Daqui a cerca de
quatro meses irão realizar-se eleições legislativas e a longa caminhada
eleitoral já começou. Isso é visível nos debates parlamentares e nos debates
televisivos, com cada um dos partidos a querer afirmar as suas posições e a
pretender desvalorizar as intenções dos seus adversários. Goste-se ou não deste
jogo, o facto é que tem sido assim. Porém, este modelo de luta eleitoral
apresenta duas “inovações” curiosas.
A primeira é o facto do Partido Socialista
(PS) ter encomendado a um grupo de reputados economistas a elaboração de um
cenário macroeconómico para analisar e discutir o futuro e para servir de base
a um programa eleitoral a apresentar ao eleitorado que, entretanto, foi
aprovado nas suas linhas gerais.
A segunda “inovação”
refere-se à atitude do governo e dos ministros, que existindo para nos governar
e para garantir a paz social, o progresso económico e o bem-estar dos
portugueses, parece terem deixado de nos governar e passado a fazer uma
descarada e condenável propaganda, que deveria ficar reservada para os seus
deputados, militantes e simpatizantes. Porque
não vale tudo. Não pode valer tudo! E o que lemos ou ouvimos?
Passos Coelho em entrevista aos
seus amigos do jornal "Observador", diz que a Taxa Social Única (TSU)
proposta pelo PS põe em causa o pagamento das pensões e afirma que o programa
socialista é incompatível com a União Europeia. Em visita oficial à Trofa, ouvimos Paulo Portas dizer que o
programa do PS contém propostas “perigosas” em matéria de Segurança Social e salientar
que esse documento tem “sofrido algum zigzague”. Navegando nas mesmas águas, o privatizador Pires de Lima veio dizer que as
propostas do PS em matéria de TSU eram contraditórias com toda a oposição que o
PS tem feito e são muito “perigosas” do ponto de vista financeiro para a sustentabilidade
da Segurança Social". Na Figueira da Foz falou Poiares Maduro para dizer que o
programa eleitoral do PS aposta num crescimento que nunca será sustentável,
porque é baseado no consumo interno. Também Nuno Crato afirmou em Lisboa que
não acredita que o PS seja “o próximo governo” e considerou um "erro
gravíssimo" suspender a prova de avaliação de professores, como consta da
proposta de programa eleitoral socialista. Aguiar-Branco, em plena Base Naval de Lisboa e no
seu já habitual registo de insensatez, acusou o PS de querer um modelo de
governação “muito à engenheiro Sócrates” e disse que “é mais uma sondagem de
ideias”, tal como já foi feito com o cenário macroeconómico. Apesar da sua
pequenez académica, Maria Albuquerque criticou o cenário macroeconómico do PS e
disse que “com a mesma receita e os mesmos protagonistas” de 2009, não é
possível esperar um resultado diferente. Enquanto admite a possibilidade de avançar
para a liderança do seu partido, Assunção Cristas também critica o PS e acusa-o por nunca ter feito o
balanço da era Sócrates, mostrando-se perplexa por aquele partido se apresentar
aos portugueses.
São assim. Falam, falam, falam. Em vez de governar, actuam na esfera político-partidária. Todos a falar, esquecendo a dignidade mínima das suas
obrigações ministeriais, usando a função de Estado e o tempo de antena para atacarem o
adversário. Devem estar assustados.
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