quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

DT, VP, a Ucrânia e o "ataque à Europa"

Estão quase a completar-se quatro anos desde que começou a guerra na Ucrânia, embora haja muita gente que entende que esse conflito começou em 2014, ou mesmo em 1990. As primeiras tentativas de cessar-fogo aconteceram em Março e Abril de 2022, menos de um mês após o início da invasão russa, em que os representantes dos dois países se reuniram em Istambul pelo menos sete vezes, para negociar o cessar-fogo e a paz. Nessa altura, os russos não exigiam territórios, mas apenas garantias de segurança nas suas fronteiras, a neutralidade permanente da Ucrânia e a sua não-entrada na NATO, a recusa de tropas estrangeiras no seu território e a possibilidade de adesão ucraniana à União Europeia, se o país o desejasse. Então, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi a Kiev no dia 9 de Abril de 2022 para persuadir Zelensky a prosseguir a sua luta “até à derrota da Rússia” e impedindo-o de assinar o acordo de paz com a Rússia. Estava escolhido o caminho da guerra e a escalada belicista, com muitos milhares de mortos, milhões de refugiados, muitas cidades destruídas e a crescente militarização da Europa.
A partir de então, a guerra intensificou-se, os mass media colocaram-na nas suas agendas e surgiram os inúmeros comentadores televisivos alinhados com a ideia de guerra, enquanto aqueles que defendiam a paz passaram a ser considerados putinistas. As notícias da guerra, verdadeiras ou falsas, passaram a inundar o nosso quotidiano, agora amplificadas pelas posições belicosas de Emmanuel Macron, Mark Rutte, Ursula von der Leyen, Kaja Kallas e outros estrategas. A histeria instalou-se e só falta ressuscitar a famosa comédia "vêm aí os russos". Enquanto isto, apareceu Donald Trump, que tem hostilizado todos esses líderes europeus e que, movido por interesses económicos e outros, se mostra em sintonia com Putin que, naturalmente, quer agora muito mais do que queria em 2022.

Na sua mais recente edição, a capa da revista Der Spiegel mostra “dois vilões e um objectivo [de atacar a Europa]”, isto é, mostra Putin a retalhar a União Europeia com o apoio e o sorriso de Trump.

É evidente que ninguém pensa no povo ucraniano e que cada uma das personalidades que, no ocidente e no oriente, dizem defender a Ucrânia, apenas pensam nos seus próprios interesses. Pobres ucranianos!

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

A tragédia australiana de Bondi Beach

Em Bondi Beach, a praia mais conhecida de Sydney, dois homens armados com espingardas atiraram de forma indiscriminada sobre a multidão de várias centenas de pessoas que participava numa das mais importantes celebrações judaicas. Era domingo, a praia estava cheia e, naturalmente, gerou-se o pânico e aconteceram actos de terror, como anunciou a edição de ontem do jornal The Camberra Times. Naquelas dramáticas circunstâncias, um homem chamado Ahmed al Ahmed, de 43 anos de idade e dono de uma frutaria em Caringbah South, aproximou-se de um dos atiradores e, com notável sangue-frio e muita coragem, conseguiu imobilizá-lo e desarmá-lo, evitando dessa forma que houvessem muito mais vítimas, para além dos 16 mortos e 40 feridos que a tragédia provocou. Esta acção de Ahmed al Ahmed foi filmada por vários moradores e isso fez com que fosse considerado um “herói genuino”. 
O trágico incidente emocionou a Austrália e, embora tenha acontecido a cerca de 18.000 quilómetros de distância, também foi notícia em Portugal, por se tratar de mais um acto de extrema barbaridade, como muitos outros que parecem estar a aumentar no mundo, pelas mais diversas razões.
Neste caso de Sydney há duas singularidades: a primeira foi o facto de ter sido a atitude corajosa de um árabe, emigrante sírio, que poupou muitas vidas de elementos da comunidade judaica de Sydney, enquanto a segunda mostra que “quem semeia ventos colhe tempestades”, ou que há muita gente no mundo que não esquece a violência e a crueldade do regime extremista de Netanyahu, que destruiu Gaza, que matou milhares de palestinianos inocentes e que atacou os árabes do Líbano e da Síria.
A tragédia de Bondi Beach deve ser repudiada universalmente, embora a retaliação seja uma arma que todos usam.

domingo, 14 de dezembro de 2025

Será possível “the end of the alliance”?

O presidente Donald J. Trump assinou, em data muito recente, um documento de 33 páginas intitulado National Security Strategy of the United States of America, que refere explicitamente que se trata de uma estratégia concreta, que combina ends and means, ou objectivos e recursos, como costumamos dizer em português.
Começando com um elogio a si próprio e à sua política MAGA (Make America Great Again), Donald Trump afirma que nenhuma administração na história dos Estados Unidos conseguiu uma reviravolta tão dramática em tão pouco tempo, criticando a Europa e dando vantagens diplomáticas à Rússia. Segundo aquele documento relativo à segurança nacional dos Estados Unidos, caso as tendências actuais se mantenham, a Europa será “irreconhecível em 20 anos ou menos” e, em declarações posteriores, classificou os países europeus como “fracos” e “decadentes”, criticando duramente os governos europeus pelo seu apoio à Ucrânia, culpando as "autoridades europeias que mantêm expectativas irrealistas sobre a guerra" e por obstaculizarem um acordo de paz.
Muitos comentadores têm salientado um progressivo afastamento dos Estados Unidos da Europa, embora Donald Trump afirme que quer “ajudar a Europa a corrigir a sua actual trajectória” e que o seu país “está sentimentalmente ligado à Europa, sobretudo à Grã-Bretanha e à Irlanda”.
Na sua edição mais recente, a revista The Week que se publica em Nova Iorque, destaca na sua primeira página uma significativa ilustração em que Donald Trump dá substância ao MAGA, com uma manchete em que questiona se estamos no “end of the alliance?” e com um abraço à bandeira da Rússia, deixando para segundo plano as bandeiras da NATO e da União Europeia, mas também a Torre Eiffel, o palácio de Westminster com o Big Ben e o Coliseu de Roma, isto é, alguns dos símbolos da Europa.
São coisas muito difíceis de entender...

sábado, 13 de dezembro de 2025

Portugal será a economia do ano de 2025?

A mais recente edição da prestigiada revista inglesa The Economist tem sido muito citada em Portugal porque o nosso país foi considerado como “a economia do ano de 2025” num artigo intitulado Which economy did best in 2025?.
Diz o texto que podia ter sido muito pior, porque foi em Abril que Donald Trump começou a sua trade war e temeu-se então por uma recessão global que não aconteceu. O crescimento global da economia foi de cerca de 3%, semelhante ao do ano anterior, o desemprego continuou baixo, o mercado acionista esteve em alta e só a inflação suscitou alguma preocupação. O método utilizado para a escolha combina cinco indicadores de 36 mostly rich countries – inflação, amplitude da inflação, produto, emprego e mercado acionista.
A revista faz a escolha da “economia do ano” pelo quinto ano consecutivo e os vencedores foram a Grécia em 2022 e 2023, a Espanha em 2024 e agora Portugal, o que não deixa de ser estranho, até porque dessa lista fazem parte, entre outros, o Canadá, a Noruega, a Suécia, o Reino Unido, a Áustria e a Nova Zelândia. A escolha de Portugal que a revista considera as sweet as a pastel de nata, baseia-se nos indicadores indicados e nos efeitos do turismo e na fixação de estrangeiros devido à baixa fiscalidade. Portugal será mesmo a economia do ano de 2025? Os meus olhos dizem que não... enquanto The Economist diz que sim.
A mesma revista inclui uma reportagem sobre Europe’s Populist Right – Can they be stopped?, tendo escolhido para ilustrar a capa desta edição uma montagem fotográfica com as imagens de alguns dos principais símbolos da direita populista europeia, tais como Jordan Bardella, Nigel Farage, Marine Le Pen, Giorgia Meloni e Alice Weidel.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Um holandês que é o “palerma do ano”

É costume no mês de Dezembro de cada ano que algumas instituições atribuam prémios e distinções a personalidades que se distingam e daí que no mundo sejam conhecidos os prémios Nobel, os Óscares de Hollywood ou os The Best da FIFA, enquanto em Portugal é atribuído o prémio Pessoa, o Prémio Leya e dezenas de outros prémios artísticos e literários. Porém, há muitos outros prémios que distinguem os melhores nisto e naquilo que, nesta época do ano, enchem os noticiários internacionais.
Porém, se houvesse um prémio internacional para “o palerma do ano” ele seria certamente para Mark Rutte, o holandês que é o secretário-geral da NATO, pelas afirmações incendiárias que tem feito desde o dia em que, miseravelmente, se sabujou a Donald Trump, ao desfazer-se em elogios pela exigência de aumento da despesa militar e dizendo-lhe: “a Europa vai pagar à grande e será uma vitória tua”. O palerma do Mark atribui-se a si próprio uma importância que não tem e não se cansa de misturar a NATO com a UE, quando há dez países que pertencem à NATO mas que não pertencem à UE.
Em declarações recentes o Mark veio dizer que “nunca a ameaça de guerra foi tão sombria como agora”, que “a Europa é o próximo alvo da Rússia” e que já estamos em perigo, embora não seja essa a posição dos Estados Unidos que pretendem que a Rússia seja reintegrada na economia mundial e volte a fazer parte do G8.
Na sua edição de hoje o jornal inglês The Independent destaca em título de primeira página uma frase-propaganda de Mark Rutte – “devemos estar preparados para a guerra como os nossos avós suportaram” – sem que tenha qualquer base sólida para fazer essa afirmação que, naturalmente, está alinhada com os interesses das indústrias do armamento que ele objectivamente representa e em oposição aos interesses dos europeus que querem a paz, como tem revelado o Eurobarómetro.
Mark Rutte quer a guerra e, por isso, é mesmo o palerma do ano.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A paz na Ucrânia está difícil de atingir

A situação que se vive na Ucrânia é muito complexa e a tragédia da guerra iniciada em 24 de fevereiro de 2022 continua – já lá vão 1.384 dias e muitos milhares de mortos –sem que se vislumbre um cessar-fogo, apesar dos planos de paz apresentados pelos americanos que as partes ucraniana e russa quase aceitam, mas que os líderes europeus sempre rejeitam.
O primeiro plano de paz de Donald Trump para a Ucrânia que foi conhecido no dia 21 de novembro constava de 28 pontos, sendo reconhecido que favorecia largamente os propósitos de Putin. No seu ponto 3, esse plano dizia: “Espera-se que a Rússia não invada os países vizinhos e que a NATO não proceda a mais alargamentos”.
Este ponto parece ser um dos “ossos mais difíceis de roer” e as dezenas de comentadores que nos entram em casa todos os dias nunca o mencionam, isto é, quando os russos de Gorbachov aceitaram “a perda da RDA e a reunificação alemã” em 1990, tiveram a garantia de que a NATO não se alargaria para oriente. Porém, isso não aconteceu e, desde então, a NATO passou de 16 para 32 membros, pelo que a Rússia se considerou humilhada.
Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca os dados do problema alteraram-se e os Estados Unidos parecem comportar-se como aliados da Rússia e adversários da Europa. A pressão de Trump sobre Zelensky é enorme mas, como ontem salientava o jornal The Guardian, estamos num “momento crítico”, pois “os líderes europeus unem-se em apoio à Ucrânia”, numa altura em que a National Security Strategy of the United States, recentemente enunciada em apenas 33 páginas, é bem clara ao enunciar o “declínio económico e o apagamento civilizacional da Europa” e ao colocar a Europa e a NATO em segundo plano, para além de avisar que “em poucas décadas alguns membros da NATO serão maioritariamente não-europeus e terão outras alianças diferentes daquelas que tinham quando aderiram à NATO.
Portanto, o braço de ferro na Ucrânia está a acontecer, mais entre americanos e europeus e menos entre russos e ucranianos. As voltas que estas coisas dão...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A evocação dos 84 anos de Pearl Harbor

Desde o fim da 2ª Guerra Mundial que os Estados Unidos são a maior potência mundial, um estatuto que resultou da sua participação vitoriosa nesse conflito, em que morreram cerca de 405 mil militares americanos.
Para os Estados Unidos a guerra começou às primeiras horas da manhã do dia 7 de dezembro de 1941, quando a aviação da Marinha Imperial japonesa atacou de surpresa a Base Naval de Pearl Harbor, nas ilhas Hawai, onde se encontravam cerca de 87 mil militares, dos quais morreram 2.400. 
Foi há 84 anos e ontem, em Honolulu, durante o 84th Pearl Harbor Remembrance Day Ceremony, esse dia foi evocado com solenidade e nessa evocação estiveram presentes três veteranos de guerra centenários, cuja fotografia foi hoje publicada na primeira página do jornal The Wall Street Journal.
Porém, nenhum dos doze sobreviventes do ataque de 1941 compareceu à cerimónia, pois nenhum deles conseguiu deslocar-se ao Hawai. Todos os anos, à excepção do ano de 2020 por causa da covid-19, os sobreviventes desse dia trágico deslocavam-se a Honolulu para tomar parte nas cerimónias evocativas, inclusive no ano passado, em que dois deles ainda estiveram em Honolulu apesar da sua muito avançada idade.
Este ano estiveram presentes mais de três mil pessoas nas cerimónias evocativas realizadas, incluindo familiares de alguns dos militares que morreram nesse dia, mas também alguns cidadãos japoneses sobreviventes da bomba atómica lançada sobre Nagasaki, que estavam de visita à ilha de Oahu.
O tempo tem a virtude de apagar muitas feridas, mesmo quando são muito dolorosas. Assim aconteceu com americanos e japoneses, com alemães e franceses e, terá de acontecer com russos e ucranianos.

sábado, 6 de dezembro de 2025

A cooperação Índia-Rússia está em alta

Os presidentes Vladimir Putin e Narendra Modi, encontraram-se durante dois dias em Nova Delhi e de acordo com o título da edição de hoje do jornal The New Indian Express, a Índia e a Rússia “avançam rapidamente”, tendo concordado em expandir e ampliar o comércio e fortalecer a amizade entre os dois países.
O líder russo teve um primeiro momento de glória com a recepção que teve à chegada à capital indiana, com “uma cavalgada, salvas de canhões e uma sala do trono de mármore”, o que mostrou que não têm resultado os esforços europeus para transformar Putin num perigoso pária por ter invadido a Ucrânia, tal como não tinham resultado nas visitas que fez a Pequim e a Anchorage.
Foi a primeira visita de Putin à Índia desde a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022, com o fim de reforçar a sua aliança comercial e de defesa com a Índia e, segundo relatou a imprensa, foram assinados múltiplos acordos, de que resultarão o fornecimento ininterrupto de combustível, a cooperação nuclear e um ambicioso plano de cooperação económica e de trocas comerciais.
A Índia é a maior compradora de armamento russo, mas nada foi dito sobre os aviões furtivos Su-57, nem sobre o sistema de defesa antiaéreo russo de longo alcance S-400, o que não quer dizer que não tenha havido acordos.
Vladimir Putin sentiu-se entre amigos e tratou de afirmar que irá anexar todo o Donbass “pela força das armas” ou pelo abandono das tropas ucranianas. Quando souberam destas declarações, os amigos europeus de Zelensky devem ter ficado petrificados, enquanto os esforços de Donald Trump para encontrar uma solução para o conflito terão ficado perturbados por este desafio de Putin. O facto é que, como aqui se tem dito, os povos asiáticos estão a emergir em todos os domínios na comunidade das nações.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Uma “tempestade perfeita” na Venezuela

A Venezuela é governada desde 2012 por Nicolás Maduro Moros, um homem de elevada estatura, elevada arrogância e elevado autoritarismo. Começou por assumir a presidência interina do país após a vitória eleitoral de Hugo Chávez, devido à grave doença do presidente eleito que veio a falecer em março de 2013. No mês seguinte, Maduro conseguiu vencer as eleições presidenciais e tornar-se o 57º presidente da República Bolivariana da Venezuela. Cinco anos depois Maduro foi reeleito, embora o resultado das eleições de 2018 não tivesse sido reconhecido, tanto pela oposição, como pela generalidade da comunidade internacional que, desde então, o têm considerado um presidente ilegítimo e o consideram um ditador.
O país vive atrofiado pelo autoritarismo e pela repressão praticados pelo regime e, segundo é regularmente noticiado nos media, a Venezuela está em declínio socioeconómico, com aumento dos problemas políticos e sociais, incluindo o aumento da pobreza, da inflação, da criminalidade e da fome, mas também o crescimento descontrolado do narcotráfico. O ataque ao narcotráfico foi o pretexto que levou Donald Trump a restaurar a Doutrina Monroe, que tendo sido enunciada em 1823, tinha por lema “a América para os americanos”. Assim, há uma escalada na tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela, estando a acontecer uma intensa movimentação militar americana para aquela região, tendo Donald Trump já anunciado que vai haver “ataques americanos contra alvos no interior da Venezuela”, o que é muito preocupante, sobretudo para os venezuelanos.
Perante este quadro, o jornal Diario 2001, que se publica em Caracas, dedica toda a manchete da sua edição de hoje à jovem Clara Vegas Goetz, que foi eleita Miss Venezuela em representação do estado de Miranda e que é “un orgullo para su mamá la también Miss Venezuela 1990 Andreina Goetz”.
Clara estará em Porto Rico no próximo ano e espera-se que seja “la octava corona universal para Venezuela”. 
Quando a situação venezuelana parece configurar uma “tempestade perfeita” que ameaça desabar sobre o país, os venezuelanos e a sua imprensa pensam nas misses 

domingo, 30 de novembro de 2025

Memória de um dia trágico em Hong Kong

Quatro dias depois do trágico incêndio no bairro social Wang Fuk Cour, na zona de Tai Po, nos Novos Territórios de Hong Kong, estão contabilizados 128 mortos e mais de duzentos desaparecidos, segundo anuncia o jornal hojemacau, que publica na sua capa uma impressionante fotografia das torres calcinadas.
Hong Kong e Macau são territórios separados por cerca de 60 quilómetros de distância e ambas são Regiões Administrativas Especiais da República Popular da China, pelo que tudo o que acontece numa delas interessa à outra e daí que o incêndio de Tai Po tenha ocupado as manchetes da imprensa macaense durante alguns dias.
O bairro social Wang Fuk Cour foi construído nos anos 80 do século passado, é constituído por oito torres com cerca de 30 andares com um total de 1.984 apartamentos, nele vivendo cerca de quatro mil pessoas. Estava em trabalhos de manutenção e terá sido por negligência das equipas que nele trabalhavam que deflagrou o pavoroso incêndio que foi possível ver em directo pela televisão, com os bombeiros a procurar extinguir o fogo e a tentar resgatar muitos residentes que estavam retidos nos seus apartamentos.
Certamente que as autoridades de Macau mas também das cidades de todo o mundo onde existem este tipo de torres residenciais, aprenderão a lição desta tragédia para reforçar as necessárias medidas de segurança.

sábado, 29 de novembro de 2025

A Ásia a avançar e a Europa a regredir

A edição de hoje do jornal The Times of India destaca na sua primeira página duas importantes notícias que deveriam ser lidas por todos os líderes europeus: uma refere-se ao crescimento de 8,2% da economia indiana no 2º trimestre de 2025 (Q2), o mais elevado dos últimos seis trimestres e, a outra, destaca o próximo encontro entre Modi e Putin que se vai realizar em Nova Delhi nos próximos dias 4 e 5 de Dezembro.
Relativamente à economia, a recente divulgação das 244 páginas do European Economic Forecast - Autumn 2025, dizem-nos quase tudo. As estimativas para o crescimento económico em 2025 são bem modestas, com 1,4 % para a União Europeia, 1,8% para os Estados Unidos, 0,8% para a Federação Russa, 0,2% para a Alemanha, 0,7% para a França, 1,4% para o Reino Unido e 1,9% para Portugal, enquanto para a China são 4,8% e para a Índia 6,8%. É caso para dizer “palavras para quê”, se estes números evidenciam um dinamismo e um progresso asiático bem diferentes do declínio ocidental.
A outra notícia anuncia o encontro de dois dias entre Vladimir Putin e Narendra Modi para a cimeira anual Rússia-Índia e, entre outros memorandum of understanding (MoU) a negociar, encontram-se o possível fornecimento do sistema de defesa antiaéreo russo de longo alcance S-400 e de aviões furtivos Su-57, o que significa que não é só na economia que este mundo se está a desequilibrar. 
Porém, os líderes europeus continuam a visitar-se mutuamente e a fazer cimeiras presenciais, ou em videoconferência, envolvidos naquela “vaidade a quem chamamos fama”, ignorando que o mundo já mudou e que a nossa Europa é cada vez mais irrelevante.
A Ásia a avançar e a Europa a regredir. Esta parece ser a nova realidade geopolítica.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Portugal é campeão do mundo de futebol

Ontem foi um dia de grande festa e de regozijo nacional porque a selecção portuguesa de futebol triunfou no FIFA U-17 World Cup, isto é, o Campeonato do Mundo de Futebol Sub-17 da FIFA disputado no Qatar e tornou-se campeão do mundo de futebol, que é uma coisa que acontece poucas vezes e a muito poucos países.
Os portugueses que assistiram à final com a equipa austríaca ficaram eufóricos com o espectáculo a que assistiram e com o desempenho dos jovens futebolistas portugueses. A imprensa portuguesa refletiu essa euforia nas suas edições de hoje, publicando manchetes alusivas a esse “feito” desportivo e à “arte” dos atletas, designadamente na chamada “bíblia” do futebol, ou seja, o jornal A Bola.
Eram 48 equipas em competição e a selecção nacional portuguesa ultrapassou a Nova Caledónia (6-1), Marrocos (6-0), Japão (1-2), México (5-0), Bélgica (2-1) e Suiça (2-0). Chegou às meias-finais e encontrou-se com o Brasil (0-0), mas a lotaria dos penaltis foi-lhe favorável e chegou à final, que foi disputada ontem. O adversário era a equipa da Áustria, mas a equipa portuguesa triunfou por 1-0 e tornou-se campeã do mundo, como muito merecimento – digo eu que vi.
Uma vitória deste tipo no futebol tem um valor relativo, mas num país com tantos problemas na saúde, na educação, na habitação e na justiça, mas também com dificuldades em muitas outras áreas da nossa vida colectiva, este triunfo futebolístico e a forma como os jovens jogadores portugueses jogaram, cantaram o hino e empunharam a bandeira nacional, é um forte contributo para aumentar a nossa auto-estima e para reforçar a coesão nacional, mas também para que alguns países estrangeiros nos olhem com um olhar mais atento e menos sobranceiro.
Aqui fica o justo aplauso aos nossos campeões do mundo!

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Uma grande catástrofe em Hong Kong

Um incêndio de enormes proporções, considerado o mais mortífero na história de Hong Kong, deflagrou ontem no bairro social Wang Fuk Court, construído nos anos 80 do século passado, que é constituído por oito torres com cerca de trinta andares, com 1.984 apartamentos onde se estima que viviam cerca de 4.000 pessoas. 
O jornal South China Morning Post, que é o principal jornal da antiga colónia inglesa, dedicou toda a primeira página da sua edição de hoje ao catastrófico incêndio, informando que havia “36 mortos e 279 desaparecidos”, mas as notícias mais recentes já referem “94 mortos e quase 300 desaparecidos”.
Embora ainda não se conheçam as causas do trágico incêndio, tudo aponta para uma grosseira negligência de alguns trabalhadores que vinham realizando trabalhos de manutenção em algumas daquelas torres, pois foram descobertos materiais inflamáveis e esponjosos que arderam rapidamente, que libertaram fumos tóxicos e que propagaram o fogo pelos sucessivos andaimes em estruturas de bambu, que apoiavam os trabalhos de manutenção que estavam a ser realizados. O fogo propagou-se rapidamente às outras torres e a acção dos bombeiros revelou-se ineficaz.
Segundo foi declarado, tudo correu mal, pois não foram audíveis quaisquer sinais de alarme e não terão sido atendidas as reclamações de muitos moradores contra os trabalhos que decorriam nos prédios que alegaram falta de segurança.
As imagens televisivas desta catástrofe foram impressionantes e lembraram os ataques às torres gémeas de Nova Iorque, acontecidos no dia 11 de setembro de 2001.

domingo, 23 de novembro de 2025

A bandeira de Ceuta é memória lusitana

A edição de ontem do jornal El Faro de Ceuta publica na sua primeira página uma fotografia em que Pedro Sánchez, o presidente do governo de Espanha, abraça Juan Jesús Vivas, o prefeito-presidente da Cidade Autónoma de Ceuta, durante a sua quarta visita oficial àquele território, destacando-se nessa fotografia as bandeiras de Espanha e da Cidade Autónoma.
A bandeira da Cidade Autónoma de Ceuta tem uma forte ligação emocional a Portugal, porque o seu desenho gironado de oito peças de negro e prata é igual ao da cidade de Lisboa. Essa ligação é ainda mais evidente no brasão colocado no centro da bandeira, que representa as armas portuguesas, tal como eram representadas no século XV.
A história desta bandeira “nasceu” no dia 22 de agosto de 1415, durante a conquista de Ceuta pelos portugueses, quando foi pedido a João Vasques de Almada que hasteasse a bandeira no ponto mais alto da cidade como símbolo da vitória alcançada.
Depois, com a cidade a depender do rei de Portugal, a cidade continuou a hastear aquela bandeira, inclusive no período filipino da União Ibérica (1580-1640). Quando em 1640 aconteceu a restauração da independência de Portugal, a cidade de Ceuta optou por não regressar à soberania do novo rei de Portugal e jurou fidelidade a Filipe IV, mas manteve a sua bandeira e o seu brasão, que chegaram até à actualidade. Esses símbolos constituem um curioso sinal da história da expansão marítima portuguesa, iniciada exactamente com a tomada de Ceuta em 1415, quando o reino de Granada ou Emirado Nacérida de Granada, localizado do outro lado do estreito, ainda era dominado pelos muçulmanos do rei Maomé XII.

sábado, 22 de novembro de 2025

O plano de Trump para a paz na Ucrânia

Na sua actual fase, o conflito da Ucrânia já dura desde o dia 24 de fevereiro de 2022, isto é, há 1344 dias, mas durante todo este tempo falou-se mais da guerra do que da paz, ficando muitas vezes no ar a ideia de que há muita gente mais interessada nos negócios de armamento do que no fim das hostilidades. Muita gente já morreu, muitas cidades e infraestruturas foram destruídas e milhões de ucranianos ficaram com as suas vidas arruinadas. Todos assistimos ao corrupio de dirigentes europeus, com destaque para essa figura menor que é Ursula von der Leyen, que foram a Kiev para ser vistos e para empurrar Zelensky para o abismo, ao convencerem-no que não lhe faltaria apoio e que ganharia uma guerra em que do outro lado está uma potência nuclear.
Agora, provavelmente entusiasmado com a sua obsessão pelo prémio Nobel, o presidente Donald Trump preparou um plano de paz em 28 pontos que é um verdadeiro ultimato a Zelensky, como refere o jornal londrino The Independent: se aceita o plano será uma traição face aos seus compromissos que assumiu perante os seus concidadãos, mas se o rejeita perderá o apoio do armamento do seu aliado americano que tem sido o seu principal instrumento nas operações militares. É um grande dilema para Zelensky.
O plano de paz de Trump é muito duro e até humilhante para a Ucrânia e para a Europa, pois prevê que a Ucrânia faça a cedência de cerca de 20% do seu território à Rússia, incluindo a Crimeia, que não aderirá à NATO, que as suas forças armadas terão um limite máximo de 600 mil efectivos, que não haverá tropas da NATO no seu território e que deverão ser realizadas eleições dentro de 100 dias, o que parece mostrar que os americanos se querem ver livres de Zelensky, bem como das teimosias e das utopias que os líderes europeus lhe têm metido na cabeça, sem olharem à diversidade e natureza cultural, religiosa e étnica da população ucraniana.
Entre os 28 pontos do plano está inscrito um ponto que diz que “espera-se que a Rússia não invada os países vizinhos e que a NATO não se expanda ainda mais” e esta simples frase parece sintetizar a razão desta guerra.
Ninguém sabe se a Ucrânia aceita ou não aceita o plano de Trump, com alterações ou sem alterações, mas é tempo de acabar com esta guerra e com o crescente belicismo que anda por aí.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A festa dos apurados para a World Cup

Muito se enganam os que pensam que o fenómeno futebolístico, enquanto espectáculo, manifestação de arte e negócio de muitos milhões de cores diversas, tem uma geografia restrita aos países da Europa Ocidental e da America do Sul, mas o entusiasmo pelo jogo da bola já é um acontecimento universal e não tem fronteiras. Agora que se estão a definir as 48 selecções nacionais que, no próximo Verão, irão disputar nos três países da América do Norte o 2026 FIFA World Cup, é bem curioso observar como alguma imprensa festeja o apuramento da equipa dos seus países.
Ontem, em Viena, com a arbitragem do referee português João Pinheiro, as selecções da Áustria e da Bósnia Herzegovina lutaram por uma vitória que levaria uma delas à América do Norte. Nesse grupo de apuramento, que também incluia as selecções da Roménia, Chipre e San Marino, aquele jogo da fase europeia das eliminatórias para o campeonato – um só jogo – tudo iria decidir. O jogo foi muito disputado e parece que o árbitro esteve à altura das circunstâncias. O resultado foi um empate por 1-1, que deu o apuramento à Áustria.
Na sua edição de hoje, o jornal generalista Österreich, que é um diário tablóide que se publica em Viena, destaca o entusiasmo austríaco pelo apuramento da sua selecção com uma fotografia que “vale mais que mil palavras”. De facto, não é costume em lado nenhum que um jornal enfatize desta forma este tipo de notícia.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Gripens e Rafales a caminho da Ucrânia?

Há menos de um mês foi anunciado que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson tinham assinado uma carta de intenções para a venda de 150 aviões de combate Saab Gripen-E destinados à Força Aérea da Ucrânia, faltando definir os termos exactos quanto a custos e data de entrega, embora o valor do contrato possa oscilar entre 12 e 18.000 milhões de euros. Entretanto, Zelensky foi a Paris e, como hoje anuncia a edição do jornal La Dépêche du Midi, assinou com o presidente Emmanuel Macron uma outra carta de intenções para a aquisição de 100 aviões Rafale F-4, num valor estimado entre 10 e 15.000 milhões de euros.
Qualquer destas notícias foi adjectivada como histórica, tanto pelos construtores suecos como pelos construtores franceses, mas Donald Trump deve estar furioso por esta “deslealdade ucraniana” e por estarem a ser ignorados os seus Lockheed Martin F-35.
Porém, há muita gente que deve estar boquiaberta com estas operações e com os colossais valores que estão em jogo, porque se levanta a questão do financiamento destas aquisições num país em guerra e que é altamente dependente da ajuda de vários países europeus, onde as opiniões públicas estão perplexas com as notícias sobre a corrupção no país de Zelensky.
É sabido que nem a Saab nem a Dassault Aviation têm capacidade de produção para satisfazer estas “encomendas” de aviões, pelo que os ucranianos “não os terão tão cedo”, até porque é necessário formar mecânicos e pilotos.
Parece, portanto, que há uma indústria do armamento que está interessada em continuar a guerra da Ucrânia, mesmo quando alguns dirigentes políticos dizem o contrário.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Portugal no 2026 FIFA World Cup

Hoje não se fala de outra coisa em Portugal, porque a seleção nacional de futebol ganhou à seleção da Arménia num jogo emocionante disputado na cidade do Porto. Tudo correu bem e os portugueses lembram-se dos golos de João Neves, de Bruno Fernandes e de outros jogadores, esquecendo a Ucrânia e Gaza, as eleições presidenciais e o mau tempo provocado pela depressão Cláudia.
A vitória por 9-1 garantiu a presença num Campeonato do Mundo de Futebol pela 9ª vez. Foram nove golos como salienta a manchete da edição de hoje do jornal A Bola e foi também a 9ª vez que a selecção portuguesa foi apurada para um Mundial de futebol.
Assim, a 23ª edição do 2026 FIFA World Cup que se realizará em 16 cidades dos Estados Unidos, México e Canadá, vai incluir Portugal entre as 48 equipas participantes, incluindo 16 seleções são europeias, das quais já estão apuradas a França, Portugal, Noruega, Inglaterra e Croácia.
A competição vai decorrer a partir de 11 de junho até 19 de julho de 2026 e vai entusiasmar meio mundo, nomeadamente em Portugal. Ainda bem que assim é, porque se a participação portuguesa tiver a qualidade que se espera, ganha a auto-estima lusitana, ganha a economia portuguesa e ganha o prestígio internacional de Portugal.
Portanto, é preciso que se conserve o entusiasmo proporcionado por esta vitória sobre a Arménia, mas também é necessário que não haja euforias desproporcionadas, como são as declarações de algumas personalidades que até já pensam numa vitória portuguesa no 2026 FIFA World Cup.

sábado, 15 de novembro de 2025

Cartagena e o Desfile de la Independencia

A cidade de Cartagena de Indias, ou simplesmente Cartagena, é a quinta cidade da Colômbia e o seu historial atesta que foi a sede do governo e a residência dos vice-reis durante o período colonial espanhol até 1811, quando a cidade declarou a sua independência. Situada na orla marítima do mar das Caraíbas, a cidade de Cartagena de Indias conserva as suas fortificações e a sua estrutura arquitectónica militar colonial, que em 1984 foram declaradas Património Mundial pela Unesco.
Todos os anos a histórica cidade comemora o 11 de novembro de 1811 com as Fiestas de Independencia, mas no corrente ano em que se festejavam 214 anos desse dia libertador, as autoridades locais decidiram investir fortemente no sentido de promover a internacionalização do evento e fazer de Cartagena um destino turístico e cultural ainda mais apetecido. O ponto principal das festas foi o Desfile de la Independencia de Cartagena em que participaram “más de 10.000 artistas, 200 comparsas y 28 carrozas elaboradas por 40 artistas plásticos locales”, a que assistiram mais de cem mil pessoas, entre cartageneros e visitantes.
O mais importante jornal da cidade é o El Universal que, na sua última edição, dedicou um alargado espaço ao Gran Desfile de la Independencia de Cartagena 2025 e salientou que num cenário tão especial como a avenida Santander, entre o mar das Caraíbas e o Centro Histórico da cidade, houve tradição e cultura, música, dança, arte e cor, lembrando os famosos desfiles carnavalescos brasileiros.
Satisfeito com a festa, el alcalde Mayor de Cartagena agradeceu aos cartageneros e disse-lhes: “Viva Cartagena de Indias!”.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O fim de uma moeda com 232 anos

A United States Mint, ou Casa da Moeda dos Estados Unidos, que se localiza em Filadélfia e é a entidade responsável pela produção da moeda americana, cunhou ontem a última moeda de um centavo (penny) enquanto moeda corrente, seis meses depois de Donald Trump ter anunciado que essas moedas deixariam de ser produzidas porque o seu custo é 3,7 vezes superior ao seu valor.
Porém, a moeda de cobre que exibe a face de Abraham Lincoln continuará a circular, pois estima-se que ainda existam 300 mil milhões dessas moedas em circulação, que continuarão a poder ser utilizadas. Esta decisão representa uma enorme poupança para o Tesouro americano e uma progressiva redução nas operações de caixa das transacções comerciais, sendo uma medida que alguns países já tomaram, designadamente o Canadá, que em 2012 deixou de cunhar a sua moeda de de um centavo.
Hoje, a notícia da cunhagem da última moeda de um penny com a face de Abraham Lincoln teve honras de primeira página na edição do The Wall Street Journal, que lembra que essa moeda era produzida desde 1793, isto é, que circula desde há 232 anos. No entanto, é possível que no futuro a Casa da Moeda venha cunhar moedas de um centavo em quantidades muito limitadas, especialmente para colecionadores e sem que entrem em circulação.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Angola celebrou 50 anos de independência

A República de Angola e os angolanos festejaram hoje com grande alegria o 50º aniversário da independência nacional e, por razões históricas e culturais, esse acontecimento também foi evocado com alegria em Portugal, como se observou na imprensa portuguesa que evocou a independência angolana, mas também em vários espaços das cadeias televisivas que mostraram os desfiles cívico e militar com que Luanda festejou o acontecimento. De resto, calcula-se que haverá cerca de 100 mil portugueses em Angola, sobretudo empresários, enquanto estão recenseados mais de 92 mil angolanos em Portugal, o que mostra claramente uma íntima relação entre os dois países que vai para além do interesse económico.
Angola é um grande país de 32 milhões de habitantes, sendo o sétimo maior de África e o vigésimo segundo do mundo, estando a assumir cada vez mais o estatuto de potência regional no sul do continente africano e no Atlântico Sul. Porém, ninguém esquece que o país viveu 27 dos seus 50 anos de independência em guerra civil, com muitas mortes e muita destruição, mas os tempos de paz e de reconciliação que os angolanos vivem desde 2002 têm trazido progressos assinaláveis. O presidente João Lourenço falou aos angolanos e disse, num exercício de retórica adequado à efeméride que se celebrava, que “em 50 anos fizemos mais que o regime colonial português em 500 anos”, mas também salientou que estão a ser dados “passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento” do país.
É isso exactamente o que se deseja para os angolanos, a partir do estimulante sinal de confiança no futuro que representou a festa dos 50 anos da independência de Angola.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Brasil, alterações climáticas e a COP30

As alterações climáticas são uma realidade e os seus efeitos são sentidos sob diversas formas, devido ao fenómeno do aquecimento global que, nos últimos dez anos, fez com que a temperatura anual do planeta tivesse subido cerca de 0,46 graus Celsius. Para lutar contra este problema e encontrar soluções realizam-se desde 1995 as conferências sobre as mudanças climáticas.
Hoje, na cidade de Belém, a capital do estado brasileiro do Pará e porta de entrada para o Baixo Amazonas, começa a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, ou 30th Conference Of the Parties, ou ainda e abreviadamente, COP30.A escolha de Belém para receber a COP30 tem entusiasmado a cidade, o Brasil e o presidente Lula da Silva e, para além de um grande investimento que foi feito para adaptar e modernizar as suas infraestruturas, até a capital federal brasileira será transferida provisoriamente de Brasília para Belém até ao dia 21 de novembro, para melhorar a ligação das autoridades brasileiras com as delegações estrangeiras e, sobretudo, para afirmar o protagonismo brasileiro nas negociações climáticas.
A edição de hoje do jornal Folha de Pernambuco que se publica na cidade do Recife, destaca o início do debate climático global, no qual os Estados Unidos não participarão porque Donald Trump considera que as alterações climáticas são uma farsa e até já tinha retirado o seu país dos acordos climáticos de Paris de 2015. Na COP30 o destaque vai incidir sobre os povos indígenas, a protecção das florestas e a procura de maneiras de ajustar o Acordo de Paris aos novos tempos, porque “os riscos são maiores do que nunca”, devido ao aquecimento da temperatura da Terra estar a aumentar mais rapidamente do que se pensara e de não estarem a ser substituídos o carvão, o petróleo e o gás ao ritmo necessário.
Ninguém sabe o que vai sair da COP30...

sábado, 8 de novembro de 2025

A China aprontou um novo porta-aviões

A República Popular da China anunciou que o novo porta-aviões Fujian entrou ao serviço e a notícia apareceu na edição de hoje do jornal South China Morning Post, um jornal em língua inglesa de Hong Kong. 
Esse facto ocorreu esta semana no porto de Sanya, no sul da China, numa cerimónia a que assistiu Xi Jinping e, segundo tem sido salientado pelos especialistas, a entrada ao serviço do Fujian é um passo decisivo na modernização militar chinesa.
A China já dispunha dos porta-aviões Liaoning e Shandong, mas com o novo Fujian, que é dotado de propulsão convencional mas que se anuncia ter catapultas electromagnéticas, é um avanço tecnológico importante e “um marco sem precedentes na história da tecnologia de catapultas de porta-aviões”.
A incorporação do Fujian na Marinha do Exército de Libertação Popular simboliza o amadurecimento industrial e militar da China. Com este novo porta-aviões, a China consolida a sua posição entre as maiores potências navais do mundo, ao lado dos Estados Unidos, que também possuem uma dezena de porta-aviões com catapultas eletromagnéticas. 
Porém, mais do que um avanço tecnológico, o Fujian reflecte a ambição chinesa de projetar poder marítimo e proteger os seus interesses estratégicos globais, embora o faça sempre com um discurso de “defesa nacional e de manutenção da estabilidade regional”, conforme repetem as autoridades do país. 
Naturalmente, a questão de Taiwan e o seu regresso à mãe-pátria continua a ser uma questão de soberania nacional para a República Popular da China e, sobretudo,  esse problema foi decisivo para que se equipasse com porta-aviões.

Uma réplica resgata a cultura marítima

Toda a imprensa basca de hoje, incluindo o diário El Correo, deu grande destaque ao lançamento à água da nau San Juan, uma réplica de um navio-baleeiro do século XVI com o mesmo nome, que foi construída pelo Albaola Itsas Kultur Faktoria, um museu-estaleiro localizado em Pasaia, na província de Gipuzkoa do País Basco, próximo da fronteira franco-espanhola.
Esse navio-baleeiro naufragara em 1565 nas costas atlânticas do Canadá e em 1985 foi tema de uma reportagem no National Geographic Magazine. A partir daí, com o entusiasmo de um carpinteiro naval basco, nasceu o projecto de recuperação da história marítima basca e dos seus navios-baleeiros.
Os destroços do San Juan foram localizados em Red Bay, na costa sueste da península do Labrador, graças às pesquisas realizadas pela historiadora Selma Huxley e pelos Serviços Arqueológicos Subaquáticos do Canadá, que catalogaram os milhares de peças que permitiram definir com precisão o casco e as técnicas de construção do século XVI, tornando este achado numa referência internacional da arqueologia subaquática.
Com as informações recebidas do Canadá, o Albaola Itsas Kultur Faktoria e o seu animador Xabier Agote iniciaram a construção da réplica científica do San Juan, que teve o apoio da UNESCO e demorou cerca de 12 anos. Nos próximos meses, o San Juan passará a ser um navio-museu visitável. 
Como foi afirmado na cerimónia da botadura “no es solo la reconstrucción de um barco histórico, sino la espresión del esfuerzo colectivo de una comunidad. Mediante esta iniciativa, Pasaia demuestra una vez más que un pueblo pequeño, desde sus raíces y la fuerza de su gente, puede proyectarse al mundo”.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Zohran Mamdani é aposta contra Trump

As eleições locais norte-americanas que aconteceram esta terça-feira em 55 localidades dos Estados Unidos e colocaram em destaque dois nomes: o democrata Zohran Mamdani, que venceu as eleições para prefeito da cidade de Nova Iorque e o cabo-verdiano Moisés Rodrigues, que foi eleito como novo presidente da Câmara de Brockton, no estado de Massachusetts. 
A vitória de Zohran Mamdani nas eleições para a Câmara de Nova Iorque entusiasmou os adversários de Donald Trump e levou a que este afirmasse que os nova-iorquinos escolheram um “comunista” para representar a cidade. Este resultado de um muçulmano de 34 anos de idade que apoia a causa palestiniana, é um alívio para o Partido Democrata que, com este sucesso, procura o fôlego perdido após a derrota nas eleições presidenciais de 2024, quando as próximas eleições intercalares estão a um ano de distância.
Num processo muito semelhante, as eleições para a presidência da Câmara de Brockton, no estado de Massachusetts, deram a vitória ao emigrante cabo-verdiano Moisés Rodrigues, que foi felicitado pelo presidente de Cabo Verde e vai governar “a cidade mais cabo-verdiana fora das ilhas”.
Os trumpistas e os apoiantes do MAGA ficaram muito irritados com estes resultados e com a contestação que começou a organizar-se por todo o país, o que aumenta a instabilidade num país cada vez mais desigual, mais insatisfeito e, por vezes, considerado em crise civilizacional. 
Zohran Mamdani parece ser um farol a iluminar uma nova América que contesta Donald Trump e, como mostrava ontem a edição internacional do The New York Times, falou e fez-se fotografar junto da Unisfera, a esfera terrestre em aço que se encontra em Flushing Meadows-Corona Park, no bairro de Queens em Nova Iorque, que foi construída em 1964 para se tornar o símbolo da Feira Mundial de 1964. 
Foi aí, nesse ano de 1964, que muitos dos meus amigos se fizeram fotografar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Brasil de Marias, Josés, Silvas e Santos

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou os resultados de um estudo feito a partir dos resultados do XIII Recenseamento Geral do Brasil, mais conhecido como Censo 2022, que retrata a população brasileira no dia 1 de agosto de 2022. Uma parte desses resultados foi divulgada pelo jornal O Dia, que se publica no Rio de Janeiro e é muito curiosa, pois mostra aquilo que muitos brasileiros não gostam de saber, isto é, que as raízes do Brasil são portuguesas, como escreveu Sérgio Buarque de Holanda, mas que a marca portuguesa continua bem forte no Brasil contemporâneo, não só através da língua mas também através dos nomes. “Um país formado por milhões de Silvas”, como escreveu O Dia, ou o país das Marias e dos Silvas, dos Josés e dos Santos. 
De cada cem brasileiros, seis são Marias, isto é, o Brasil tem 12,3 milhões de Marias, mas nas cidades cearenses de Morrinhos e Bela Cruz, as Marias somam 22% da população. Já os Silva são 34 milhões de brasileiros ou 16% da população e, em seis cidades de Pernambuco e Alagoas, os Silva são mais de 60% da população. 
Os nomes mais frequentes nas mulheres são Maria (mais de 12 milhões), Ana, Francisca, Júlia e Antónia, enquanto nos homens os nomes mais habituais são José (mais de 5 milhões), João, António, Francisco e Pedro. Relativamente aos apelidos, os mais frequentes são Silva (mais de 34 milhões), Santos (21,3 milhões), Oliveira (11,7 milhões), Sousa (9,1 milhões), Pereira (6,8 milhões), Ferreira (6,2 milhões), Lima (6,0 milhões), Alves (5,7 milhões), Rodrigues (5,4 milhões) e Costa (4,8 milhões). 
É difícil encontrar sinais tão marcantes de portugalidade na identidade brasileira para além da própria língua, mas esta revelação feita pelo estudo do IBGE é realmente surpreendente pela forma como os brasileiros usam nomes de origem portuguesa.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A primeira derrota de Donald Trump

O sistema eleitoral americano é muito complexo e daí que haja diferentes ciclos eleitorais a nível federal, estadual e local, muito diferentes dos que acontecem na Europa.
Assim, na passada terça-feira, realizaram-se as primeiras grandes eleições do segundo mandato de Donald Trump e houve chamada às urnas em cerca de metade dos estados americanos. Donald Trump recebeu um grande cartão vermelho, porque os eleitores de toda a costa leste dos Estados Unidos deram aos Democratas uma vitória, ao elegerem os governadores da Virgínia e de Nova Jersey e, sobretudo, o mayor de Nova Iorque, sempre contra adversários apoiados por Trump, o que não o terá deixado nada satisfeito.
No estado da Virgínia, a moderada e ex-membro da Câmara dos Representante Abigail Spanberger de 46 anos de idade venceu, será a primeira mulher a governar o estado e teve o melhor desempenho democrata na história recente daquele estado.
No estado de Nova Jersey, a vitória também coube a outra moderada, a deputada Mikie Sherrill, de 53 anos de idade e ex-piloto da Marinha, que foi congressista durante quatro mandatos.
Em Nova Iorque foi eleito para mayor da cidade o jovem Zohran Mamdani, de 34 anos de idade, que é o primeiro muçulmano e o primeiro presidente de ascendência sul-asiática a governar a Big Apple, a maior cidade dos Estados Unidos.
A notícia destas eleições foi manchete nas edições de hoje de toda a imprensa americana, mas pela sua postura radical destacou-se o jornal nova-iorquino New York Post, que sempre apoiou Donald Trump. Hoje, esse jornal não hesitou em classificar o candidato democrata Zohran Mamdani como marxista, em apresentá-lo a erguer o símbolo do comunismo e a chamar à cidade de Nova Iorque a Red Apple, comportando-se como um vulgar e panfletário pasquim. 
Em Israel quem não apoia Netanyahu é terrorista e aliado do Hamas.
Nos Estados Unidos quem não apoia Trump é marxista ou comunista.
É assim que as ditaduras, mas também este tipo de democracias, tratam os seus adversários…

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os drones: da vigilância a arma de guerra

A guerra na Ucrânia teve início no dia 24 de fevereiro de 2022, quando Vladimir Putin ordenou uma “operação militar especial”, concretizada através de invasão que apenas veio intensificar a tensão e o estado de guerra que se vivia no território ucraniano oriental desde 2014, sobretudo nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk.
Desde há cerca de 45 meses que, todos os dias, somos massacrados com notícias, umas verdadeiras outras falsas, para além de ouvirmos um sem número de comentadores especializados, mas o facto é que não sabemos o que realmente se passa no terreno, embora se perceba que as partes estão cansadas, que desejam o fim do morticínio e da destruição e que não estão disponíveis para aceitar a vitória do outro.
No campo especificamente do confronto militar, porque os recursos humanos e materiais são escassos, os dois adversários transformaram a utilização de drones — veículos aéreos não tripulados, tanto civis como militares — numa ferramenta estratégica e simbólica que passou a marcar o ritmo, a eficácia e até a moral das tropas. Pelo seu baixo custo, precisão e autonomia os drones tornaram-se elementos cruciais naquele conflito, onde o controlo do espaço aéreo é essencial e é disputado pela tecnologia, pela inteligência artificial e pela logística.
À medida que o conflito se prolonga, os drones evoluíram de ferramentas de vigilância para armas ofensivas e plataformas de guerra psicológica, substituindo-se aos disparos da artilharia, aos bombardeamentos aéreos e aos mísseis. O uso intensivo de drones, tanto por russos como por ucranianos, responde à necessidade de reduzir perdas humanas e de compensar as deficiências da logística, mostrando que o futuro das guerras já não depende apenas do factor humano mas, cada vez mais, da capacidade de possuir e programar drones.
A última edição do jornal catalão ara que se publica em Barcelona, dedica uma desenvolvida reportagem à la guerra dels drons.

A inauguração do Grande Museu Egípcio

O Grande Museu Egípcio (GEM na sua sigla em inglês) foi inaugurado no passado sábado na cidade do Cairo, numa cerimónia faraónica que a edição de domingo do jornal Kuwait Times classificou como “luxuosa”. Parece que o caso não era para menos, pois nela estiveram presentes dezenas de chefes de Estado e de Governo, bem como membros de casas reais de vários países.
O GEM ocupa uma área de 47 hectares e tem cerca de 100 mil artefactos, reunindo as mais emblemáticas peças da história egípcia como a colossal estátua de Ramsés II, com 83 toneladas, que dá as boas-vindas aos visitantes no átrio principalo lendário Barco Solar do Rei Khufu, a colecção completa do Rei Tutankhamon, composta por 5.398 objetos, os tesouros da Rainha Hetepheres, entre muitas outras raridades que fazem do GEM o maior museu arqueológico do mundo.
A sua construção iniciou-se no ano de 2005, durante a presidência de Hosni Mubarak mas, por circunstâncias imprevistas como a turbulência política durante e após a Primavera Árabe de 2011, a pandemia de covid-19 e as guerras na Ucrânia e em Gaza, o projecto sofreu atrasos e a sua construção demorou vinte anos. 
Trata-se de um investimento de 1.000 milhões de dólares, que é dedicado à antiga civilização egípcia e tem como objectivo impulsionar a indústria do turismo e a economia da República Árabe do Egipto, que espera que o museu atraia sete milhões de turistas por ano e se torne um dos mais visitados museus do mundo.
Entre os convidados do presidente egípcio Abdul Fatah Khalil Al-Sisi encontrava-se o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas não é conhecida a composição da sua comitiva, nem como se deslocou.