino é a Noruega e, segundo foi divulgado, a comitiva presidencial integra quatro ministros e “dezenas de empresários e investigadores”. É o costume! Não se discute aqui porque viaja tanto o Presidente da República, porque haverá assuntos de Estado que ultrapassam a ignorância dos cidadãos. No entanto, em tempo de austeridade é caso para perguntarmos porque vai uma tão grande comitiva com empresários da energia, cortiça, calçado, vinho, azeite, produtos alimentares, cerâmica, construção e não sei que mais. E o que faz naquela comitiva um advogado que é ministro da Defesa? Não é a embaixada de D. Manuel ao Papa, mas este exibicionismo de pobre armado em rico não se compreende. Alguém julga que estes empresários precisam destas viagens? Mal seria se estivessem à espera delas para tratar dos seus negócios.

domingo, 3 de maio de 2015

A indústria aeronáutica francesa no topo

Depois do Egipto e da Índia foi o Qatar que se deixou seduzir pelo Rafale e que decidiu encomendar 24 aviões ao fabricante Dassault Aviation, num contrato de 6,3 mil milhões de euros que inclui a formação de pilotos e de mecânicos, segundo informou ontem o diário Le Figaro.
Em tempo de crise da indústria e da economia francesas, o Presidente François Hollande não perdeu tempo a divulgar a notícia e, amanhã, vai pessoalmente ao Qatar assinar o respectivo contrato. Sob diversos pontos de vista é compreensível esta euforia francesa porque o Rafale está a ser não só um sucesso comercial, mas também um estímulo para a renovação da auto-estima e do orgulho nacionais. Depois de "uma década negra" sem que o aparelho conseguisse penetrar no mercado da exportação, no passado mês de Fevereiro a Dassault Aviation assinara um contrato com o Egipto para a venda de 24 aviões e em Abril recebeu da Índia uma encomenda para o fornecimento de 36 aviões.
Entretanto, como a indústria aeronáutica francesa está no topo, decorrem negociações para garantir novos contratos de fornecimento do Rafale à Malásia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Kuwait.
Estas encomendas até podem sugerir que há um cenário de guerra no horizonte, embora tenha a ver com a instabilidade que existe no Médio Oriente.  Porém, estas encomendas têm principalmente em vista, a afirmação do prestígio e da credibilidade internacional destes países através das suas Forças Armadas e do seu poder militar, porque sem estes dois factores de soberania, não há respeito, nem alianças, nem amigos no domínio das relações internacionais.

sábado, 2 de maio de 2015

Uma gigantesca máquina de propaganda

Hoje é o grande dia em que o americano Floyd Mayweather e o filipino Manny Pacquiao vão medir forças no MGM Grand Garden Arena em Las Vegas, naquele que não é chamado o combate da década, mas que já é considerado o combate do século. É, obviamente, um exagero à americana.
O USA Today diz hoje que o combate desta noite vai eclipsar tudo e, embora se trate de um exagero da máquina de propaganda montada, o facto é que a imprensa americana e inglesa destacam este acontecimento que, mais do que um evento desportivo, é um grande negócio que assegura receitas de muitos milhões de dólares em patrocínios, publicidade e direitos televisivos. Nunca a história do boxe gerou tanta expectativa e nunca tantos milhões de dólares estiveram em jogo, como acontece esta noite em Las Vegas mas, de certa forma, a América e os americanos vivem disto.
Cada um dos pugilistas pesa apenas 67 quilos e as suas estaturas são normais – 1,69 metros de altura para o filipino e 1, 73 metros para o americano – mas ambos já entraram na lenda do boxe ao lado dos mais famosos como Mohamed Ali, George Foreman ou Mike Tyson.
Muitos comentadores consideram que não vai ser um combate entre dois desportistas que procuram a vitória e em que, à boa maneira do boxe, cada um procura “acabar com o adversário”, mas que será uma luta entre dois indivíduos mais preocupados com o dinheiro que poderão ganhar com este combate. Muita gente fala em resultado arranjado porque este combate só tem sentido se criar motivação para novos combates, para novas desforras e para gerar novos negócios neste mundo em que o desporto, a publicidade e o dinheiro se misturam.  Há 150 países vão acompanhar este espectáculo pela televisão, mas o facto é que Floyd Mayweather nunca perdeu.

Educação é a chave do progresso

A economia rege-se por muitas leis naturais e desenvolve-se em ciclos económicos. Um período expansionista ou boom económico não se prolonga indefinidamente e segue-se-lhe sempre um período de recessão mais ou menos longo, que pode chegar à depressão, só depois surgindo a recuperação ou a retoma. Quando chegam os primeiros sinais da recessão, os governos adoptam políticas de austeridade para corrigir as flutuações e os excessos da actividade económica, que são dirigidas frequentemente para os sectores sociais, como a Saúde e a Educação. É assim em todo o lado, embora no caso português se esteja a ir longe de mais, esquecendo-se que “há mais vida para além do défice”.
Ontem o Correio Brasiliense apareceu nas bancas com o título “Triste Pátria que despreza a Educação”, relatando que manifestantes pediram a demissão do director da Escola de Música de Brasília que tem 2400 alunos porque, segundo eles, não representa os interesses de alunos e professores. Também em São Paulo e, sobretudo em Curitiba, houve manifestações contra a degradação da actividade educativa consequente das políticas de austeridade, com mais de duas centenas de feridos devido à acção da polícia.
A Educação é a base do desenvolvimento e do futuro e tem que ser incentivada, com professores que gostem de ensinar e estudantes que gostem de aprender. A Educação transforma a vida das pessoas e da sociedade, proporciona pensamento e análise da realidade, gera inovação e estimula a mudança. A Educação é o factor que contribui para fechar o ciclo do sub-desenvolvimento e da pobreza e para libertar os povos. No Brasil. Em Portugal. Em todo o lado.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Evocando o fim da guerra do Vietnam

Há 40 anos, exactamente no dia 30 de Abril de 1975, as tropas norte-vietnamitas e os soldados do Vietcong entraram em Saigão e esse facto assinalou o fim da violenta guerra do Vietnam. O assalto final à capital do Vietnam do Sul foi muito rápido e, depois de um bombardeamento por artilharia pesada, as tropas invasoras ocuparam os pontos importantes da cidade, sem resistência. Os Estados Unidos e a República do Vietnam do Sul perderam a guerra. Nas angustiosas horas finais daqueles, os americanos desencadearam uma operação de resgate que durou cerca de 24 horas e que foi realizada entre as manhãs dos dias 29 e 30 de Abril. Foi a maior operação de retirada de pessoas por helicópteros que alguma vez foi realizada, na qual foram utilizados helicópteros militares americanos e sul-vietnamitas, assim como aparelhos civis da Air America, que resgataram 1373 cidadãos americanos e 5595 vietnamitas e cidadãos de outras nacionalidades, que foram transportados para os porta-aviões e outros navios americanos que pairavam ao largo. A quantidade de helicópteros sul-vietnamitas que chegou aos navios foi tão elevada que muitos tiveram que ser atirados ao mar para dar lugar a outros aparelhos que chegavam, enquanto outros “aterraram” na água.... Para a história ficaram filmes e fotografias, a mais simbólica das quais mostra um helicóptero parado na embaixada americana a receber o pessoal militar e civil que se encontrava nessas instalações e que foi evacuada. Essa fotografia tem sido considerada uma humilhação para os Estados Unidos e foi hoje publicada na primeira página do diário alemão Frankfurter Allgemeine, enquanto a generalidade da imprensa americana evoca hoje os 40 anos da queda de Saigão com títulos como The fall of Saigon ou The escape from Saigon, mas escolhendo fotografias menos humilhantes para ilustrar as suas edições…

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Macau protege o seu património imóvel

A administração do território de Macau foi transferida em 1999 para as autoridades chinesas, ficando constituida a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China (RAEM). Houve nessa altura muitas declarações elogiando o esforço feito pelas autoridades portuguesas para modernizar o território, mas também pela política de preservação da sua herança cultural e, em especial, do seu património edificado. As novas autoridades macaenses deram continuidade à política cultural dos portugueses e em 2005 viram o centro histórico de Macau ser classificado pela UNESCO e incluída na World Heritage List.
O diário Hoje Macau, um dos quatro jornais que em Macau se publicam em português, ilustra a capa da sua edição de hoje com uma fotografia do farol da Guia e informa que o nome e as plantas de delimitação geográfica de vários imóveis que fazem parte do património do território estão a ser alterados por iniciativa do Instituto Cultural de Macau. Pretendem-se adoptar nomes mais de acordo com a história e que também sejam mais esclarecedores para os milhões de turistas que visitam Macau. As famosas ruinas de São Paulo passarão a incluir a palavra igreja na sua nova designação e a fortaleza da Guia passará também a incluir a palavra ermida no seu nome. O diário macaense informa, ainda, que entre o património que já está ou se prevê esteja em restauro a curto prazo, se encontram as Oficinas Navais, um edifício a que tantos portugueses estão profissional e emocionalmente ligados.
Não há dúvida que se trata de sinais que mostram o interesse chinês na preservação da história e do patrimonio cultural da cidade a que, desde 1586, os portugueses chamaram a Cidade do Nome de Deus do Porto de Macau na China.

domingo, 26 de abril de 2015

Marketing político de muito mau gosto

Foi ontem anunciada a renovação da coligação eleitoral que desde 2011 tem governado Portugal, mas não se pretende analisar aqui essa decisão, porque ela deriva da liberdade de haver partidos políticos e da liberdade que eles têm para se aliarem, ou seja, essa decisão acontece porque o 25 de Abril trouxe a liberdade ao nosso país. Cada qual alia-se com quem quer. Ninguém tem nada com isso. É a liberdade e a democracia a funcionarem. Pronto.
Porém, ontem às 20 horas, quando se esperava que os telejornais abrissem com imagens das celebrações populares da data libertadora de 25 de Abril ou até das cerimónias realizadas no Parlamento, houve dois figurões que abusivamente apareceram nos nossos monitores televisivos a subscrever a renovação de um acordo que estava negociado há vários dias. Não foi um acontecimento político. Foi um caso de travesti abrilista ou de marketing político de mau gosto. Os seus subscritores P1 e P2 abusaram de nós ao tomar aquele espaço e aquele tempo. Naquele dia e naquela hora, a cena foi muito caricata, atrevida e até injuriosa para o 25 de Abril, que eles tanto têm combatido através da redução dos direitos dos portugueses. O subscritor P1 não prescindiu de, ao lado da bandeirinha nacional na lapela do casaco, exibir um cravo vermelho que simboliza o 25 de Abril, enquanto o subscritor P2 preferiu insinuar-se como um experiente e sabedor estadista que, lamentavelmente, não resistiu a fazer propaganda eleitoral àquela hora e naquele dia. E tudo isto porque eles sabem que a maioria dos portugueses está com a mensagem libertadora, a atitude solidária e com a renovada esperança que é sempre o 25 de Abril e, por isso, a escolha daquele dia, daquela hora e daquele cravo são abusivos e meramente instrumentais na sua tentativa de quebrar o muro de isolamento que eles próprios criaram com o povo. O 25 de Abril é o símbolo da liberdade, da democracia, do progresso e da abertura ao mundo. O 25 de Abril é do povo português e não pode ser desrespeitado por quem tem responsabilidades políticas e as quer continuar a ter.

sábado, 25 de abril de 2015

O casamento indiano já não é o que era

Há uma tradição milenar na Índia, mas também nas suas diásporas, que faz com que 95% dos casamentos realizados resultem de combinações e acordos entre os pais dos noivos, o que significa um pacto ou uma aliança entre as respectivas famílias. Os casamentos combinados por hindus e por católicos resultam da actividade de redes casamenteiras informais ou familiares, mas também de páginas inteiras de anúncios de jornal, sendo avaliadas em ambas as situações, a compatibilidade de casta, a religião, a posição na escala social e a situação económica. É de acordo com estes princípios que, todos os anos, há oito milhões de noivas, na sua maioria adolescentes, que se casam com homens escolhidos pelos seus pais, havendo muitos casos em que estas se encontram com eles pela primeira vez no dia do casamento. Estas, são as regras ancestrais que ainda balizam o casamento na Índia, onde o namoro de tipo ocidental, com ou sem autorização dos pais, não é usado. Fora deste contexto há uma minoria de "casamentos de amor" que, quando são contrariados dão origem a muitas situações trágicas. 
Porém, nos últimos anos as centenárias tradições dos casamentos arranjados estão a ser desafiadas pelos fenómenos da crescente urbanização e escolarização indianas, mas também pela influência cultural do ocidente e pelas novas novas tecnologias, não só o telefone móvel e o smartphone, mas também cerca de 1500 websites especializadas que tornam mais fácil o encontro entre candidatos e candidatas ao casamento. Uma delas – BharatMatrimony.com – afirma que ajuda 50 mil pessoas por mês a casar-se e que, nos últimos anos, os perfis que divulga são cada vez mais apresentados pelos próprios e menos pelos pais. The New York Times trata hoje deste tema na sua primeira página, contando a ousada história de Miss Garima Pant que, sem quebrar a tradição familiar, recusou alguns candidatos e, quando um deles a interessou, tratou de saber o seu número de telefone e foi falar com ele longe dos ouvidos da sua família. Aceitou-o. Foi um casamento semi-arranjado. Diz-se, portanto, que as novas tecnologias estão a "mexer" com as tradições milenárias da Índia onde, curiosamente, os casamentos são mais estáveis que os casamentos no Ocidente.

Viva o 25 de Abril de todos os anos

Cartaz das comemorações do 25 de Abril em Pombal
Hoje comemora-se o 25 de Abril! Esta data celebra um facto importante da nossa História de quase nove séculos, porque assinala o fim de um regime opressivo, autoritário e retrógrado, que mandava os jovens para a guerra, os pobres para a emigração e os adversários para a cadeia. Esta data também festeja a liberdade, o regime democrático, a independência dos povos irmãos e a nossa entrada numa Europa que, então, era um espaço de fartura e de solidariedade. Um pouco por todo o país o 25 de Abril é celebrado das mais variadas formas, dando origem a expressivos cartazes e a muitas iniciativas com grande participação popular. As autarquias e as organizações associativas destacam-se no patrocínio dessas celebrações, mas basta ler os jornais de hoje para se ver a indiferença com essa data é por eles ignorada. Apenas uma ou outra tímida referência, sem que haja qualquer preocupação de passar para a opinião pública, sobretudo a mais jovem, qualquer mensagem que contribua para a avivar a nossa memória sobre esse dia da liberdade. De resto, os jornais seguem a linha do próprio governo, pois nada dizem, nem nada fazem, sobre esta tão importante data. Não admira, portanto, que o discurso governamental seja centrado na propaganda, no auto-elogio, na manipulação dos números e até no presunto de Barrancos, sem ter uma palavra ou uma linha de acção que incentive quaisquer sentimentos de orgulho e de reforço da identidade nacional. É caso para dizer que o Miguel Relvas faz falta, porque ao menos tentava cantar o Grândola Vila Morena...
No meio das preocupações e das trapalhadas por que passamos, com o navio desgovernado e sem que se veja um rumo para nos levar a bom porto, ao menos que possamos continuar a festejar o 25 de Abril. Sempre.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O futebol, a fadista e uma fotomontagem

A equipa de futebol do F.C. Porto foi ontem copiosamente derrotada em Munique pela equipa do Bayern, ficando eliminada da Liga dos Campeões. Hoje os jornais desportivos portugueses destacavam em primeira página o “Terror em Munique”, o “Desastre” e o “Dantesco”. Achei estes títulos absolutamente desproporcionados, sobretudo depois da tragédia aérea que aconteceu nos Alpes franceses com o avião da Germanwings e do drama quotidiano dos emigrantes que morrem no Mediterrâneo quando fogem do terror e buscam o sonho europeu. É uma pena que os jornais desportivos portugueses e os seus gatekeepers não tenham noção das palavras que utilizam. O que aconteceu ao F.C. Porto em Munique foi uma derrota num jogo de futebol em que participaram jogadores de 10 nacionalidades. Ninguém morreu por causa dessa derrota.
Quis tirar dúvidas e procurei saber se a imprensa alemã também tinha utilizado palavreado desproporcionado para celebrar a vitória do Bayern. Apesar de não ter conhecimentos da língua alemã pedi ajuda ao meu amigo Google, que faz umas traduções algo imperfeitas mas que facilitam a compreensão do conteúdo das notícias. O diário berlinense Die Tageszeitung, abreviadamente conhecido por Taz, não inclui qualquer chamada de primeira página ao futebol e, no seu interior, dá igual destaque à vitória do Bayern e aos espectáculos que a fadista Carminho vai apresentar a partir do dia 9 de Maio em Munique e em mais quatro cidades alemãs.  Curioso, de facto. 
Finalmente, nesta edição destaca-se a elucidativa fotomontagem publicada na primeira página daquele jornal que alude à tragédia do Mediterrâneo, a lembrar-nos que entre os seus responsáveis há gente engravatada ou que uma imagem vale mais do que mil palavras.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A Europa a chorar lágrimas de crocodilo

As imagens da tragédia que está a acontecer no Mediterrâneo envergonham a Europa, com as suas águas a transformarem-se num gigantesco cemitério para os desafortunados do século XXI, sobretudo no chamado canal da Sicília, no estreito de Gibraltar e no mar Egeu. Milhares de emigrantes têm morrido afogados porque fogem do caos da Síria ou da Líbia ou, simplesmente, porque fogem da pobreza e ambicionam uma vida melhor. Calcula-se que nas costas da Líbia haverá cerca de um milhão de pessoas que espera a sua oportunidade para se lançar na aventura, organizada por mafias que, a troco de 8 mil euros, lhes prometem o sonho europeu.
Esta tragédia humanitária não acontece por acaso. É, sobretudo, uma consequência das políticas que têm sido seguidas por alguns dirigentes europeus e americanos, que têm apostado na intervenção militar e no derrube dos ditadores desta zona do mundo (e do petróleo), casos de Saddam Hussein, Bashar-el-Assad e Muammar Kadaffi, sem que haja alternativas democráticas, daí resultando a completa instabilidade, a anarquia e a destruição destes países.
Todos nos lembramos do que aconteceu na Líbia em 2011. Em poucos meses, com o aval da ONU, os falcões da NATO lançaram os seus Tomahawks sobre o regime líbio, efectuaram 21.200 voos de reconhecimento e 7.958 voos de ataque sobre a Líbia, tendo-se tornado a “componente aérea” da oposição a Kadhafi. A operação apenas teve o apoio de metade dos 28 membros da NATO e a participação de oito - França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Itália e Canadá. A Alemanha, tal como o Brasil, a Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, não apoiaram esta agressão, porque perceberam que era pior a emenda que o soneto. E tinham razão.
A tragédia que hoje se desenrola no Mediterrâneo só pode estar a fazer chorar lágrimas de crocodilo aos dirigentes que apoiaram o derrube de Kadaffi e abriram as portas ao caos na Líbia, muitos dos quais ainda estão no poder ou próximo dele, sem que ninguém nos lembre do mal que nos fizeram.