Ao contrário do que o Coelho e o Portas têm dito, não será a 17 de Maio,
nem em Junho, nem em qualquer data que caia no meu horizonte de vida, que
recuperaremos a nossa soberania, porque os credores internacionais virão a
Portugal duas vezes por ano até 2038. Foi isto que eles decidiram e foi isto que os
nossos dirigentes aceitaram. Estamos em estado de choque com esta
notícia e com esta humilhante submissão que ofende a dignidade de um povo que
“deu novos mundos ao mundo” e tem nove séculos de história. Não há memória de
uma coisa destas. É uma vergonha, a fazer lembrar o ultimato inglês de 1891, mas aí tivemos a reacção “dos heróis do mar” e da “nação valente e imortal”, com o povo a cantar “A Portuguesa”.
Afinal, quem são os garantes da independência nacional que
aceitam esta humilhação? Quem é que nos prometeu uma coisa antes das eleições e
depois fez outra? Quem é que nos tem mentido sistematicamente, sem vergonha e
sem pudor? Quem é que olha para tudo isto sem nada dizer e nem nada fazer? Quem
é que instalou um relógio na sede do seu partido a assinalar o tempo que
faltava para a saída da troika? Quem é que disse que estávamos a viver um
milagre económico? Quem é que disse que tudo se resolvia com o afastamento de
Sócrates e o corte das gorduras do Estado? Quem é que responde pelo nosso empobrecimento e pelo aumento da dívida? Quem é que disse que as nossas exportações
eram o porta-aviões da nossa recuperação económica? Afinal, quem são os Miguel
de Vasconcelos da nossa história recente?
Está feita a vontade do Coelho, expressa numa entrevista dada ao
semanário Expresso em 27/11/2010,
quando disse estar pronto para governar com o FMI. A sua vontade está a
concretizar-se. Interrogado sobre o que aí vem e para fugir à questão, procurou
o humor: “não se deve esfolar um coelho
antes de o caçar e eu que estou aqui e sou coelho, não gostaria de ser
caçado”. Então, para que nos libertemos do FMI e para que recuperemos o orgulho
e a dignidade nacionais, cacemos e esfolemos os coelhos. A bem da nação!
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