sexta-feira, 5 de junho de 2015

EUA a perder terreno no Médio Oriente

A mais recente edição do The Economist aborda o complexo problema das enredadas relações entre os Estados Unidos e o mundo árabe e sustenta que, em poucos anos, a ordem que estabeleceram e controlaram desde o fim da 2ª guerra mundial colapsou. Os erros estratégicos americanos estão um pouco por todo o lado, com violentas guerras civis que estão a devorar a Síria, o Iraque e a Líbia, enquanto no califado estabelecido pelo EIIL, os jihadistas vestidos de negro são promovidos pelas televisões e a aviação saudita bombardeia os rebeldes no Iémen. Segundo os analistas, ainda vão decorrer muitos anos até que a paz regresse ao Médio Oriente.
Os americanos têm perdido influência na região e neste grande imbróglio é necessário perceber-se o que é que têm feito de errado e de tão desastroso, embora em Washington, não haja acordo entre republicanos e democratas quanto ao que de mal tem sido feito desde a invasão do Iraque em 2003. O apoio às “primaveras árabes” e a luta contra os ditadores regionais produziu efeitos perversos e agudizou o nacionalismo árabe que, muitas vezes, levou os jovens sem perspectivas a refugiarem-se na religião e até no fanatismo. Além disso, o petróleo, a ambição geopolítica da China, o ressurgimento do orgulho e do poder da Rússia e a vontade do Irão em afirmar-se como uma potência regional ou mesmo nuclear, tornaram a situação ainda mais complexa e preocupante. Os recentes sucessos militares do EIIL em Ramadi (Iraque) e em  Palmyra (Síria) foram motivadores para os seus militantes e atrairam dinheiro e combatentes. Mais tarde ou mais cedo, a insegurança e o terrorismo que hoje estão na Síria e na Líbia, hão-de chegar à Europa.
É verdade que o poder americano já não é o que era. As guerras do Vietnam e do Iraque foram muito caras e os recursos não são ilimitados, mesmo nos Estados Unidos. Muitos árabes acham que o poder americano já não governa o mundo, enquanto muitos americanos acham que não lhes compete impor ordem no caos reinante no Médio Oriente, mas estas são duas posições-limite. Muito do que se passa no Médio Oriente resulta de erros dos americanos e dos seus aliados ocidentais e, até por isso, há que emendá-los e procurar soluções equilibradas. Os Estados Unidos têm interesses estratégicos na região e, além destes problemas recentes que lhe exigem uma intervenção pacificadora, não podem deixar de continuar a sua luta pela paz entre Israel e a Palestina. Porém, mais importante do que os meios militares, serão as armas do bom senso, da inteligência e da diplomacia.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

As fábricas do jihadismo estão em França

Os serviços secretos americanos têm revelado que haverá 20 mil estrangeiros oriundos de 90 países que se encontram na Síria como combatentes do Estado Islâmico, o nome por que é conhecido o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), também reconhecido pelas siglas ISIS (em inglês) e DAESH (em árabe).
A adesão de combatentes ao EIIL tem aumentado desde que em 29 de Junho de 2014 foi anunciado o restabelecimento de um califado nos territórios sob o seu controlo no norte do Iraque e no leste da Síria, enquanto Abou Bakr al-Baghdadi foi proclamado califa e sucessor de Maomé. Alguns anunciados sucessos militares do EIIL e alguma ineficácia na coligação criada para o combater, têm contribuido para atrair militantes e para promover o aparecimento de importantes focos de jihadismo na Nigéria, na Líbia, no Egipto e no Iémen, o que se está a tornar numa ameaça para a paz e a segurança, um pouco por todo o mundo.
Estima-se que haverá 3400 combatentes estrangeiros provenientes de países ocidentais a combater pelo EIIL e a França parece ser o seu principal centro de recrutamento. A edição do diário La Provence que se publica em Marselha, dedica a sua edição de ontem ao jihadismo e anuncia em primeira página que a França é a fábrica do jihadismo, havendo quem classifique a crescente adesão ao EIIL como o tsunami jihadista.
O assunto preocupa a França mas também a Europa, mas é uma reacção natural às políticas que têm sido adoptadas, com predomínio do financeiro sobre o social, aparecendo como reacção ao desemprego, à pobreza, à injustiça, à não integração social e à falta de políticas sociais de enquadramento da juventude. Os erros que têm sido cometidos pelos responsáveis políticos ocidentais, neste como noutros assuntos, evidencia o fim do euro-centrismo e da euro-prosperidade, que têm sido acelerados pela generalizada incompetência dos governantes e pela passividade dos governados.

domingo, 31 de maio de 2015

Os impasses da democracia espanhola

As recentes eleições autárquicas e regionais espanholas deram uma escassa vitória ao partido Partido Popular (PP) por apenas 27% dos votos. O PP perdeu a larga maioria que detinha e perdeu o poder em algumas regiões importantes, enquanto o PSOE conseguiu sobreviver ao aparecimento do Podemos e do Ciudadanos. O mapa político espanhol alterou-se como consequência da reacção do eleitorado à crise económica e ao desemprego, mas gerou um certo impasse político em muitas situações onde o radicalismo pré-eleitoral dificulta agora a obtenção de acordos pós-eleitorais.
O caso da Comunidade Autónoma da Extremadura é ilustrativo dessa situação. Com uma área de cerca de 41 mil quilómetros quadrados (quase metade de Portugal) e um pouco mais de um milhão de habitantes, tem a sua capital em Mérida e inclui 387 municípios nas províncias de Badajoz (165) e Cáceres (222). Nas eleições autárquicas de 24 de Maio registou-se uma participação de 73% de eleitores, tendo havido uma bipolarização em torno do PSOE (42,08%) e do PP (36,75%). Dos 3350 mandatos que estavam em disputa, o PSOE obteve 1642 e o PP conseguiu 1295, enquanto os outros partidos e coligações obtiveram 413 mandatos.
Porém, uma semana depois das eleições, o jornal Hoy de Badajoz, revela que há 70 municípios ou alcaldias, que correspondem a 18% do total da comunidade estremenha, que estão pendentes de acordos entre os diversos partidos políticos para terem governo municipal. São 70 impasses da democracia espanhola. As combinações não são fáceis. O PP defende que deve governar o partido mais votado, enquanto o PSOE está disposto a coligar-se à esquerda. Veremos… e, sobretudo, aprendamos.

A insólita reeleição de Joseph Blatter

Apesar da tempestade que atingiu a FIFA, na passada sexta-feira Joseph Blatter foi reeleito para fazer o seu quinto mandato como presidente da organização que governa o futebol mundial, depois de ter ocupado o cargo durante 17 anos, de não ter evitado a enorme corrupção que agora foi denunciada e de já ter 79 anos de idade. A imprensa internacional continuou a ocupar-se desta estranha e surpreendente eleição e, no dia seguinte, a capa do Der Spiegel é apenas um exemplo da atenção que o tema mereceu. Mesmo no meio da tempestade que criou ou que não foi capaz de dominar, Joseph Blatter venceu com facilidade. As 209 federações nacionais inscritas na FIFA ainda tiveram que realizar uma segunda volta do escrutínio pois Blatter não conseguiu os dois terços de votos necessários para assegurar a vitória na primeira ronda. O apoio da generalidade das federações europeias, dos Estados Unidos, do Canadá e da Nova Zelândia ao príncipe jordano Ali bin Hussein não foram suficientes para derrotar Blatter.
O mundo admirou-se pelo facto de 133 federações nacionais terem apoiado Blatter, depois do que se passou nos últimos dias. Porém, o presidente da FIFA soubera conquistar esses apoios ao longo dos anos com a oferta de frequentes viagens a Zurique para reuniões e worshops, com alojamento nos mais luxuosos hotéis da cidade, com o pagamento de prémios por presença nessas reuniões, além de outras quase irresistíveis mordomias.    
Em comunicado enviado à imprensa a Federação Portuguesa de Futebol condenou a recondução de Blatter na presidência da FIFA que, segundo ela, deveria ter sido adiada e é uma prova de que Luís Figo tinha razão quando desistiu da sua candidatura por não querer caucionar este processo. Às vezes, no meio das tempestades, sabemos tomar as atitudes correctas.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O vendaval na FIFA e outros escândalos

É uma grande notícia, daquelas de que a comunicação social tanto gosta, mas que muita cumplicidade calou durante muitos anos, sabe-se lá porquê. Por todo o mundo não se fala noutra coisa e até foram esquecidos os grandes problemas com que se debate a Humanidade. Os jornais internacionais e as cadeias de televisão a que temos acesso não param de nos informar, de nos explicar e de nos descrever o que se está a passar na Fédération Internationale de Football Association, a organização que governa o futebol mundial e que é conhecida pela sigla FIFA. Ontem, no seu telejornal das 20 horas, a RTP dedicou-lhe os primeiros 16 minutos! Há uma guerra aberta de contornos políticos e económicos à volta deste vendaval e, entre outros, até Putin e Cameron já tomaram posição, enquanto os grandes patrocinadores como a Coca Cola, a Visa e a Adidas ameaçam desligar-se do futebol. 
Hoje o Le Monde fala do escândalo e da risco de implosão da FIFA. Aconteceu que, a pedido das autoridades americanas e na sequência de uma investigação que decorria há 12 anos, a polícia de Zurique deteve sete dirigentes da FIFA acusados de participar numa rede de corrupção instalada no mundo do futebol e dela beneficiar directamente, através de subornos, chantagens, fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Esta rede terá actuado ao longo de mais de duas dezenas de anos e o valor calculado da fraude poderá atingir 150 milhões de dólares.
O Presidente da FIFA está, até agora, ilibado neste processo. É um cidadão suíço de 79 anos de idade chamado Joseph Blatter, que governa a organização desde 1998 e que hoje mesmo se apresenta para ser eleito para um 5º mandato. O homem não sabia de nada, mas já disse que não podia controlar tudo e que está certo de que se seguirão outras más notícias. É bem curiosa esta nova moda em que aqueles que mandam não assumem as suas responsabilidades pelo que se passa nas organizações ou serviços que tutelam, seja aqui seja lá fora, seja na nossa Autoridade Tributária, seja na FIFA. Antigamente, as pessoas eram mais verticais, tinham vergonha e demitiam-se. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

As festas do Divino Espírito Santo

São Roque do Pico, Julho, 2013
Pico, 2015 - As festas em honra do Divino Espírito Santo na ilha do Pico são um caso de religiosidade, mas também um exemplo do culto da tradição e da preservação da cultura popular açoriana, celebrando-se entre o Domingo de Pentecostes e o Domingo da Trindade. No corrente ano as festividades decorrem em 34 localidades, entre os dias 24 e 31 de Maio, estando assinaladas 53 festas, cada uma delas organizada pelos seus mordomos ou pelas suas Irmandades. Cada localidade tem rituais próprios mas, no essencial, constam de um cortejo encabeçado por crianças que se desloca desde a casa do mordomo ou da Irmandade até à igreja, ao longo de um percurso embandeirado e florido, em que são tranportados a coroa do Espírito Santo, o estandarte da Irmandade e as oferendas, acompanhados pela filarmónica e pelos foliões para dar solenidade ao cortejo. A influência da diáspora é cada vez mais acentuada e, em muitos casos, há uma crescente americanização da festa.
Segue-se a missa em que são entronizados os mordomos. Após a missa fazem-se leilões de oferendas no adro da igreja, enquanto se prepara o início do solene e compassado cortejo em direcção ao salão onde será servido o tradicional almoço de sopas do Espírito Santo – carne de vaca cozida, couve cozida e pão embebido em caldo de carne. O número de participantes em cada almoço ultrapassa as largas centenas, pelo que a preparação e distribuição do almoço também envolve muitas dezenas de voluntários da própria comunidade. Segundo revelou a última edição do Jornal do Pico, estão convidadas cerca de 25 mil pessoas para as 53 festas e respectivos almoços a realizar em 34 localidades da ilha do Pico. Uma vez que há localidades onde se realiza mais do que uma festa, o número de convidados quase duplica a população total da ilha. Festas assim são cada vez mais raras.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Lisboa capital mundial da vela oceânica

Volvo Ocean Race, Lisboa, 2012
Nas próximas horas chegam a Lisboa e atracarão na doca de Pedrouços os seis iates que ainda estão a disputar a Volvo Ocean Race, que é a maior competição de vela oceânica e que também é considerada um dos cinco maiores acontecimentos desportivos do mundo.
Esta sétima etapa que liga Newport a Lisboa tem uma extensão de 2.800 milhas, assinala o regresso à Europa e conclui as etapas-maratona que, até agora, fizeram com que os participantes já tivessem navegado mais de 36 mil milhas. Durante cerca de duas semanas, o porto de Lisboa e os portugueses vão ter a possibilidade de conviver com um evento de grande prestígio internacional que vai levar o nosso país às televisões de todo o mundo e que é um contributo para a nossa afirmação como um país marítimo e Lisboa como uma capital do mar, coisa que muitos dos nossos dirigentes políticos continuam sem perceber.
A Câmara Municipal de Lisboa está de parabéns por ter assegurado que esta competição escalasse Lisboa não só nesta edição, mas também na que se realizará em 2017-2018. Houve quem discordasse do “enorme custo” deste apoio, calculado em 4 milhões de euros repartidos por diversas entidades, mas o facto é que se trata de uma decisão muito feliz. Em 2012 este evento e a animação que lhe está associada – concertos, exposições, feiras, passatempos e actividades diversas – foram visitados por 220 mil pessoas e terá gerado um volume de negócios da ordem dos 30 milhões de euros. Este ano espera-se muito mais. Portanto, que ninguém perca esta oportunidade de ver estes fórmula 1 dos mares, não só na doca de Pedrouços mas também nas provas pro-am que servem de treino à frota em competição e podem ser vistas a partir do “anfiteatro natural que são as margens do Tejo”.

domingo, 24 de maio de 2015

Uma espécie de jornalismo desportivo

A equipa do Sport Lisboa e Benfica venceu o Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão, agora chamado Liga NOS e, como muitas vezes se afirma, houve “6 milhões de portugueses” que ficaram satisfeitos e felizes. Foi a vitória de uma equipa com demasiados jogadores estrangeiros sobre outras equipas, também com demasiados jogadores estrangeiros e essa desnacionalização do nosso futebol é tão significativa como a desnacionalização do nosso tecido empresarial, como sucedeu com a Cimpor, a PT, a REN, a EDP, a ANA, os Correios e, agora, a TAP. Os novos tempos são assim e não adianta que nos queixemos. O que realmente interessa é que haja tantos portugueses satisfeitos e  felizes, mesmo que seja por uma vitória num campeonato de futebol, esquecendo por uns dias o sombrio panorama que nos cerca e que nos revela enormes incertezas quanto ao futuro.
A festa começou no passado fim de semana em Guimarães e estendeu-se à capital com grandes festejos na Praça Marquês de Pombal, que ontem chegaram até ao Estádio da Luz. Houve alguns problemas, mais ou menos esperados. O futebol sempre foi um escape emocional para o povo e, por isso, é natural que depois de muitas semanas de ansiedade, de muitos jogos e de off-sides, de golos e de penaltis, de lesões e de cartões, de boas e más arbitragens, de entrevistas e de comentários, aconteça esta enorme onda de alegria que envolveu os tais “6 milhões de portugueses”. Porém, para aqueles que realmente gostam de futebol e das imagens que aquele espectáculo proporciona, a forma como a comunicação social – imprensa, rádio e televisão – tratou este assunto foi absolutamente desproporcionada e abusiva. O Sport Lisboa e Benfica e a sua justa vitória desportiva não mereciam ser instrumentalizados como foram por uma espécie de jornalistas do futebolez e pela sua manifesta mediocridade e subserviência.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

É lamentável que façam tanta propaganda

Daqui a cerca de quatro meses irão realizar-se eleições legislativas e a longa caminhada eleitoral já começou. Isso é visível nos debates parlamentares e nos debates televisivos, com cada um dos partidos a querer afirmar as suas posições e a pretender desvalorizar as intenções dos seus adversários. Goste-se ou não deste jogo, o facto é que tem sido assim. Porém, este modelo de luta eleitoral apresenta duas “inovações” curiosas.
A primeira é o facto do Partido Socialista (PS) ter encomendado a um grupo de reputados economistas a elaboração de um cenário macroeconómico para analisar e discutir o futuro e para servir de base a um programa eleitoral a apresentar ao eleitorado que, entretanto, foi aprovado nas suas linhas gerais.
A segunda “inovação” refere-se à atitude do governo e dos ministros, que existindo para nos governar e para garantir a paz social, o progresso económico e o bem-estar dos portugueses, parece terem deixado de nos governar e passado a fazer uma descarada e condenável propaganda, que deveria ficar reservada para os seus deputados, militantes e simpatizantes. Porque  não vale tudo. Não pode valer tudo! E o que lemos ou ouvimos?
Passos Coelho em entrevista aos seus amigos do jornal "Observador", diz que a Taxa Social Única (TSU) proposta pelo PS põe em causa o pagamento das pensões e afirma que o programa socialista é incompatível com a União Europeia. Em visita oficial à Trofa, ouvimos Paulo Portas dizer que o programa do PS contém propostas “perigosas” em matéria de Segurança Social e salientar que esse documento tem “sofrido algum zigzague”. Navegando nas mesmas águas, o privatizador Pires de Lima veio dizer que as propostas do PS em matéria de TSU eram contraditórias com toda a oposição que o PS tem feito e são muito “perigosas” do ponto de vista financeiro para a sustentabilidade da Segurança Social". Na Figueira da Foz falou Poiares Maduro para dizer que o programa eleitoral do PS aposta num crescimento que nunca será sustentável, porque é baseado no consumo interno. Também Nuno Crato afirmou em Lisboa que não acredita que o PS seja “o próximo governo” e considerou um "erro gravíssimo" suspender a prova de avaliação de professores, como consta da proposta de programa eleitoral socialista. Aguiar-Branco, em plena Base Naval de Lisboa e no seu já habitual registo de insensatez, acusou o PS de querer um modelo de governação “muito à engenheiro Sócrates” e disse que “é mais uma sondagem de ideias”, tal como já foi feito com o cenário macroeconómico. Apesar da sua pequenez académica, Maria Albuquerque criticou o cenário macroeconómico do PS e disse que “com a mesma receita e os mesmos protagonistas” de 2009, não é possível esperar um resultado diferente. Enquanto admite a possibilidade de avançar para a liderança do seu partido, Assunção Cristas também critica o PS e acusa-o por nunca ter feito o balanço da era Sócrates, mostrando-se perplexa por aquele partido se apresentar aos portugueses.
São assim. Falam, falam, falam. Em vez de governar, actuam na esfera político-partidária. Todos a falar, esquecendo a dignidade mínima das suas obrigações ministeriais, usando a função de Estado e o tempo de antena para atacarem o adversário. Devem estar assustados.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Políticos pobres… com esposas ricas

A transparência política é cada vez mais uma exigência das sociedades democráticas e obriga os governos, os governantes e os políticos em geral a prestar contas pelos actos que praticam, especialmente o cumprimento da lei, o uso de dinheiros públicos e a prevenção de fenómenos de corrupção sob as suas diversas formas. Os cidadãos exigem conhecer com detalhe os fundamentos das decisões governamentais, das administrações públicas e das autarquias e querem conhecer as motivações para a escolha de uma determinada decisão face a outras alternativas, bem como a “origem” dos fundos e a forma da sua “aplicação”. No entanto, nos tempos de sensacionalismo informativo que a sociedade atravessa, é preciso que haja um equilíbrio entre o que deve ser informado e o que não deve ser informado publicamente mas, no caso dos agentes políticos, também entre o dever de informar o público sobre as actividades dos políticos, que não pode ultrapassar o seu direito à privacidade e bom nome.
Estas considerações são válidas para Portugal, mas também para outros países, como por exemplo para o México, países onde os detentores de cargos públicos fazem declarações de interesses e de rendimentos. O diário Excelsior revela hoje que, de acordo com as declarações patrimoniais de 230 políticos mexicanos oficialmente divulgadas na internet, a maioria dos políticos mexicanos são pobres mas que, em contrapartida, as suas cônjuges são donas de avultadas fortunas familiares, com muitas propriedades rústicas e urbanas, aviões e casas nos Estados Unidos, mas que embora não tenham trabalho nem rendimento, se dedicam frequentemente a actividades altruistas. Temos que reconhecer que os políticos mexicanos têm sorte com os casamentos... 
Era curioso saber se, nestes assuntos, somos ou não somos parecidos com o México, se somos ou não somos transparentes ou, então, saber porque andam tão distraídos os jornalistas e os operadores da justiça.

domingo, 17 de maio de 2015

A insegurança nos submarinos nucleares

Embora de maneira diversa em função da sua orientação editorial, a imprensa britânica de hoje destaca um relatório de 18 páginas intitulado “The Secret Nuclear Threat”, que foi “postado” na internet por William McNeilly.
McNeilly é um Engineering Technician Submariner for the UK’s Trident II D5 Strategic Weapons System, que foi tripulante do HMS Victorious, um dos quatro submarinos nucleares britânicos da classe Vanguard.
Segundo se lê nesse relatório há um extenso rol de graves infracções às regras de segurança a bordo dos submarinos nucleares britânicos e nele se afirma que eles são insecure, unsafe e que a disaster waiting to happen, que foi o título escolhido pela edição do The Herald de Edimburgh para o divulgar. As muitas falhas de segurança denunciadas por McNeilly vão desde os sistemas de mísseis balísticos até à possibilidade de infiltração de terroristas ou psicopatas entre a sua centena e meia de tripulantes. As ameaças são sérias, avisa o relatório.
Os submarinos nucleares têm a sua base em Faslane, no Clyde, pelo que o Partido Nacional Escocês já veio apoiar o relatório McNeilly e exigir a verificação das condições de segurança nuclear dos submarinos. Por sua vez, um porta-voz da Royal Navy afirmou que a Marinha rejeita em absoluto as acusações de William McNeilly, alegando que o relatório apenas contém opiniões pessoais e muito subjectivas de alguém que é muito jovem e pouco experiente, mas anunciou que vai investigar. Além disso, assegurou que os submarinos só saem para o mar quando estão garantidas todas as normas de segurança. De qualquer forma, a pergunta formulada por McNeilly - Do you have any idea how close you are to a nuclear disaster every single minute? - alertou a imprensa britânica e obriga-nos a ter cada vez mais atenção às questões da segurança. Porém, fica a pergunta: como é possível que gente com tanta responsabilidade como McNeilly possa divulgar na internet estas matérias? Ou será McNeilly um dos psicopatas de que ele próprio falara?

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Património da Humanidade sob ameaça

Alguns jornais europeus, como aconteceu por exemplo com o The Times, dedicaram hoje algum espaço à ofensiva jihadista em curso no território sírio, cujas forças estarão apenas a um quilómetro do centro do sítio arqueológico de Palmyra, cujas ruínas foram inscritas em 1980 na lista de Património da Humanidade da UNESCO, em reconhecimento da sua história e do seu património, em que se destaca o seu grandioso e belo teatro romano, as suas colunas romanas, os seus templos e as suas torres funerárias.
Palmyra foi há dois mil anos uma importante cidade-oásis no deserto sírio e uma paragem obrigatória na chamada rota da seda, onde se misturaram influências gregas, romanas, persas e islâmicas. Hoje, a cidade tem um grande valor estratégico pois nos seus arredores há aquartelamentos militares, depósitos de armas e um aeroporto militar, mas é também um elemento essencial para dominar os campos de exploração de gás natural e de petróleo que se situam naquela região. A hipótese dos combatentes do Estado Islâmico atingirem o centro histórico de Palmyra está a assustar a UNESCO  e o mundo civilizado. Depois do que sucedeu nas cidades iraquianas de Hatra, Nimrud e Mossul, mas também em algumas localidades sírias, como por exemplo em Damasco e Aleppo, com os bulldozers e os irracionais golpes de marreta a destruir o milenar património artístico da antiga Mesopotâmia, há enormes preocupações sobre o que possa acontecer em Palmyra. Por outro lado, os jihadistas do Estado Islâmico também têm conduzido pilhagens nos sítios arqueológicos para venderem clandestinamente os objectos mais pequenos e assim financiarem as suas actividades e a guerra contra o regime de Bashar al-Assad. Estão referenciados combates muito intensos entre as forças governamentais sírias e as forças jihadistas e os próximos dias ou horas são decisivos para salvar ou perder Palmyra e o seu milenar património.

O desporto náutico em festa na Bretanha

Esta semana está a decorrer no golfo de Morbihan, nas costas francesas da Bretanha, a Semaine du Golfe, um evento que é hoje destacado pelo diário Le Télégramme de Lorient. 
O golfo de Morbihan fica localizado nas proximidades da cidade de Vannes e a cerca de 68 km da cidade de Lorient. É um pequeno mar interior com um comprimento de 20 km por 15 km de largura, muito recortado e com muitas ilhas e ilhotas, dizendo-se na Bretanha que “o golfo tem tantas ilhas como dias tem o ano”. No seu interior ocorrem marés de grande amplitude e fortes correntes, o que exige muito cuidado na navegação, mas a beleza das suas margens e o seu interesse histórico e ambiental tornaram-no uma atracção turística, sobretudo para os desportistas náuticos das cerca de duas dezenas de localidades localizadas na orla do golfo.
Esta semana decorre a oitava Semaine du Golfe que é uma grande festa e que vai reunir mais de mil embarcações dos mais diversos tipos com mais de 4 mil tripulantes, que todos os dias vão navegar de povoação para povoação, de cais para fundeadouro, de espectáculo para concerto, de festa para festa. Cada uma dessas povoações terá o seu programa de animação cultural específico, onde se destacam as ofertas gastronómica e musical marcadamente celtas, até porque se trata de uma importante região da Bretanha.
As características do golfo de Morbihan são excelentes, mas o facto é que também há quem as aproveite para potenciar a dinamização económica e cultural da região.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O PIB cresce, mas a economia diverge

O Eurostat divulgou ontem o seu news release 84/2015, com a estimativa rápida dos resultados do desempenho económico comunitário no 1º trimestre de 2015, verificando-se que, tanto para a Zona Euro (ZE19), como para a totalidade da União Europeia (UE28), houve um crescimento do produto de 0,4% relativamente ao 4º trimestre de 2014. Em termos homólogos ou anuais, isto é, em comparação com o 1º trimestre de 2014, a economia da ZE19 cresceu 1,0%, enquanto a economia da UE28 cresceu 1,4%. Os comentadores e os analistas atribuiram esta boa evolução ao plano Draghi, à desvalorização do euro e à baixa do preço do petróleo, ao mesmo tempo que contemplam com alguma inveja o crescimento de 3,0% que se verificou nos Estados Unidos. A economia da Europa, tal como muitas outras coisas, não vai bem.
Relativamente a Portugal, os resultados divulgados pelo INE e pelo Eurostat coincidem, isto é, verificou-se um crescimento do produto português de 0,4% no 1º trimestre de 2015 e um crescimento homólogo ou anual de 1,4%. Este resultado é satisfatório e está na chamada média europeia, significando que a nossa economia esteve em linha com as outras economias europeias, mas mostra que continuamos sem convergir com as mais desenvolvidas, que ficamos mais para trás e que este crescimento não é gerador de emprego. O PIB cresce, mas, sem investimento nem emprego a nossa economia não consegue convergir com "o pelotão da frente" e não tira partido do dinamismo espanhol. 
Dos resultados relativos a 19 países que foram divulgados no news release do Eurostat verifica-se que mais de metade tiveram um crescimento do produto superior ao que se verificou em Portugal (1,4%), assim sucedendo por exemplo com a Roménia (4,2%), a Hungria (3,1%), a Eslováquia (2,9%), a Espanha (2,6%), o Reino Unido (2,4%) e a Holanda (2,4%).
Os resultados relativos à economia portuguesa são animadores, até porque actualmente há economias em recessão (Finlândia e Grécia), mas não justificam o delírio e o triunfalismo serôdio e injustificado de algumas vozes que aproveitam estes números para pintar com cores claras aquilo que é uma situação complicada de estagnação e de paralisia económica que todos observamos, com muitas empresas encerradas, muitas lojas falidas, tantos jovens desempregados e tantos idosos sem protecção.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A arte é eterna e Picasso é o maior

Hoje, a edição do jornal Público apresenta com grande destaque na sua primeira página a notícia de um leilão realizado em Nova Iorque pela leiloeira Christie’s, no qual um quadro de Picasso foi vendido por 159,3 milhões de euros. Com este dinheiro compravam-se dois Airbus A320! Nunca uma pintura valera tanto num leilão e, por isso, este valor record justifica a afirmação de que a arte é eterna porque, de facto, o seu valor ultrapassa todas as conjunturas de crise.
Houve cinco interessados que “lutaram” pelo telefone durante 11 minutos pela posse de Les Femmes d’Alger (version O), uma obra de 1955 com 1,14x1,46 metros, que representa um harém e, como acontece sempre nestes leilões, o vencedor ficou-se pelo anonimato. No mesmo leilão foi vendida por 112 milhões de euros L’homme au doigt de Alberto Giacometti, que se tornou na mais valiosa escultura alguma vez leiloada e a terceira obra de arte mais cara de sempre no mercado leiloeiro.
Nesse ranking, a Christie’s bateu o seu próprio record, atingido em Novembro de 2013 quando vendeu o tríptico Três Estudos de Lucien Freud de Francis Bacon por 126 milhões de euros. Na quarta posição desse ranking está a quarta versão de O Grito de Edvard Munch, vendido em 2012 pela Sotheby’s por 89 milhões de euros e, depois, o Nu au plateau de sculteur de Picasso, vendido em Maio de 2010 por 81,3 milhões de euros.
Porém, o que aqui se destaca não é só o estado do mercado mundial da arte, mas o facto de um jornal português não alinhar no sensacionalismo, nem no jornalismo de frete ou no jornalismo de aldeia de muitos dos nossos periódicos de informação geral, optando por um jornalismo de inegável interesse informativo e cultural.