quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Mugabe e o 25 de Abril do Zimbabwé

Na passado dia 15 de Novembro eclodiu um movimento militar no Zimbabwé a partir de Harare, tendo os militares bloqueado os acessos aos edifícios do governo e do Parlamento e ocupado as instalações da televisão. Ouviram-se explosões na cidade e foi anunciado que o Presidente Robert Mugabe estava detido e sob a protecção dos militares. A intenção dos militares não era clara, mas insistiram que não se tratava de um golpe de estado. Sucederam-se episódios diversos e a população começou a agitar-se nas ruas para exigir a demissão de Mugabe, não só pelos seus 93 anos de idade e 37 anos de poder, mas pelas suas práticas ditatoriais e comportamentos impróprios num estado democrático.
Mugabe ainda reapareceu em público mas recusou demitir-se. Na passada terça-feira, dia 21, não aguentou a pressão e renunciou à presidência através de uma carta enviada ao presidente do Parlamento em que dizia: “Eu, Robert Gabriel Mugabe, entrego formalmente a minha renúncia como Presidente do Zimbabwé com efeito imediato. Renunciei para fazer uma transferência de poder tranquila”.
O herói da independência que lutou com armas na mão contra o regime racista de Ian Smith e que estava no poder desde a independência do país em 1980, foi esquecido. O povo não lhe perdoou os excessos e saiu à rua para celebrar festivamente o seu afastamento. Em Harare ouviu-se um monumental concerto de buzinas e houve festa por todo o lado. Tudo normal em situações como esta.
O que não foi normal foi esta operação político-militar que, sem tiros nem confrontos, conseguiu afastar um ditador firmemente agarrado ao poder. Até parecia um 25 de Abril no Zimbabwé. A imprensa internacional acompanhou de perto esta situação e The Economist até dedicou a sua primeira página à queda do ditador.

Uma oportunidade para a paz na Síria

Desde há muito tempo que as notícias sobre a guerra na Síria eram muito escassas e que era muito difícil compreender a evolução de um conflito em que há muitos e bem diferentes envolvimentos e alianças. Porém, nas últimas semanas surgiram notícias de algumas derrotas do Daesh, quer no Iraque, quer na Síria, embora nem sempre se soubesse quem derrotou quem.
Apesar deste quase vazio de informações, nos últimos dias pudemos ver Hassan Rohani a declarar a derrota final do Daesh, depois ver Bashar Al-Assad a visitar a Rússia e a ser abraçado pelo seu Presidente e, por fim, ver Vladimir Putin a juntar à mesma mesa em Sochi, os seus colegas presidentes da Turquia, Recep Tayyp Erdogan e do Irão, Hassan Rohani. Significa que, em poucos dias, muita coisa parece ter mudado.
O jornal Tehran Times publica hoje a fotografia do encontro Putin-Erdogan-Rohani que abre uma enorme janela de oportunidade para acabar com o conflito, depois de seis anos de guerra que fizeram mais de 330 mil mortos. Vladimir Putin mostra-se confiante e declarou que serão necessárias concessões de todas as partes, incluindo do governo sírio, embora todos já tenham dado o seu acordo para a convocação de um congresso do povo sírio essencial para o estabelecimento de um diálogo inclusivo no país, a que se deve seguir uma reforma constitucional e eleições livres.
Nas últimas semanas e com o apoio russo, o regime sírio recuperou grande parte do seu território que estava sob o controlo de grupos rebeldes e extremistas e, segundo foi declarado, mais de 98% do território está agora nas mãos das forças do governo sírio, enquanto estão a ser eliminados alguns focos de resistência. É mesmo uma oportunidade para a paz na Síria.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A seca severa ou extrema que nos afecta

A península Ibérica e em especial a sua faixa ocidental, que o mesmo é dizer Portugal e a Galiza, estão a passar por um prolongado período de seca, cujas consequências podem tornar-se dramáticas. O ano de 2017 é um dos mais quentes desde que há registos e diversas regiões portuguesas e espanholas estão a sofrer com a falta de água e com o calor extremo porque choveu apenas 30% do que era habitual e as temperaturas médias têm estado três graus acima do que seria normal.
La Voz de Galicia informava ontem que a Galiza necessita de tanta chuva  [nas próximas semanas] como a que caiu em todo o ano de 2017 e tem em acção muitas medidas restritivas em relação ao consumo da água.
Nas regiões do interior e do sul de Portugal continental, porque a precipitação é muito inferior ao normal, também se atravessa um prolongado período de seca severa e extrema, com a agravante de não terem ocorrido as habituais chuvas do início do Outono que teriam desagravado a situação. Os rios e as ribeiras estão secos e as barragens com níveis de água residuais, havendo já necessidade de fazer transvases para acudir a situações de emergência. Muitas explorações agrícolas estão em risco de perder colheitas por falta de água e o governo admite racionar a água para consumo doméstico através das medidas tomadas ou a tomar pelas autarquias.
Esta alarmante situação é uma consequência das alterações climáticas que têm afectado o nosso planeta e, o que é muito preocupante, é que este cenário tende a agravar-se no futuro com temperaturas mais elevadas e menos chuva. Até há pouco tempo tudo isto parecia uma história de ficção promovida por cientistas da Geofísica e do Ambiente, mas agora a dura realidade das alterações climáticas está a bater-nos à porta. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Macau e Timor estão unidos pela História

Entre o território da ilha de Timor, onde está estabelecida a República Democrática de Timor-Leste e o território de Macau, que é uma região administrativa especial da República Popular da China, existem afinidades históricas cujo denominador comum é Portugal, apesar de estarem separadas por 3.666 quilómetros.
No período da expansão marítima para o Oriente, os navegadores e os mercadores portugueses chegaram aos mares da China em 1513 e estabeleceram-se em Macau em 1557, tendo chegado a Lifau na ilha de Timor em 1514 e fundado a povoação de Dili em 1769. Os estabelecimentos de Macau e Timor estavam então sob a tutela do Vice-rei da Índia que residia em Goa, mas em 1844 a cidade de Macau e os estabelecimentos de Solor e Timor foram desligados do Estado da Índia e das autoridades de Goa, passando a constituir a província de Macau, Solor e Timor, com um governador residente em Macau e um governador subalterno em Timor, dele dependente.
Quase dois séculos depois, esses territórios pertencem hoje à China, à Indonésia e a Timor-Leste, mas a ligação íntima entre Macau e Timor que então nasceu por via administrativa e sob a bandeira portuguesa, ultrapassou muitas circunstâncias.
Não admira, por isso, que a edição do hojemacau destaque na primeira página da edição de hoje a fotografia de Mari Alkatiri, o primeiro-ministro de Timor-Leste, a propósito de uma moção de censura ao governo minoritário da Fretilin que a oposição timorense apresentou no Parlamento, por este ainda não ter apresentado o seu programa. É um mari de problemas, titula o jornal.
Entretanto, o presidente timorense Francisco Guterres Lu-Olo já avisou o governo e a oposição que a sua missão é servir o país, tal como todos fizeram conjuntamente na sua luta pela independência nacional.

European Medicines Agency: Amesterdão

A corrida que estava em curso para conquistar a futura localização da Agência Europeia do Medicamento (EMA na sigla inglesa) terminou ontem e os 27 Estados-membros reunidos num Conselho Europeu de Assuntos Gerais escolheram a cidade de Amsterdão.
A EMA é um organismo descentralizado da União Europeia que foi criado em 1995 e que tem total responsabilidade pela monitorização científica, avaliação, supervisão e segurança de todas as substâncias e medicamentos desenvolvidos por laboratórios farmacêuticos para uso no espaço europeu. A sua sede é em Londres, mas por causa do Brexit vai ter que ser relocalizada.
Apareceram 19 cidades candidatas a albergar esta importante agência e uma delas foi a cidade do Porto. Um estudo realizado por uma consultora tinha concluido que a vinda da EMA para Portugal teria um impacto de 1.130 milhões de euros na economia nacional e iria permitir a criação de 5.300 novos empregos. A corrida por esta agência era, por isso, muito disputada.
Na primeira volta da votação nenhuma das 19 candidatas conseguiu reunir as preferências de pelo menos 14 dos Estados-membros para vencer. A cidade do Porto recolheu 10 votos, tendo sido a sétima cidade mais votada, enquanto as cidades de Milão, Amesterdão e Copenhaga passaram à segunda volta. Venceu Amsterdão.
Como curiosidade regista-se que a cidade eslovaca de Bratislava era uma das favoritas, foi a quarta cidade mais votada e foi eliminada. Porém, o ministro eslovaco amuou e recusou-se a continuar a participar na votação o que, obviamente, é um sinal de pouca compostura democrática.
Outra curiosidade foi o destaque dado pela imprensa espanhola a este acontecimento e o seu aproveitamento político. A candidatura de Barcelona não vingou e esse resultado negativo foi atribuído à instabilidade em que vive a cidade por causa do independentismo. “Europa castiga a Barcelona por alentar la independencia”, escreveu o El Mundo; “El soberanismo arrebata a Barcelona a EMA”, titulou La Razón. O diário ABC publicou na capa uma fotografia da cidade onde se destaca a Torre Agbar, a obra-prima de Jean Nouvel, escolhendo como título “Barcelona paga el precio del separatismo”. 
O Porto perdeu, mas não veio daí mal ao mundo. Parece que a candidatura se portou com dignidade. Ficamos sem saber o que fazem os portuenses Paulo Rangel e Nuno Melo em Bruxelas.

domingo, 19 de novembro de 2017

Argentina busca submarino desaparecido

O submarino argentino ARA San Juan (S-42) saiu de Ushuaia, a mais austral cidade do mundo e capital da província da Patagónia, no extremo sul do território da Argentina e navegava para a sua base na cidade de Mar del Plata. Era uma longa viagem de quase duas mil milhas em que teria de navegar desde os 55 graus até aos 38 graus de latitude sul. Na quarta-feira, dia 15 de Outubro, o submarino navegava na latitude de 42 graus sul quando pela última vez comunicou com terra via rádio. Cerca de 48 horas depois, na sexta-feira dia 17 de Outubro, as autoridades navais argentinas comunicaram a falta de informações sobre o submarino e que já estavam a decorrer buscas no sentido de o encontrar. No dia seguinte, todos os jornais argentinos divulgaram a preocupante notícia e o diário Clarín, que é o maior jornal argentino, destacou na sua primeira página a “dramática búsqueda del submarino perdido en el Sur con 44 tripulantes”.
O ARA San Juan integra uma pequena frota de três submarinos que foram incorporados na Marinha argentina em 1985 e que tem a sua base na cidade de Mar del Plata. Foi construído na Alemanha e pertence à classe TR, tendo sido objecto de fabricos de modernização para lhe aumentar o tempo de vida útil, entre 2007 e 2014.
Não há qualquer indício sobre o que se terá passado e a área de busca é muito extensa, mas as autoridades apontam para uma avaria no sistema de comunicações ou no seu sistema de propulsão eléctrico, o que mantém acesa a hipótese de não ter acontecido qualquer tragédia.
Porém, estão decorridos quase quatro dias desde a última comunicação do submarino e o desespero começa a tomar conta das famílias dos 44 tripulantes do ARA San Juan.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Leonardo da Vinci é um valor eterno

Leonardo da Vinci, Salvator Mundi, ca. 1500
A leiloeira Christie’s vendeu na passada quarta-feira à noite em Nova Iorque um quadro de Leonardo da Vinci datado de cerca de 1500, intitulado Salvator Mundi, que mostra Jesus Cristo com a mão direita levantada em posição de benção e a mão esquerda a segurar uma bola de cristal.
O pequeno quadro de 45 por 66 centímetros é uma das 16 obras conhecidas de Leonardo da Vinci e é a única que faz parte de colecções privadas, tendo sido vendida por 450,3 milhões de dólares (380 milhões de euros). Tornou-se a mais cara transacção do mercado da arte de todos os tempos, pois nunca tinha sido pago um valor tão alto por uma peça de arte num leilão. Antes, a tabela das obras de arte mais caras de sempre era liderada por As mulheres de Argel (Versão 0) de Pablo Picasso que foi vendido por 152 milhões de euros em Maio de 2015, também na Christie's, em Nova Iorque.
Existiam algumas dúvidas quanto à autenticidade desta obra, mas os críticos de arte desfizeram qualquer polémica e certificaram-na.
O comprador não foi identificado, mas certamente não é português. Ao contrário do que sucede com as outras obras de Leonardo da Vinci, como por exemplo a famosa Mona Lisa del Giocondo que pode ser observada no Museu do Louvre, o Salvator Mundi vai continuar fora dos olhares do público.
Fui fazer contas e verifiquei que o valor pago por este quadro dava para comprar quatro aviões Airbus 320 e ainda sobravam alguns milhões.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A encomenda do século para a Airbus

Vai ser anunciado hoje no salão aeronáutico do Dubai a compra de 430 aviões de médio-curso da família A320 da Airbus pelo fundo de investimento americano Indigo Partners por um montante de 42 mil milhões de euros. É a maior encomenda da história da Airbus e o jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, classifica-a como a encomenda do século, porque mais do que duplica a actual carteira de encomendas que estava nas 288 unidades. Agora, com 718 encomendas, a Airbus vai ultrapassar o seu rival americano Boeing que, no corrente ano, tem 605 encomendas.
Há poucos dias, a Boeing recebera uma encomenda de 300 aviões durante a visita de Donald Trump à China e agora foi a companhia Emirates a anunciar a encomenda de 40 aviões Boeing 787 Dreamliner por mais de 12 mil milhões de euros.
Porém, esta encomenda do século projecta a Airbus para a liderança do mercado da aeronáutica comercial, sobretudo nos aviões de médio-curso, tendo entusiasmado as indústrias fornecedoras de componentes, designadamente em Espanha, cuja imprensa destacou esta encomenda pelo trabalho que vai proporcionar na região de Cádis.
Esta competição entre os dois gigantes aeronáuticos que são a Airbus e a Boeing mostra que a economia mundial está a passar por um período de dinamismo e de crescimento, mas também mostra que Portugal é um país demasiado pequeno.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Alterações climáticas: um aviso ao mundo

A edição anual da revista BioScience que ontem foi publicada pelo American Institute of Biological Sciences, inclui um texto intitulado World Scientists’ Warning to Humanity: A Second Notice, que é subscrito por 15.364 cientistas de 184 países e que é um alerta quanto às alterações climáticas que ameaçam o futuro da Humanidade.
O texto surge em linha com um outro texto intitulado World Scientists’ Warning to Humanity, publicado em 1992 e que então foi subscrito por cerca de 1700 cientistas, no qual era afirmado que os seres humanos e o mundo actual estavam em colisão e que as actividades humanas causavam danos severos e, por vezes, irreversíveis no ambiente e nos recursos. É, por isso, um segundo aviso e os cientistas de todo o mundo voltam a chamar a atenção para a continuada destruição do nosso planeta com as emissões de dióxido de carbono ou a desflorestação, a redução dos recursos hídricos, a deterioração das zonas costeiras ou a extinção de algumas espécies. “A Humanidade não está a fazer o que deve ser feito urgentemente para salvaguardar a biosfera ameaçada”, diz o referido texto que se baseia num estudo internacional coordenado pela Universidade do Oregon e inclui nove gráficos que mostram como evoluíram algumas variáveis do ambiente nos últimos 25 anos.
Na sua edição de hoje o jornal Público destaca este texto-aviso na sua primeira página e trata de alguns aspectos críticos das alterações climáticas, desde o aquecimento global à sustentabilidade dos rios e destacando, ainda, a falta de coesão territorial associada à desertificação da paisagem e ao despovoamento do mundo rural.
Ao ler-se este texto, facilmente se conclui que há muito para fazer no mundo e também em Portugal para salvar o planeta, mas que a generalidade dos políticos portugueses ainda não percebeu isso.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Um novo desafio para Carlos Tavares

Carlos Tavares é um gestor português que, depois de ter sido o número dois do grupo Renault Nissan, se tornou em finais de 2013 o número um do grupo Peugeot Citroën (PSA), o seu principal concorrente no mercado francês.
Em poucos anos o grupo PSA, que produz as marcas Peugeot e Citroën, inverteu os seus resultados devido à estratégia adoptada por Carlos Tavares e, hoje, é salientado que o grupo “está bem e recomenda-se”.
Nos primeiros dias do passado mês de Março o grupo PSA anunciou a compra da Opel ao grupo americano General Motors por 2.200 milhões de euros, incluindo não só a actividade produtiva da Opel e da Vauxhall no Reino Unido, mas também as operações da sucursal financeira da GM na Europa, neste caso em joint-venture com o banco BNP Paribas.
Esta operação faz do grupo PSA o segundo maior grupo automóvel da Europa com uma quota de mercado de 17%, sendo de notar que as marcas de ambos os grupos fizeram em conjunto vendas de 17.700 milhões de euros em 2016.
Carlos Tavares e a sua equipa têm trabalhado no grande desafio que é salvar a Opel e fazer do grupo PSA um grande grupo automóvel mundial, capaz de concorrer com a indústria automóvel americana e asiática. Porém, o desafio é enorme e implica a integração de culturas de gestão e engenharias bem diferentes, a concretização de economias de escala e de sinergias, a concepção de novos produtos e a abordagem a novos mercados.
Carlos Tavares deu ao jornal francês La Tribune uma grande entrevista na qual apresenta a sua visão sobre o futuro do grupo PSA e da nova ligação à Opel. Um português a brilhar.

domingo, 12 de novembro de 2017

Catalunha: a luta soberanista continua

Realizou-se ontem em Barcelona uma gigantesca manifestação a exigir a libertação dos chamados “presos políticos”, isto é, a dezena de pessoas ligadas ao governo regional da Catalunha que a Justiça espanhola constituiu como arguidos e mandou para a prisão com a acusação de sedição, rebelião e desvio de fundos, na sequência das trapalhadas que foram o acto referendário de 1 de Outubro e a declaração unilateral de independência (DUI).
A realização desta grande manifestação onde foi cantada a “Grândola vila morena”, mostra que o independentismo não está derrotado e que já se está a mobilizar para as eleições de 21 de Dezembro e para as lutas que virão no futuro, provavelmente sem Puigdemonts, Junqueras, Forcadells e outros líderes que terão traído a causa catalã. É curioso que enquanto os jornais da Catalunha, caso do ara mas não só, publicaram com grande destaque as fotografias dessa manifestação, a generalidade da imprensa espanhola ignorou-a. Significa, portanto, que a imprensa está alinhada com os unionistas ou com os independentistas e que, para sabermos a verdade, teremos que ler os jornais afectos às duas partes. É enorme a quantidade de mensagens que estão a ser passadas para o público, umas verdadeiras e outras não verdadeiras, com o objectivo evidente de manipular o eleitorado. Hoje, por exemplo, o prestigiado El País invoca uma sondagem para dizer que “a maioria dos catalães apoia a realização de eleições” e que “dois de cada três habitantes da Catalunha consideram agora impossível a secessão”.
Por tudo isto, o imbróglio catalão tem que continuar a ser acompanhado por quem deseje que seja encontrada a melhor solução que, naturalmente, não passa por aventureirismos.

A nascente do rio Douro secou

O Jornal de Notícias apresenta hoje uma reportagem de grande qualidade jornalística assinada por Eduardo Pinto, intitulada “A nascente do rio Douro secou”.
Essa reportagem é ilustrada com excelentes fotografias e como por vezes uma imagem vale mais do que mil palavras, neste caso o resultado é esclarecedor quanto ao que se está a passar.
Eduardo Pinto foi aos picos de Urbión onde o rio Douro nasce a 2.160 metros de altitude, falou com algumas pessoas de Duruelo de la Sierra e viu que o rio já é pouco mais do que um fio de água, devido à falta de chuva e à seca extrema que afecta toda a Península Ibérica. Ouviu os mais velhos dizer que nunca tinham visto uma seca tão grave, que os pastos faltam e que os rebanhos estão ameaçados. Depois, o jornalista seguiu o curso dos 897 quilómetros do rio até ao Porto.
A primeira represa do rio é o Embalse de la Cuerda del Pozo, que fica a 20 quilómetros da nascente e que apenas mostra um fio de água. A ponte romana que ficou submersa aquando da construção da barragem tem, literalmente, a água a passar-lhe outra vez por baixo. É uma imagem impressionante! A caminho de Aranda del Duero, na província de Burgos, vê-se que o rio Douro leva água, mas corre devagar e apresenta-se turvo. Depois a paisagem volta a mudar. Entra-se na zona de Valladolid e na Ribeira del Duero, onde se produzem alguns dos melhores vinhos de Espanha. Chega-se depois a Zamora e o panorama continua a ser desolador. Após passar Zamora e antes de chegar a Portugal há o Embalse de Ricobayo, um dos mais impressionantes da Europa e que nesta altura está com menos de 15% da sua capacidade de água.
A situação do rio Douro impressiona. Em Espanha, tal como em Portugal, a seca é a grande ameaça do momento e as previsões dos técnicos da meteorologia para os próximos tempos não são nada animadoras.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Um museu das arábias: Louvre Abu Dhabi

A cidade de Abu Dhabi é a capital do emirado de Abu Dhabi e é também a capital federal dos Emirados Árabes Unidos (EAU), uma federação de sete monarquias árabes soberanas que, entre outras, inclui os emirados de Abu Dhabi e do Qatar. A sua enorme riqueza em hidrocarbonetos fez desta federação uma das regiões mais ricas do mundo, com o Abu Dhabi a possuir 9% das reservas mundiais de petróleo e quase 5% das reservas mundiais de gás natural. 
Com uma superfície de 67 340 km2, representando cerca de 86,7% dos EAU, o dinheiro é coisa que não falta no Abu Dhabi. Assim, há dez anos a cidade negociou com o Museu do Louvre a utilização do seu nome por um período de 30 anos num projecto museológico que iria ser construído na ilha Saadiyat, a cerca de 500 metros da costa do Abu Dhabi. Esse projecto – Louvre Abu Dhabi - da autoria do famoso arquitecto francês Jean Nouvel, pretende ser um dos maiores e melhores do mundo e demorou cerca de dez anos a ser construído. É composto por mais de cinco dezenas de blocos brancos, a maioria dos quais rodeada de água o que faz do conjunto uma espécie de arquipélago. A sua peça central é uma gigantesca cúpula prateada que cobre todo o espaço museológico e que apesar da sua aparente leveza pesa 7500 toneladas, o mesmo que a Torre Eiffel.
Segundo refere o diário francês Le Télégramme, os responsáveis do novo museu pagarão mil milhões de euros pelo uso da marca Louvre durante 30 anos e por facilidades no empréstimo de obras de referência de museus e monumentos franceses, estando asseguradas na exposição inaugural obras de Leonardo da Vinci, Van Gogh e Edouard Manet. Vai mesmo ser um museu das arábias!

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A anormalidade da meteorologia ibérica

A noção de bom tempo está sempre relacionada com a ocorrência de dias solarengos com altas temperaturas, mas muitas vezes são esquecidos os efeitos que este bom tempo produz quando acontece fora de tempo e fora de lugar. É o que está a acontecer em muitas regiões de Espanha onde, segundo revela hoje o diário ABC, se está a viver o quinquénio mais quente da história espanhola, originando que as barragens estejam a níveis de 20% da sua capacidade, que haja ondas de incêndios devastadores, que sejam feitos cortes no abastecimento de água e se verifiquem perdas milionárias nos campos e nas explorações agrícolas devido à seca. O mês de Outubro foi uma verdadeira anomalia meteorológica e em algumas cidades como Salamanca, Cáceres e Ourense, jamais se tinham verificado temperaturas tão altas com os termómetros a alcançarem valores da ordem dos 35º C. Estas altas temperaturas associadas à falta de chuvas, têm agravado a situação espanhola que é classificada como uma situação grave de seca.
Naturalmente, a situação descrita hoje na reportagem do ABC, também se está a verificar em Portugal.
O IPMA anunciou que o mês de Setembro foi “extremamente quente” e que, em finais do mês, cerca de 81% do território continental estava em seca severa, 7,4% em seca extrema, 10,7% em seca moderada e 0,8% em seca fraca. Significa que a conjugação de valores da precipitação inferiores ao normal com valores da temperatura do ar muito superiores ao normal, deu origem em Portugal aos mesmos problemas que se verificaram em Espanha, com seca severa, incêndios devastadores, escassez de água nas barragens, racionamento na utilização da água e pouca humidade no solo.
O problema é muito grave e só é lamentável que seja aproveitado por alguns para a luta política.

Donald Trump impôs o medo e a incerteza

No dia 8 de Novembro de 2016, com surpresa geral, os americanos elegeram Donald Trump como o 45º presidente dos Estados Unidos e, aos 70 anos de idade, tornou-se o homem mais velho de sempre a ser eleito para um primeiro mandato presidencial.
Apesar de só ter tomado posse no dia 20 de Janeiro de 2017, a passagem do primeiro aniversário da sua eleição está a dar origem ao aparecimento na imprensa internacional de balanços sobre o seu desempenho. Assim faz a revista alemã Der Spiegel na sua última edição, com uma sugestiva capa em que a onda de Trump parece arrasar ou inundar as instituições e a sociedade americana.
Os Estados Unidos estão mais divididos do que nunca quanto ao desempenho presidencial e numa recente sondagem da Gallup Poll, o presidente recebia apenas 35% das opiniões favoráveis, que é a mais baixa taxa de popularidade alguma vez tida por um presidente em exercício. Porém, o bom desempenho da economia americana e a ausência de uma oposição consequente que ainda não se refez da derrota de 2016, têm permitido que Donald Trump esqueça muitas das suas promessas eleitorais.
Porém, para muitos observadores, a política externa errática de Trump pode ter graves consequências para a Humanidade, devido às suas escolhas políticas, à sua fanfarronice e aos seus tweets incendiários e provocadores.
Na Europa, a popularidade de Trump também deixa muito a desejar e, segundo a Odoxa-Dentsu Consulting, quase 90% dos europeus têm uma má imagem do presidente americano. A grandeza e a respeitabilidade americanas que durante sete décadas foram a base da segurança global estão a ser corroídas por Donald Trump e os Estados Unidos já deixaram de ser uma referência para os europeus. O slogan “America first” tem dado muito maus resultados e os exemplos das más políticas de Trump sucedem-se por todo o lado, desde a Coreia do Norte à Síria, passando pelo muro do México, o Obamacare ou os acordos de Paris.
Trump trouxe o medo e a incerteza, quando todos precisávamos de confiança e de serenidade para enfrentar os enormes desafios do nosso planeta. Evidentemente que a América merecia melhor e o mundo também.