quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Moçambicanos escolhem o treino italiano

Segundo anuncia hoje a edição do diário moçambicano O País, os “italianos treinam a Marinha de Guerra moçambicana” através do trigésimo grupo da sua marinha, que compreende o porta-aviões Cavour, a fragata Bergamini, o navio-patrulha Comandante Borsini e o navio reabastecedor Etna. Este importante grupo naval, que embarca mais de mil homens e mulheres, deixou a Itália no dia 13 de Novembro para fazer uma viagem de circum-navegação do continente africano e chegou a Maputo no dia 27 de Janeiro, para materializar o acordo de colaboração técnica assinado recentemente, que estabelece actividades de cooperação naval durante dois meses e inclui acções de formação, operações de segurança marítima, diplomacia naval, assistência humanitária e a promoção da indústria italiana.
Dadas as relações históricas e culturais entre Portugal e Moçambique e, ao mesmo tempo, o seu comum empenhamento na CPLP, estranha-se e lamenta-se que o treino da Marinha moçambicana deixasse de ser feito pela Marinha Portuguesa. São conhecidas as situações de aperto por que estão a passar os países do sul da Europa, incluindo a Itália e Portugal, com elevadas dívidas externas, enormes défices públicos e altas taxas de desemprego. Apesar disto, a Itália não hesita em investir numa acção de promoção de grande envergadura, onde expressamente inclui a promoção da indústria italiana, enquanto Portugal parece nada fazer para se manter com influência junto da Marinha de Moçambique. O advogado Aguiar-Branco sabe desfazer hospitais e estaleiros, mas parece nada fazer para nos manter na linha da frente da cooperação com Moçambique, talvez porque não conheça essa dimensão simbólica e essa vocação da nossa Marinha. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A bizarra ideia da “Fatura da Sorte”

Toda a gente sabe da existência da economia paralela, da fuga ao fisco e da concorrência desleal, mas ao consultarmos os estudos divulgados por entidades internacionais credíveis, verificamos que a dimensão desses males no nosso país não é muito diferente da que se verifica na Suécia, na Noruega ou na Alemanha, além de ser menor do que aquilo que se verifica em alguns países da União Europeia. Portanto, coloquemo-nos no nosso devido lugar e sem complexos, embora deva ser estimulado o cumprimento  dos nossos deveres cívicos para minorar esses males da sociedade. Nesse sentido, o governo decidiu-se por uma verdadeira cruzada no combate à economia paralela e teve a bizarra ideia de criar a Fatura da Sorte.
A Fatura da Sorte é um concurso que premiará os consumidores que exijam as facturas correspondentes aos seus consumos de bens e serviços, quando tomam cafés, engraxam sapatos, compram um jornal ou usam alguns WC. Tal como acontece com as promoções do tipo “Poupa mais”, “quantas mais facturas forem emitidas a cada contribuinte” mais cupões vão a concurso, segundo disse o porta-voz da iniciativa. O concurso terá direito a transmissão televisiva, que provavelmente vai ser tão animada como “O preço certo” e, semanalmente, vai sortear automóveis que “em princípio” serão viaturas novas “de gama elevada”. Tudo conta e todos podem ganhar um automóvel, pelo que é de esperar algum sucesso desta bizarra iniciativa. É a estratégia da cenoura!
A dignidade e a autoridade do Estado, assim como a responsabilidade fiscal dos contribuintes ficam, desta maneira, colocadas ao nível dos concursos televisivos e das promoções das grandes superfícies. Que mais nos irá acontecer?

O novo-riquismo de São Bento

O governo faz tudo para ir ao bolso dos pensionistas e dos funcionários públicos com o argumento que é preciso cortar na despesa pública e diminuir o défice público e, depois, vai dando exemplos de um brutal despesismo e de ausência de economicidade nas suas decisões, o que para além de ser insensato, é passível de ser classificado como ilegalidade. É mais uma das poucas vergonhas a que vamos assistindo, porque o dinheiro que o gabinete do primeiro-ministro gasta é meu e de quem paga os impostos, que ele, o seu governo e os seus deputados nos impõem.
O caso é divulgado hoje pelo jornal i, que informa que o gabinete do primeiro-ministro contratou uma empresa em regime de outsourcing para atender telefones em São Bento por 25,1 mil euros, apesar de ter no seu gabinete de São Bento nada menos do que dez secretárias pessoais, nove auxiliares e doze pessoas a prestar apoio técnico-administrativo. O contrato foi assinado com a empresa We Promote – Outsourcing e Serviços, Limitada e já é o terceiro que é celebrado por adjudicação directa entre esta empresa e o gabinete do primeiro-ministro, porque este tem "ausência de recursos próprios". No entanto, com tão elevado número de secretárias/assistentes será mesmo necessária esta despesa? E porque não foram recrutados alguns funcionários no grupo da mobilidade especial, evitando-se assim o recurso a uma empresa externa? É o novo-riquismo de São Bento!
Quando, no intervalo da consulta da sua conta bancária que cresce, cresce, cresce, o amigo Catroga souber disto, não só vai discordar deste contrato, como vai poder dizer que são estas as gorduras do Estado a que se referia quando em 2011 afirmava que seria tudo fácil.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A gente sem vergonha que nos governa

São cada vez mais as vozes de todos os quadrantes políticos e sociais que, com legítima indignação, se levantam contra o fanatismo ideológico do governo, contra a arrogância e a mentira, contra as promessas eleitorais não cumpridas e contra a violação dos direitos das pessoas, sobretudo dos pensionistas e dos funcionários públicos.
A voz de António Bagão Félix é apenas uma delas e na edição de hoje do jornal i, aquele antigo ministro das Finanças afirma que “para o governo tudo é matemática orçamental e as pessoas não contam”, recordando ao mesmo tempo aquilo que está escrito em todos os livros de Economia, isto é, que a Economia deve estar ao serviço das pessoas e não o contrário. O que se tem verificado em Portugal sob a direcção de um governo cheio de gente sem vergonha e sem pudor, mas com o apoio de Belém e das bancadas de São Bento, é o sistemático confisco das pensões, levando a pobreza e a insegurança aos seus beneficiários, sem que daí tenham resultado quaisquer efeitos significativos sobre a dívida e o défice.
Em Espanha, que passa por uma crise muito semelhante à nossa, o governo de Mariano Rajoy tem mostrado uma atitude bem diferente perante os pensionistas e escreveu-lhes recentemente uma carta personalizada na qual informa que, desde o dia 1 de Janeiro, as pensões foram aumentadas em 0,25% e que em 2013, apesar da difícil conjuntura económica, as pensões subiram entre 1 e 2%. A carta subscrita pela Ministra de Empleo y Seguridad Social garante aos pensionistas “que las pensiones subirán todos los años sea cual sea la situación económica y que nunca podrán ser congeladas".
O exemplo espanhol mostra a gravidade do que se passa por cá e mostra que, lamentavelmente, continuamos sujeitos à arrogância, à ignorância e à mediocridade desta gente sem vergonha que nos governa.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Os temporais que não nos dão tréguas

O mau tempo continua a assolar a costa ocidental da Europa e a afectar a vida das pessoas e das suas actividades. Num tempo em que cada vez mais se fala das alterações climáticas como a maior ameaça ambiental da actualidade, as televisões e os jornais têm dado o devido relevo a este fenómeno e mostram as imagens de nevões, inundações, quedas de árvores, desabamentos de terras e destruição de infraestruturas, mas também de muitos dramas humanos que lhes estão associados.
Porém, nos países situados na orla marítima atlântica, nos últimos dias tem sido retratada a violência da agitação marítima, com ondas superiores a 10 metros e com ventos a atingirem velocidades superiores a 130 km por hora, sobretudo nas costas atlânticas francesa e espanhola. Muitas barras têm sido encerradas e a actividade da pesca paralizou. Há destruição um pouco por toda a parte, desde o sudoeste da Inglaterra até à Costa da Caparica. Nesse contexto meteorológico, quando ontem entrava a barra do porto francês de Bayonne, o cargueiro espanhol Ludo não resistiu ao temporal e naufragou, obrigando ao resgate dos seus 12 tripulantes por helicóptero. Vários jornais franceses, como o Aujourd’hui en France, mas também diversos jornais espanhóis, ilustraram as suas edições com fotografias do naufrágio do Ludo, mas também salientaram a persistência dos temporais que não nos dão tréguas como possível consequência das alterações climáticas e como uma ameaça ambiental muito séria. A juntar ao que já se passou, a previsão meteorológica indica algum agravamento para os próximos dias.

A Rússia e o triunfo de Vladimir Putin

Realiza-se amanhã a cerimónia de abertura oficial dos Jogos da XXII Olímpíada de Inverno, que terão como sede principal a cidade de Sochi, na costa russa do mar Negro e nos quais o nosso país vai estar representado por dois atletas que não falam português: Camille Dias e Arthur Hanse. Depois de ter recebido os Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, a Rússia receberá pela segunda vez as Olimpíadas e, como sempre acontece nos países que acolhem estes grandes eventos internacionais, também a Rússia está a viver momentos de grande euforia.
Na sua última edição, a revista The Economist procurou analisar a actual situação russa e salienta que “os sucessos no exterior e os Jogos Olímpicos de Inverno parecem mostrar uma Rússia forte mas, no que é essencial, é fraca”. O Presidente Vladimir Putin tem governado a Rússia desde a resignação de Boris Iéltsin, como primeiro-ministro (1999-2000), como presidente (2000-2008) e, desde então, como primeiro-ministro. A escolha de Sochi foi uma vitória de Putin e o investimento de 50 mil milhões de dólares representa a sua vontade  em afirmar a Rússia e fazê-la respeitar na cena internacional. Na realidade ele está a viver um momento alto pois a sua aposta nos Jogos Olímpicos correu bem,  mas também porque tem feito valer as suas posições sobre a Síria e tem recebido a preferência do presidente ucraniano Viktor Yanukovych.
Porém, segundo The Economist, se Putin é um triunfador, a Rússia é “a patinadora com pés de barro”, pois a sua economia continua muito centralizada e muito dependente da exportação de petróleo e gás.  A corrupção é endémica e a sua indústria não é competitiva, com altos custos salariais e baixa produtividade. O investimento é muito baixo e o capital e os jovens quadros continuam a deixar o país. A revista conclui a sua análise  salientando que “a União Soviética não caiu só porque o povo rejeitou a sua ideologia, mas porque a sua economia desmoronou” e acrescenta que, “a menos que Putin proceda a reformas económicas, o seu regime vai seguir o mesmo caminho”.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Os horácios que nos governam

A história é muito conhecida e é contada de muitas maneiras, embora na sua forma mais comum seja apresentada como a história de “Horácio e o lobo”. A história conta-se, habitualmente, da seguinte maneira:
Era uma vez um rapaz que se chamava Horácio que era pastor e que costumava guardar as suas ovelhas na encosta de um monte situado junto à aldeia onde vivia. Horácio tinha o hábito de mentir. Um dia lembrou-se de rir à custa dos vizinhos e pôs-se a gritar muito alto: “Aí vem lobo! Aí vem lobo!” Os camponeses que o ouviram, correram para o ajudar mas não viram qualquer lobo. Voltaram para o trabalho, a pensar que o lobo se tivesse assustado e fugido, enquanto Horácio se ria dos camponeses que enganara. Na semana seguinte Horácio repetiu a brincadeira e gritou de novo: “Aí vem lobo! Aí vem lobo!” E os camponeses correram para o ajudar, embora em menor número do que da primeira vez, mas não viram qualquer lobo e sentiram-se enganados pelo mentiroso Horácio. Passado algum tempo, Horácio andava na encosta da serra a guardar as suas ovelhas, quando um enorme lobo apareceu e se lançou sobre o rebanho. Então, em desespero, Horácio gritou: “Acudam! Socorro! Lobo! Lobo!” Ninguém fez caso dele e ninguém acudiu. Horácio bem lutou com o lobo mas, apesar dos seus esforços, não conseguiu evitar que ele apanhasse uma das suas melhores ovelhas. Ferido e com a roupa rasgada, Horácio voltou a casa cansado e triste. Contou aos camponeses o que lhe tinha acontecido e censurou-os por não o terem socorrido. Então, um deles disse-lhe: “Nós bem ouvimos os teus gritos, mas pensamos que uma vez mais te querias rir de nós. És um mentiroso!”.
Esta história ocorreu-me por verificar que temos um governo com muitos horácios: o Horácio Coelho, o Horácio Portas, o Horácio-Branco, o Horácio Crato, o Horácio Maduro e o Horácio Moedas, entre vários outros horácios. Mentiram-nos tanto que, mesmo quando anunciam alguns sinais de recuperação económica e social, já poucos acreditam neles.

A triste trapalhada dos Mirós

O Estado Português herdou um activo constituído por 85 quadros de Joan Miró que tinham pertencido ao BPN e, lamentavelmente, decidiu vendê-los. Os quadros encontravam-se à guarda da Parvalorem,SA gerida por um tal Nogueira Leite, parecendo ser a única coisa boa que herdamos do BPN, que tanto tem custado aos contribuintes portugueses e que continua a ser um dos maiores escândalos da nossa democracia pela impunidade com que têm sido tratados os responsáveis por essa fraude. A existência desta colecção surrealista em Portugal podia contribuir para uma afirmação de modernidade e para aumentar e diversificar a nossa oferta cultural, tornando-se numa atracção museológica e num polo de atracção para o turismo.  Nessas condições não deveria ter sido decidida a sua venda, conforme propuseram os especialistas e a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), pelo menos sem que houvesse uma prévia discussão pública sobre o assunto. Porém, o Estado e o Ministério das Finanças e a Parvalorem,SA e o Secretário de Estado da Cultura embrulharam-se e, obcecados no seu fanatismo financeiro, decidiram a venda da colecção demonstrando uma total ausência de sensibilidade pela problemática cultural, tendo contratado a venda com a famosa leiloeira Christie’s.
No entanto, não foram cumpridos os procedimentos legais a que a Lei de Bases do Património Cultural obriga e a colecção viajou ilegalmente para Londres sem que a DGPC tivesse autorizado a sua saída. Alguns políticos e muitos cidadãos reagiram e interpuseram uma providência cautelar para suspender a venda da colecção. O tribunal não se opôs à venda dos quadros, mas declarou ilegal a sua saída de Portugal, uma vez que não teve a prévia autorização da DGPC. Porém, muito prudentemente, a leiloeira Christie’s decidiu suspender o leilão, devido às incertezas legais que eventualmente poderiam prejudicar os compradores. Essas incertezas legais não resultaram da opção de vender ou não vender, mas tão só pela saída ilegal das obras para o estrangeiro que as entidades responsáveis não acautelaram. Eis aqui o resultado da teimosia dos fanáticos que nos governam e que se tornou em mais um enxovalho internacional para todos nós.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma república demasiado gastadora

A Casa Real Espanhola apresentou ontem no Palacio de La Zarzuela o seu orçamento para o ano de 2014, isto é, divulgou a forma como vai utilizar os 7.775.040 euros que lhe foram atribuídos e que correspondem a um decréscimo de 2% em relação ao ano de 2013. Esta apresentação pública perante os jornalistas resulta da vontade do próprio Rei que, desde 2011 e por virtude das políticas de austeridade, decidiu que o orçamento da Casa Real fosse transparente e aceitou que, desde então, todos os anos fosse diminuido. A novidade deste ano foi a decisão de atribuir um salário fixo e uma verba para representação à Rainha Sofia (131.739 euros) e à Princesa das Astúrias (102.464 euros), de modo a assegurarem o cumprimento das suas apertadas agendas institucionais, enquanto as condições retribuitivas do Rei João Carlos (292.752 euros) e do Príncipe Filipe (146.376 euros) se mantém, embora todos estes valores estejam sujeitos a uma retenção na fonte que vai dos 51% aos 47%. Na detalhada notícia publicada pelo diário La Razón conclui-se que a Monarquia custa 16,6 cêntimos por ano a cada espanhol.
Inversamente, Portugal comporta-se como uma república gastadora. A divulgação dos gastos da Presidência da República é feita pela respectiva Secretaria-Geral, mas é mais opaco e sem a transparência das contas apresentadas aos jornalistas espanhóis. Assim, em 2013 o orçamento da Presidência da República foi de 15.130.000 euros, o que significa que essa entidade custa a cada português cerca de 1,5 euros, ou seja, quase dez vezes mais do que a Casa Real espanhola. Embora os dois orçamentos não possam ser comparados com total exactidão por incluirem diferentes despesas, é evidente que Portugal gasta muito mais do que a Espanha na sua representação institucional, entre outras razões porque se fazem mais viagens presidenciais com alargadas e sumptuosas comitivas, mas também porque tem ao seu dispor uma verdadeira legião de dezenas consultores e assessores. Realmente, o Palácio de Belém não quer ser uma referência de contenção despesista nem procura inspiração no exemplo de parcimónia de Manuel de Arriaga, o seu primeiro morador.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O multiculturalismo e a coesão social

A edição de hoje do The Daily Telegraph destaca que "em cada nove escolas primárias e secundárias inglesas há uma em que o inglês já não é a primeira língua", mas acrescenta mais: um milhão de alunos falam inglês como segunda língua e um em cada cinco alunos não falam inglês em casa. Essa realidade está a preocupar as autoridades inglesas, mas trata-se de um fenómeno que também está a acontecer noutros países europeus e que merece reflexão.
A notícia partiu de um inquérito realizado no Reino Unido como parte do recenseamento escolar anual, ao qual responderam 15.288 escolas primárias e secundárias com informações sobre a língua materna ou a primeira língua dos seus alunos. Verificou-se que em 1.755 escolas frequentadas por um total de 835.174 estudantes havia uma minoria de falantes de inglês e apurou-se que as línguas mais faladas pelos alunos eram urdu, bengali, punjabi, somali, polaco, hindi, gujarati, tamil, português, árabe e espanhol. A pequena cidade de Reading, situada no condado de Berkshire nos arredores de Londres, é chamada a “babel dos dialectos” pois verifica-se que as crianças da cidade falam mais de 150 línguas e dialectos nas suas casas.
O problema é conhecido na generalidade dos países europeus e resulta da atracção que a União Europeia continua a exercer sobre muitas populações, não só da sua periferia, como também do norte de África, da antiga Índia Inglesa e de outras regiões. Há que lhe dar muita atenção. Para os países receptores é necessário um esforço para proteger a diversidade cultural e assegurar a coesão social, o que implica o reconhecimento do multiculturalismo e, reciprocamente, é necessário que os emigrantes também se obriguem a um esforço de integração e que respeitem as sociedades de acolhimento e as culturas locais. Esse é um dos grandes desafios do nosso tempo a merecer debate e reflexão, pelo que a notícia do The Daily Telegraph é mais um alerta.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os temporais na costa norte de Espanha

Nos últimos dias o golfo da Biscaia esteve sob violento temporal que assolou a costa norte da Península Ibérica e afectou a orla marítima das comunidades autónomas espanholas do País Basco, Cantábria, Astúrias e Galiza. Os jornais das principais cidades desta região, sobretudo os diários de San Sebastián, Santander, Gijón e Oviedo, destacaram este temporal que teve uma invulgar violência e ilustraram as suas primeiras páginas com imagens impressionantes da fúria do mar. Assim aconteceu, por exemplo com o El Diario Vasco que se publica em San Sebastián, que apresenta uma imagem invulgar e impressionante das ondas a rebentar sobre a ponte de Kursaal, no centro da cidade.
Segundo a informação veiculada por esses jornais a agitação marítima foi desproporcionada, tendo sido registadas ondas com mais de 11 metros e ventos com velocidades superiores a 100 km por hora, de que resultaram danos materiais em algumas infraestruturas costeiras, o corte de estradas e a inactividade da pesca local. Houve pelo menos uma vítima mortal dos temporais no pequeno porto de pesca de Ondarroa, onde o temporal terá sido mais violento.
Como se costuma dizer, o mar é belo mas não se pode brincar com ele. 

A Ucrânia está em pé de guerra

Depois de cerca de dois meses de contestação e de um levantamento com grande apoio  popular nas ruas de Kiev e de outras cidades ucranianas com barricadas e ocupação de edifícios, a situação teve ontem uma evolução significativa, quando o governo se demitiu e o Parlamento revogou as leis que permitiram a repressão do protesto popular. Poderá, assim, abrir-se uma porta para o fim da crise ucraniana, embora a oposição continue a exigir a amnistia para os detidos nos protestos, a revisão da Constituição e a marcação de eleições presidenciais antecipadas, pois continuam sem confiar no Presidente Victor Yanukovich. O que está em causa parece ser uma clivagem profunda da sociedade ucraniana, dividida entre uma ligação preferencial à Rússia e a adesão à União Europeia, mas também muitas divergências quanto ao futuro do leste da Europa. A crise começou quando o presidente ucraniano Yanukovich decidiu não assinar um acordo de associação com a União Europeia, optando por uma união alfandegária proposta pela Rússia, o que provocou manifestações pró-europeias que alastraram e se têm agravado. Ontem a situação acalmou, mas a estabilidade da Ucrânia e da Europa continuam ameaçadas. Por isso, ontem o presidente russo Vladimir Putin esteve em Bruxelas e a comissária europeia Catherine Ashton esteve em Kiev. Tanto a União Européia como a Rússia têm interesse em que a situação se resolva com rapidez, antes que atinja proporções mais graves. Hoje, no Parlamento, o primeiro presidente do país desde a independência conquistada em 1991, Leonid Kravchuk, afirmou que a Ucrânia está “à beira de uma guerra civil” em consequência do confronto entre as autoridades e os opositores, generalizado a todo o país. Era a única coisa que ainda não tinha sido dita com tanta clareza.
A Ucrânia é um grande país com 600 mil km2 de superfície e mais de 45 milhões de habitantes. Geograficamente é um país distante, mas desde que mais de 40 mil ucranianos trabalharam ou trabalham em Portugal, todos ficamos mais inquietos com o que se está a passar e o que pode vir a acontecer naquele país, com cujas gentes nos habituamos a conviver.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O cavaquinho até já tem um museu

Há menos de 6 meses e por iniciativa do músico Júlio Pereira, foi constituída em Lisboa uma associação denominada Associação Cultural e Museu Cavaquinho com o objectivo de documentar, preservar e promover a história e a prática do cavaquinho, ao mesmo tempo que em declarações públicas, o músico classificou o ano de 2014 como “o ano do cavaquinho”.
Não imaginei que houvesse algum interesse cultural na promoção da história do cavaquinho, nem que se justificasse a escolha do ano de 2014 como o ano do cavaquinho porque, por ignorância minha, julgava-o um instrumento menor e sem qualquer relevância cultural, para além pensar que tinha origem algarvia, quando afinal é de origem minhota.
Porém, eu estava enganado e o cavaquinho da notícia não é o que eu pensava. Fiz confusão. O cavaquinho é um instrumento musical tetracórdio – também chamado braguinha, braga, machete, machetinho ou machete-de-braga - que foi adoptado pela cultura popular portuguesa, mas que foi levado para várias regiões do mundo, sendo actualmente conhecidos mais de uma centena de modelos diferentes, por exemplo em Cabo Verde, no Brasil, nas ilhas Hawai e até na Indonésia.
O músico Júlio Pereira tem sido o grande divulgador do cavaquinho em Portugal, tendo editado em 1981 o seu primeiro álbum inteiramente dedicado ao instrumento e acaba de editar um livro/CD sobre o mesmo cavaquinho. A sua iniciativa de criar uma associação internacional e um museu é, portanto, muito meritória.
 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sacos azuis em tempos de austeridade

A edição de hoje do Correio da Manhã destaca que o “Governo tem saco azul de 523 milhões de euros”, com base no facto do Orçamento do Estado para 2014 incluir uma rubrica designada por “dotação provisional” que inclui essa verba sem estar associada a qualquer tipo de despesa. De acordo com a Lei de Enquadramento Orçamental, o orçamento do Ministério das Finanças inclui uma “dotação provisional” destinada a fazer face a despesas não previsíveis e inadiáveis. Porém, em 2013 essa rubrica foi dotada apenas com 20 milhões de euros e agora aumentou 26 vezes, tendo sido aprovada pelos deputados da maioria. Este escândalo  foi revelado em primeira mão na televisão pela antiga ministra Ferreira Leite, que então lhe chamou um enorme Fundo de Maneio. Ora isto é inexplicável e acontece quando se aproximam eleições, quando se intensificou o ataque aos pensionistas e aos funcionários públicos e quando é cada vez é mais evidente que o ataque às pensões e aos salários se insere num modelo ideológico que visa retirar rendimentos aos portugueses e empobrecer o país.
A troika e o governo bem poderiam cortar nas gorduras do Estado – que o amigo Catroga bem pode identificar – nas PPP, na EDP, na banca, nos estudos e pareceres dos advogados-tubarões, nos lucros das grandes empresas monopolistas, na multidão de assessores e consultores, nas viagens e nas comitivas e em tantas outras coisas mais. A austeridade só será compreendida se for necessária para reduzir a dívida ou o défice, mas deve atravessar toda a sociedade e não ser dirigida apenas aos mais fracos. Assim, tal como está a acontecer na Europa, também o nosso Portugal se afasta cada vez mais de um projecto de solidariedade. Haverá alguém que compreenda que se cortem pensões e salários em nome da redução da despesa e, simultaneamente, haja uma dotação provisional de 523 milhões de euros para despesas não previsíveis e inadiáveis, nas mãos de uma qualquer albuquerque? Tanto poder nem o Afonso de Albuquerque teve. Faz algum sentido? Terá relação com as eleições que se aproximam? Está quase a valer tudo.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um Branquinho que gosta de dinheirinho

Por vezes somos confrontados com pequenas coisas da vida política que só servem para nos incomodar e para nos tornarem mais cépticos em relação à viabilidade de um projecto colectivo gizado por um tal Afonso Henriques, que já leva quase nove séculos e se chama Portugal. Então não é que, apesar da austeridade e da necessidade de forte contenção orçamental imposta pelo governo em 2013 e 2014, um tal Branquinho ao ser nomeado secretário de Estado, optou por não abrir mão do seu subsídio de alojamento por não ter residência em Lisboa? Não lhe bastava o salário e as despesas de representação, mais as ajudas de custo e o subsídio de alimentação, as despesas de telefone, a viatura com motorista e o cartão de crédito. Etc. A sua ânsia de facturar levou-o a não prescindir destes 753 euros por mês! Esta pobreza de espírito e esta ganância por dinheiro faz-me uma azia, que nem o Kompensan me alivia. Mas quem é este Branquinho?
Branquinho foi um jota precoce e com 27 anos já era deputado, mas basta ver o seu currículo oficial para concluir que nunca exerceu uma profissão e que é um boy que tem vivido à custa do seu partido e dos contribuintes, tendo-se tornado conhecido por alguns casos muito confusos que envolvem muito dinheiro. Em 2002 era o único detentor da empresa de publicidade NTM à qual foi adjudicada uma campanha de comunicação para um programa de formação profissional autárquico gerido pelo seu guru Miguel Relvas, no valor de quase 450 mil euros, caso que está a ser investigado pelo Ministério Público. Mais tarde voltamos a ouvir falar dele quando foi contratado pela famosa Ongoing que, em dez meses, lhe pagou 200 mil euros pelos serviços prestados. Agora está no governo e requereu 753 euros por mês, a que tem direito como subsídio de alojamento. Podia recusar o subsídio e o ridículo, mas não o fez. É assim este Branquinho que gosta de dinheirinho, que é Agostinho mas que não passa de um coitadinho!