terça-feira, 4 de março de 2025

A Europa unida, desunida ou confundida?

A política internacional está a desenvolver-se a um ritmo alucinante e, todos os dias, somos confrontados com novas narrativas e novos episódios que confundem os cidadãos comuns, que é a categoria em que nos situamos. O triste encontro da Sala Oval entre Trump e Zelensky, que aconteceu apenas há quatro dias, produziu efeitos demolidores e afectou seriamente os caminhos que conduzirão à paz na Ucrânia, mas também mostrou que os interesses económicos estão acima de todas as considerações.Alguns líderes europeus reuniram-se imediatamente em Londres, agora sob a liderança de Keir Starmer, que parece ser bem mais capaz do que o excêntrico Boris Johnson, daí tendo nascido um plano para levar ao reencontro de Trump e Zelensky, de forma a garantir uma paz justa e duradoura na Ucrânia. Uma parte da imprensa europeia, como sucedeu com o jornal holandês Algemeen Dagblad (AD) que se publica em Roterdão, tratou de mostrar a “fotografia de família” desses líderes e anunciar que, no apoio à Ucrânia, a Europa estava unida. Porém, as declarações produzidas pelos diferentes líderes que estiveram em Londres, mostram que não há unanimidade e que uns apoiam a Ucrânia como podem e outros como lhe convém. De entre essas declarações destaca-se o que diz Ursula von der Leyen que reafirma que “temos que rearmar a Europa” e que “a Europa deve estar preparada para investir mais em armamento”, avançando-se com um plano de 800 mil milhões de euros. A ser assim, o projecto europeu nascido em Roma em 1957, parece ser de guerra e não ser de paz, além de ser demasiado irrealista em termos financeiros. É mesmo um paradoxo que, tendo a União Europeia sido criada para que não houvesse mais guerras na Europa, seja a actual presidente da Comissão Europeia que se apresente, não como defensora da paz, mas como uma persistente defensora do investimento em armas. Provavelmente, como mostra o Eurobarómetro, os europeus não querem perder os seus direitos sociais ou, como diria Paul Samuelson, não querem trocar manteiga por canhões. Recorde-se que, no corrente ano de 2025, o Orçamento da Comissão Europeia é de 193 mil milhões de euros e que o Orçamento do Estado em Portugal é de 133 mil milhões de euros, mas que a senhora von der Leyen quer dispor de 800 mil milhões de euros!
Os tempos estão realmente difíceis e o cidadão comum anda cada vez mais desorientado e confundido com o que dizem e fazem muitos dirigentes políticos.

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