sábado, 26 de abril de 2014

Viva o 25 de Abril!

Celebrou-se ontem o 40º aniversário do 25 de Abril e a grandiosidade das manifestações populares mostrou que essa data continua viva na memória do povo português, como símbolo da liberdade, da democracia, do fim da guerra colonial, da descolonização, das autonomias insulares e de um Estado Social moderno, entre muitas outras conquistas políticas e sociais. A data também foi assinalada por muitas associações de emigrantes em diversos países e alguns jornais franceses, luxemburgueses, brasileiros, angolanos, macaenses e cabo-verdianos, destacaram essa efeméride libertadora nas suas primeiras páginas.
Por cá, uma vez mais, a Associação 25 de Abril organizou ou associou-se a inúmeras iniciativas populares, destacando-se a simbólica cerimónia realizada em Lisboa, no Largo do Carmo, em homenagem a Fernando Salgueiro Maia, o jovem capitão que há 40 anos, naquele mesmo local, comandara as tropas que impuseram a rendição ao governo de Marcelo Caetano. O presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, proferiu um importante e emotivo discurso, vibrantemente aplaudido por muitos milhares de pessoas, no qual sublinhou ser necessário “mudar urgentemente de caminho, ou este governo tem de ser apeado” de preferência pelo Presidente da República, para além de ter criticado a submissão com que os nossos governantes se apresentam perante os credores internacionais. "Chegou o momento de dizer Basta!", disse Vasco Lourenço, para logo a multidão repetir em coro e por largos minutos: "Basta, basta, basta!"
A multidão, com muitas pessoas de cravo ao peito, dirigiu-se depois para a rua António Maria Cardoso para homenagear os quatro cidadãos que, em frente da sua sede, a PIDE assassinou na tarde de 25 de Abril de 1974. 
"Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente", como nos cantou Chico Buarque.
Dois dos mais importantes artistas portugueses da actualidade – Júlio Pomar e Henrique Cayate  – conceberam para a Associação 25 de Abril, um cartaz comemorativo dos 40 anos do 25 de Abril, que simboliza a angústia e a incerteza que hoje assalta muitos milhões de portugueses, cada dia mais reféns de um governo cuja prática governativa não corresponde ao programa com que se apresentou ao eleitorado. E não deixa de ser insólito, o facto de termos visto o primeiro-ministro aparecer nas televisões de cravo ao peito… o que, evidentemente, é mais uma das suas habituais mentiras.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Então, cacemos e esfolemos os coelhos

Ao contrário do que o Coelho e o Portas têm dito, não será a 17 de Maio, nem em Junho, nem em qualquer data que caia no meu horizonte de vida, que recuperaremos a nossa soberania, porque os credores internacionais virão a Portugal duas vezes por ano até 2038. Foi isto que eles decidiram e foi isto que os nossos dirigentes aceitaram. Estamos em estado de choque com esta notícia e com esta humilhante submissão que ofende a dignidade de um povo que “deu novos mundos ao mundo” e tem nove séculos de história. Não há memória de uma coisa destas. É uma vergonha, a fazer lembrar o ultimato inglês de 1891, mas aí tivemos a reacção “dos heróis do mar” e da “nação valente e imortal”, com o povo a cantar “A Portuguesa”.
Afinal, quem são os garantes da independência nacional que aceitam esta humilhação? Quem é que nos prometeu uma coisa antes das eleições e depois fez outra? Quem é que nos tem mentido sistematicamente, sem vergonha e sem pudor? Quem é que olha para tudo isto sem nada dizer e nem nada fazer? Quem é que instalou um relógio na sede do seu partido a assinalar o tempo que faltava para a saída da troika? Quem é que disse que estávamos a viver um milagre económico? Quem é que disse que tudo se resolvia com o afastamento de Sócrates e o corte das gorduras do Estado? Quem é que responde pelo nosso empobrecimento e pelo aumento da dívida? Quem é que disse que as nossas exportações eram o porta-aviões da nossa recuperação económica? Afinal, quem são os Miguel de Vasconcelos da nossa história recente?
Está feita a vontade do Coelho, expressa numa entrevista dada ao semanário Expresso em 27/11/2010, quando disse estar pronto para governar com o FMI. A sua vontade está a concretizar-se. Interrogado sobre o que aí vem e para fugir à questão, procurou o humor: “não se deve esfolar um coelho antes de o caçar e eu que estou aqui e sou coelho, não gostaria de ser caçado”. Então, para que nos libertemos do FMI e para que recuperemos o orgulho e a dignidade nacionais, cacemos e esfolemos os coelhos. A bem da nação!

terça-feira, 22 de abril de 2014

A dívida continua a subir, a subir...

De acordo com as "Estatísticas das Contas Financeiras das Administrações Públicas e da Dívida Pública" hoje divulgadas na Nota de Informação Estatística Nº 6 do Banco de Portugal, em Fevereiro de 2014 a nossa dívida pública atingiu 220,6 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 130,6% do produto interno bruto (PIB). Assim, só nos dois primeiros meses de 2014, o nível de dívida pública em termos nominais e em percentagem do PIB já viola a meta definida pelo governo e pela troika para o corrente ano, que bem recentemente foi fixada em 214,2 mil milhões de euros e que é equivalente a 126,8% do PIB. Significa, portanto, que em dois meses, o montante da dívida já derrapou 6,4 mil milhões de euros e quase 4 pontos percentuais do PIB.
Quando em 21 de Junho de 2011 o actual governo iniciou funções, a dívida pública era da ordem dos 170 mil milhões de euros e representava cerca de 100% do PIB. Cerca de três anos depois a dívida atingiu 220 mil milhões de euros e representa cerca de 130,6% do PIB.  Em menos de 3 anos a nossa dívida aumentou cerca de 50 mil milhões de euros!
Depois de tantos sacrifícios, tanta austeridade e tanto empobrecimento, este resultado é uma completa frustração para os portugueses e uma vergonhosa derrota para a coligação que nos governa. Assim, não se compreende o triunfalismo e a irresponsabilidade que por aí andam, com os governantes e a sua rapaziada a papaguearem um discurso mentiroso sobre a nossa história dos últimos três anos, ao mesmo tempo que Belém nada faz perante este descalabro a que nos está a conduzir esta gente inculta, incompetente e desonesta.
 

Há quem lute contra a arrogância do FMI

É sobejamente sabido que o FMI foi criado para ajudar os seus membros com dificuldades a equilibrarem as suas balanças de pagamentos, não sendo propriamente uma associação de solidariedade internacional. No entanto, a instituição e os seus funcionários podiam ter um comportamento menos arrogante e que não fosse tão humilhante para os cidadãos dos países em que põem os pés, mas aqui em Portugal tem sido exactamente assim.  
Em 2011 foi chumbado o PEC IV, que a Comissão Europeia e a Alemanha já tinham aprovado, tendo havido mudança na governação. Os novos governantes estavam convencidos que a solução passava por um corte de gorduras e, na sua juvenil ambição e ignorância, apressaram-se a dizer que governariam com o FMI sem quaisquer problemas. O FMI veio a correr para cá e passamos a conviver com os seus funcionários – o dinamarquês Poul Thomsem, depois o etíope Abebe Selassie e, mais recentemente, o indiano Subir Lall. Juntos com os nossos gaspares e albuquerques, eles têm desgraçado o nosso país com políticas de cortes nos salários e nas pensões, com redução brutal das políticas sociais, com uma desenfreada onda de privatizações e com o aumento do desemprego, da dívida, da pobreza e da desigualdade, para além de comprometerem o nosso futuro, sobretudo daqueles milhares de jovens que continuam a sair do país. Hoje o país não é o mesmo e os portugueses estão pior, como de resto afirmou esse inteligente e esclarecido dirigente que é o montenegro.
Ontem, no aeroporto de Lisboa, segundo destaca hoje o Correio da Manhã, um zeloso funcionário do SEF ou um patriota travestido de funcionário aduaneiro, barrou o caminho ao agente do FMI que entrava em Portugal sem ter a necessária documentação em ordem. O homem do SEF fez muito bem! Parece um assunto sem importância, mas não é. Estes funcionários do FMI julgam-se de outro planeta e permitem-se entrar no nosso país e dar opinião sobre todos os nossos assuntos internos, desde o salário mínimo às privatizações, sem que ninguém os ponha na ordem. Ao menos o funcionário do SEF apertou com ele e com a sua arrogância. Esse homem devia ser promovido já pelos relevantes serviços que prestou.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A independência da Catalunha arrefece

A euforia independentista catalã está a perder fôlego segundo refere a edição de hoje do diário madrileno La Razón, ao salientar que há “menos independentistas”, com base numa sondagem que revela que, desde o passado mês de Dezembro, houve uma subida de 4 pontos percentuais nos partidários do não à independência, que agora alcançam 42,9% das intenções de voto, enquanto os partidários do sim alcançam 39,5%.
A Convergência i Unió (CiU), uma federação de partidos políticos nacionalistas de direita moderada dirigida por Artur Mas, o chefe do governo autónomo da Catalunha e líder dos independentistas, caíu naquela sondagem de 22,8% para 21,9% das intenções de voto, estimando-se que perdeu a confiança de 385 mil eleitores. A Esquerra Republicana de Cataluña (ERC), um partido que apoia a independência dos territórios de língua catalã e que é dirigido por Oriol Junqueras, tende a afirmar-se como o partido com mais apoio na Catalunha ao passar de 20,8% para 22,3% das intenções de voto. O chamado desafio soberanista de Artur Mas também perde em relação à mobilização popular para um eventual referendo, pois a participação cairia de 67,8% para 62,4%.
Porém, a sondagem revela aquilo a que o jornal chamou “uma Catalunha ingovernável”, pois no actual quadro de intenções de voto não há nenhuma maioria ou coligação "racionalmente possível". Por isso, La Razón afirma que se Artur Mas insistir no desafio de levar por diante o referendo independentista na noite de 9 de Novembro de 2014, a Catalunha sairá “política e socialmente fragmentada, profundamente dividida e economicamente na bancarrota”. Faltam pouco mais de 6 meses.

O esplendor do Oriente na joalharia goesa

Está patente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, a exposição Esplendores do Oriente - Jóias de Ouro da Antiga Goa que apresenta uma colecção de 392 peças de joalharia hindu e cristã dos séculos XVIII e XIX. Estas peças estiveram guardadas em caixas e encerradas em cofres durante 50 anos e essa é uma história que não pode ser dissociada do panorama artístico e estético da exposição.
No dia 12 de Dezembro de 1961, perante a iminente invasão de Goa pelas tropas indianas, que veio a acontecer poucos dias depois, o gerente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Goa, Jorge Esteves Anastácio, decidiu preservar um conjunto de bens guardados no banco, enviando-o para Lisboa no paquete Índia da Companhia Nacional de Navegação (CNN), que nessa data se encontrava em Mormugão. Essa remessa de bens estava repartida por caixotes e caixas de toda a espécie, sendo constituída por jóias depositadas por particulares, por apreensões de contrabando e por cauções de pequenos empréstimos concedidos pelo BNU. 
O restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a Índia aconteceu depois de 1974, mas só em 1991 foi feito um acordo entre o BNU e o State Bank of India que permitiu que a maior parte do espólio trazido em 1961 fosse devolvido ao Estado indiano, que recebeu cerca de meia tonelada de jóias que se encontravam nos cofres, num gesto que então foi altamente elogiado na Índia. Entretanto o BNU fundiu-se com a Caixa Geral de Depósitos (CGD) que herdou a parte restante dessa remessa de jóias que, 50 anos depois, foi aberta e catalogada por especialistas. Devido ao mau estado geral das peças, a CGD decidiu proceder ao seu restauro, fazendo depois a sua doação ao MNAA que as integrou no seu acervo e que até 7 de Setembro as exibirá ao público.

domingo, 20 de abril de 2014

O nosso futuro está muito comprometido

A edição de hoje do jornal La Voz de Galicia destaca em título de primeira página que “Galicia compromete su futuro al perder 120.000 jóvenes en seis años” e assinala que “o brutal colapso da população de entre 15 e 34 anos desenha um horizonte negro devido à emigração e à baixa da natalidade”.
As semelhanças sociais e culturais entre Portugal e a Galiza são enormes, mas essa semelhança também se verifica nos problemas por que passam, um dos quais é a emigração. Porém, enquanto o jornal galego denuncia que o futuro está comprometido, os jornais e os jornalistas portugueses não parecem preocupar-se com este problema, preferindo dedicar-se às pequenas coisas que não enervem o poder político. Porém, em Portugal o problema da emigração é bem mais grave do que na Galiza e, segundo o INE, só em 2012 emigraram 121 mil portugueses e de acordo com um estudo publicado em Dezembro passado, verifica-se que “40% dos portugueses admite emigrar ou já emigrou”.
Se recordarmos o ano de 2011, encontraremos vários governantes, incluindo o primeiro ministro Coelho e o seu adjunto Relvas, a aconselhar os jovens “a sair da sua zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras”. Milhares deles deixaram o nosso país,  daí resultando a desertificação do território nacional e uma crescente ausência de perspectivas para o futuro. Pois são estes mesmos políticos insensíveis e ignorantes - que agora rejubilam porque a troika anda satisfeita e “os emigrantes enviam cada vez mais dinheiro” - que têm vindo a comprometer o futuro do nosso país ao mandar emigrar a mais qualificada geração alguma vez criada em Portugal.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Memória histórica no bairro da Mouraria

No coração do bairro da Mouraria, em Lisboa - um bairro por onde não convém andar sozinho e de máquina fotográfica a tiracolo -  não há só a memória do fado, da Severa e da rua do Capelão. Exactamente na Rua do Marquês de Ponte de Lima, Nº 13, está localizado um edifício de grande valor histórico e patrimonial que serviu como convento e que tem anexa a igreja Paroquial de Nossa Senhora do Socorro. O edifício foi doado pelo rei D. João III à Companhia de Jesus em 1542 e foi a primeira casa própria que esta ordem religiosa teve em todo o mundo.
A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa cujos membros são designados por jesuítas, foi fundada em 1534 por Inácio de Loiola e mais seis companheiros, entre os quais o basco Francisco Xavier e o português Simão Rodrigues, mas só foi reconhecida pelo Papa em 1540*. O rei D. João III vinha pedindo missionários ao Papa para evangelizar o Oriente e a oportunidade surgiu então. Francisco Xavier foi escolhido e veio para Lisboa, tendo partido para a Índia no dia 7 de Abril de 1541 a bordo da nau Santiago da frota de Martim Afonso de Sousa. Tornou-se o "Apóstolo do Oriente" e hoje é venerado em Goa com grande devoção, mas também um pouco por todo o Oriente. A partir daquela casa da Rua do Marquês de Ponte de Lima, onde funcionou a Primeira Cúria Provincial da Companhia de Jesus que também foi a primeira no mundo inteiro, saíram outras expedições de jesuítas, que chegaram a sítios tão longínquos como o Tibete, Macau, a China e o Japão.
Uma placa assinala a importância histórica deste edifício:
ESTA CASA DOADA POR D. JOÃO III
FOI A PRIMEIRA QUE A COMPANHIA DE JESUS
TEVE COMO PRÓPRIA NO MUNDO INTEIRO
DELA TOMOU POSSE O P. SIMÃO RODRIGUES
COM SEIS COMPANHEIROS A
5 DE JANEIRO DE 1542
EM 1553 COMEÇOU AQUI O PRIMEIRO COLÉGIO
DA COMPANHIA DE JESUS EM PORTUGAL
...

 Actualmente, funciona neste edifício a Direcção de Documentação e História Militar e a Chefia do Serviço de Assistência Religiosa do Exército.

* Em 2013 o cardeal Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro jesuíta a ser escolhido para Papa da Igreja Católica, tomando o nome de Francisco.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

País de Abril

Uma das mais interessantes iniciativas que estão a assinalar a passagem do 40º aniversário do 25 de Abril foi a publicação de uma antologia poética de Manuel Alegre, que reúne 29 dos seus mais simbólicos poemas, dos quais 19 foram escritos e publicados antes de 1974. Chama-se País de Abril, tem uma tiragem inicial de 10 mil exemplares e, por acordo entre o autor e a editora Dom Quixote, o seu preço de venda é de apenas 5 euros, por forma a ter uma difusão muito alargada.
A antologia inclui alguns dos mais premonitórios poemas da Praça da Canção (1964) e d’O Canto e as Armas (1967), os livros de Manuel Alegre que inspiraram uma geração que alinhou nos movimentos de oposição ao Estado Novo, que foi moblizada para a guerra colonial ou que escolheu os caminhos do exílio, mas que se reencontrou na madrugada libertadora de 25 de Abril de 1974. Muitas vezes, a poesia de Manuel Alegre antecipou os acontecimentos, como simbolicamente acontece em Poemarma, em que o poeta parece ter antecipado em dez anos, a madrugada vitoriosa de 25 de Abril de 1974:
"Que o poema seja microfone e fale/ uma noite destas de repente às três e tal/ para que a lua estoire e o sono estale/ e a gente acorde finalmente em Portugal".
Muitos dos poemas de Manuel Alegre foram musicados e recitados em múltiplas sessões pelo país, sobretudo por Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Francisco Fanhais e Manuel Freire, entre muitos outros, que levaram a poesia até às pessoas, sendo de salientar que Amália Rodrigues foi, também, uma das vozes que cantou Manuel Alegre.
A publicação desta antologia é um acontecimento cultural relevante e uma das mais simbólicas iniciativas das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.

terça-feira, 15 de abril de 2014

1889: o fim do Império brasileiro

Laurentino Gomes é um escritor brasileiro que se tornou conhecido com o best-seller 1808, publicado em 2006, que conta a história da partida da Família Real Portuguesa para o Brasil nas vésperas da entrada em Lisboa das tropas do general Junot ou, como refere o sub-título do livro, "como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”.
Quatro anos depois, o escritor brasileiro publicou 1822, que conta a história da independência do Brasil ou, como também refere o sub-título do livro, “como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para não resultar”.
Em 2013 Laurentino Gomes publicou 1889, que conta a história do fim da Monarquia brasileira ou, como também refere o sub-título do livro, “como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil”. Este é o último livro de uma trilogia sobre o Brasil do século XIX e é o único que ainda não foi publicado em Portugal. Tal como os dois livros anteriores, está muito bem documentado e é de leitura muito agradável, dando-nos a conhecer um período da História brasileira que é menos conhecido em Portugal.
Um dos seus principais protagonistas é Dom Pedro II que, hoje, seria um cidadão com dupla nacionalidade – nascido no Brasil e filho de pai português. Desde a declaração de independência em 1822 até à proclamação da República no dia 15 de Novembro de 1889, isto é, durante 67 anos, o Brasil foi um Império que durante 49 anos, 3 meses e 22 dias foi governado por Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Habsburgo e Bragança, mais conhecido como Dom Pedro II. Era filho de Dom Pedro I (Dom Pedro IV de Portugal) e da imperatriz Leopoldina, era neto de Dom João VI e irmão de Maria da Glória, que foi rainha de Portugal com o nome de Dona Maria II. Segundo o autor do livro, o imperador era um homem austero, culto e admirado. Foi forçado a exilar-se e morreu em Paris com 66 anos de idade.

25 de Abril: os grandes e os pequenos

Lisboa, 14 de Abril de 2014
Três antigos Presidentes da República Portuguesa participaram ontem na conferência "O 25 de Abril, 40 anos depois", organizada pela SIC Notícias e pelo Expresso e disseram que o 25 de Abril valeu a pena, mas que há ainda muito por fazer para melhorar a democracia em Portugal, porque o desemprego ainda é muito elevado e a elevada pobreza nos envergonha.
Num painel moderado por Pinto Balsemão, ouvi Eanes, ouvi Soares e ouvi Sampaio a elogiarem o desprendimento do poder por parte dos militares que protagonizaram a Revolução dos Cravos, permitindo a instauração do regime democrático em Portugal, bem como a defesa que fizeram do Estado Social. Ouvi Mário Soares a dizer que o 25 de Abril foi “o dia mais feliz da minha vida”, a afirmar que “quem fez o 25 de Abril foram exclusivamente os militares, não foram os civis, nem os partidos políticos” e a solidarizar-se com os capitães de Abril e a recusar o convite para estar na Assembleia da República nas comemorações oficiais da data, embora “nesse dia ande de cravo ao peito”. Ouvi Ramalho Eanes fazer um retrato crítico dos tempos que atravessamos e dizer que o facto de "haver portugueses com fome é uma coisa que nos ofende e que não devíamos permitir", mas também que sem Estado Social, o pluralismo e a tolerância estão em perigo. Ouvi Jorge Sampaio a dizer que o 25 de Abril foi “uma utopia que se realizou”, que acabou com 13 anos de guerra, para além de ser igualmente muito crítico com a situação por que passa o nosso país e dizer que "não é com salários baixos, mas com pessoas qualificadas" que se pode desenvolver o país.
Foram três vozes grandes a afirmar que o 25 de Abril valeu a pena.
Há poucos dias eu tinha ouvido a desbocada e mal penteada Presidente da Assembleia da República num infeliz e deselegante registo dirigido aos militares de Abril, exactamente aqueles que lhe abriram as portas para uma carreira política para a qual, parece, não ter qualidades pessoais; e ouvi, também, o actual inquilino de Belém numa sessão de propaganda a que lamentavelmente se associou, num registo despropositado de bajulação de cunho partidário e de indiferença perante a lamentável situação social e económica por que passa o país, a mostrar que não é o presidente de todos os portugueses. Assim mesmo.
Uns são grandes, outros são muito pequenos.

 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A Ucrânia está à beira do abismo

Na Ucrânia que é o maior país da Europa, uma vez que a Rússia e a Turquia apenas têm uma parte do seu território no continente europeu, o confronto parece inevitável a não ser que a diplomacia consiga ultrapassar as enormes dificuldades que se confrontam no terreno, entre dois modelos, duas culturas e duas concepções de vida distintas.
Depois do acordo de 21 de Fevereiro assinado entre o governo de Viktor Ianukovich e a oposição, sob a mediação de vários países europeus, a situação política continuou a deteriorar-se e a oposição acabou por tomar o poder em Kiev, enquanto o Presidente se exilou. A península da Crimeia e as regiões orientais do país, de população maioritariamente russófona, reagiram e a instabilidade aumentou. A Rússia propôs a criação de uma federação de estados para resolver este imbróglio, mas o governo provisório ucraniano, que tem o apoio americano, rejeitou. Tal como acontecera na Crimeia, as movimentações separatistas pró-russas nas regiões do leste do país acentuaram-se e, apoiadas pela população, as milícias começaram a ocupar quartéis da polícia, câmaras municipais e edifícios públicos. O governo provisório ucraniano reagiu e decidiu-se por uma operação que classificou como antiterrorista, para “resistir à agressão russa” e para evitar a “repetição do cenário da Crimeia”. Em várias cidades já se registaram confrontos violentos, nomeadamente nas grandes metrópoles de Donetsk e Kharkov e, como destaca The Independent, já há sangue derramado na batalha pela Ucrânia. Entretanto, foi estabelecido um prazo para que os rebeldes pró-russos depusessem as armas e desistissem da sua luta, mas esse ultimato foi ignorado. Os rebeldes têm apelado à intervenção da Rússia para proteger a população russófona e para garantir a realização de um referendo de auto-determinação idêntico ao que se realizou na Crimeia, enquanto as autoridades russas parecem ter mobilizado as suas tropas para a fronteira e responsabilizam o Ocidente pelo cenário de pré-guerra civil.
A hipótese da guerra civil parece ser cada vez mais provável, porque as autoridades de Kiev não querem perder qualquer parcela do seu território, enquanto as autoridades russas não abdicam de intervir no país vizinho para proteger a população russófona ucraniana. É, portanto, a altura da diplomacia actuar rapidamente para  evitar situações como a que se verificou na ex-Jugoslávia ou está a acontecer na Síria.

domingo, 13 de abril de 2014

Uma bela homenagem ao 25 de Abril

Os grafitti tiveram grande difusão no espaço público português nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 e foram uma das suas marcas populares mais interessantes do ponto de vista artístico. Embora inicialmente os grafitti resultassem de alguma espontaneidade e até de uma atitude de contravenção, rapidamente se tornaram numa linguagem artística mais apurada e mais protegida, passando a ser considerados como formas de intervenção nos domínios daquilo a que modernamente se chama a arte urbana ou street art.
A propósito das comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril e por iniciativa da  Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), nos últimos dias foi desenhado, na sua parede exterior da Avenida de Berna em Lisboa, um mural com 15 metros de comprimento alusivo àquela data, cuja peça central é o retrato de Salgueiro Maia – o jovem capitão que comandou a coluna militar que de Santarém veio até Lisboa para depor o governo de Marcelo Caetano. O mural utiliza as cores da bandeira portuguesa a destacarem-se no fundo negro e alguns ícones do 25 de Abril como os cravos, as G3 dos soldados e as manifestações populares.
O convite da FCSH foi feito à Galeria Underdogs e o mural foi concebido e pintado por quatro jovens grafitters – Frederico Draw, Gonçalo Ribeiro, Diogo Machado e Miguel Januário. Foi uma bela ideia que nos transporta ao imaginário cultural de um tempo de libertação e de esperança que os mais velhos viveram e que alerta a geração mais jovem, que não viveu o 25 de Abril, para os seus ideais e os seus valores que alguns teimam em querer apagar da nossa História. Quem passar pela Avenida de Berna não vai ficar indiferente a este mural que é uma bela homenagem ao 25 de Abril.

Uma estátua para o grande Barroso. Já!

Ontem foi um dia de consagração para o actual presidente da Comissão Europeia, que nunca ouvira tão  fartos elogios numa conferência intitulada “Portugal: Rumo ao Crescimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço da economia portuguesa”, que decorreu em Lisboa na Fundação Calouste Gulbenkian. Nós estávamos habituados a eventos de grande qualidade nas instalações da Gulbenkian, sobretudo exposições e concertos, mas desta vez aquele espaço foi utilizado para uma sessão de circo, com alguns artistas de nomeada. O espectáculo serviu, simultaneamente, para alimentar a ambição política do Zé Manel – o regresso do cherne – e para uma acção de campanha eleitoral da coligação que nos governa. Barroso auto-elogiou-se, elogiou Coelho e ouviu elogios de Cavaco: “Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o dr. Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento”. Foi uma bajulação impensável. Não merecíamos tal espectáculo de hipocrisia política!
Barroso tem um longo e bem conhecido historial político. Apoiou a invasão do Iraque com base nas armas de destruição que Sadam Hussein não tinha. Virou-nos as costas para ir para o tacho em Bruxelas. Vergou-se aos alemães e calou-se com o seu esvaziamento de poderes na Comissão Europeia. Alinhou na austeridade que está a abalar os países do sul da Europa. Sabia o que se passava no BPN e diz ter avisado Constâncio, mas promoveu o branqueamento das ligações dos seus amigos a esse mesmo banco. Etc.
Barroso anda agora entusiasmado e atarefado a procurar o seu emprego para o futuro. Usou uma entrevista à SIC e ao Expresso para contrariar a imagem do primeiro-ministro que fugiu para Bruxelas e que esteve do lado dos credores e contra os pensionistas portugueses. Agora organizou a tal conferência-espectáculo, onde se comportou como um intransigente defensor de Portugal e dos portugueses.
Barroso merece nada menos que uma estátua! E porque não uma estátua em cada uma das 28 capitais da União Europeia porque, como Cavaco afirmou, “Portugal e os Portugueses, tal como os outros Estados-Membros, muito lhe devem.”
Só nos faltavam estes cromos...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O melhor pastel de nata é... de Alcobaça

O pastel de nata é uma especialidade da doçaria portuguesa que, na sua versão pastel de Belém, foi eleito em 2011 como uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa. A sua fama internacional é inquestionável e constitui mesmo uma verdadeira atracção turística para nacionais e estrangeiros. Um pouco por todo o país, o pastel de nata pode ser encontrado na generalidade das pastelarias e cafés e, mais recentemente, também passou a vender-se em aeroportos e estações de serviço em embalagens apropriadas.
A partir de 2009 a Confraria do Pastel de Nata tomou a iniciativa de promover a eleição d“O Melhor Pastel de Nata”, através de um concurso que tem sido integrado no Festival “Peixe em Lisboa”. Este ano apresentaram-se ao concurso duas dezenas de pastelarias, o que obrigou a uma pré-selecção que escolheu 12 finalistas, onde se incluiam a Pastelaria Aloma (que venceu o concurso em 2012 e 2013) e a Pastelaria Chique de Belém (vencedora em 2011). Porém, o melhor pastel de nata que este ano foi apreciado pelo júri veio de Alcobaça. A Pastelaria Alcoa, depois de ter conquistado um segundo prémio e dois terceiros lugares em anteriores concursos, conseguiu alcançar o primeiro lugar no concurso de 2014. O segundo e terceiro lugares foram atribuidos a duas pastelarias de Lisboa, estreantes na competição, respectivamente a Biarritz e a Balcão do Marquês.
Agora, para quem viaje pela região Oeste e passe por Alcobaça, pode saborear o melhor pastel de nata de Portugal, ali mesmo em frente do Mosteiro de Alcobaça.