quarta-feira, 12 de março de 2025

História e Memória do 11 de Março de 1975

Há cinquenta anos ocorreram diversos acontecimentos em Portugal que procuraram alterar o rumo político que vinha sendo seguido desde o dia 25 de Abril de 1974, para restaurar a Liberdade, a Democracia e o Estado de Direito.
Apesar do generalizado apoio popular que o movimento do 25 de Abril e o Programa que tinha sido apresentado ao país tinham recebido e de se estar a caminhar seguramente para uma sociedade democrática, as diversas forças políticas e sociais vinham expressando as suas tendências, umas mais progressistas e outras mais conservadoras. Depois de tantos anos vergados ao peso da autocracia salazarista, à vigilância da Pide e à guerra colonial, os portugueses viviam um tempo de liberdade e discutiam os seus problemas nas ruas e nas escolas, nas fábricas e nos quartéis. O entusiasmo era geral e alguns portugueses entusiasmaram-se demasiado.
Foi nesse contexto que, no dia 11 de Março de 1975, certamente movidos por bons ideais, alguns militares inspirados no projecto de poder pessoal do general António de Spínola, procuraram alterar o rumo democrático que estava a ser seguido. Mobilizaram aviões e páraquedistas, atacaram o RAL 1 e outros objectivos, quase conduzindo a um confronto armado que felizmente se evitou.
Em poucas horas a situação normalizou-se e aquele dia, que podia ter sido de má memória, entrou na nossa história como uma das várias tentativas de desvio ao programa anunciado ao país no “dia inicial, inteiro e limpo”.
A revista Visão, com grande oportunidade, dedicou uma alargada reportagem à ”memória do dia que quase mudou Portugal”, para que cada leitor “veja como tudo aconteceu”.

sábado, 8 de março de 2025

“Missão de resgate” para salvar Zelensky

O doloroso conflito que vem destruindo a Ucrânia desde Fevereiro de 2022, ou mesmo desde 2014, já vai longo e, tanto o invasor como o invadido, devem estar cansados e ansiosos para que termine aquela mortandade e destruição, que são características comuns a todas as guerras.
Volodymyr Zelensky e o seu regime tiveram desde sempre o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, mas também da NATO, pelo que puderam resistir à invasão russa. Entretanto os tempos mudaram desde que Donald Trump se instalou na Casa Branca e os Estados Unidos diminuíram ou ameaçaram cancelar todo o seu apoio à Ucrânia. Essa decisão, ou essa ameaça, não só alteraram completamente os contextos da guerra, como vieram mostrar a fraqueza militar de uma Europa que, em questões de Segurança e Defesa, tem vivido sob a protecção americana. O infeliz encontro de Washington entre Trump e Zelensky agravou a situação e, a partir de então, os europeus perceberam que era necessário envolverem-se ainda mais no apoio à Ucrânia. Daí que agora se pergunte se a Europa pode salvar a Ucrânia sem o apoio dos Estados Unidos, até como reforço à sua própria Defesa e Segurança.
Fizeram-se muitas reuniões e emitiram-se muitos comunicados, mas foram as iniciativas de Emmanuel Macron e de Keir Starmer que se destacaram, ao liderarem uma “rescue mission”, conforme satiriza a última edição da revista americana The Week: a sua primeira página exibe uma ilustração que mostra Macron e Starmer, com as bandeiras da União Europeia e do Reino Unido, a navegar numa pequena embarcação em mar encapelado, que procura resgatar o náufrago Zelensky, isto é, mesmo em tempos de incerteza há espaço para algum humor, embora aqui também haja uma crítica americana à debilidade militar da Europa.

Haverá mesmo um novo 'eixo do mal'?

A sucessão de acontecimentos que nas últimas semanas estão a ocorrer na Europa e à volta da Europa começa a ser desesperante, porque os cidadãos estão a ficar muito confusos, interrogando-se sobre este tempo, que já não se sabe se é tempo de paz, ou se é tempo de preparação para mais guerra. O que está a acontecer é um verdadeiro e preocupante tsunami. Com o Papa doente e com António Guterres escondido sem se saber de quê, não há vozes que apelem à moderação e à sensatez. Ninguém esperaria isto, mas depois de 80 anos de paz na Europa, renasceu o turbulento discurso da guerra. Só se fala de guerra. Quase todos os dias há reuniões de alto nível e quase todos os dias se afirma uma coisa e o seu contrário. O amigo de ontem é o adversário de hoje. Parece que ninguém se entende.
A popular revista Stern, que se publica semanalmente em Hamburgo, na sua edição de ontem trata exactamente desta confusão e para ilustrar a sua capa escolheu uma imagem de Donald Trump e de Vladimir Putin, trocando vénias sobre uma Ucrânia estendida e com o título Die Achse der Bösen, cuja tradução é O Eixo do Mal.
O Eixo do Mal foi uma expressão utilizada em 2002 pelo presidente George W. Bush para se referir aos inimigos dos Estados Unidos – Iraque, Irão e Coreia do Norte – os quais acusava de apoiarem o terrorismo e de possuírem armas de destruição maciça.
A imagem das vénias de Trump e Putin vale mais que mil palavras, pois mostra como na política internacional os interesses se sobrepõem aos princípios. Porém, a referência a um eixo do mal inimigo da Europa, ou desta Europa, é um exagero jornalístico para estimular as vendas da revista, embora tenha subjacente a ideia da irrelevância de António Costa, von der Leyen, Macron, Mark Rutte e tantos outros guerreiros, mesmo após o anunciado rearmamento europeu, que o tempo mostrará como aconteceu, ou não aconteceu.

quarta-feira, 5 de março de 2025

São 800 mil milhões de euros, para quê?

O anúncio feito por Ursula von der Leyen a respeito do plano de rearmamento da Europa, que representa um investimento de 800 mil milhões de euros ao longo da próxima década, bem como a forma como foi divulgado, sem qualquer envolvimento da opinião pública e à revelia da vontade das populações, impressionou e está a ser questionado em muitos estados-membros. De facto, os assuntos nacionais de Segurança e Defesa não são do âmbito da Comissão Europeia e, portanto, este anúncio majestático vindo da Comissão Europeia é um atentado a um dos principais pilares das soberanias nacionais. A Europa não é uma federação de Estados.
Hoje, a edição do jornal Le Parisien pergunta, simplesmente: 800 mil milhões, para quê?
Com esta intenção da senhora von der Leyen, a que certamente se vão opor muitas forças sociais europeias, a União Europeia parece mais empenhada em fazer da Europa um gigantesco paiol de armas, com metralhadoras, drones, misseis, aviões de combate e carros blindados, subalternizando o bem-estar dos europeus, os problemas do combate às alterações climáticas, o envelhecimento demográfico das populações, as migrações incontroladas que já alteraram o tecido social de muitas cidades e regiões, as desigualdades nacionais e tantos outros problemas que preocupam os europeus e afectam o seu futuro.
Agora que temos muitas vozes a afirmar que os Estados Unidos deixaram de ser um aliado da Europa, talvez se possa perguntar quais são as ameaças a que o plano de Ursula von der Leyen pretende responder...
Lamentavelmente, o grupo de líderes que se tem reunido nas últimas semanas para enfrentar Donald Trump e apoiar Zelensky, tratou este problema europeu da Segurança e Defesa de uma forma bastante leviana e nem pensou que, com tanto rearmamento, “tudo isto” vai acabar por estimular os nacionalismos e as rivalidades que, historicamente, fizeram esta Europa de Pátrias e de paz, em que hoje vivemos. O plano “ReArm Europe” parece ser um caso de utopia, de fanatismo, de leviandade e até de ignorância. Porém, nem eu, nem Ursula von der Leyen, nem ninguém, tem certezas. São tudo palpites.,,

terça-feira, 4 de março de 2025

A Europa unida, desunida ou confundida?

A política internacional está a desenvolver-se a um ritmo alucinante e, todos os dias, somos confrontados com novas narrativas e novos episódios que confundem os cidadãos comuns, que é a categoria em que nos situamos. O triste encontro da Sala Oval entre Trump e Zelensky, que aconteceu apenas há quatro dias, produziu efeitos demolidores e afectou seriamente os caminhos que conduzirão à paz na Ucrânia, mas também mostrou que os interesses económicos estão acima de todas as considerações.Alguns líderes europeus reuniram-se imediatamente em Londres, agora sob a liderança de Keir Starmer, que parece ser bem mais capaz do que o excêntrico Boris Johnson, daí tendo nascido um plano para levar ao reencontro de Trump e Zelensky, de forma a garantir uma paz justa e duradoura na Ucrânia. Uma parte da imprensa europeia, como sucedeu com o jornal holandês Algemeen Dagblad (AD) que se publica em Roterdão, tratou de mostrar a “fotografia de família” desses líderes e anunciar que, no apoio à Ucrânia, a Europa estava unida. Porém, as declarações produzidas pelos diferentes líderes que estiveram em Londres, mostram que não há unanimidade e que uns apoiam a Ucrânia como podem e outros como lhe convém. De entre essas declarações destaca-se o que diz Ursula von der Leyen que reafirma que “temos que rearmar a Europa” e que “a Europa deve estar preparada para investir mais em armamento”, avançando-se com um plano de 800 mil milhões de euros. A ser assim, o projecto europeu nascido em Roma em 1957, parece ser de guerra e não ser de paz, além de ser demasiado irrealista em termos financeiros. É mesmo um paradoxo que, tendo a União Europeia sido criada para que não houvesse mais guerras na Europa, seja a actual presidente da Comissão Europeia que se apresente, não como defensora da paz, mas como uma persistente defensora do investimento em armas. Provavelmente, como mostra o Eurobarómetro, os europeus não querem perder os seus direitos sociais ou, como diria Paul Samuelson, não querem trocar manteiga por canhões. Recorde-se que, no corrente ano de 2025, o Orçamento da Comissão Europeia é de 193 mil milhões de euros e que o Orçamento do Estado em Portugal é de 133 mil milhões de euros, mas que a senhora von der Leyen quer dispor de 800 mil milhões de euros!
Os tempos estão realmente difíceis e o cidadão comum anda cada vez mais desorientado e confundido com o que dizem e fazem muitos dirigentes políticos.

segunda-feira, 3 de março de 2025

“Ainda estou aqui” distingue o Brasil

Pela primeira vez na história do cinema houve um filme brasileiro e, por consequência, um filme falado em português, que conquistou um dos The Academy Awards ou Oscares, atribuidos desde 1929 pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences. Nesta 97ª edição da cerimónia “que todo o mundo aguarda”, que se realizou no Dolby Theatre em Hollywood, foram anunciados e entregues os Oscares relativos ao ano cinematográfico de 2024, nas 23 categorias em apreciação.
O filme Anora, uma comédia dramática produzida e realizada nos Estados Unidos, foi o grande vencedor do ano com cinco prémios, incluindo o prémio que distingue o Melhor Filme. O filme brasileiro Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles, disputou três prémios, incluindo o prémio para a Melhor Actriz, mas o júri não escolheu Fernanda Torres, o que deixou muito entristecido o povo e a cultura cinematográfica brasileiros. O filme Ainda estou aqui retrata a vida de uma família perseguida pela ditadura militar brasileira (1964-1985), ganhou o prémio destinado ao Melhor Filme Internacional e o “Brasil fez história”, como destacou a edição de hoje do Correio Braziliense.
Toda a imprensa brasileira destacou a vitória do filme de Walter Salles e uniu-se no elogio ao realizador e à sua equipa, mas o aspecto porventura mais importante terá sido o entusiasmo com que o Brasil acolheu o seu primeiro Oscar cinematográfico, mas também algum desapontamento geral por Fernanda Torres não ter sido premiada. 
A cultura brasileira, a indústria cinematográfica e a memória histórica do Brasil estão de parabéns! A alegria dos brasileiros vai muito para além do carnaval e do futebol.                                                                 

domingo, 2 de março de 2025

O grave encontro entre Trump e Zelensky

O dia 28 de Fevereiro de 2025 vai ser lembrado na história da Diplomacia e das Relaçóes Internacionais como um lamentável e insólito acontecimento, cujas consequências ainda são imprevisíveis. Na Sala Oval da Casa Branca, perante as câmaras televisivas das grandes agências noticiosas mundiais, aconteceu um encontro entre Donald Trump, o vice-presidente JD Vance e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky – que deveria ter acontecido em ambiente reservado – e que deu origem a uma grosseira troca de palavras, insultos e humilhações, conforme escreve hoje o jornal El País, bem como toda a imprensa internacional.
Volodymyr Zelensky tinha atravessado o Atlântico e, provavelmente, esperava os salamaleques a que foi habituado. Porém, parece ter caído numa “emboscada” e em vez de um amigo, arranjou um adversário. A incontinência verbal e a grosseria do DT são bem conhecidas, mas imaginava-se que se contivesse, devido ao seu declarado interesse em acabar com a guerra e ao acesso privilegiado às famosas “terras raras” ucranianas.
Porém, a conversa pouco mais foi do que uma troca de palavreado grosseiro, com o DT a acusar Zelensky de “ingratidão” e desrespeito para com o povo americano, embora a CNN Internacional tenha apurado que o presidente ucraniano já agradeceu pelo menos 33 vezes aos Estados Unidos.
Perante este insólito acontecimento, a situação altera-se muito e, certamente, não é no melhor sentido. De repente, a Europa ficou mais isolada e mais fraca. Os líderes europeus correram para Londres e, curiosamente, pela primeira vez desde há três anos, começaram a falar em cessar-fogo e em paz, quando até agora só falavam de aviões, de tanques, de artilharia e de misseis. Pedem unidade no apoio à Ucrânia, sugerem que Zelensky “esqueça” a humilhação do DT e afirmam que o DT é essencial para negociar a paz. Keir Starmer "calou" Macron, Costa e von der Leyen e todos viram que sem os Estados Unidos não haverá paz na Ucrânia. Porém, ainda há quem pense na derrota da Rússia e pedem o reforço das despesas militares. Depois de três anos de insignificância, até pode ser que o episódio da Sala Oval de 28 de Fevereiro lhes abra os olhos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A nova orientação política da Alemanha

O dia de hoje foi muito intenso no que respeita a acontecimentos e ao respectivo noticiário internacional. Em Washington encontraram-se Donald Trump e Emmanuel Macron e, em Kiev, o presidente Zelensky recebeu os líderes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia. Noutro plano, também de Roma chegaram notícias um pouco mais animadoras sobre o preocupante estado de saúde do Papa Francisco. Todos esses acontecimentos, cada qual à sua maneira, foram muito importantes.
Porém, os resultados das eleições antecipadas que se realizaram na Alemanha e o seu significado no contexto europeu, também foram um acontecimento relevante, numa altura em que a Europa anda muito desorientada, pois trata-se do mais populoso país da União Europeia e a sua maior potência económica. A democracia funcionou e aconteceu a alternância no poder, isto é, ao governo do SPD vai suceder o governo da CDU e a Olaf Scholz vai suceder Friedrich Merz, qualquer deles com necessidade de coligações.
As sondagens acertaram e os conservadores da CDU de Friedrich Merz venceram com 28,52% dos votos e 208 mandatos, seguidos pela extrema-direira do AfD de Alice Weidel com 20,8% dos votos e 152 mandatos e dos sociais-democratas do SPD de Olaf Scholz com 16,41% e 120 mandatos. Estes números são indicados na edição de hoje do Bild, o antigo Bild Zeitung, que é o maior jornal da Alemanha.
Foi significativa a subida da AfD e a queda do SPD mas, sobretudo, parece que a Alemanha pode voltar a ter um protagonismo europeu como tinha nos tempos de Angela Merkel, em que se sabia quem mandava na Europa.
Neste tempo de tanta incerteza no mundo, com Trump, com Putin e com Zelensky, é preciso que a Europa se afirme unida, afirmativa, solidária, com rosto e sem as vaidades pessoais e os egoismos nacionais que a têm caracterizado nos últimos tempos. Pode ser que a Alemanha de Merz seja diferente da Alemanha de Scholz...

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Zelensky marginalizado, isolado e traído?

O famoso estratega prussiano Carl von Clausewitz escreveu em 1832 que “a guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios” e, assim sendo, se a guerra é muito cruel, também a crueldade faz parte da política.
Nos últimos anos a crueldade da guerra tem destruido uma boa parte da Ucrânia oriental e, neste espaço, sempre defendemos que, independentemente das razões das partes, era necessário parar com o sofrimento do povo e a brutal destruição do património ucraniano.
A guerra intensificou-se com a invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, mas logo em 29 de Março foram realizadas negociações em Istambul entre a Rússia e a Ucrânia para resolver o conflito. Porém, os acordos alcançados à mesa das negociações não foram implementados por não terem sido aceites por Volodymyr Zelensky, a quem Joe Biden, Boris Johnson e outros dirigentes europeus asseguraram apoio pelo “tempo que for preciso”. Até Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa repetiram essa frase e foram a Kiev apoiar Zelensky! 
A ideia de que a Ucrânia iria vencer a guerra foi largamente afirmada, por exemplo por Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron. Em Fevereiro de 2024 apenas 10% dos europeus acreditava que a Ucrânia ia vencer a guerra, segundo revelou um estudo do Conselho Europeu. Apesar disso, a retórica de apoio a Zelensky e de fé na vitória continuou apoiada numa contínua acção de propaganda e o facto é que no Verão de 2024, as sondagens indicavam que os ucranianos acreditavam que iriam ganhar a guerra. Em Outubro, ainda Zelensky apresentou o seu “plano de vitória”. Porém, com a chegada de DT ao poder em Washington, a crueldade da política revelou-se, tão semelhante à crueldade da guerra. A retórica e a arquitectura de suporte à Ucrânia está a ruir e, na sua edição de ontem, a revista alemã Der Spiegel não destaca as importantes eleições na Alemanha, tendo escolhido a fotografia de Zelensky para ilustrar a sua capa, com a palavra “verraten”, isto é, “traído”.
Tal como aqui se escreveu há quatro dias, podemos perguntar: quem enganou Zelensky dizendo-lhe que ia ganhar esta guerra?

sábado, 22 de fevereiro de 2025

A Ucrânia é um pesadelo para a Europa

A mais recente edição do The Economist, a prestigiada revista inglesa de notícias e assuntos internacionais, destaca na sua capa uma ilustração em que se vê uma enorme mesa rodeada de cadeiras, em que apenas há duas que estão ocupadas pelas personagens do actual momento político - Donald Trump e Vladimir Putin – enquanto o vazio de todas as outras cadeiras inspirou a escolha do título principal desta edição - “o pior pesadelo da Europa”.
O título refere-se à Ucrânia que está em guerra e é um enorme país com mais de 600 mil quilómetros quadrados, com a questão ucraniana a ser de facto um grande pesadelo para a Europa, porque nos obriga a repensar o modelo que saiu da 2ª Guerra Mundial, bem como a criação da NATO e do Pacto de Varsóvia, a guerra fria, a reunificação alemã, a implosão da União Soviética e o alargamento para oriente da União Europeia e da NATO.
Neste processo histórico, a Europa esteve deslumbrada com a sua prosperidade, engordou e envelheceu, enquanto os seus líderes se deixaram enrolar pelas mordomias com que Bruxelas os distinguia e que satisfaziam as suas vaidades. Sujeitos aos seus interesses nacionais, não repararam no dinamismo que corria pelo mundo e na crescente irrelevância que tinham no panorama internacional. Foram esses líderes que, sem cuidar de saber o que pensavam as suas opiniões públicas, foram a correr para Kiev e enganaram Zelensky com promessas de amor eterno.
Agora, que começou a soprar uma ventania dos Estados Unidos, a Europa foi marginalizada e nem a sentaram naquela enorme mesa. Já está sob temporal e até ameaçada por um naufrágio porque, como é evidente, está sem timoneiros. 
A Ucrânia é realmente um pesadelo para a Europa.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Graves acusações pesam sobre Bolsonaro

No dia 30 de Outubro de 2022 realizou-se a 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras e Luiz Inácio Lula da Silva obteve 50,90% dos votos, enquanto a votação do então presidente Jair Bolsonaro se ficou pelos 49,10%. Apesar de todas as contestações das hostes bolsonaristas, no dia 1 de Janeiro de 2023 o candidato vencedor tomou posse em Brasília como o 39º presidente da República Federativa do Brasil. Porém, a contestação bolsonarista não parou e no dia 8 de Janeiro ocorreram graves incidentes em Brasília, sobretudo na Praça dos Três Poderes, o espaço público onde se localizam os edifícios que representam os três poderes brasileiros - o Palácio do Planalto (poder executivo), o Congresso Nacional (poder legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder judicial) - onde alguns milhares de fanáticos apoiantes de Bolsonaro rejeitaram a democracia brasileira e tudo vandalizaram. A gravidade do que se passou deu origem a investigações judiciais, com destaque na averiguação do papel que Bolsonaro e os seus aliados tiveram no processo pós-eleitoral que culminou em Brasília, com os acontecimentos do dia 8 de Janeiro de 2023.
Agora, conforme noticiou o jornal O Globo, o Procurador-Geral do Brasil que é o juiz Paulo Gonet, acusou Jair Bolsonaro e alguns dos seus antigos ministros de uma tentativa de golpe de estado após as eleições de 2022 e de ter concordado com um plano criminoso que visava matar o presidente Lula da Silva, mas que também visava a abolição violenta do Estado de Direito democrático e que, além disso, constituiu uma grave ameaça contra o património nacional.
Agora vai caber ao Supremo Tribunal Federal fazer a avaliação do processo e aceitar ou rejeitar esta denúncia que, a ser aceite, transformará Bolsonaro e os seus mais próximos colaboradores em arguidos e réus. Vai decorrer muito tempo porque estes processos são demorados, mas a acusação que pesa sobre o Jair é bem grave...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

DT e a irrelevância dos líderes europeus

As tensões entre os Estados Unidos e a Ucrânia, ou entre o DT e o VZ, intensificaram-se nas últimas horas, são altamente lamentáveis e muito preocupantes. Diz a edição de hoje do jornal la Repubblica, que se publica em Roma, que Trump insultou Zelensky, ao chamar-lhe ditador e ao responsabilizá-lo pela guerra na Ucrânia, ao que Zelensky respondeu dizendo que Trump vivia numa bolha de desinformação. Ambas as declarações são insensatas, irrealistas e fazem parte de uma irresponsável retórica que, nestes tempos difíceis, não aproveitam a ninguém e apenas servem para agitar o mundo. Perante esta agravada tensão, uma vez mais a Europa mostra a sua incapacidade para lidar com estas situações, tal como aconteceu há três anos, tratando de insistir em mais guerra, mais soldados, mais aviões e mais mísseis, em vez de procurar integrar-se – como mediadora e não como parte do conflito – nas tentativas em curso para acabar com esta malvada guerra que continua a assustar o mundo. As reuniões convocadas por Emmanuel Macron, sem ninguém saber a que título, são um evidente exercício de vaidade pessoal, sem quaisquer consequências para a solução do conflito, enquanto são de lamentar os silêncios, ou as declarações vazias de conteúdo, de António Costa, Ursula von der Leyen e Kaja Kallas. Como aqui escrevi há uma semana, “pobre e irrelevante Europa que não tem quem a comande” e que, todos os dias, acentua o seu desprestígio e a sua irrelevância no seio da comunidade internacional, tal qual as antigas aristocracias europeias que os actuais líderes parecem ainda querer imitar, sem perceber que os tempos são outros.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Há uma luz para resolver a crise ucraniana

O encontro ontem acontecido em Ryade entre Marco Rubio e Sergei Lavrov para encontrarem uma solução para a guerra na Ucrânia, tem que ser saudado porque representa um passo muito importante para o restabelecimento do diálogo entre as duas maiores potências nucleares do globo. Depois de meses de muita tensão, ou mesmo de alta tensão, este encontro reintroduz alguma sensatez e muito alívio na política internacional, até porque se falou de paz, coisa de que os obcecados líderes europeus nunca falavam. Porém, ao excluirem agora a Europa e a Ucrânia deste encontro, americanos e russos foram pragmáticos mas levantaram um coro de críticas, sobretudo dos marginalizados, especialmente Macron e Zelensky, que queriam ter algum protagonismo na solução deste problema.
A imprensa internacional destaca hoje a marginalização de uma Europa dividida e sem liderança, a “ressureição” de Putin e o muito provável afastamento de Zelensky de todo o processo, talvez porque venha falando demais. O jornal El País diz que “EE UU rehabilita a Putin en el primer contacto sobre Ucrania”, o La Vanguardia escreve “El nuevo orden de EE UU y Russia”, o Le Monde destaca que “Trump et Poutine à l’initiative, l’Europe divisée” e o Daily Telegraph prevê que "Zelensky could fall as price of peace”. Do outro lado do Atlântico o tom é semelhante e o The Wall Street Journal refere que “Not invited: Zelensky sidelined in negotiations”. No entanto, o mais surpreeendente é o destaque de primeira página do jornal The Washington Post ao escrever que “Trump blames war on Ukraine” e que “Kyiv should have never started it”.
A declaração de Trump de que “nunca deveriam ter começado o conflito com a Rússia” representa uma nova narrativa para este conflito, ao remeter as suas origens para os tempos da reunificação alemã e do “acordo” para que a NATO não se estendesse para oriente, o que não aconteceu e veio a provocar a reacção russa.
Quem enganou Zelensky dizendo-lhe que ia ganhar esta guerra?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Montreal: viver sob tempestades de neve

A cidade de Montreal é a maior cidade da província canadiana do Quebec, localiza-se sobretudo na ilha de Montreal, na confluência dos rios São Lourenço e Otawa, com o seu porto na extremidade da via marítima que liga os Grandes Lagos ao Atlântico. É classificada, muitas vezes, como a capital cultural do Canadá, tendo recebido os Jogos Olímpicos em 1976. Com quase dois milhões de habitantes na sua área municipal, é considerada a cidade francófona mais populosa do mundo, depois de Paris, sendo conhecida como uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo.
A cidade situa-se sobre o paralelo dos 45 graus Norte e tem um clima continental húmido, com um inverno muito frio, muito ventoso e com muita neve que, geralmente, cobre a cidade, desde a primeira ou segunda semana de Dezembro até a última semana de Março - cerca de 4 meses de neve! As temperaturas médias mínimas na cidade são de -12,4 graus C em Janeiro e de -10,6 graus C em Fevereiro, mas a temperatura mais baixa já registada na cidade aconteceu no dia 15 de Janeiro de 1957, quando os termómetros registaram -37,8 graus C.
A natureza, ou as condições climáticas, são muito mais generosas para as cidades da península Ibérica, que se situam em latitudes aproximadas da latitude de Montreal, mas não suportam o frio daquela cidade canadiana. No passado fim-de-semana os termómetros marcaram um mínimo de -13 graus C em Montreal, uma tempestade cobriu a cidade com mais de meio metro de neve e paralisou-a. Na sua última edição o Journal de Montreal mostra uma fotografia de uma rua bloqueada pela neve e com um aviso para os seus leitores: restez chez vous! Um outro jornal local  - The Gazette - refere-se ao "unprecedented snow" de 70 centímetros de altura e aos oito dias que vão ser necessários para a limpeza das ruas.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Macron e a sua ânsia de protagonismo

Hoje em Paris, segundo anuncia o jornal ABC, vão reunir-se (ou já estão reunidos), os líderes europeus (ou alguns líderes europeus), quando já se anuncia o primeiro encontro entre americanos e russos na Arábia Sáudita, para tratar do fim da guerra na Ucrânia. Com esta reunião “convocada” supostamente para “não deixar cair a Ucrânia”, Emmanuel Macron quer uma vez mais afirmar-se como o Napoleão ou o De Gaulle da modernidade francesa, embora ele e os seus convidados estejam vergados pelo peso das promessas e das juras que fizeram a Zelensky de “apoiar a Ucrânia enquanto for preciso”. Esta frase foi repetida por todos eles, mas também por Joe Biden e até por Marcelo Rebelo de Sousa. Porém, enganaram-se e enganaram os ucranianos, porque o conflito não tem solução militar, ao contrário do que disseram repetidas vezes.
Os números do conflito são desconhecidos até porque ambas as partes usam a arma da informação e da propaganda, quer quanto ao número de mortos de ambos os lados, quer quanto aos milhões de ucranianos que perderam as suas casas, quer ainda quanto aos recursos já gastos nesta guerra que já destruiu cidades, infraestruturas, vidas, sonhos e que o DT diz que podia ter sido evitada se ele estivesse na Casa Branca. Contudo, todos dizem que nunca houve tantos mortos numa guerra.
Ainda antes de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, o DT tinha afirmado que “demasiadas pessoas estão a ser mortas” e que Zelensky “deve estar preparado para chegar a um acordo”. Apesar de ser um homem controverso e até perigoso, como se viu no apoio que no dia 6 de Janeiro de 2021 deu à invasão do Capitólio, a sua iniciativa de procurar o princípio do fim do sofrimento ucraniano tem que ser apoiada e está em curso. Com esta urgente reunião, Macron quer ter um papel na História e quer ser protagonista, mas esta sua iniciativa já foi classificada como “uma terapia de grupo” e bem podia dar origem a um comunicado conjunto a pedir desculpas a Zelensky e aos ucranianos, porque à revelia das suas opiniões públicas e dos seus eleitorados, lhes foi prometido o que não podiam prometer.