Vivem no Grão-Ducado do Luxemburgo cerca de 115 mil portugueses, o que corresponde a mais de 20% da população luxemburguesa, pelo que a problemática da integração socio-cultural desta enorme minoria é um assunto relevante, sobretudo em relação às gerações mais jovens. Certamente por isso, o Luxemburguer Wort, que é o diário mais antigo e de maior audiência que se publica no Luxemburgo, destacou em primeira página a apresentação de um novo projecto de lei relativo à dupla nacionalidade que, por muitas razões, interessa à comunidade portuguesa. A nova lei para a obtenção da nacionalidade luxemburguesa é genericamente facilitadora, exigindo cinco anos de residência no país, a aprovação num teste de língua luxemburguesa, a frequência de um curso de educação cívica e o preenchimento das chamadas condições de honorabilidade, isto é, um registo criminal sem penas de prisão superiores a 6 meses. A lei luxemburguesa aparenta ter muita razoabilidade e contrasta com a lei portuguesa que, com base nos direitos históricos deixados nos antigos territórios ultramarinos, garante a obtenção da nacionalidade portuguesa a muitos cidadãos que não sabem onde é Portugal, nem falam português, nem passaram por testes de educação cívica ou de honorabilidade. É por isso que, de vez em quando, encontramos pessoas que apesar de terem passaporte português, não têm de facto a nossa nacionalidade. No Luxemburgo isso não acontece.
sexta-feira, 29 de março de 2013
O Luxemburgo e a dupla nacionalidade
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quinta-feira, 28 de março de 2013
O regresso e a denúncia de uma narrativa
Ontem foi o dia do regresso televisivo do ex-primeiro ministro Pinto de Sousa e a RTP chamou-lhe “O fim do silêncio”, pois tinham decorrido cerca de dois anos desde que se ausentara do panorama político nacional. Nesse período, houve inúmeros valentões que tudo disseram contra ele, incluindo o nosso corajoso primeiro magistrado da nação. Sem contraditório. Até que foi convidado pela RTP para ser entrevistado. Aceitou, mas logo se levantaram algumas vozes fundamentalistas a condenar a iniciativa da RTP. Também apareceram petições públicas, umas a recusar a sua presença em qualquer programa da RTP (134.023 signatários) e outras a favor da sua presença (7.492 signatários). Era o início de uma estéril polémica. Depois, sucederam-se declarações de diferentes tons, por vezes na fronteira do fanatismo. No dia da entrevista, juntaram-se nas instalações da RTP duas manifestações, uma contra a presença do ex-primeiro-ministro que contou com menos de duas dezenas de pessoas e, uma outra, a favor dessa presença, com um número de manifestantes ligeiramente maior. A primeira levou uma simbólica factura de 78 mil milhões de euros, enquanto a segunda levou ramos de flores.
E veio a entrevista que permitiu a denúncia de uma narrativa que, até agora, circulava sem contraditório. O ex-primeiro ministro, que tem sido o bode expiatório de tudo o que de mal nos está a acontecer, teve a oportunidade de se defender e de esclarecer muita coisa. E esclareceu quase tudo. Com factos e com números. Com muita habilidade. Segundo o Diário de Notícias a entrevista foi um ajuste de contas com Cavaco Silva. Não sei se esta entrevista contribuiu ou não para alterar os pontos de vista dos 1.721.300 espectadores que a ela assistiram, pois "a cada um, a sua verdade". Porém, seguramente que a entrevista incomodou muita gente. Era um desafio difícil, mas Sócrates ultrapassou-o.
Os outros que aguentem!
O governo tem imposto um duro programa de austeridade aos portugueses, de que tem resultado uma sucessão de desgraças, tais como a recessão económica, o aumento da dívida pública e do défice orçamental, o empobrecimento, a deterioração do tecido empresarial, e, ainda, a incerteza e a falta de confiança quanto ao futuro. Mais do que aquilo que mostram as estatísticas, somos confrontados com a recessiva realidade que se depara aos nossos olhos. A austeridade tem implicado um brutal aumento do desemprego e uma substancial perda de rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas. Porém, a austeridade não é para todos. Perante o programa de privatizações inscrito no Memorando de Entendimento assinado com a troika e de outras anunciadas privatizações de iniciativa governamental como a RTP e os CTT, o governo decidiu contratar o economista António Borges como consultor para esta área. Porém, o professor e antigo vice-presidente do PSD decidiu “esconder-se” atrás da sua empresa de consultoria e “sacar” ao Estado a quantia de 300 mil euros anuais mais IVA, acrescidos do reembolso de despesas “indispensáveis para a concretização do trabalho e previamente autorizadas, designadamente no caso de viagens ao estrangeiro, as quais deverão ser documentadas e respeitar as normas aplicáveis ao sector público”. É sempre a mesma coisa: “rapar o tacho” todo e escapar ao fisco. São estes os amigos da nação. Eles. Os outros que aguentem! Como não lhe basta a exorbitância que o Estado lhe paga e a isenção de impostos de que beneficia por ser funcionário do FMI, no ano passado o economista Borges recebeu 50 mil euros pelo seu cargo de administrador não executivo do grupo Jerónimo Martins. Os outros que aguentem! Há gente cuja arrogância e ambição não tem limites. São muito pequeninos. Vulgares.
terça-feira, 26 de março de 2013
O confisco da poupança já nos ameaça
O caso de Chipre já fez correr muita tinta e deu origem a todo o tipo de comentários, embora os contornos da realidade sejam muito confusos. Houve ultimatos e muitas incertezas mas, ontem, o Chipre chegou a um acordo com os representantes dos credores internacionais, a nossa conhecida troika - UE, BCE e FMI. O acordo evita, para já, o colapso cipriota com um resgate de dez mil milhões de euros e passa pela reestruturação da banca cipriota, mas também pela criação de uma taxa especial de 30% sobre os depósitos de valor superior a cem mil euros. Com esta medida, a troika encontrou um novo modelo para resgatar os bancos em dificuldades, ao impor as suas perdas não só aos seus accionistas, mas também aos seus depositantes. O senhor Jeroen Dijsselbloem, o líder do Eurogrupo, avançou de imediato com a ideia de que a “receita cipriota” poderia ser aplicada a outros países, como destacou o diário catalão La Vanguardia. Era uma opinião ou uma ameaça, que logo levantou dúvidas sobre se as poupanças dos pequenos aforradores estão seguras nos bancos ou se é melhor colocá-las debaixo do colchão, porque as garantias legais dos depósitos e as garantias políticas repetidamente afirmadas parecem não valer nada. A confiança – base da actividade bancária – desapareceu para sempre ou ficou seriamente abalada. Estamos perante o confisco das poupanças e, com menos poupança, temos menos investimento, menos emprego, mais impostos e menos crescimento económico. Tal como sucedeu nos Estados Unidos em 1929, não só no Chipre mas também noutros países, podem acontecer corridas aos bancos, fuga de depósitos, subidas de juros, falências e perturbações sociais. O grande capital vai agora mover-se para outras paragens, os bancos vão perder liquidez para financiar a economia e tudo isto pode agravar a recessão por que passa a Europa. Há quem diga que é o princípio do fim do euro e da credibilidade da zona euro, mas também que é a confirmação da decadência da velha Europa e de todos os seus sonhos.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Maus exemplos da lusa (des)governação
Os ventos que circulam pela Europa são muito preocupantes, mas os que por aqui sopram neste canto mais ocidental começam a ser insuportáveis. Estamos a passar por uma situação política muito confusa e muito sombria, com uma gravíssima situação económica e social, com resultados muito negativos no programa de ajustamento e com claras divergências entre os partidos da coligação. Não se vê um rumo na gestão da coisa pública. O descrédito em quem nos governa generalizou-se. Os nossos dirigentes revelam-se incompetentes, insensíveis e insensatos. Insistem nos erros e na destruição do nosso país. Ferem a dignidade das pessoas. Humilham os cidadãos. Retiram a confiança e a esperança. Alimentam a pobreza e o sofrimento de muita gente. Empurram muitos jovens para a emigração e não têm soluções para combater o desemprego. Apenas têm o apoio de uma meia dúzia de deputados e já ninguém levanta a voz para defender o relvas e os seus colegas, que deixaram de vir à rua para não ouvirem o protesto. Como de costume e a lutar pela sua vida, o ministro portas aproveita para passear. Porém, neste quadro de desespero, em que seria necessário termos o bom exemplo dos nossos dirigentes, ainda há quem continue com práticas infelizes e irresponsáveis, como se verifica nos dois casos seguintes.
A última edição do semanário Expresso denuncia na sua primeira página que a jovem ministra cristas decidiu adiar dois concursos públicos e, depois, nomear sem concurso dois seus ex-colegas de faculdade, para dois altos cargos do seu ministério. Outro caso exemplar do desnorte e desonestidade de quem nos governa foi a nomeação de técnicos especialistas com 21 e 22 anos de idade, por despacho do arrogante secretário moedas, conforme é revelado no Diário da República, 2ª Série, de 20 de Março.
Com exemplos deste tipo não temos governo. Temos (des)governo.
domingo, 24 de março de 2013
Um museu e três exposições
O museu da Fundação Arpad Szénes–Vieira da Silva (FASVS) com o apoio dos seus mecenas, está a oferecer ao público lisboeta três exposições temporárias que são uma excelente oportunidade para, de uma só vez, revisitar uma parte da obra de três artistas de elevada cotação internacional – Vieira da Silva, Arpad Szénes e Graça Morais.
A exposição Vieira da Silva, Agora esteve recentemente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro no âmbito do projecto cultural Ano de Portugal no Brasil, para homenagear a pintora portuguesa que, com o marido, viveu naquele país na década de 1940. Depois de ter sido visitada durante dois meses por 42.315 visitantes, a exposição é agora apresentada em Lisboa, mostrando obras de pintura e desenho que cobrem um vasto período da produção da pintora e que é complementada pela sua fotobiografia. Revisitar a obra de Vieira da Silva é um exercício muito estimulante e confirma a sua excepcional dimensão no panorama internacional da arte contemporânea.
Porém, o FASVS tem por vocação a divulgação e estudo das obras de Maria Helena Vieira da Silva e do seu marido de origem húngara Arpad Szénes, mas também de outros artistas seus contemporâneos. Nesse sentido, o museu apresenta também uma pequena exposição da obra de Arpad Szénes e a exposição Os Desastres da Guerra, que reúne pintura e desenho de Graça Morais em que denuncia a guerra e a sua violência. Esta exposição pode ser vista até 14 de Abril, enquanto a exposição Vieira da Silva, Agora pode ser vista até 16 de Junho.
Lisboa valorizada com a Ribeira das Naus
A zona ribeirinha do rio Tejo situada entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, constitui um dos mais simbólicos locais da cidade de Lisboa. Aí existiram, pelo menos desde o século XIV, as carreiras de construção de navios ou Ribeira das Naus, onde nasceram muitos dos navios da expansão marítima portuguesa e que serviu de modelo aos estaleiros que se construíram nas ribeiras de Goa, de Cochim, do Rio de Janeiro e do Recife. Depois da destruição provocada pelo terramoto de 1755 os estaleiros foram reconstruídos e a Ribeira das Naus passou a ser designada por Arsenal Real da Marinha que, até ao fim do século XIX, foi o mais importante pólo de construção naval português. Em 1910 os estaleiros passaram a ser designados por Arsenal da Marinha, mas em 1938 foram extintos quando foi inaugurado o novo Arsenal do Alfeite.
O acesso da carreira de construção ao rio Tejo foi então cortado e foi construída a Avenida Ribeira das Naus. Porém, o recente e justificado interesse pela frente ribeirinha da cidade levou à decisão de requalificar a Avenida Ribeira das Naus e o seu espaço adjacente. A primeira fase desse projecto ficou agora concluída por iniciativa da CML: um largo passeio pedonal, um novo jardim público e uma larga escadaria em suave plano descendente até ao rio, como recriação de uma praia existente antes do terramoto. A cidade de Lisboa “que deve tudo ao rio”, foi enriquecida com a recuperação da sua memória histórica e ganhou mais um espaço de lazer. Bem precisamos destas coisas positivas para nos animarmos!
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sábado, 23 de março de 2013
Precisam-se soluções para vencer a crise
A crise que atravessamos é grave e, sobre as suas origens e características, está quase tudo dito. A sua resolução não está a ser bem sucedida e a tentativa de reduzir o défice orçamental e de travar o crescimento da dívida pública, apenas tem conduzido ao brutal aumento do desemprego, à recessão económica, a um forte desânimo popular e à descrença no futuro. Apesar de haver cada vez mais comentadores, há cada vez menos comentários para fazer e o que tem faltado são as soluções. Não se vê rumo na governação e, quanto à terapêutica para vencer a crise, é cada vez mais do mesmo. As nossas dificuldades estão a tornar-se inultrapassáveis. A nossa economia está doente. A procura caiu. Há muitas empresas a encerrar. Os nossos jovens desesperam e emigram, Temos poucos recursos naturais. Temos uma estrutura produtiva deficiente. Produzimos pouco. Gastamos para além do razoável. Poupamos e investimos muito pouco. É um problema muito antigo.
Com o actual nível de juros não é possível pagar a dívida e vencer a crise. Basta um elementar exercício de matemática para tirar essa conclusão. É preciso encontrar um novo rumo e novas soluções. É preciso mais imaginação. É preciso mais investimento, mais emprego e mais crescimento económico. Há dias, Silva Peneda afirmou que a experiência neoliberal fracassou. Antes, Miguel Cadilhe tinha defendido uma renegociação honrada da dívida pública portuguesa, com redução da taxa de juro e do prazo de pagamento do empréstimo da troika. Porém, os nossos jovens e incompetentes governantes continuam cegos e surdos, não ouvindo sequer os seus companheiros de partido mais velhos e mais experientes.
Um graffiti que aparece nas ruas de Lisboa é sugestivo e faz todo o sentido:
No dia em que o povo acordar, o governo não conseguirá dormir
quinta-feira, 21 de março de 2013
Há uma ameaça a pairar sobre Chipre
Os graves problemas financeiros do Chipre continuam sem solução e a preocupar a Europa. As necessidades imediatas estão avaliadas em 17 mil milhões de euros e as instituições da troika prometem emprestar 10 mil milhões de euros, se o Chipre conseguir mobilizar recursos próprios da ordem dos 6 mil milhões de euros, de modo a evitar um crescimento exponencial da sua dívida pública. A primeira solução proposta e aceite pela troika foi a aplicação de uma taxa extraordinária sobre os depósitos bancários, o que levou os cipriotas ao desespero e à revolta. Essa intenção constituía também um perigoso precedente para os outros países da Zona Euro e foi reprovada por unanimidade no Parlamento cipriota. Então, o BCE fez um ultimato ao governo cipriota no sentido de encontrar uma outra solução a curtíssimo prazo, que poderá passar pela criação de impostos sobre pensões e imobiliário, pela venda de património e privatizações, por um fundo de solidariedade ou, até, pela emissão de direitos antecipados sobre as importantes reservas de gás natural descobertas nas águas territoriais cipriotas.
Uma sondagem agora divulgada, revela que 91% dos cipriotas apoia a rejeição da taxa extraordinária sobre os depósitos feita pelo Parlamento e 67.3% defendem a saída do euro e o reforço das relações com a Rússia. Dão que pensar estes resultados. No Chipre não há apenas o sufoco financeiro e a quase falência dos dois maiores bancos, mas há a ameaça da saída do euro, o interesse russo pelo gás natural e um panorama geopolítico em mudança, onde a República Turca do Norte de Chipre se quer fazer ouvir. O modelo cipriota ruiu. A feliz ilustração da primeira página do diário alemão Frankfurter Rundschau vale mais do que mil palavras.
Grandes Naufrágios Portugueses
Na história das navegações marítimas não são as rotineiras viagens que ficam registadas nas suas páginas e que despertam a curiosidade de muitas gerações mas, pelo contrário, o que fica registado na memória das pessoas ou no imaginário colectivo das comunidades é o dramatismo dos acidentes marítimos, das peripécias das batalhas navais e dos grandes naufrágios, onde se perdem pessoas e bens.
Por isso, o Comandante Rodrigues Pereira decidiu reunir algumas das mais dolorosas perdas acontecidas à navegação portuguesa ao longo dos séculos, com especial destaque para os relatos da História-Trágico Marítima, mas onde inclui também os desastres marítimos ocorridos mais recentemente, como é o caso do navio-motor Save, da traineira Praia da Atalaia e do pesqueiro Bolama. É um trabalho que faltava e que preenche uma lacuna na historiografia marítima, mas que também abre perspectivas para outras apreciações deste tema.
Na análise que é feita, verifica-se que a generalidade dos naufrágios resultou de falhas humanas, quer no planeamento quer na condução das viagens, mas também de condições meteorológicas severas ou de batalhas navais. Grandes Naufrágios Portugueses (1194-1991) é um livro muito interessante e de boa leitura, com um bem elaborado glossário para ajudar os leitores menos habituados à terminologia náutica. Ao ler as seis dezenas de relatos e o capítulo dedicado aos “cemitérios de navios”, somos levados directamente ao Mar Português, um dos mais citados poemas da Mensagem de Fernando Pessoa:
Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!
terça-feira, 19 de março de 2013
As Festas do Concelho de Constância
A Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem/Festas do Concelho de Constância vão realizar-se nos próximos dias 30 e 31 de Março e 1 de Abril. A origem destas Festas encontra-se na devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem, a padroeira dos marítimos, estando associada ao tráfego fluvial de mercadorias que durante séculos foi muito intenso no curso do rio Tejo, a partir de Constância para jusante. Passado o tempo dos marítimos e do transporte fluvial, as Festas entraram em declínio, até que a Câmara Municipal decidiu intervir com o objetivo de as revitalizar e revalorizar, associando-lhe um vasto conjunto de actividades culturais, recreativas e de lazer que constituem as Festas do Concelho de Constância. As Festas incluem música, artesanato, exposições, desporto, ruas floridas, tasquinhas, gastronomia, doçaria e muita animação, mas o seu ponto alto são as cerimónias religiosas que se realizam na tarde da segunda-feira da Páscoa (1 de Abril), em que se destaca a procissão que sai da Igreja Matriz e vai até junto do rio Tejo, onde já se encontram as embarcações que integraram a procissão fluvial para receberem a bênção, prosseguindo depois pelas ruas da vila. Esta procissão ou cortejo fluvial é, provavelmente, a mais simbólico evento do programa e recorda o tempo "em que os rios eram estradas e deles vinha o ganha pão de grande parte da população". Realiza-se na manhã do mesmo dia 1 de Abril, com algumas dezenas de embarcações engalanadas com bandeiras e com coloridas flores de papel. Sai de Tancos rio acima e passa junto ao castelo de Almourol e ao largo da Praia do Ribatejo, até Constância. Já tive o privilégio de assistir a esse cortejo e posso assegurar que é um grande espectáculo!
segunda-feira, 18 de março de 2013
Chipre e a crise de confiança europeia
A decisão de confiscar parte dos depósitos bancários no Chipre como forma de obrigar os cipriotas a custear uma parte do resgate internacional de que carecem, está a levantar sérios problemas, muitas interrogações e grandes preocupações. Os bancos cipriotas encerraram as suas agências até nova ordem. A reacção dos depositantes foi racional pelo que iniciaram de imediato uma corrida aos bancos, que as televisões mostraram ao mundo e que logo contagiou os países europeus que estão a passar por dificuldades semelhantes, cujas autoridades se apressaram a negar qualquer relação.
Os bancos eram até há pouco tempo o símbolo da estabilidade e da solidez financeira, mas aos olhos das pessoas tornaram-se a imagem da ganância e da especulação. A confiança na banca está muito debilitada e o que está para ser feito no Chipre, significa que a garantia dos depósitos bancários deixou de existir. E se os depósitos bancários no Chipre não estão garantidos, não há qualquer razão para que os cidadãos dos outros países da Zona Euro acreditem que os seus depósitos serão tratados de forma diferente. É a confiança perdida e a crise da confiança. E sem confiança a economia não funciona. E sem a economia a funcionar não há emprego. E sem emprego pode surgir a revolta social. É uma situação inquietante e, neste quadro de crise da confiança, o jornal i pergunta mesmo se “o colchão passou a ser o banco mais seguro”.
As reflexões de Jean-Claude Juncker
Nos tempos que correm é cada vez menor a confiança dos cidadãos na generalidade dos políticos europeus e é, também, cada vez mais evidente a falta de líderes que inspirem e mobilizem as populações. Os líderes europeus são reféns dos seus eleitorados e dos seus interesses e, muitos deles, não passam de funcionários impreparados mas bem pagos, rendidos aos seus nacionalismos e sem uma visão estratégica que assegure a esperança, o emprego, a prosperidade e a paz para essa complexa comunidade de nações que é a União Europeia.
Por vezes há algumas excepções e, nos últimos dias, destacou-se Jean-Claude Juncker, que é desde 1995 o Primeiro-ministro do Luxemburgo e que, durante oito anos, foi o Presidente do Eurogrupo. É seguramente um dos mais experientes políticos europeus. E o que disse ele? Numa entrevista ao semanário alemão Der Spiegel disse que os velhos demónios que no passado levaram países europeus a entrar em guerra “não desapareceram” e que “estão apenas adormecidos, como as guerras na Bósnia e no Kosovo mostraram”, confessando que o assusta ver as semelhanças entre as circunstâncias da Europa de há 100 anos e o contexto actual europeu. Dias depois, comentando as políticas de austeridade, a recessão e os seus efeitos sociais e económicos devastadores, sublinhou a necessidade de um maior equilíbrio entre austeridade e crescimento, dizendo acreditar que há um risco de “revolta social” na Europa. São palavras muito sensatas, num tempo de emergência social na Europa, onde mais de 26 milhões de pessoas estão desempregadas e outros 120 milhões vivem em situação de precariedade. As palavras de Jean-Claude Juncker merecem reflexão, até porque já há quem veja no horizonte alguns sinais de uma “primavera europeia”.
domingo, 17 de março de 2013
A crise e os tempos difíceis na Galiza
O diário galego La Voz de Galicia que se publica na Corunha, anunciou hoje em primeira página a notícia que “Galiza põe à venda as suas aldeias abandonadas” e acrescenta que, segundo o censo de 2011, existem na Comunidade Autónoma da Galiza um total de 1.408 núcleos populacionais abandonados, que vão desde as pequenas aldeias com igreja e escola, até aos mosteiros isolados e aos pequenos núcleos com casas destruídas e abandonadas. Esta realidade reflecte o histórico problema da emigração galega, mas também é um sinal da crise contemporânea, da desertificação rural, do envelhecimento da população, do isolamento e da ausência de actividade económica. Nesta altura haverá três dezenas de núcleos populacionais que esperam por comprador, havendo ingleses, noruegueses, árabes e americanos que têm mostrado interesse em fixar-se na Galiza.
Esta notícia recorda-nos Rosalia de Castro, a poetisa galega da segunda metade do século XIX que na sua poesia denunciou a pobreza que obrigava os galegos a emigrar, sobretudo para a América de língua castelhana e, em especial, o seu famoso “Cantar da Emigração”, o poema que Adriano Correia de Oliveira cantou.
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão
Os versos de Rosalia de Castro e a notícia de La Voz de Galicia, têm cerca de 150 anos de intervalo e são uma consequência do fenómeno da emigração. Em Portugal, que tantas afinidades culturais e naturais tem com a Galiza, também temos os mesmos problemas da emigração e das aldeias abandonadas. São tempos difíceis de um mundo em mudança.
Os especuladores atacam em Chipre
No passado mês de Junho o Chipre pediu ajuda à União Europeia, depois de terem sido detectados graves problemas nos dois principais bancos cipriotas que foram afectados e contagiados pela crise grega. Depois de muitos meses de negociações, foi decidido conceder uma ajuda ao Chipre que, a partir de agora, passa a ser o quinto país da Zona Euro a beneficiar de um programa de ajuda internacional.
Inicialmente, o Chipre pedira um resgate de 17 mil milhões de euros, que é um montante equivalente ao seu PIB, mas nem o FMI nem o BCE concordaram com esse valor, alegadamente porque isso significaria um brutal aumento da dívida cipriota. A solução encontrada inclui duríssimas exigências que não têm precedentes. A troika avança apenas com 10 mil milhões de euros para “aliviar a carga dos contribuintes europeus”, sendo recolhidos 5,8 mil milhões de euros através de um singular imposto: os depósitos bancários com mais de 100.000 euros irão pagar um imposto extraordinário de 9.9 % e os depósitos abaixo deste valor pagarão 6,7 %.
Acontece que cerca de 30% dos depósitos bancários pertencem a cidadãos russos e resultam de lavagem de dinheiro. Esta medida irá custar aos russos quase 2 mil milhões de euros e a sua confiança na banca cipriota vai vacilar, o que vai afectar a economia e aprofundar a crise no país.
Os cipriotas são assim os primeiros cidadãos europeus a quem é retirada uma parte das suas poupanças, que não será devolvida. É um imposto que incide sobre um milhão de cipriotas e é um verdadeiro assalto às suas poupanças. Os jornais espanhóis destacaram esta notícia e o La Vanguardia chama-lhe um confisco, mas os jornais portugueses ignoraram-na.
Os especuladores financeiros continuam a beneficiar da cumplicidade e da fraqueza dos dirigentes europeus que tudo fazem para destruir a ideia de uma Europa solidária, próspera e pacífica.
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