domingo, 15 de setembro de 2013

R.I.P. Kiyoshi Kobayashi

A Federação Portuguesa de Judo anunciou a morte de Kiyoshi Kobayashi que, aos 88 anos de idade, faleceu no Japão.
Se Wenceslau de Morais foi o português que adoptou o Japão, Kobayashi foi o japonês que adoptou Portugal. Assisti algumas vezes às suas aulas, mas nunca foi meu treinador, nem nunca tivemos qualquer contacto. No entanto, muitos dos meus amigos conviveram e aprenderam com ele, elogiando-lhe sempre a sua correcção de atitude, a sua educação e o seu bom trato. Nascido a 9 de Abril de 1925, o mestre Kiyoshi Kobayashi integrou um grupo japonês que fez um périplo mundial para divulgar as artes marciais e a cultura nipónica, tendo visitado os Estados Unidos, o Médio Oriente e a Europa. Em 1958 chegou a Portugal com o objectivo de dedicar dois anos ao ensino do judo, mas acabou por ficar meio século. Nessa altura o judo era praticamente desconhecido em Portugal e o seu trabalho e a sua dedicação foram contributos importantíssimos para a sua divulgação, fazendo com que se tornasse numa das modalidades com mais praticantes em Portugal e que, inclusive, tivesse proporcionado uma medalha ao nosso país em 2000 nos Jogos Olímpicos de Sydney. O mestre Kiyoshi Kobayashi foi seleccionador e treinador da selecção nacional, tendo liderado as equipas nacionais nas mais importantes competições internacionais. Tinha uma das mais altas graduações de judo, o nono dan – em dez possíveis no cinturão negro – que lhe foi atribuído pela Federação Internacional em 1999 e tem sido, justamente, considerado o “pai do judo português”.
Apesar de ser médico de profissão, o mestre Kiyoshi Kobayashi dedicou-se principalmente ao ensino do judo, tendo colaborado com diversas escolas e ensinado milhares de praticantes. E há uma lenda a respeito de mestre Kiyoshi Kobayashi que vai ficar connosco: aos 19 anos de idade, durante a II Guerra Mundial, fez parte dos esquadrões kamikaze e terá cumprido e sobrevivido a duas missões. Tinha regressado ao Japão há três anos.

Gente com muito pouca vergonha

Em Abril de 2011, enquanto candidato eleitoral, o actual primeiro-ministro afirmou que fez as contas e que estava em condições de garantir que não seria preciso cortar salários nem fazer despedimentos para consolidar as finanças públicas portuguesas. E disse textualmente que "nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos: não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro".
Mentiu descaradamente para ganhar as eleições. Depois, veio a pressão da troika e dos especuladores financeiros nacionais e internacionais, tendo o chamado processo de ajustamento sido transformado num doloroso processo de destruição da nossa economia, com desemprego, empobrecimento, aumento da dívida, saída para o estrangeiro e uma crescente perda de confiança no futuro. Apesar destes resultados catastróficos, a saga continua com a insensibilidade social de sempre, com a mesma descarada protecção à banca e com a habitual humilhação imposta pelos credores. Não aprenderam a lição do passado e, quando na televisão vemos a cumplicidade de sorrisos entre portas e albuquerques, perdemos a última réstia de esperança. Até o pudor se acabou. Em vez de reformarem o Estado, darem bons exemplos, acabarem com o exército de assessores com que ocuparam o aparelho de Estado, renegociarem a dívida, cortar nos privilégios da banca e dos “campeões nacionais”, decidem atacar os mesmos de sempre – os funcionários públicos e os pensionistas. Cortam os salários e as pensões e vão fazer despedimentos! Com crueldade. Há sempre uns irrevogáveis sem dignidade prontos para tudo apoiar e também há uns rosalinos disponíveis para fazer estes trabalhos, porque o incompetente e desorientado passos nem coragem tem para aparecer. Realmente, é gente sem vergonha nenhuma!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Catalunha exige um referendo

Ontem foi o Dia Nacional da Catalunha – a Diada – que todos os anos celebra o dia 11 de Setembro de 1714, a data em que durante a Guerra da Sucessão Espanhola, a cidade de Barcelona e as tropas catalãs se renderam às tropas castelhanas e francesas. O novo rei – Filipe V de Espanha – incorporou então o território catalão no Reino de Espanha, extinguindo todas as suas instituições políticas e impondo um processo de repressão cultural. Pode afirmar-se que o actual independentismo catalão nasceu nesse dia, mas que viveu clandestinamente durante quase três séculos.
Hoje, a corrente independentista catalã tornou-se muito forte e assenta no princípio de que a Catalunha é uma nação, por razões históricas, culturais e linguísticas, mas também na afirmação de que a sua plenitude cultural, social e económica só se alcançará quando se desligar do centralismo de Madrid e se separar da Espanha. O independentismo catalão tem-se acentuado nos últimos anos, sobretudo desde que a crise económica atingiu a região. Ontem, cerca de um milhão e meio de pessoas participaram numa acção reivindicativa e de protesto, ao formar um  cordão humano com cerca de 400 quilómetros, desde o sul da Catalunha até à fronteira francesa, para exigir um referendo à sua independência. Foi chamada a Via Catalã e toda a imprensa espanhola a relatou, a confirmar que constituiu um êxito e um verdadeiro desafio ao governo de Rajoy e, naturalmente, ao Rei que é o símbolo da unidade da Espanha. As forças políticas independentistas exigem agora um referendo, enquanto uma sondagem revela que 81% dos catalães desejam que a consulta popular se realize, independentemente do seu sentido de voto e  52% se afirmem a favor da secessão. Porém, há várias "catalunhas" por essa Europa fora, além de que a União Europeia já fez saber que uma Catalunha independente não tem assento imediato em Bruxelas.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A retoma ou um entusiasmo de Verão?

Nas últimas semanas foram anunciados alguns indicadores económicos relativos a Portugal – produto, desemprego e exportações – que, embora sejam animadores, podem gerar algum sentimento de exagerado optimismo. Até o diário luxemburguês Le Quotidien destacou essa notícia!
De acordo com os mais recentes dados estatísticos, o produto cresceu 1,1% no segundo trimestre de 2013, face ao trimestre anterior, interrompendo uma série de dez trimestres consecutivos em recessão e Portugal foi o país que maior subida registou no PIB, entre os 23 países que disponibilizam dados ao Eurostat. No entanto, em termos homólogos, o PIB continua a cair e a quebra verificada neste segundo trimestre do ano foi de 2% face ao segundo trimestre do ano passado. O desemprego desceu em Julho, pelo terceiro mês consecutivo, situando-se a taxa de desemprego nos 16,4%, o que significa que desceu 1,3 pontos percentuais abaixo do trimestre anterior em que se situou nos 17,7%, mas que continua com mais 1,4 pontos percentuais do que no mesmo período de 2012. As exportações aumentaram 6,3% e as importações apenas cresceram 2,1% no segundo trimestre, face ao mesmo período de 2012, permitindo uma redução do défice da balança comercial em 424,2 milhões de euros. O sentimento dos investidores em relação à zona euro regressou a terreno positivo pela primeira vez em dois anos Indicador da OCDE para a economia portuguesa renovou em Julho expectativa de retomaIndicador da OCDE para a economia portuguesa renovou em Julho expectativa de retomae o indicador da OCDE para a economia portuguesa renovou em Julho a expectativa de retoma. Tudo parece correr bem, mas é prematuro “lançar foguetes”. Podem ser efeitos sazonais não sustentados, pois continua a não haver sinais de investimento e os juros a 10 anos voltaram a superar a barreira psicológica dos 7%, algo que já não acontecia desde a crise política de Julho. Assim, ninguém pode realmente estar seguro de que a retoma está aí.

Moçambique valoriza o seu património

A Ilha de Moçambique é um dos mais simbólicos locais da expansão portuguesa e um dos mais notáveis exemplos do encontro de culturas e de harmonia religiosa, onde cohabitam macuas, europeus, árabes, indianos e swahilis. Com 3 Km de comprimento e cerca de 400 metros de largura, a cidade alberga cerca de 15 mil habitantes e um rico património arquitectónico, onde se destaca a fortaleza de São Sebastião, para além das igrejas, dos palácios e de outros edifícios públicos do tempo em que a cidade foi a capital de Moçambique. Em 1991 a Ilha de Moçambique foi justamente integrada na World Heritage List da UNESCO, sendo o único bem (material ou imaterial) moçambicano que, até agora, foi declarado como Património da Humanidade.
Desde 2007 que, de entre uma lista com cerca de uma centena de bens candidatos a ser classificados pela UNESCO, o governo de Moçambique escolheu a Ilha do Ibo e o Arquipélago das Quirimbas no distrito de Cabo Delgado, as pinturas rupestres de Chinhamapere no distrito de Manica e, ainda, as danças Xigubo, Tufu e Mapiko, como bens candidatos a Património Mundial da Humanidade.
Agora, a edição moçambicana do jornal Sol recupera essa notícia e informa que estão em curso as candidaturas da Ilha do Ibo e do Arquipélago das Quirimbas. É o norte de Moçambique no seu melhor e só se espera que o processo seja rápido e bem sucedido.

domingo, 8 de setembro de 2013

A língua portuguesa sobrevive em Macau

Segundo noticia o jornal Tribuna de Macau, a Escola Portuguesa de Macau (EPM) supera a meta dos 500 alunos no ano lectivo que se vai iniciar dentro de alguns dias.
Mais de uma dúzia de anos depois da transferência da administração do território para a República Popular da China e numa altura em que se pensava que o interesse pela língua portuguesa em Macau tinha tendência para se perder, as cinco centenas de jovens incritos na EPM – macaenses, chineses e portugueses – parecem ser uma garantia para a sobrevivência da língua portuguesa na Ásia Oriental.
A EPM foi criada em 1998 através de um protocolo celebrado entre o Ministério da Educação, a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses e a Fundação Oriente, sendo considerada como uma das melhores escolas de entre a dezena de escolas com currículo português ou escolas portuguesas, existentes em Moçambique (4), Angola (4), Guiné-Bissau (2), S. Tomé e Príncipe (2), Timor-Leste (1) e Macau (1). Porém, para a ambição que existe quanto à consolidação da língua e da cultura portuguesa no estrangeiro, designadamente nos PALOP, este panorama é obviamente insuficiente e merecia muito mais interesse por parte das nossas autoridades. Ficam as actividades, geralmente meritórias mas de outra natureza, desenvolvidas um pouco por todo o mundo do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua.

sábado, 7 de setembro de 2013

Não atirem mais gasolina para a fogueira

A generalidade dos meios de comunicação de massa, pelos menos aqueles que nós entendemos, têm conduzido nas últimas semanas uma campanha a favor de um ataque limitado à Síria para punir o regime de Bashar el-Assad, pelo massacre com armas químicas acontecido no dia 21 de Agosto. Ainda não está demonstrado quem usou essas armas, mas sabemos como ultimamente se têm manipulado situações deste tipo para justificar intervenções militares. Os Estados Unidos estão impacientes para intervir, pois precisam de continuar a mostrar ao mundo a sua musculatura e, sobretudo, precisam de alimentar a sua indústria de guerra e em especial a General Dynamics, a empresa que produz os Tomahawk, mas já mostraram que não conhecem a região nem os seus contextos. Os deputados britânicos recusaram a intervenção na Síria. A França quer vender armamento. A União Europeia defende uma solução política. As Nações Unidas querem uma cimeira da paz. A Rússia, a China e o Irão estão ao lado do regime sírio. Depois do que se passou no Iraque e na Líbia, ninguém acredita que uma intervenção militar seja uma solução. As opiniões públicas não querem mais estas guerras. É tão só lançar gasolina na fogueira.
A capa da edição de ontem do diário madrileno La Gaceta é, do nosso ponto de vista, muito elucidativa do que se passa: cuidado com los rebeldes sírios. A oposição ao regime de Bashar el-Assad agregou-se inicialmente na Coligação Nacional Síria, mas rapidamente criou tensões entre os que estão dentro e fora do país. Desagregou-se e tornou-se um cocktail de grupos extremistas, com combatentes vindos de todo o mundo, muitos deles “franchisados” pela Al-Qaeda. São lobos disfarçados de cordeiros. É uma jihad. Assim, é realmente necessário muito cuidado, até porque durante dois anos os grandes líderes ocidentais não perceberam o que se estava a passar.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O escândalo do BPN ainda não acabou

No próximo dia 8 de Setembro, a leiloeira londrina RM Auctions vai leiloar uma colecção particular constituída por 74 modelos históricos da marca Mercedes-Benz que é considerada uma das mais raras e valiosas do mundo. O catálogo do leilão designa-o por "Ultimate Mercedes-Benz Collection" e apresenta cada um dos 74 carros, através da sua fotografia e das suas características técnicas. O que nos admira é que o proprietário desta milionária colecção se chame Ricardo Oliveira, seja português e tenha sido um importante elemento do BPN.
Segundo apareceu referido em alguns jornais, a colecção está avaliada em cerca de 50 a 60 milhões de euros e foi o seu proprietário que, pessoalmente, tratou do seu transporte a partir de Lisboa para Londres em seis camiões. Nesta importante colecção estão incluídos alguns modelos simbólicos da Mercedes como um 540K Cabriolet A de 1938 avaliado pela RM Auctions num valor entre 2,2 e 2,9 milhões de euros, um 540K Cabriolet B também de 1938 avaliado entre 1,2 e 1,5 milhões de euros e um carro que terá sido utilizado por Hitler durante a 2ª Guerra Mundial, que parece ser uma peça única cujo valor pode chegar aos cinco milhões de euros.
Acontece que o cidadão Ricardo Oliveira é um empresário do sector imobiliário que, segundo foi relatado pelos jornais, foi acusado em dois processos do BPN por burla qualificada, fraude fiscal e falsificação de documentos mas, apesar disso, as suas luxuosas viaturas não foram apreendidas durante as investigações em curso. É natural a suspeita de que esta valiosíssima colecção foi acumulada à custa dos muitos financiamentos do BPN que ainda estão por pagar. Como é possível esta história? Não há juiz nem tribunal que trave esta obscenidade?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Proezas improváveis e impensáveis

De vez em quando somos surpreendidos com notícias inimagináveis relativas a pessoas que perseguem um objectivo, aparentemente sem qualquer interesse que não seja a satisfação pessoal de enfrentar um desafio. O caso da nadadora americana Diana Nyad, que alguns jornais americanos hoje noticiaram, é um desses casos porque se tornou na primeira pessoa que nadou entre Cuba e a Florida, sem qualquer protecção anti-tubarão. Aos 64 anos de idade, a nadadora nadou uma distância de 110 milhas entre Havana e Key West em 52 horas, 54 minutos e 18.6 segundos. Foi um caso de perseverança e de persistência, pois Diana Nyad já tinha tentado quatro vezes esta proeza, a primeira das quais em 1978 quando tinha 28 anos de idade, mas só agora conseguiu concretizar o seu sonho. A nadadora saltou para a água na Marina Hemingway, em Havana, nadando com apoio médico e logístico, alimentando-se a cada 40 minutos e bebendo água regularmente através de um tubo. Ao completar a sua epopeia, Diana Nyad declarou que tinha três mensagens para transmitir:
1 – Nunca se deve desistir;
2 - Nunca se é velho demais para perseguir os nossos sonhos;
3 – No desporto o êxito nunca é individual, mas é sempre um trabalho de equipa.
Até o The Washington Post destacou o feito de Diana Nyad em primeira página, colocando os problemas do mundo e a questão síria em segundo plano.
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Às vezes até temos Campeões do Mundo

O Campeonato do Mundo de Canoagem Velocidade 2013 terminou ontem na cidade alemã de Duisburg, tendo registado a participação de 839 atletas oriundos de 75 países. Os canoistas portugueses Emanuel Silva e João Ribeiro sagraram-se campeões do mundo em k2 500 e, dessa forma, asseguraram o primeiro título mundial na história da canoagem portuguesa. Não é a primeira vez que, em Campeonatos do Mundo ou Jogos Olímpicos, os atletas portugueses da canoagem sobem ao pódio, mas foi a primeira vez que ganharam uma medalha de ouro e esse facto justifica todos os elogios de quem tem apreço pelo fenómeno desportivo.
Ser-se campeão do Mundo é um feito desportivo muito raro em Portugal, sobretudo depois das gloriosas jornadas de hóquei em patins que há muito desapareceram da galeria dos nossos feitos desportivos. No futebol temos algum reconhecimento internacional, mas há mais de vinte anos que os nossos futebolistas nada de importante ganham. Noutras modalidades como o atletismo, a vela ou o judo, as nossas esperanças raramente se concretizam. Significa que, em termos desportivos, por razões de ordem muito diversa, não temos grandes feitos para celebrar, ao contrário do que sucede na nossa vizinha Espanha.
Podíamos aproveitar o êxito dos nossos campeões de canoagem para estimular o nosso desporto, mas hoje os nossos jornais desportivos, apesar de darem a notícia da canoagem em primeira página, deram muito mais espaço ao Bruma que vai para o Galatasary, ao Jackson que fica no Porto e ao Markovic que é uma estrela do Benfica. É pena.

sábado, 31 de agosto de 2013

A memória das guerras napoleónicas

No dia 31 de Agosto de 1813 a cidade de San Sebastián (em castelhano) ou Donostia (em língua basca) foi incendiada, saqueada e quase totalmente destruída pelas tropas aliadas anglo-portuguesas do Duque de Wellington, que derrotaram as forças napoleónicas que ocupavam a cidade desde 1808.
Depois de em 1805 ter sido derrotado em Trafalgar, o imperador Napoleão decidiu impor um “bloqueio continental” aos navios ingleses e, através de tácticas diferentes, decidiu converter a Península Ibérica num estado-satélite de Paris. Grande parte do território espanhol foi então ocupado pelas tropas francesas, mas as três tentativas francesas para ocupar Portugal, acontecidas entre 1807 e 1810 – as chamadas invasões francesas – foram mal sucedidas, devido à reacção popular, à acção das tropas portuguesas e à ajuda inglesa comandada pelo Duque de Wellington.
A partir de 1811 a Espanha pretendeu libertar-se da tutela francesa e entrou num período que tem sido chamado a “guerra da independência”, com o objectivo de expulsar os franceses do seu território. Foi nesse quadro que as tropas aliadas anglo-portuguesas intervieram em Espanha e cercaram e reconquistaram a cidade de San Sebastián.
Esta ano, a cidade comemorou o bicentenário dessa dramática efeméride que foi a destruição da cidade e, também, a enérgica decisão dos seus moradores que em poucos dias tomaram a iniciativa de a reconstruir. Na sua edição de hoje, El Diario Vasco destaca exactamente essa memória histórica que foi o bicentenário do incêndio, saque e destruição de Donostia, inspirando-se num elemento da Guernica de Picasso para ilustrar a sua primeira página, numa alusão à destruição da cidade basca de Guernica pela aviação alemã no dia 26 de Abril de 1937.

Em política ainda não vale tudo

Os juízes do Tribunal Constitucional chumbaram o regime jurídico da chamada “requalificação de trabalhadores em funções públicas”, cuja fiscalização preventiva tinha sido pedida por Belém e, o nosso primeiro, fala agora em segundo resgate. Apesar das inúmeras pressões feitas por si e pelos seus comentadores de serviço, pela quinta vez e num espaço de dois anos, o Tribunal Constitucional rejeitou legislação aprovada pela maioria governamental. A palavra escândalo pode aqui ser aplicada com toda a propriedade.
Em tempos ele quisera mudar a Constituição da República, mas como não conseguiu e não se dá bem com a que temos, tem procurado atropelá-la com confrontos e ameaças constantes, até porque não tem nem espera vir a ter os 2/3 de deputados necessários para a alterar. Em qualquer Estado de direito, compete ao Tribunal Constitucional verificar se as normas e leis aprovadas pelo poder político estão em conformidade com a Constituição da República. E foi isso que os juízes fizeram, apesar das pressões públicas que lhes foram feitas. Por isso, se em dois anos de governo ele não conseguiu dar novo rumo à nossa situação económica e financeira (antes pelo contrário), isso é da sua responsabilidade exclusiva e não de quem fiscaliza e garante a legalidade constitucional. Assim, em vez de passar tanto tempo a ameaçar e a queixar-se dos outros, melhor seria que arranjasse soluções governativas que estejam de acordo com a lei, que é o que ele nem sempre  tem feito.
Desta vez, em nome da reforma do Estado, ele queria despedir 30 mil funcionários e esta travagem que o Tribunal Constitucional fez às suas intenções, já o levou a insinuar que poderá haver mais aumentos de impostos, porque não é sustentável este volume de despesa pública, mas também a colocar a hipótese de levar o país a pedir um segundo resgate. É preciso ter lata!

 

 

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A insensata diplomacia dos Tomahawk

Os Tomahawk estão prontos e, um pouco por todo o mundo, os jornais não falam noutra coisa, isto é, o ataque anglo-americano à Síria está em vias de se concretizar, independentemente das conclusões da missão de observação das Nações Unidas que está em Damasco. A decisão de bombardear a Síria foi preparada na imprensa internacional e está em linha com a política que tem sido seguida pelos Estados Unidos, pela Grã-Bretanha, pela França e por alguns alguns estados árabes conservadores que, desde há muitos anos, têm apoiado a oposição ao regime de Bashar al-Assad, dentro do espírito daquilo que se pensou ser a Primavera Árabe. Agora, é uma oportunidade para mostrarem os seus músculos aos que estão do outro lado e, até a França, aproveita estes casos para mostrar ao mundo que existe, que fabrica aviões e que é uma grande potência.
Na realidade, a Síria está a ser palco de uma longa e dura guerra de contornos muito complexos, onde o interesse internacional não decorre apenas da vontade de pôr fim a esta catástrofe humanitária, mas que resulta também dos interesses associados à exploração e transporte do gás natural sírio. De um lado estão a Síria, a Rússia, a China e o Irão e, do outro, os Estados Unidos, a União Europeia, a Turquia, a Arábia Saudita, Israel e o Qatar, além de alguns grupos anti-Assad, como a al-Qaeda e o Hamas.
Os Tomahawk são a diplomacia de um lado, mas não se sabe qual é a diplomacia do outro lado. O que se sabe é que a eventual queda do ditador sírio, pode fazer com que o poder caia nas mãos dos fundamentalistas islâmicos da al-Qaeda e esse é um dos grandes paradoxos desta guerra, isto é, aqueles que são considerados “terroristas” pelos americanos e pelos europeus, que já estão a beneficiar indirectamente das armas fornecidas aos rebeldes sírios, são os principais candidatos para substituir Bashar al-Assad. A diplomacia dos Tomahawk é como deitar gasolina na fogueira. Talvez fosse melhor outra diplomacia, que levasse em conta o que está a acontecer na Líbia, mas também no Iraque, na Tunísia e no Egipto.
 

 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Síria: os falcões preparam-se para atacar

A revolução e a guerra na Síria começaram, tal como na Líbia, como uma contestação ao regime autoritário que vigorava há décadas no país e que assentava numa luta contra a falta de liberdade e a corrupção. Pedia-se o fim do regime de Bashar El-Assad e a democracia. Era mais um episódio da Primavera Árabe. Porém, havia na Síria um outro ingrediente explosivo que é a luta sectária entre dois ramos do Islão - os xiitas e os sunitas - que também lutam no Líbano e no Iraque. Nesta complexa teia que é arco sul do Mediterrâneo e o Médio Oriente, ainda há Israel e a Turquia, o Egipto e o Irão. E os poderosos apoios internacionais que cada um dos beligerantes tem. Era necessário procurar a paz e parar a guerra, mas os poderosos não quiseram ou não foram capazes.
As mais recentes notícias sobre a Síria são muito preocupantes e nós sabemos muito pouco sobre o que lá se passa. O recente massacre resultante de bombardeamentos com gás tóxico ainda está por esclarecer, mas todos sabemos como pode ser manipulada a opinião pública mundial. Lembramo-nos do pretexto para os ataques aéreos a Belgrado, do pretexto para bombardear Bagdad e invadir o Iraque ou, ainda, do pretexto para intervir na Líbia: são sempre as imagens da televisão a pressionar a opinião pública, a denúncia de “crimes contra a Humanidade” e as declarações concertadas entre Washington e Londres. Agora, a cena é exactamente a mesma. Antes de se saber o que se passou no terreno já a opinião pública mundial está preparada para aceitar e apoiar uma acção militar contra a Síria. Os Tomahawk, os famosos mísseis de cruzeiro de longo alcance, estão prontos e a General Dyanamics precisa de os vender. Veremos como os aliados da Síria – Rússia, China e Irão – vão reagir se a ameaça se concretizar.

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um velho veleiro que é um embaixador

As regatas anualmente promovidas pela Sail Training Internacional – as Tall Ships Races – realizaram-se este ano no mar Báltico, com largada do porto dinamarquês de Aarhus, passagem por Helsínquia e Riga, sendo a etapa final concluída no porto polaco de Szczecin.
Os navios participantes e as suas tripulações constituídas maioritariamente por cadetes, tiveram oportunidade durante o mês de Julho e parte de Agosto, de participar num evento de grande impacto formativo e de acentuado estímulo à fruição do mar e das actividades que ele suscita, mas também de ter visitado quatro países do norte da Europa que fazem parte da União Europeia. Na lista de veleiros participantes não aparecem os navios dos países do sul da Europa, alguns deles dos mais belos que sulcam os mares, provavelmente por razões orçamentais. No entanto, apesar dos seus mais de oitenta anos de existência, o navio-escola italiano Americo Vespucci tem navegado pelo norte da Europa numa acertada política de show the flag e, este fim se semana, estará em Antuérpia onde espera alguns milhares de visitantes.
A edição de hoje do diário Gazet van Antwerpen homenageou o Americo Vespucci com uma bela fotografia na sua primeira página, em que o veleiro e a cidade parecem interagir, a mostrar a importância que estas embaixadas móveis têm na criação, manutenção ou reforço da imagem externa de um país. Curiosamente, no mesmo dia entrava no porto de Lisboa o navio-escola brasileiro Cisne Branco que está a realizar a "Comissão Europa 2013", uma missão diplomática com a duração de 7 meses. Ainda no mesmo dia, o navio-escola Sagres encontrava-se atracado no Alfeite.