quinta-feira, 26 de junho de 2025

Y Viva España!

Na Cimeira da NATO que esta semana aconteceu nos Países Baixos estiveram presentes 32 cordeiros mansos e obedientes às ordens do homem que, apesar de todo o seu cadastro político, foi escolhido pelos americanos para dirigir o país e que é o fanfarrão Donald John Trump. Entre os cordeiros, estiveram Keir Starmer e Emmanuel Macron, Friedrich Merz e Recep Tayyip Erdoğan, Viktor Órban e Giorgia Meloni, mas também os primeiros-ministros do Canadá e da Dinamarca, países cuja soberania tanto tem sido ameaçada pelo dono da Trump Tower de Nova Iorque. As diferentes famílias políticas que governam a Europa, como os social-democratas, os socialistas, os democratas cristãos e outros, não revelaram quaisquer discordâncias com os diktats de Trump e aceitaram aumentar as suas despesas militares, como se os problemas principais dos seus países fossem a ameaça russa.
A Cimeira foi conduzida por uma aberração bajulatória chamada Mark Rutte, que provavelmente trabalha para o Donald, a quem publicamente chamou daddy, tendo os países presentes aceitado investir 5% do seu PIB em Defesa até 2035. Apenas Pedro Sánchez mostrou dignidade e realismo, talvez porque tenha conhecimentos de economia e saiba que as sociedades actuais não estão dispostas a alterar significativamente as suas escolhas entre “canhões ou manteiga”. Porém, a posição de Sánchez foi hostilizada por Trump que de imediato ameaçou a Espanha, como hoje revela o El País e toda a imprensa espanhola.
A Cimeira da NATO foi uma falácia que não teve outro objectivo para além de empurrar os países europeus para “gastar em grande” na compra de material de guerra americano que, muitas vezes, já é obsoleto quando chega ao seu destino. No entanto, também serviu para mostrar que nem todos são cordeiros e, parafraseando a famosa canção de Manolo Escobar, há que dizer: Y Viva España!

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Mark Rutte é a vergonha maior da Europa

Realizou-se na cidade holandesa da Haia mais uma Cimeira da NATO, uma aliança militar intergovernamental de que Portugal é membro fundador e em que os seus membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque desencadeado por uma qualquer entidade externa. Criada em 1949 por 12 países na sequência da 2ª Guerra Mundial e da ameaça soviética de expansão para oeste, a organização tem actualmente 32 países, mas a presença de António Costa, Ursula van der Leyen e Volodomyr Zelensky, que nada têm a ver com a NATO, mostra que a organização já não serve os seus fins estatuários defensivos, mas que se afirma cada vez mais como um vector da política externa americana e do nervosismo Leste-Oeste.
Donald Trump veio dos Estados Unidos qual imperador de regresso vitorioso a Roma e, a bordo do Air Force One, recebeu uma mensagem enviada por Mark Rutte, o secretário-geral da NATO, que o felicitava “pela sua acção decisiva no Irão, que foi verdadeiramente extraordinária e algo que mais ninguém se atreveu a fazer”. Depois referiu-lhe que “está a viajar para mais um grande sucesso em Haia esta noite”, em que os estados membros se iriam comprometer a gastar 5% do PIB em investimentos em defesa, escrevendo “não foi fácil, mas conseguimos convencê-los todos a comprometer-se com os 5%”. A mensagem continua: “Donald, levou-nos para um momento muito, muito importante para a América, a Europa e o mundo. Vai alcançar algo que mais nenhum Presidente americano conseguiu fazer em décadas. A Europa vai pagar em grande, como deve, e vai ser uma vitória sua”. Por isto, começa a ser evidente que as guerras interessam à indústria da defesa e que os americanos querem vender armamento “para a Europa pagar”, ou que a NATO é uma associação de aquisição de bens de defesa no grande supermercado americano. 
Mark Rutte revelou-se um servo de Donald Trump e dos Estados Unidos, um indivíduo sem pudor, um lambe-botas de baixo nível e um indigno representante da NATO mas, que se saiba, nenhum dos seus 32 países o criticou por se ter bajulado e humilhado face à vaidade de Trump, por elogiar o bombardeamento do Irão e por não se ter referido nem criticado a brutalidade israelita sobre Gaza, nem o genocida Benjamin Netanyahu.
Mark Rutte é a vergonha maior da Europa!

segunda-feira, 23 de junho de 2025

O desporto que brilha não é só o futebol

Em finais do século XIX o cidadão francês Pierre de Coubertin criou o movimento olímpico e inspirou os Jogos Olímpicos Modernos, não apenas como uma forma de promoção do exercício físico como instrumento da educação integral dos indivíduos, mas também para a promoção da paz e da união entre as nações.
Numa altura que há várias guerras a perturbar o mundo, em que escasseiam os dirigentes capazes, em que caem bombas em Kiev, em Gaza, em Teerão e em Telavive, com toda a gente a viver tempos de incerteza, o sossego dos homens ainda pode ser encontrado no desporto.
Um exemplo disso aconteceu ontem em Portugal com as prestações internacionais de alguns atletas portugueses que muitas alegrias nos deram e que tanto nos ajudam a suportar a desinformação televisiva que nos entra em casa sobre o que acontece no mundo, que é frequentemente manipulada, sectária e mentirosa.
Ontem o ciclista João Almeida venceu com enorme brilhantismo a Volta à Suíça e todos pudemos ver a sua prova em directo pela televisão. Nos Campeonatos da Europa de Canoagem disputados na Chéquia, também os canoístas portugueses se destacaram ao conquistarem 4 medalhas de ouro e uma de prata, com destaque para o olímpico Fernando Pimenta que se sagrou campeão europeu nas provas de K1 1000 (pela 4ª vez) e de K1 5000 (pela 2ª vez).
Na sua edição de hoje, o jornal A Bola destacou o “Domingo de Ouro” de João Almeida e de Fernando Pimenta. Por um dia, o jornal esqueceu a futebolite aguda de que tanto sofre e, em primeira página, não nos serviu o Gyokeres, o Kokçu, o Otamendi ou o Pavlidis, nem as tricas à volta de Rui Costa ou de André Villas-Boas.
Viva o João Almeida, o Fernando Pimenta e os atletas brilham na Europa e de que tanto nos orgulhamos! 

domingo, 22 de junho de 2025

O mundo inseguro de Donald & Benjamin

Diz a edição de hoje do Daily News que os Estados Unidos bombardearam o Irão e se juntaram a Israel, dando ao histórico conflito do Médio Oriente uma nova e muito perigosa dimensão.
Solenemente, a partir da Casa Branca, ele tinha dito na 5ª feira que adiaria a ordem de um ataque ao Irão por até duas semanas para ver se uma resolução diplomática seria possível. Na 6ª feira, ele disse que poderia decidir se os Estados Unidos interviriam directamente na guerra contra o Irão antes de expirar o prazo de duas semanas, enquanto desvalorizava os esforços diplomáticos europeus. No sábado, ele mandou avançar os bombardeiros B-2 Spirit com as suas bombas GBU-57 Bunker Buster de 13 toneladas e, a partir de meios navais, mandou disparar 30 mísseis de cruzeiro Tomahawk sobre alvos iranianos. Ele não é homem de palavra! Ele é um perigo para o nosso planeta! 
Depois, com uma enorme fanfarronice, felicitou “os grandes patriotas americanos que pilotaram aquelas magníficas máquinas esta noite, e todos os militares dos Estados Unidos por uma operação como o mundo não via há muitas e muitas décadas”. Desta forma, ele faltou às promessas eleitorais que fez aos americanos quando lhes assegurou que os Estados Unidos estariam fora de conflitos estrangeiros dispendiosos, ao mesmo tempo que cedeu às pressões do extremista israelita que o TPI já classificou como criminoso de guerra.
O mundo está entregue a indivíduos tão perigosos como Donald Trump e Benjamin Netanyahu, que ignoraram o bom senso e as declarações de Rafael Grossi, o director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que informou, inclusivamente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que os inspectores que coordena não reuniram provas que confirmem um esforço sistemático do Irão para a construção de uma bomba atómica”. Assim, esta grave iniciativa no Médio Oriente viola o Direito Internacional e é semelhante ao que aconteceu com a invasão do Iraque em 2003, desencadeada com o objectivo de derrubar o regime de Saddam Hussein e acabar com as suas armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas. É a lei do mais forte, ou a lei da selva. Os líderes europeus ficaram cobardemente calados, assustados e pequeninos. 
Sobre o que vai acontecer a seguir, há as mais diversas opiniões, mas com gente como o Donald e o Benjamin tudo me parece imprevisível. 
Este mundo está cada dia mais inseguro.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Os "incendiários" e a crueldade sobre Gaza

A estação televisiva CNN Portugal não se esqueceu de Gaza e, hoje, às 08.29 horas, anunciou que “ataques israelitas fazem 140 mortes em 24 horas”. Ontem, às 07.13 horas, tinha anunciado “70 mortes e 200 feridos perto de camião com ajuda” e, anteontem, pelas 09.28 horas, informara “mortas 50 pessoas, metade junto a centro de ajuda”. O que se tem passado em Gaza, mas também na Cisjordânia, no Líbano, na Síria e, agora no Irão, é uma loucura da extrema-direita israelita comandada por Benjamin Netanyahu, com o apoio de diversos países a pretexto do Estado de Israel estar ameaçado, mas ignorando que, desde 1948, esse mesmo estado tem ameaçado e concretizado essa ameaça contra os palestinianos, o seu modo de vida, a sua cultura e os seus territórios.
Quando os líderes europeus ignoram o que se passa em Gaza e repetem que “Israel tem direito a defender-se”, não só afirmam uma banalidade, uma evidência e uma la palissada, como traem os princípios da Carta das Nações Unidas, do Tratado de Roma e todas as Resoluções das Nações Unidas, que Israel nunca respeitou, pois tem sido um lobo vestido de cordeiro. É absolutamente lamentável que a Europa não levante a sua voz contra o extremismo israelita e que os seus principais dirigentes se calem perante o que está a acontecer em Gaza. Ao mesmo tempo, esses dirigentes alinham no mesmo tipo de narrativa mentirosa com que foi derrubado Sadam Hussein, agora com o fantasma da bomba atómica e, antes, com o fantasma das armas de destruição maciça.
Na sua edição de hoje, o jornal francês L’Humanité classifica Trump e Netanyahu como “os incendiários”. Porém, a narrativa que circula pelas agências noticiosas e pelos mass media, bem como a opinião dos comentadores que diariamente nos entra em casa também é incendiária, pois não olha a princípios de legalidade internacional e tem ignorado ou justificado todo o belicismo e crueldade israelita sobre a população de Gaza.

terça-feira, 17 de junho de 2025

A marca americana nas guerras actuais

Hoje, a edição internacional do The New York Times publica com grande destaque de primeira página três fotografias alusivas às guerras que estão em curso e que tanto preocupam o mundo. Nas respectivas legendas, surge sempre destacada a figura de Donald Trump, num caso porque “acabava a guerra em 24 horas” e, nos outros casos, porque já se transformou num porta-voz do regime de Netanyahu. O facto é que há três guerras na Europa ou junto das fronteiras da Europa, é enorme o nível de destruição em Gaza, em Kiev, em Teerão ou em Telavive, enquanto as indústrias do armamento continuam a engordar…
Todos estes conflitos mostram, uma vez mais, como a propaganda funciona e manipula os acontecimentos, bem como se usam sem pudor dois pesos e duas medidas. Tanto na Ucrânia, como na Palestina e agora no Irão, os Estados Unidos protegem os regimes de Zelensky e de Netanyahu, enquanto a Europa continua hesitante, pequenina e ineficaz, a exibir-se de cimeira em cimeira em desfile de vaidades.
Quando Israel decidiu atacar o Irão para anular o seu programa nuclear, de forma semelhante ao que se passou com às armas de destruição maciça de Sadam Hussein, os Estados Unidos mostraram como estão envolvidos no apoio a um criminoso de guerra que tem conduzido um genocídio em Gaza, enquanto Donald Trump já tratou de afirmar que “domina os céus do Irão” e de exigir a “rendição incondicional”.
A Europa deveria ter moderado o conflito da Ucrânia e não tomar partido, deveria ter condenado o regime de Netanyahu pela sua acção cruel e genocida em Gaza e, no conflito entre Israel e o Irão, deveria reclamar à diplomacia para procurar resolver a situação, mas em vez disso fornece armas a Israel e tem afirmado que “Israel tem direito a defender-se”, como diria um qualquer senhor de La Palisse.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Os indianos e o fim do “sonho americano”

A mais recente edição da prestigiada revista indiana India Today inclui uma reportagem com abundante informação sobre as medidas tomadas ou anunciadas pela administração do presidente Donald Trump, em relação aos estudantes estrangeiros e às escolas que os recebem. Na capa, uma ilustração mostra a Estátua da Liberdade com o dedo a apontar a saída do país para um grupo de jovens estudantes, enquanto um destacado título diz que é “o fim do sonho americano” para milhares de estudantes indianos, cujo projecto de vida têm sido assente em estudos universitários nos Estados Unidos.
Muito do progresso de que tem beneficiado a Índia nos últimos anos, que já a colocam como a quarta potência económica global, tem sido apontado à formação académica que muitos milhares de estudantes adquirem no estrangeiro e, em especial, nos Estados Unidos. Porém, segundo salienta o India Today, “a repressão de Donald Trump está a fechar a porta aos estudantes indianos”.
No ano lectivo de 2023-24 havia 1.126.690 estudantes estrangeiros nas escolas americanas e 332.000 eram indianos, o que representava cerca de 29,4% do total. Nesse ano, o número de estudantes indianos em algumas universidades impressiona: no Georgia Institute of Technology em Atlanta (3.000), na Columbia University de Nova Iorque (1.250), na Harvard University em Cambridge, Mass (650), na University of Illinois em Champaign (1.400), na New York University em New York (2.000) e assim sucessivamente.
No mesmo ano, a procura de escolas estrangeiras pelos indianos também foi elevada no Canadá (137.608), no Reino Unido (98.890), na Austrália (68.572), na Alemanha (34.702), Rússia (31.444) e em Singapura (17.000).
A reportagem também indica os números astronómicos que “o sonho americano” custa às famílias indianas, mas Donald Trump que tanto gosta de negócios, parece nem olhar para essa gigantesca receita para os cofres das universidades americanas que ele quer controlar, enquanto símbolos maiores da excelência americana.

domingo, 15 de junho de 2025

Donald Trump e a “American disorder”

Donald Trump tomou posse como o 47º presidente dos Estados Unidos no dia 20 de Janeiro de 2025 e, desde então, uma onda de inquietação tem abalado o mundo e, naturalmente, também os Estados Unidos. 
Essa inquietação resulta do comportamento pessoal, fanfarrão e muito extrovertido do próprio presidente e das medidas tomadas pela sua administração, que se manifestam nas tentativas para resolver os conflitos em curso no mundo, nas alterações radicais às práticas comerciais, nas ameaças às anexações territoriais de territórios vizinhos como o Canadá e a Gronelândia e, mais recentemente, nas acções tendentes a reforçar o poder federal americano e a minimizar os poderes estaduais, sobretudo quando são exercidos por membros do Partido Democrata.
Na sua mais recente edição, a revista The Economist publica um editorial intitulado “American disorder” e, como subtítulo, pergunta “o que acontece quando um radical artista de palco tem o comando de um exército”. O texto refere que, ao decidir enviar tropas federais para Los Angeles para assegurar a ordem pública e controlar os imigrantes ilegais ou indocumentados, o presidente Donald Trump está a provocar a desordem no estado da Califórnia. Essa é a opinião da presidente da Câmara de Los Angeles, Karen Bass, e do governador da Califórnia, Gavin Newson, que foi claro ao dizer que Trump “prefere o teatro à segurança pública”. Esta situação poderá vir a afectar outras grandes cidades, sobretudo as que são governadas por democratas, onde Trump deseja que apareça um ciclo de protesto, violência e repressão, que façam dele o homem forte de que os Estados Unidos precisam para resolver esse conflito.
No entanto, segundo refere o editorial do The Economist, “o que serve Trump é perigoso para os Estados Unidos” e, por isso, “este é um momento perigoso para os Estados Unidos”.

sábado, 14 de junho de 2025

Um “milagre” em tragédia aérea na Índia

Um moderno avião de passageiros Boeing 787-8 Dreamliner da Air India despenhou-se na passada quinta-feira numa zona residencial da cidade indiana de Ahmedabad, cerca de um minuto depois de descolar com destino a Londres. O voo AI171 transformou-se numa enorme tragédia pois seguiam a bordo 242 passageiros e tripulantes, dos quais apenas um sobreviveu, tendo também morrido pelo menos oito pessoas que em terra foram atingidas pelos destroços do avião.Apesar dos modernos aviões terem padrões de segurança muito elevados, de vez em quando acontecem acidentes e todos querem saber se isso resultou de erro humano ou de falha técnica. No caso do voo AI171 tudo indica que houve uma perda de potência dos motores do avião que não lhe permitiram ganhar altitude, mas as causas do acidente estão a ser investigadas pelas autoridades e pelo fabricante Boeing, cuja reputação pode estar ameaçada.
O único sobrevivente desta tragédia chama-se Vishwash Kumar Ramesh, é um homem de origem indiana que tem passaporte britânico. Diversos jornais britânicos, como por exemplo o Daily Express, destacaram “o milagre do homem do assento 11A” que, entretanto, já contou como conseguiu abandonar o avião e salvar a vida, em circunstâncias que toda a imprensa britânica destacou e considerou que se salvou por milagre.
A bordo encontravam-se sete pessoas possuidoras de passaporte português, embora nenhum deles tivesse família residente em Portugal.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

O ataque israelita ao Irão e a escalada

O jornal New York Post é um dos poucos jornais que, nas suas edições de hoje, noticia o ataque de Israel ao Irão iniciado na noite passada, quando os aviões de Netanyahu atacaram aquele país. O seu alvo foram as instalações nucleares iranianas, algumas unidades militares e fábricas de mísseis balísticos, mas também visaram a liquidação de alguns altos comandos militares e cientistas envolvidos no programa nuclear iraniano, o que significa mais violência, mais incerteza e o aumento de risco de um conflito de maiores proporções no Médio Oriente.
Os bombardeamentos foram realizados por cerca de 200 aviões, tendo o presidente dos Estados Unidos sido avisado e, naturalmente, dado o seu acordo a esta iniciativa designada como operação Rising Lion que, segundo Netanyahu, tem carácter “preventivo” e durará “os dias que forem precisos”. O Irão terá sido fortemente atingido, mas retaliou imediatamente e as informações disponíveis mostram que a escalada belicista começou, o que constitui uma séria ameaça para a paz mundial.
Num tempo em que há nove países que dispõem da arma nuclear, incluindo Israel, o Irão também quer ter essa capacidade e esse seu desígnio não é aceite por Israel, nem pelos Estados Unidos.
Vários países árabes, incluindo o Egipto, o Catar e os Emirados Árabes Unidos já condenaram o ataque de Israel, mas a Europa está calada, pequenina, irrelevante e, uma vez mais, a ser cúmplice da violência israelita para com a Palestina e os seus outros vizinhos. Porém, ao longo do dia de hoje, as televisões portuguesas e a generalidade dos seus comentadores trataram de justificar a agressão israelita com os seus próprios argumentos de “defesa preventiva”, como se fossem publicitários ao serviço dos extremistas israelitas. Não se ouviu ninguém defender que se parasse de “meter gasolina na fogueira do Médio Oriente” e, como em outros cenários de conflito, há quem nos queira convencer que nestas coisas há os santos e há os pecadores. 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Os 40 anos de Portugal na União Europeia

No dia 12 de Junho de 1985, exactamente há 40 anos, foi assinado por Mário Soares e por outros governantes portugueses, o tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) e o jornal i evocou esse acontecimento histórico ao escrever, em primeira página, que foram “quatro décadas que mudaram Portugal”.
Assim foi de facto. Depois do Ciclo do Império, iniciado no século XV com a conquista de Ceuta e a expansão marítima ultramarina, vieram a democratização e a descolonização como conquistas que só o 25 de Abril tornou possível e Portugal e os portugueses “regressaram” à Europa.
Foi uma evolução natural de acordo com os “ventos da História” e todos os indicadores económicos e sociais revelam uma profunda mudança no país, devida sobretudo a factores endógenos mais evidentes na Educação e na Saúde, mas também devido a factores de ordem externa, materializados através dos fundos comunitários que têm sido uma alavanca essencial para a Economia e para as Infraestruturas.
Desde o dia 1 de Janeiro de 1986 que Portugal é membro de pleno direito da União Europeia, que em 1992 sucedeu à CEE. Eram então 12 países da Europa ocidental e atlântica, mas os tempos expandiram este bloco e agregaram mais 15 países da Europa oriental. Hoje são 27 estados-membros com 24 línguas oficiais e nacionais, numa situação intermédia entre o federalismo e os nacionalismos regionais, com uma unidade só aparente, configurando-se quase como uma Europa das Pátrias, onde ainda procuram manter parte da soberania nacional como sonhara o general De Gaulle.
De Bruxelas para Lisboa veio modernidade, progresso e muito dinheiro – quase 200 mil milhões de euros em termos nominais nos últimos 40 anos – mas nem tudo corre bem por lá. Foi criada uma estrutura burocrática cujo combustível é o dinheiro, a ganância e o despesismo, há demasiada arrogância e falta de liderança, enquanto o bem-estar dos povos europeus deixou de ser a preocupação dos burocratas de Bruxelas. Homens como Robert Schuman, Jean Monnet, Konrad Adenauer, François Mitterand ou Jacques Dellors, não existem mais. Agora a liderança europeia está confiada a gente menor que casa dia mais afunda o sonho europeu de respeito pela paz, liberdade, democracia, igualdade, estado de direito e respeito pela dignidade e pelos direitos humanos.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Camões: autor moderno e premonitório

Estão a decorrer as comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões e esse facto influenciou o importante discurso que a escritora Lídia Jorge proferiu em Lagos no dia 10 de junho, que é o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Luís de Camões é um poeta do Renascimento e da Modernidade, é uma figura inspiradora da cultura portuguesa e da identidade nacional. 
N’Os Lusíadas, ele celebra a viagem de Vasco da Gama e faz inúmeras observações sobre a História de Portugal, com as suas grandezas e as suas tragédias. De entre as inúmeras mensagens deixadas ao longo dos dez Cantos da obra, sempre admirei o episódio do Velho do Restelo, que se encontra cantado entre as estrofes 94 e 104 do Canto IV, em que “um velho, de aspecto venerando”, “com um saber só d’experiência feito”, falou e, entre outras coisas, disse o seguinte:

   Ó glória de mandar! Ó vã cobiça/ Desta vaidade a quem chamamos fama (XCV)

   A que novos desastres determinas/ De levar estes Reinos e esta gente? (XCVII)

   Deixas criar às portas o inimigo/ Por ires buscar outro de tão longe (CI)

   Buscas o incerto e incógnito perigo/ Por que a Fama te exalte e te lisonje (CI)

   Deixa intentado a humana geração./Mísera sorte! Estranha condição! (CIV)

Glória de mandar, cobiça, vaidade, fama, mísera sorte... Hoje, os versos de Camões revelam-se premonitórios perante o que está a acontecer em Kiev e em Gaza, em Los Angeles e em Paris, mas em muitas mais cidades europeias e americanas.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Portugal venceu Liga das Nações da UEFA

Ontem, os portugueses viveram uma enorme alegria com a vitória da sua selecção de futebol na Fase Final da Liga das Nações da UEFA de 2024-25, em que começou por derrotar a Alemanha nas meias-finais e encontrou depois na final a poderosa selecção espanhola, que se afirma ser uma das mais fortes do mundo. Foi um jogo muito equilibrado, muito sofrido, mas cheio de brilhantismo, que se traduziu num empate por 2-2 ao fim do tempo regulamentar, seguido de um prolongamento de 30 minutos sem golos e do confronto final com pontapés de grande penalidade Os portugueses não costumam ser felizes neste tipo de decisões e a ansiedade era grande. Estavam convertidos sete penaltis quando Diogo Costa defendeu o remate marcado pelo avançado espanhol Álvaro Morata, a que se seguiu um remate vitorioso de Rúben Neves. Foi o delírio e a taça da Liga das Nações regressou a Portugal, como mostra a reportagem na edição de hoje do jornal A Bola, em cuja capa se vê Cristiano Ronaldo que, com 40 anos de idade, capitaneou a equipa e até marcou um golo.
Portugal vencera a primeira Liga das Nações (2018-19) quando bateu os Países Baixos. Sucedeu-lhe a França que em 2020-21 venceu a Espanha e, de seguida, a mesma Espanha que em 2022-23 derrotou a Croácia. 
Estiveram em prova 54 selecções europeias e a equipa portuguesa ultrapassou a Croácia, a Escócia, a Polónia e a Dinamarca, antes da Alemanha e da Espanha. Foi um feito desportivo notável e os portugueses deliraram com esta vitória. 
A televisão mostrou o talento dos jogadores e o entusiasmo dos público, mas também mostrou que muita gente - gente demais embora possivelmente muito importante - esteve em Munique à conta do Orçamento do Estado, isto é, à custa dos contribuintes portugueses. 
É uma nota bem triste e bem provinciana num dia de grande orgulho nacional.

domingo, 8 de junho de 2025

O Dia D nas praias da Normandia

No dia 6 de Junho de 1944, sob o comando do general americano Dwight Eisenhower, que então era o comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa, as suas tropas desembarcaram nas praias da Normandia, então ocupadas pelos exércitos de Adolfo Hitler. Foi a chamada Operação Overlord que marcou o início da libertação da França e da Europa, mas também o colapso do regime alemão e o fim das atrocidades que praticava. 
Todos os anos essa efeméride é comemorada pelos sobreviventes que participaram nessa operação e, neste seu 81º aniversário, assim voltou a acontecer. Os poucos veteranos que ainda sobrevivem, certamente centenários, reuniram-se em diferentes locais da Normandia para evocar aquela operação que inverteu o curso da guerra. Ao longo do litoral e perto das praias do desembarque do Dia D, dezenas de milhares de espectadores compareceram às comemorações, que incluíram saltos de paraquedas, sobrevoos, cerimônias de memória, desfiles e reconstituições históricas. 
A Operação Overlod mobilizou a maior frota de navios, tropas, aviões e veículos da História, para romper as defesas de Hitler na Europa Ocidental e, logo no seu primeiro dia, morreram 4.414 soldados aliados, Na batalha que se seguiu, morreram 73 mil soldados aliados e houve 153 mil feridos, mas também houve milhares de civis franceses que morreram devido aos combates. 
Harold Terens, um veterano americano de 101 anos de idade, segundo uma reportagem publicada no The Wall Street Journal, disse: “Rezo pela liberdade do mundo inteiro. Pelo fim da guerra na Ucrânia, na Rússia, no Sudão e em Gaza. Acho a guerra nojenta. Absolutamente nojenta”. E falou bem.
De facto, só quer a guerra quem nunca passou por ela e pelos excessos que provoca.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Portugal campeão da Europa de Sub-17

O futebol português está em festa pois a sua selecção nacional de Sub-17 venceu ontem a final do Campeonato da Europa dessa categoria, na Arena Kombëtare, na cidade albanesa de Tirana. Na final venceu a equipa da França por um expressivo 3-0, depois de nas meias-finais ter derrotado a Itália num encontro decidido no desempate por grandes penalidades.
Esta vitória acontece em 2025, depois da equipa portuguesa já ter vencido o título europeu desta categoria em 2003 e 2016, o que mostra como são talentosos os jovens futebolistas portugueses, pelo que aqui fica expresso o nosso regozijo por esta vitória europeia.
Curiosamente, nos últimos dias e a reboque da imprensa desportiva, ou melhor da imprensa futebolística, só se falou de dirigentes sempre zangados uns com os outros e de jogadores e de treinadores, sempre avaliados em milhões, embora muitas vezes não se saiba de onde vem tanto dinheiro para contratar esta gente.
Nesse contexto, a vitória dos jovens jogadores portugueses entusiasma aqueles que verdadeiramente gostam de futebol e, bem a-propósito, o jornal A Bola chamou-lhes Meninos de Ouro.
Não sei o que lhes vai acontecer com este sucesso tão prematuro na sua carreira futebolística, mas será bom que cada um deles aproveite para se aconselhar e não seja rapidamente “engolido” pelos tubarões que vegetam e engordam no mundo do futebol. 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Goa celebra o “Dia do Estado de Goa 2025”

Hoje é o Dia do Estado de Goa ou o Goa Statehood Day, pois perfazem-se 39 anos desde que a União Indiana reconheceu o território de Goa como o 25º estado da União. Hoje, o estado de Goa é marcado por um grande dinamismo económico, pela construção de muitas infraestruturas modernas e por exibir os melhores indicadores económico-sociais de toda a Índia. Os seus 3.702 quilómetros quadrados tornaram-se o alvo da atracção de todos os indianos que encontram em Goa uma harmonia social, um ambiente bastante cosmopolita e uma singular matriz cultural que fazem deste estado a “Europa da Índia”.
O território de Goa esteve sob soberania portuguesa até ao dia 19 de dezembro de 1961, data em que o governador Vassalo e Silva apresentou a rendição portuguesa às tropas da União Indiana que na véspera tinham invadido Goa e as outras possessões portuguesas por terra, mar e ar.
Seguiu-se um processo muito intenso em que os goeses tiveram que decidir se queriam integrar-se no estado de Maharashtra ou constituir-se como um estado autónomo. Prevaleceu esta opção depois de intensa luta política, bem como da promoção do concanim a língua oficial e, no dia 30 de Maio de 1987, Goa tornou-se o 25º estado da União. 
Na cidade de Pangim, que é a capital, podem ver-se inúmeros cartazes a anunciar a celebração do Dia do Estado de Goa 2025, com as fotografias do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e do ministro-chefe de Goa, Pramod Sawant, mas as autoridades governamentais também fizeram publicar um anúncio de meia página na capa de todos os jornais goeses, designadamente n’O Heraldo, the Voice of Goa since 1900.

terça-feira, 27 de maio de 2025

Gaza e o genocídio praticado por Israel

As atrocidades que o exército israelita vem praticando em Gaza não têm qualquer justificação como salienta o jornal Libération na sua edição de hoje. A recusa continuada do regime de Benjamin Netanyahu em proibir a entrada de ajuda humanitária, os bombardeamentos continuados com toda a espécie de armamentos e a destruição cirúrgica de hospitais e escolas a pretexto de poderem esconder terroristas, estão a causar cada vez mais repulsa internacional e a merecer a condenação de muitos países. Porém, ainda há líderes ocidentais comprometidos desde há muitos meses com o belicismo israelita e que aceitam a destruição de Gaza e do povo palestiniano, fornecendo-lhe armas e apoio político, enquanto as nossas estações televisivas estão cheias de comentadores que apoiam a cruel desumanidade do regime extremista de Israel. A palavra do Papa e do Secretário-Geral das Nações Unidas têm que valer. É tempo de dizer basta. É tempo de condenar aqueles que continuam a apoiar a destruição de Gaza e aqueles que, a coberto das suas liberdades comunicacionais, apoiam o morticínio que os israelitas estão a levar por diante em Gaza.
A paz e a tolerância entre os povos não se defendem com este tipo de gente.
Assim, como salienta o Libération, surgiu um apelo de 300 escritores franceses que afirma que “nós não podemos mais contentar-nos com a palavra “horror”, é preciso utilizar a palavra “genocídio”.
Genocídio é, portanto, sem quaisquer dúvidas, aquilo que os israelitas estão a fazer em Gaza e, já agora, sem que se ouça bem alto um grito português de veemente condenação.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Goa em dia da chegada da monção

Ontem cheguei a Goa, o estado indiano que esteve sob a soberania portuguesa até 1961 e que, por razões diversas, não visitava desde há vários anos. Viajei de Lisboa num voo da Qatar Airways com escala em Doha, bem acompanhado, com conforto e com um excelente serviço de bordo.
No mesmo dia a monção chegou a Goa e, segundo a edição de hoje do jornal The Navhind Times que se publica em Pangim, apareceu com onze dias de avanço em relação à data habitual. A data “oficial” em que a monção chega a Goa é o dia 5 de junho, mas nos últimos dez anos chegou atrasada sete vezes, adiantada duas vezes e só em 2021 chegou no dia esperado. Nos últimos vinte anos nunca chegara tão cedo e todas estas “anomalias” da meteorologia da costa ocidental da Índia são atribuídas às alterações climáticas. 
A monção vai “permanecer” em Goa até meados de setembro, com chuva quase contínua e muitas vezes torrencial, que perturba a vida económica e social, inunda os campos, imobiliza a frota pesqueira e desertifica praias que são batidas por mares tempestuosos. Porém, a monção também é uma fonte de vida, pois atenua o calor intenso que aquecera o ambiente e, em poucos dias, faz despontar uma paisagem verdejante que traz consigo a marca da abundância para as populações rurais. Naturalmente, a monção tem sido inspiradora de uma boa parte da literatura goesa, mas também de práticas culturais muito diversas. 
Estar em Goa em tempo de monção é um verdadeiro privilégio,  sobretudo em termos históricos e culturais, até porque uma boa parte da expansão marítima portuguesa do século XVI foi condicionada pela mesma monção que ontem chegou a Goa.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Gaza e o tardio acordar da velha Europa

Depois de muitas semanas em que o mundo ignorou a brutalidade e a desproporcionada violência com que as forças de Benjamin Netanyahu atacaram o povo palestiniano na Faixa de Gaza a coberto da sua luta contra o Hamas e a sua legítima tentativa de libertação de reféns, parece que os líderes europeus finalmente acordaram para a gravíssima situação humanitária que está criada. Provavelmente, tarde demais.
A situação é muito antiga e muito complexa, mas foi definida em 1947 no quadro das Nações Unidas, quando na sua Resolução 181 determinava a partilha das terras entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, prevendo a criação de um estado judeu e de um estado átabe – Israel e Palestina – mas desde então os confrontos são permanentes, com Israel a ocupar largas parcelas do território palestiniano. No dia 22 de outubro de 2023 a situação agudizou-se com a brutal acção do Hamas, mas logo os Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e Itália lançaram uma declaração conjunta, apoiando o direito de Israel se defender. Israel defendeu-se e contra-atacou de maneira desproporcionada e brutal, perante a cumplicidade dos países ocidentais que lhe fornecem armas e lhe dão apoio político. O regime extremista de Benjamin Netanyahu tem prosseguido uma acção de verdadeiro extermínio da população palestiniana na Faixa de Gaza, não só pelas bombas, mas também pela fome.
Nas últimas horas, conforme relata o diário catalão La Vanguardia e outros jornais europeus, surgiram vozes a condenar abertamente Benjamin Netanyahu, sobre quem o TPI já emitiu três mandatos de captura por crimes de guerra, incluindo a fome “como método de guerra”.
A indiferença ou o apoio, disfarçado ou não, perante a violência israelita, é uma das mais tristes marcas da decadência com que os líderes europeus estão a conduzir o velho continente.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Mudam-se tempos, mudam-se vontades

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, escreveu Luís de Camões num dos seus mais conhecidos sonetos, escrito há mais de 500 anos. Esta ideia de mudança, ocorre-nos quando vemos o que está a acontecer no Reino Unido, no que respeita à sua relação com a União Europeia, pois a mudança dos tempos está a mudar as vontades.
O Reino Unido aderiu em 1973 à Comunidade Económica Europeia (CEE), mas depois de muitas crises e muitas zangas com os poderes europeus, decidiu realizar um referendo em 2016 sobre a sua permanência na União Europeia (EU), a entidade que sucedera à CEE, tendo havido 52% de votos no leave e 48% de votos no remain. Nestas circunstâncias, iniciou-se um demorado processo de divórcio e só no dia 31 de janeiro de 2020 aconteceu formalmente a saída do Reino Unido da União Europeia. Desde então, os primeiros-ministros do Reino Unido foram Boris Johnson, Liz Truss, Rishi Sunak e, desde julho de 2024, o actual primeiro-ministro Keir Starmer.
A actual crise ucraniana e a turbulência causada pela presidência de Donald Trump nos Estados Unidos fez com que, quase nove anos depois de ter votado a saída da EU, o Reino Unido, pela acção de Keir Starmer, e a União Europeia, através de António Costa e Ursula von der Leyen, chegassem a um amplo acordo na área da defesa, na redução das restrições aos exportadores de alimentos, no turismo e em acordos de pesca. Keir Starmer procurou o acesso ao mercado europeu em algumas áreas para alavancar a economia do Reino Unido, procurando não entrar no mercado único para não irritar o eleitorado conservador que sempre defendeu o brexit.
O facto notável, como hoje salienta The Independent, é que o Reino Unido e a União Europeia "mudam a página", isto é, mudaram-se os tempos e estão a mudar-se as vontades, o que está a conduzir a uma maior unidade da Europa, que bem precisa de se unir e ter alguém com autoridade e prestígio para a representar..

Ainda o acidente do veleiro “Cuauhtémoc”

O jornal nova-iorquino Daily News dedicou toda a sua primeira página da edição do dia 19 de maio à “tragedy of tall ship”, mas hoje voltou a destacar o estranho acidente ocorrido no porto de Nova Iorque com o navio-escola mexicano Cuauhtémoc, ilustrando-o com uma fotografia onde se vêem os seus mastros partidos e as velas caidas.
O jornal afirma que as autoridades federais estão a investigar o “ship horror”, pois parece ter acontecido uma “tempestade perfeita” onde terão havido muitos erros humanos, de que resultou a morte de dois cadetes. O veleiro Cuauhtémoc largava do cais com os cadetes alinhados nos mastros a fazer as tradicionais saudações de largada do porto, sendo auxiliado nessa manobra por um velho rebocador, sem que lhe passasse um cabo de reboque e limitando-se a poder empurrá-lo, se fosse necessário. Porém, o rebocador era de pouca potência para aquela manobra e, a bordo, tanto o comandante como o piloto americano, não terão percebido a situação, talvez deslumbrados pelas luzes da Big Apple, ou pelas saudades que ficaram no cais.
A corrente arrastou o navio em direcção à Ponte de Brooklyn, sem que o comandante o detivesse com motores ou com âncoras. Os três mastros de 147 pés, iluminados e cheios de cadetes, embateram no tabuleiro inferior da ponte que está a 135 pés de altura e partiram-se. Houve dois cadetes mortos e duas dezenas de feridos, mas dizem as crónicas que foi uma sorte os mastros não terem caido ao rio com os cadetes. Entretanto. 172 cadetes já regressaram ao México, enquanto dois ainda estão hospitalizados. A viagem de instrução de cadetes ,terminou pois o navio vai ser repareado em Nova Iorque.
O porto de Nova Iorque gosta de receber os tall ships e este acidente suscitou muito interesse por parte da imprensa local.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Acidente raro com veleiro em Nova Iorque

Os grandes veleiros marcaram a história da navegação marítima do século XIX, quando o comércio se globalizou e a navegação à vela competia em velocidade e economicidade com a navegação a vapor, sobretudo nas grandes rotas oceânicas que ligavam a Ásia e a América à Europa. Alguns desses veleiros, como os tea clippers Cutty Sark e Thermopylae foram, porventura, os mais famosos tall ships desse tempo e a memória das suas corridas perdurou no tempo, pelo que o culto pelos veleiros se manteve até aos nossos dias nas nações marítimas. Alguns foram preservados e outros foram construídos de novo, como símbolos de uma era histórica, como património cultural ou como escola de formação náutica, suscitando sempre a admiração de quem os vê.
Assim sucede em Portugal (Sagres), na Espanha (Juan Sebastián de Elcano), Alemanha (Gorch Foch), na Itália (Americo Vespucci), no Chile (Esmeralda), nos Estados Unidos (Eagle) e no México (Cuauhtémoc), entre muitos outros.
No passado sábado o navio-escola mexicano Cuauhtémoc largava de Nova Iorque com rumo à Islândia com 277 tripulantes. Estava a manobrar no East River, no "east side" de Manhattan e nas proximidades da histórica Ponte do Brooklyn. Algo de anormal se passou que está a ser investigado, mas alguns filmes mostraram o navio com seguimento e aparentemente desgovernado a navegar em direcção à ponte. Um velho rebocador que auxiliava na manobra não terá sido eficaz e, a bordo, não se lembraram de fundear o navio. Eram cerca de 20.30 horas e já anoitecera. Os três mastros iluminados do veleiro (147 pés), embateram com estrondo no tabuleiro inferior da ponte (135 pés) e partiram-se. Havia tripulantes nos mastros e houve dois cadetes mortos e vinte tripulantes feridos, alguns com gravidade.
Os jornais mexicanos e nova-iorquinos destacaram este invulgar acontecimento, como fez o jornal La Jornada que se publica na Cidade do México e que escreveu: “choca buque de la Armada en Nueva York”.

domingo, 18 de maio de 2025

O próximo primeiro-ministro de Portugal

Estão a decorrer hoje em Portugal as eleições legislativas antecipadas e a última edição do jornal i, que na capa exibia as fotografias de Pedro Nuno Santos e de Luís Montenegro, vaticinava que “um deles será o próximo primeiro-ministro”. É natural que venha a ser assim e, ao fim da tarde, começaremos a saber isso.
Concorrem 21 forças políticas e a campanha eleitoral foi longa, decepcionante e demasiado vulgar, com algumas avenças e azias por esclarecer e com um impressionante e preocupante silêncio sobre as questões de segurança e defesa, que nesta altura estão a dominar muitas agendas europeias, como se a nossa vontade democrática não contasse perante os interesses bélicos representados por Ursula von der Leyen e Mark Rutte. Nessa matéria, os portugueses deveriam ter sido esclarecidos quanto às famosas escolhas de Paul Samuelson – canhões ou manteiga – bem como aos efeitos de cada umas destas escolhas sobre o nosso modelo social, o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, numa altura em que ainda subsistem feridas e dolorosas memórias da guerra colonial. Os candidatos que o jornal i afirma estarem à frente, foram demasiado calculistas e também não exprimiram uma ideia a respeito do genocídio que está a acontecer em Gaza, nem uma palavra de condenação pela barbárie conduzida pelo regime de Benjamin Netanyahu. Não tendo sido feito aquele debate nem esta condenação, este silêncio parece significar que o futuro primeiro-ministro quer que os portugueses lhe passem um cheque em branco nestas matérias.
Quanto à generalidade dos temas da campanha aconteceu o habitual, com todos os candidatos a anunciaram promessas que não têm qualquer viabilidade económica, apenas porque não há recursos que as possam satisfazer, o que significa que não passam de evidentes casos de propaganda e de autêntica “caça ao voto”, que muitas vezes até foram ofensivas da inteligência dos portugueses.
Esta noite vai haver um vencedor, mas não se sabe que tipo de governo teremos, nem com que coligações ou com que apoios contará, mas aqui desejamos uma feliz navegação ao futuro primeiro-ministro de Portugal.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Crónica de 4000 exercícios de escrita

Com o presente texto, a Rua dos Navegantes publica hoje o seu post número 4000 e o comentário que esta marca me sugere é que este blogue me tem sido muito proveitoso, não só para me manter interessado nas coisas que acontecem no mundo pela via da Imprensa, mas também como instrumento que me tem proporcionado um treino regular na prática da escrita.
O blogue nasceu no dia 20 de Janeiro de 2011 e é uma actividade que me acompanha há mais de 14 anos, o que corresponde aproximadamente a 745 semanas ou a 5220 dias.  Os 4000 textos escritos e publicados têm cerca de 6 milhões de caracteres e são exercícios de escrita que foram preparados de forma independente, sem sujeições exteriores de ordem política, religiosa ou cultural, essencialmente como um exercício de escrita a que me obriguei quase diariamente e quase como um divertimento.
Nunca foi minha intenção ter qualquer tipo de intervenção no espaço público. Os textos nunca pretenderam expor os meus quotidianos ou as minhas ansiedades pessoais, pois apenas procuraram observar a actualidade, tendo sido sempre mais de natureza narrativa e menos de carácter opinativo. A qualidade literária não foi a minha preocupação dominante, mas procurei evitar a desinformação (fake news), a manipulação da verdade, os temas fracturantes, o sensacionalismo e a difamação de quem quer que seja, inclusive de protagonistas políticos ou sociais com quem discorde.
Sobre o que escrevi, eu próprio tenho uma opinião assimétrica, pois enquanto tem havido textos que muito me realizaram, também houve narrativas menos conseguidas, possivelmente menos rigorosas e até opiniões menos fundamentadas.
Finalmente, uma palavra final de gratidão é devida aos meus leitores que, não sendo muitos, são muito bons: os seus comentários foram sempre um incentivo muito apreciado para que eu melhorasse as minhas observações sobre o que leio nos jornais.

Europe’s free speech problem

A mais recente edição da prestigiada revista The Economist apresenta uma ilustração na capa, com um rosto humano cuja boca é um fecho éclair, destacando um artigo assinado por Jacob Mchangama, que intitulou “Europe’s free speech problem”.
O interessante artigo parte de declarações feitas por J.D. Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos, que há algumas semanas acusou a Europa de não proteger a liberdade de expressão.
Todos os países europeus garantem o direito à liberdade de expressão, mas em quase todos se procura limitar esse direito, ao proibirem-se discursos como a pornografia infantil, as fugas de informação de segredos de estado ou o incitamento deliberado à violência física.
Porém, o problema é mais abrangente e o facto é que, segundo o artigo referido, “os europeus estão a tornar-se menos livres para dizer o que pensam” e até as opiniões recolhidas regularmente pelo Eurobarómetro são cirurgicamente postas de lado. Cada vez mais, os europeus estão a ser cilindrados pelas burocracias de Bruxelas, pela imposição de uma unicidade de pensamento e pelos discursos irresponsáveis dos seus dirigentes que se têm envolvido num belicismo que as populações não lhes encomendaram (no caso da Ucrânia) e num vergonhoso silêncio (no caso de Gaza). A Europa tem vozes a mais, protagonistas a mais e vaidades a mais. Os dirigentes europeus adoram encontrar-se em cimeiras vazias de conteúdo, “vivem em hotéis de 5 estrelas” e estão a envergonhar a própria história da Europa. No panorama internacional contam cada vez menos, como se está a ver no caso da Ucrânia, em que ninguém com peso os quer ver à mesa das negociações.
Sim, é verdade o que diz The Economist, há mesmo um problema de liberdade de expressão na Europa.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Genocídio em Gaza e o silêncio do mundo

Na sequência do condenável ataque do Hamas contra cidadãos israelitas acontecido no dia 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1200 mortos e 250 reféns, a retaliação israelita contra a Faixa de Gaza tem sido desproporcionada, provocou mais de 52.900 mortos e causou a destruição de grande parte das infraestruturas do território onde vivem 2,4 milhões de pessoas. O mundo, especialmente a Europa, tem assistido a esta catástrofe com demasiada indiferença, ou mesmo com indisfarçada cumplicidade.
A imprensa ignora ou desvaloriza a catástrofe que está a atingir o povo da Palestina e uma excepção é a reportagem na edição de hoje do jornal católico francês La Croix.
Com a falsa narrativa da libertação dos reféns, os extremistas israelitas têm conduzido uma operação de extermínio dos palestinianos e de destruição de Gaza, que envergonha o mundo, viola os direitos humanos e é um crime contra a Humanidade. A intenção de exterminar o povo palestiniano e de transformar o território de Gaza na Riviera do Médio Oriente, como anunciou Donald Trump, tem sido seguida pelo tirano Benjamin Netanyahu. Em paralelo, desde o dia 2 de março que os israelitas bloquearam a entrada da ajuda humanitária para vergar os palestinianos pela fome, sendo já reportadas situações de fome catastrófica, de subnutrição aguda, de doença e de morte. Há apenas dois dias, Netanyahu afirmou que o exército israelita vai entrar em Gaza nos próximos dias “com toda a força para completar a operação e derrotar o Hamas" e disse não ver qualquer cenário em que possa parar a guerra.
Finalmente, o presidente Emmanuel Macron veio dizer que o bloqueio de ajuda humanitária ao enclave palestiniano é "vergonhoso" e que a União Europeia precisa repensar a associação com Israel. Macron falou tarde e a más horas, mas devem lágrimas de crocodilo.
Neste pequenino Portugal, os nossos dirigentes estão calados. Que tristeza!

Não haverá “rendez-vous” em Istambul

Depois de mais de três anos de guerra, está previsto para hoje em Istambul, um encontro directo entre russos e ucranianos, o que é uma boa notícia para aqueles que defendem uma solução pacífica e negociada para um conflito que muito tem sacrificado o povo ucraniano, a principal vítima da cegueira política de muitos dirigentes daquela região e do mundo. O tema é melindroso – rivalidades históricas, provocações, feridas de guerra, cessar-fogo, paz – mas as duas partes conhecem-se bem e podem ir directamente ao assunto. 
Havia a expectativa de Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky se encontrarem frente-a-frente, mas nas últimas horas foi anunciado que Putin não iria falar com Zelensky e o “rendez-vous d’Istambul”, que hoje era anunciado pelo jornal francês La Dépêche du Midi, não se irá realizar, o que até pode facilitar o arranque do processo.
Tanto Donald Trump como Recep Tayyip Erdogan investiram muito neste encontro e estarão atentos ao que se vai passar, porque “é inútil prolongar a matança”, enquanto os líderes europeus estarão mais uma vez a fazer um papel de actores secundários neste drama. O verdadeiro objectivo de todos estes líderes não é a protecção do povo ucraniano, mas tão só a satisfação dos seus interesses nacionais, ou mesmo pessoais, como se vê com a ultrapassagem que Donald Trump fez aos europeus que, nesta matéria, têm sido incompetentes e pouco inteligentes, como têm mostrado Boris Johnson, Jens Stoltemberg, Ursula von der Leyen, ou essa nova estrela do belicismo que é o luterano Mark Rutte.
No encontro de hoje em Istambul não surgirão quaisquer conclusões, mas é um importante primeiro encontro das duas partes para, passo a passo e cara a cara, caminharem para o entendimento, a pacificação e a reconciliação.
Um dia, libertado da propaganda e na posse da verdade histórica, o sacrificado povo ucraniano saberá quem o empurrou para a tragédia que está a viver.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A turbulência política chegou à Sérvia

A República da Sérvia é um país situado na península dos Balcãs e que integrou a antiga República Socialista Federativa da Jugoslávia, tendo influências culturais dos impérios, romano, bizantino e otomano. 
O seu território tem uma superfície equivalente a Portugal com cerca de sete milhões de habitantes e faz fronteira com oito países - a Albânia, o Montenegro, a Bósnia-Herzegovina, a Bulgária, a Croácia, a Hungria, a Macedónia do Norte e a Roménia. Quatro destes países são membros da União Europeia e a República da Sérvia apresentou a sua candidatura oficial à adesão em 2009.
O jornal catalão El Punt Avui dedicou a sua última edição à situação por que passa a Sérvia, onde acontecem protestos antigovernamentais liderados por estudantes e cresce a onda de indignação e a contestação ao autoritarismo do presidente Aleksandar Vučić e à “corrupção endémica das elites”. 
Há uma explosão de raiva no país e a onda de protesto parece estar em linha com a tendência mais ampla que se verifica nos Balcãs de rejeição do autoritarismo. Surpreendentemente, a União Europeia mantém-se em silêncio perante a situação e não tem condenado a repressão das autoridades sobre os manifestantes que, segundo refere o jornal, saem à rua sem exibir bandeiras da União Europeia.
É caso para dizer que, também na Sérvia, há fortes sinais de instabilidade.