segunda-feira, 22 de maio de 2023

Sonhos independentistas em solo europeu

A Europa é, por razões históricas, um aglomerado de povos, de culturas e de línguas, agrupando-se em cinco dezenas de países das mais diversas dimensões, em que o maior é a Rússia e o menor é o Vaticano. Dessa diversidade geográfica e cultural resultaram rivalidades, confrontações e guerras, passando a ter sentido a expressão “Europa das Pátrias”. A partir de 1957, quando o Tratado de Roma começou a criar um movimento de unidade em torno do chamado ideal europeu e criou a Comunidade Económica Europeia como espaço de paz, de solidariedade e de progresso, algumas vozes contrariaram essa ideia com o argumento que não era possível unir aquilo que a história tinha dividido. A expressão “Europa das Pátrias” popularizou-se, sobretudo pelas posturas nacionalistas do general De Gaulle, embora os europeus se tivessem tornado cada vez mais adeptos de uma Europa unida e solidária, como revelaram as continuadas sondagens do Eurostat. Por isso, a ideia de “Europa das Pátrias” depressa evoluiu e deu origem à “Europa das regiões”, sobretudo depois que o Tratado de Maastricht instituiu o Comité das Regiões, de carácter consultivo, em que têm assento os representantes das colectividades regionais e locais. As regiões têm sido cada vez mais valorizadas no quadro institucional europeu e o maior exemplo dessa realidade é o crescente protagonismo das regiões transfronteiriças.
No entanto, as reivindicações independentistas proliferam no espaço europeu, como mostram os exemplos da Checoslováquia e da Jugoslávia, mas também as reivindicações que, com maior ou menor expressão, se verificam em regiões ou países como a Catalunha, País Basco, Navarra, Córsega, Bretanha, Flandres, Chipre, Padânia, Piemonte, Escócia, Irlanda do Norte, Donetsk e Lugansk, entre outras. Menos conhecida é a reivindicação do País de Gales, um país do sudoeste da Grã-Bretanha, com 20 mil quilómetros quadrados de superfície e cerca de três milhões de habitantes, que o jornal Wales on Sunday, a edição dominical do diário galês Western Mail,  publicitou com o título “marching for independence”, referindo que "thousands unite for Wales to stand alone". 
Afinal o Reino Unido até parece caminhar para a desunião…

domingo, 21 de maio de 2023

Os belos festivais marítimos da Bretanha

A tradição marítima e a prática da navegação têm poucos lugares no mundo onde despertem tanto entusiasmo como na Bretanha, uma região administrativa do oeste da França com uma extensa costa atlântica, sendo inúmeros os festivais náuticos e as grandes regatas que se realizam naquela região. O golfo de Morbihan, nas proximidades da comuna de Vannes e a cerca de cinquenta quilómetros de Lorient e de Sainte-Nazaire, é uma área de belas paisagens marítimas, salpicada de ilhas, de ilhotes e de pequenas reentrâncias, além de cerca de duas dezenas de pequenos portos de pesca ou de recreio. É neste golfo que, nos anos ímpares, acontece a Semaine du Golfe – Morbihan, em que muitas centenas de embarcações históricas provenientes de todos os cantos da Europa, se encontram e confraternizam durante uma semana de festa, sobretudo embarcações históricas de vela e de remo e, em especial, alguns grandes e médios veleiros. É uma grande manifestação cultural e é uma grande festa popular!
Este ano o festival no golfo de Morbihan iniciou-se no dia 15 de Maio e ontem realizou-se o imponente desfile náutico, iniciado a partir do farol de Port-Navalo na entrada do golfo, o que constituiu um grande espectáculo marítimo, com as muitas centenas de embarcações vistosamente embandeiradas a fazer a entrada do golfo e a desfilar nos seus canais. Depois de uma interrupção de quatro anos devido à epidemia do covid-19, a Semaine du Golfe regressou e conforme relata hoje a edição do jornal Le Télégramme que se publica em Brest, que dedicou uma bela fotografia ao acontecimento na sua primeira página, o golfo de Morbihan reencontrou-se com uma das suas mais interessantes vocações: a preservação da cultura marítima.

A integração portuguesa no Luxemburgo

O Grão-Ducado do Luxemburgo é um pequeno país da Europa Ocidental, encravado entre a Bélgica, a Alemanha e a França, com uma superfície de 2.586 quilómetros quadrados e cerca de 650 mil habitantes. É um país muito desenvolvido, com uma economia avançada e o seu PIB per capita é um dos mais elevados do mundo.
A prosperidade luxemburguesa está muito relacionada com a imigração, uma vez que cerca de 47% da sua população não tem a nacionalidade luxemburguesa e, nesse grupo, destacam-se cerca de cem mil portugueses que constituem mais de 15 por cento da população. Os portugueses constituem a maior comunidade estrangeira do Luxemburgo e, num país, em que a língua oficial é o luxemburguês e que as línguas administrativas são o francês e o alemão, acontece que o português é uma das mais importantes línguas do país, sendo falado por cerca de 20 por cento da sua população. Quando em 2017, o primeiro-ministro luxemburguês Xavier Bettel visitou o Parlamento Europeu, afirmou que “o Luxemburgo não seria o que é hoje sem a comunidade portuguesa”, pois ela muito “ajudou a construir o meu país”.
O enquadramento social e cultural dos imigrantes tem sido uma responsabilidade do Conselho Nacional de Estrangeiros que vai ser extinto e que, dentro de alguns meses, será substituído pelo Conselho Superior para a Convivência Intercultural.
Segundo revela a edição deste fim-de-semana do jornal Luxemburger Wort, a comunidade portuguesa tem-se movimentado para garantir o direito à sua integração no país que adoptou, mas sem que perca a sua identidade nacional. Para ilustrar essa notícia, o jornal publica em primeira página uma fotografia de arquivo de uma procissão, em que se destacam as bandeiras de Portugal e do Luxemburgo e escreve: lado a lado ou juntos?

sábado, 20 de maio de 2023

A reinterpretação da tragédia do Titanic

No dia 10 de Abril de 1912, o maior transatlântico que até então fora construído, largou do porto inglês de Southampton com destino a Nova Iorque, na sua viagem inaugural, mas na noite do dia 14 para o dia 15 de Abril colidiu com um iceberg, afundando-se em menos de três horas. Dos 2.223 tripulantes e passageiros apenas houve 706 sobreviventes, o que significa que 1.517 pessoas perderam a vida nas águas geladas do Atlântico Norte. O navio chamava-se Titanic e, desde então, a sua perda passou a ser considerada como o mais famoso naufrágio do mundo e tornou-se o objecto de muitas histórias e muitas lendas.
O navio, ou o que dele resta, foi descoberto em 1985 no fundo do mar, a cerca de quatro mil metros de profundidade, numa posição a cerca de 650 quilómetros da costa canadiana. Desde então, a aventura e a tragédia do Titanic renasceram, sobretudo na literatura e no cinema, mas também despertaram o interesse da arqueologia marítima, daí resultando várias expedições interessadas no estudo daquele famoso naufrágio. As novas tecnologias foram postas ao serviço de muitos projectos, com destaque para aquele que foi conduzido no Verão de 2022 pela empresa de cartografia marítima Magellan, em associação com a Atlantic Produtions. Então, num trabalho realizado por dois ROV (Remotely Operated Vehicle), que são controlados remotamente, após cerca de duzentas horas de operação foram obtidas mais de 700 mil fotografias e, a partir delas, foi feita a reconstrução digital de todo o navio em 3D, o que permite visualizar todo o conjunto como se a água tivesse sido drenada. Assim, é possível reinterpretar ou saber melhor o que de facto aconteceu naquela noite em que naufragou o Titanic.
Alguns jornais, como por exemplo o The Dallas Morning News, publicaram com grande destaque algumas fotografias digitais do navio, porque a lenda do Titanic continua viva um pouco por todo o mundo.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Canadá: alterações climáticas e incêndios

A problemática das alterações climáticas está cada vez mais presente nas nossas vidas e, mesmo os não especialistas, já assumiram a gravidade da situação. Ontem registamos as inundações na Emilia-Romana, hoje destacamos os incêndios florestais na província canadiana de Alberta, que tem a sua capital na cidade de Edmonton e uma população de mais de quatro milhões de habitantes. As elevadas temperaturas que têm afectado o oeste do Canadá anteciparam a época dos incêndios e a população está a ser afectada por inúmeros megaincêndios florestais, que desde o início do mês assolam quatro províncias canadianas, designadamente Alberta, Colúmbia Britânica, Saskatchewan e Manitoba, onde cerca de quatro dezenas de milhar de moradores foram obrigados a abandonar as suas casas. Tem havido muitos protestos da população contra a impreparação das autoridades para enfrentar a situação, ou até a sua passividade perante os poderosos interesses da indústria do petróleo, mas ontem “tinham chegado finalmente os bombeiros do Quebec e Ontario”.
Embora o Canadá esteja na vanguarda na questão das alterações climáticas, trata-se do quarto maior produtor de petróleo do mundo, de que cerca de 80% é explorado exactamente na província de Alberta. Os incêndios têm afectado a população, mas também os produtores de petróleo e gás natural, tendo muitas explorações interrompido as suas operações como medida de precaução.
Dadas as relações históricas entre o Canadá e a França, o jornal francês Libération decidiu enviar uma equipa de reportagem para Alberta onde estão activos 110 incêndios dos quais 37 são considerados fora de controlo. Na sua edição de hoje, o jornal desvalorizou todo o noticiário internacional e dedicou toda a sua primeira página ao drama do Canadá, onde se cruzam alterações climáticas, incêndios florestais e... os interesses da indústria do petróleo,

quinta-feira, 18 de maio de 2023

As alterações climáticas afectam a Itália

A região da Emilia-Romana, situada a norte de Itália, cuja capital é Bolonha e que é conhecida pelas suas belas cidades medievais, foi ontem afectada por grandes chuvadas e muitas inundações, que alagaram as cidades e provocaram dezenas de desaparecidos e milhares de desalojados. Segundo refere a imprensa italiana foram as piores cheias registadas no país nos últimos cem anos e, até ao momento, estão registadas 14 mortes.
Em 36 horas registou-se a mesma precipitação dos seis meses anteriores, os rios transbordaram e houve inundações sérias em mais de duas dezenas de municípios, havendo até um caso em que foi declarado o estado de emergência. As imagens transmitidas pelas televisões são impressionantes e mostram as ruas inundadas, bem como o trabalho dos bombeiros e dos voluntários envolvidos em centenas de operações de resgate por toda a região. Alguns milhares de pessoas que procuraram refúgio em telhados e terraços, foram retiradas com recurso a helicópteros ou botes de borracha.
O Grande Prémio de Itália de Formula 1 que estava previsto para realizar-se no próximo fim-de-semana foi cancelado e, segundo as autoridades, mais de cinquenta mil pessoas ficaram sem energia eléctrica.
Este é mais um fenómeno extremo que, com toda a probabilidade, está associado às alterações climáticas que se estão a verificar no nosso planeta e para as quais ainda há muita ignorância e egoísmo por parte das autoridades nacionais. A imagem publicada na primeira página da edição de hoje do jornal La Repubblica vale mais do que mil palavras...

terça-feira, 16 de maio de 2023

O triunfante périplo europeu de Zelensky

Volodymyr Zelensky acaba de concretizar uma notável vitória política ao realizar um périplo europeu em que visitou o Papa Francisco e os principais líderes europeus, mas em que também recebeu o prestigiado Prémio Internacional Carlos Magno, na cidade alemã de Aachen.
Esse périplo começou em Roma com Giorgia Meloni, continuou em Berlim com Olaf Scholz, prosseguiu em Paris com Emmanuel Macron e terminou em Chequers, na residência de campo do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak. Nunca houvera uma ofensiva diplomática ucraniana tão expressiva como esta e a imprensa deu-lhe a devida cobertura, sobretudo no Reino Unido, onde a fotografia do abraço entre Sunak e Zelensky apareceu em todos os jornais de referência.
De acordo com as declarações que foram conhecidas, Zelensky pediu mais apoio em armamento e recebeu a confirmação da solidariedade dos líderes europeus, bem como a promessa de mais fornecimentos de armas e, eventualmente, de aviões de combate. A Alemanha já tinha anunciado uma ajuda militar de 2,7 mil milhões de euros, a França prometeu fornecer tanques AMX-10RC e o Reino Unido avançou com o fornecimento de centenas de drones de ataque. Porém, pouco se sabe quanto ao eventual fornecimento de aviões de ataque que terá sido o principal pedido de Zelensky. Segundo o jornal The Guardian foram manifestadas em Londres algumas preocupações pelo fornecimento de “equipamentos militares cada vez mais letais”, tendo sido dito que em vez de "escalar o conflito fornecendo armas cada vez mais letais, o Reino Unido deveria estar pedindo negociações para acabar com a guerra".
Não se sabe tudo o que foi discutido nos diversos encontros de Zelensky com os líderes europeus mas, para além dos abraços de solidariedade e da promessa de continuação do apoio militar, certamente, também se falou sobre a forma de acabar com a guerra, conforme muita gente vai pedindo.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Adiada a decisão eleitoral na Turquia

A Turquia surpreendeu o mundo com as eleições presidenciais e parlamentares que ontem se realizaram, quer pela normalidade com que decorreram, quer pela participação de mais de 64 milhões de eleitores, correspondentes a 86,99 por cento do eleitorado.
Segundo anuncia a edição de hoje do diário Daily Sabah, o actual presidente Recep Tayyip Erdoğan obteve 49,5 por cento dos votos (27.088.360) e o seu rival social-democrata Kemal Kılıçdaroğlu conseguiu 44,89 por cento dos votos (24.568.196). Como nenhum dos candidatos obteve 50 por cento dos votos, haverá uma segunda volta que se realizará no dia 28 de Maio, o que acentuará a enorme polarização que já existe entre o candidato da continuidade e o candidato da renovação. Alguns analistas têm exagerado e têm designado esta eleição como “a eleição do século”, pois ela pode determinar uma nova geopolítica regional, com novas alianças no plano internacional, novas atitudes face à vizinha Síria e ao seu conflito e, sobretudo, mudanças em relação ao Curdistão, ao PKK e à guerra que decorre nas margens do mar Negro.
Relativamente às eleições parlamentares turcas, ainda não são conhecidos os resultados finais, mas tem sido avançada a vitória do AKP e de Erdoğan. O AKP - Partido da Justiça e do Desenvolvimento (conservador e islamista) do presidente Erdoğan e os seus aliados terão obtido 50 por cento dos votos e 325 dos 600 assentos parlamentares, enquanto o CHP – Partido Republicano do Povo (centro-esquerda e laico) de Kemal Kılıçdaroğlu e a aliança de partidos que o apoia, terão conseguido 34 por cento dos votos e 215 mandatos. O HDP - Partido Democrático dos Povos (esquerdista e pró-curdo) e os seus aliados terão assegurado 60 deputados.
Na Turquia, vamos ver o que aí vem, ou como diriam os franceses, on vera!

domingo, 14 de maio de 2023

A guerra na Ucrânia e a mediação do Papa

Volodymyr Zelensky deslocou-se a Roma e encontrou-se com o presidente Sergio Mattarella e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, mas foi o encontro com o Papa Francisco que tornou importante esta deslocação a Itália do presidente da Ucrânia. 
Segundo relata a imprensa italiana, o Papa começou por dizer “obrigado pela visita”, ao que o presidente ucraniano respondeu “é uma honra estar aqui”, mas pouco se sabe sobre o que foi conversado durante a reunião que durou cerca de 40 minutos. Uma breve declaração depois divulgada, explica que ambos discutiram a “situação humanitária e política causada pela guerra na Ucrânia” e que “ambos concordaram sobre a necessidade de continuar os esforços humanitários em apoio à população”. Porém, não houve quaisquer referências à cessação das hostilidades ou à abertura de pontes entre as partes para um diálogo que conduza à paz. O Papa mantém a sua posição de procura do diálogo entre as partes e já afirmou várias vezes que está pronto para ir a Kiev, se também puder ir a Moscovo. Pelo seu lado, Zelensky pediu ao Papa “para condenar os crimes russos na Ucrânia, porque não pode haver igualdade entre a vítima e o agressor” e afirmou que o seu país não precisa de mediadores, o que significa a sua rejeição dos esforços da Santa Sé e a sua repetida exigência da prévia retirada russa dos territórios ocupados, como condição para quaisquer negociações.
Entretanto, são contraditórias as notícias que nos chegam do terreno, pois tantos os ucranianos como os russos reivindicam avanços em Bakhmut, que se tornou o centro da guerra, mas o que é mais relevante é que a população ucraniana continua a sofrer.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Timor-Leste, a ASEAN e o Sudeste Asiático

A Associação das Nações do Sudeste Asiático, ou ASEAN, é uma organização de carácter regional criada em 1967 com o objectivo de promover a cooperação económica e de segurança entre os seus dez membros: Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnam. No seu conjunto, os países da ASEAN têm cerca de 662 milhões de pessoas e, por isso, a organização tem tido um papel importante na integração económica asiática, inspirando-se no modelo adoptado pela União Europeia.
Entre os dias 9 e 11 de Maio, a ASEAN realizou a sua 42ª Cimeira na estância indonésia de Labuan Bajo, situada no extremo oeste da ilha das Flores, na província de Nusa Tenggara Timur, com a curiosidade desta ilha ter sido uma “possessão portuguesa” até 1856, data em que foi vendida aos holandeses por 200 mil florins…
O anfitrião foi o presidente da Indonésia Joko “Jokowi” Widodo, que defendeu a união entre os membros da organização para que a região seja pacífica, estável e próspera, mas também para se afirmar como uma voz a ser escutada numa região muito sensível e muito disputada. Por razões relacionadas com o golpe militar e a crise institucional por que o país passa desde então, o Myanmar não participou na Cimeira, mas em contrapartida esteve presente Timor-Leste, o jovem país do sol nascente ou lorosae.
Timor-Leste solicitou oficialmente a adesão à ASEAN em 2011 e em 2022 foi admitido, em princípio, como o 11º membro da organização. Nesse sentido, uma delegação timorense que incluía o primeiro-ministro Taur Matan Ruak e a ministra dos Negócios Estrangeiros Adaljiza Xavier Magno, deslocou-se a Labuan Bajo num Airbus 320 da companhia timorense Aero Dili para participar na 42ª Cimeira da ASEAN. Segundo o relato do jornal The Jakarta Post os governantes de Timor-Leste tiveram a oportunidade de manter encontros bilaterais com os seus homónimos da ASEAN, potenciando o aprofundamento das relações de cooperação bilateral e multilateral.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Um bom exemplo vindo da Extremadura

No próximo dia 28 de Maio vão realizar-se eleições autárquicas e regionais em doze das dezassete comunidade autónomas espanholas: Aragão, Astúrias, Baleares, Canárias, Cantábria, Castilla-La-Mancha, Comunidade Valenciana, Extremadura, La Rioja, Madrid, Múrcia e Navarra, assim como nas cidades autónomas de Ceuta e Melilla. Com estas eleições autárquicas e regionais completa-se o ciclo eleitoral local e regional espanhol, uma vez que essas eleições já foram realizadas nas outras cinco comunidades autónomas.
Esperam-se grandes lutas eleitorais e as sondagens apontam para uma quebra eleitoral ou mesmo a perda de alguns dos nove governos dominados pelos socialistas do PSOE, sozinhos ou em coligação. Um desses casos acontece com a comunidade autónoma da Extremadura, que inclui as províncias de Cáceres e de Badajoz e que corresponde a grande parte do território da antiga província romana da Lusitânia. Apesar de todas as diferenças ideológicas e das rivalidades que separam as várias candidaturas, o jornal el Periódico de Extremadura, que se publica em Cáceres, conseguiu reunir os candidatos cabeças-de-lista das quatro principais cidades estremenhas que aspiram ser eleitos alcaldes de Cáceres, Badajoz, Plasencia e Mérida. São dez candidatos por Cáceres e por Badajoz, mais oito candidatos por Plasencia e por Mérida, isto é, são 36 homens e mulheres candidatos a alcalde, que se deixaram fotografar conjuntamente e que, por alguns momentos, proporcionaram uma feliz imagem do que é a Democracia – igualdade, liberdade, diversidade.
Estes cidadãos irão concentrar-se na defesa das suas ideias e procurar o voto dos eleitores, provavelmente sem recorrer a ataques pessoais, como por aqui acontece tantas vezes. 
Uma excelente e muito pedagógica iniciativa do jornal de Cáceres!

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Há nuvens cinzentas nos céus da Turquia

No próximo domingo a Turquia vai realizar as eleições presidenciais e as eleições parlamentares, mas os dois principais candidatos presidenciais que são Recep Tayyip Erdoğan e Kemal Kılıçdaroğlu, estão muito próximos nas sondagens, pelo que a incerteza quanto ao resultado é a única certeza.
As eleições turcas são muito importantes, porque a Turquia é um país cuja superfície é o dobro da Alemanha e tem cerca de 75 milhões de habitantes, tendo uma parte do seu território na Europa (3,3%) e outra parte na Ásia (96,7%). O país pertence à NATO desde 1952, é candidato à União Europeia e tem desempenhado um papel muito activo no actual conflito da Ucrânia, mantendo contacto com os dois lados.
O actual presidente Recep Tayyip Erdoğan foi eleito em 2014 e, após um referendo constitucional realizado em 2017, o regime turco tornou-se presidencialista e Erdoğan teve os seus poderes alargados, pois também passou a chefiar o governo. Em 2018 foi reeleito para o actual mandato, pelo que a oposição contestou que pudesse concorrer a um terceiro mandato nas actuais eleições, uma vez que a Constituição turca só aceita dois mandatos presidenciais. O Conselho Superior Eleitoral rejeitou os protestos da oposição e aceitou a candidatura de Erdoğan, considerando que o presidencialismo turco se iniciou em 2018.
A poucos dias das eleições a incerteza é completa. A revista francesa Le Point, destacava que a Turquia pode estar perante “l’autre Poutine”, dadas as semelhanças políticas entre ambos, enquanto a mais recente edição da revista L’Express aborda a questão turca e lembra “le risque du chaos”, como aconteceu com algumas turbulências que se seguiram às primaveras árabes que afectaram a região. O facto é que tanto Recep Tayyip Erdoğan como Kemal Kılıçdaroğlu representam o sonho turco de afirmar o país como a potência regional. Porém, há uma dúvida que apoquenta muita gente: se perder, será que Erdoğan abandona o seu cargo pacificamente? E será que a oposição turca aceita a derrota se Kılıçdaroğlu perder?
Há realmente nuvens cinzentas nos céus da Turquia.

terça-feira, 9 de maio de 2023

António Guterres com o Prémio Carlos V

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, receberá esta manhã o Prémio Europeu Carlos V no Mosteiro de San Jerónimo de Yuste, numa cerimónia presidida pelo rei Filipe VI e a que assistirão o presidente e o primeiro-ministro de Portugal. O prémio foi-lhe atribuído pela Fundação Academia Europeia e Ibero-americana de Yuste que, desde 1995, homenageia o trabalho de pessoas, organizações, projectos ou iniciativas que, com o seu esforço e dedicação, tenham contribuído para o conhecimento geral e valorização dos aspectos culturais, sociais, científicos e dos dados históricos na Europa, bem como do processo de construção e integração europeia, representando o espírito de construção de uma Europa unida, justa, igualitária e livre.
O prémio atribuído a António Guterres fundamenta-se na "su acreditada, amplia y larga trayectoria de vida dedicada al compromiso social, el proceso de construcción europea, la promoción del multilateralismo y la dignidad humana como núcleo de su trabajo, abordando retos y crisis globales".Hoje o jornal El País destaca a entrega deste prestigioso prémio a António Guterres e publica uma entrevista na qual reconhece as dificuldades para se encontrar a paz na Ucrânia e a ameaça que as alterações climáticas representam para a humanidade.
Até agora, os galardoados com o Prémio Carlos V foram os seguintes: Jacques Delors (1995); Wilfried Martens (1998); Felipe González (2000); Mijaíl Gorbachov (2002); Jorge Sampaio (2004); Helmut Kohl (2006); Simone Veil (2008); Javier Solana (2011); José Manuel Durão Barroso (2014); Sofia Corradi (2016); Marcelino Oreja Aguirre (2017); Antonio Tajani (2018); o projecto “Itinerários Culturais do Conselho da Europa” (2019), Angela Merkel (2021) e o Foro Europeu da Deficiência (2022), o que significa que três portugueses já receberam o Prémio Carlos V. Aqui fica o meu aplauso para António Guterres!

segunda-feira, 8 de maio de 2023

A salvaguarda do património de Macau

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) adoptou em 1972 a Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural, com o objectivo de proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excepcional. Porém, só em 1980 é que Portugal ratificou aquela convenção e, desde então, teve 17 sítios classificados que passaram a integrar a Lista do Património Mundial.
Actualmente a Unesco tem 1157 sítios do património material classificados, sendo 900 culturais, 218 naturais e 39 misturados, os quais se localizam em 167 países.
No ano de 2005 a Unesco classificou o Centro Histórico de Macau que passou a integrar a Lista do Património Mundial, pois “oferece um testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”, destacando-se “as suas ruas históricas, edifícios residenciais, religiosos e públicos portugueses e chineses”, mas também uma fortaleza e um farol, que é o mais antigo da China.
Entretanto, o crescimento da volumetria do espaço urbano macaense e a ganância de alguns construtores macaenses, tornaram-se uma ameaça em relação aos princípios que norteiam as classificações da Unesco. Daí que, devido às pressões da organização sobre as autoridades locais, uma equipa de investigadores veio propor a redução da altura dos edifícios na área envolvente do farol da Guia, bem como a criação de sete “corredores visuais” para garantir que a integridade do farol fosse protegida. Hoje, o jornal Tribuna de Macau, mas também outros jornais macaenses destacaram esta notícia e publicaram a fotografia do farol da Guia, construído pelos portugueses em 1870.

domingo, 7 de maio de 2023

God save the King Charles III

A edição dominical do The Daily Telegraph, um tablóide publicado em Sydney pela News Corporation de Rupert Murdoch, é apenas um dos muitos jornais que hoje destacam a coroação de Carlos III como o novo rei do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o novo chefe da Commonwealth, uma organização intergovernamental de 56 países, entre os quais há quinze, designadamente o Canadá e a Austrália, que o reconhecem como Chefe de Estado.
Charles Philip Arthur George, agora Carlos III, tem 74 anos de idade e sucede à rainha Isabel II, a sua mãe, que reinou durante mais de setenta anos e que, com 96 anos de idade, faleceu no passado dia 8 de setembro de 2022. Depois do prestígio da rainha Isabel II e da turbulência que o mundo atravessa, bem como a instabilidade política e social que perturba o Reino Unido, é enorme o desafio de Carlos III, até porque no número 10 de Downing Street não estarão figuras como Winston Churchill ou Margareth Thatcher.
A Monarquia é uma instituição de fortes raízes na sociedade britânica, embora haja alguns sectores minoritários que defendem que é tempo de promover a sua abolição. Depois do longo reinado de Isabel II, houve dúvidas sobre o futuro do sistema monárquico britânico, devido a alguns escândalos que têm envolvido a Família Real, mas a imponência do cerimonial da coroação de Carlos III e da rainha com sorte que tem 75 anos de idade e que antes se chamou Camila Parker Bowles, devem ter restituído uma boa parte do orgulho britânico em relação à sua Monarquia, o mesmo se verificando em vários países da Commonwealth.
Os britânicos é que sabem como querem organizar-se, isto é, se preferem o modo monárquico ou o modo republicano mas, a esta distância e esquecendo algumas malfeitorias que “os nossos velhos aliados nos fizeram”, associamo-nos à festa da Casa de Windsor e também dizemos: God save de King!