terça-feira, 19 de maio de 2020

O plano MM para vencer a crise na Europa

A União Europeia vive desde há vários anos numa situação de grande fragilidade política, devido à ausência de um verdadeiro projecto comum que mantenha os princípios de solidariedade que presidiram à sua constituição, a que se juntam a falta de lideranças de reconhecido prestígio à escala internacional e o surgimento de nacionalismos regionais que, em cada dia que passa, se tornam incompatíveis com o ideal europeu. As políticas comuns tendem a tornar-se uma ficção que cede aos egoísmos nacionais e daí resulta uma progressiva perda de competitividade científica e industrial relativamente aos gigantes americano e chinês. Bruxelas é cada vez mais uma “arca de Noé”, ou uma nau sem rumo, onde cada um procura satisfazer os seus interesses.
A recente crise pandémica veio mostrar como a União Europeia e o projecto europeu podem entrar em desagregação. Não é necessário ter grandes conhecimentos de Economia, nem consultar estatísticas, nem ouvir o Portas ou o Marques Mendes, para perceber a dimensão da crise que nos entrou em casa. Basta olhar para os aeroportos vazios, para os navios de cruzeiro nos seus terminais, para os restaurantes vazios ou para o número de desempregados a aumentar.
Nesse sentido, ontem estivemos perante um acontecimento de grande importância para o futuro da Europa, que foi o anúncio do lançamento de um fundo de recuperação da ordem dos 500 mil milhões de euros, anunciado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, que se destina à ajuda aos países da União Europeia, no combate à recessão económica e à crise social que se aproxima. Trata-se de um plano que assenta em financiamentos não-reembolsáveis, ou subvenções a fundo perdido, provenientes do orçamento comunitário. É um novo plano Marshall, muito semelhante àquele que os Estados Unidos criaram em 1947 para auxiliar a reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial. A concretizar-se este plano, que já pode ser designado por Plano MM (Merkel-Macron), será um sinal de unidade política e um forte apoio para que a Europa saia desta crise mais forte, mais unida e mais solidária. É esse tom de unidade que o Finantial Times utiliza hoje ao anunciar esta iniciativa franco-alemã.

domingo, 17 de maio de 2020

O Brasil de Jair Bolsonaro chegou ao topo

O Brasil já contabiliza 233.142 infectados por covid-19 e, no quadro da incidência da pandemia por país, já figura em quarto lugar, tendo ultrapassado a Itália e a Espanha. Na sua mais recente edição, a revista Veja trata esta situação como uma “amarga realidade” e, para sensibilizar os seus leitores, escolheu como ilustração de capa um mapa do Brasil transformado num enorme cemitério, apoiando-se na máxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Apesar de ainda não serem bem conhecidas as condições de propagação nem as terapias adequadas para dominar a pandemia, esta tem sido controlada em muitos países através de medidas de emergência sanitária, ponderadas entre muitas variáveis, com prudência e com a humildade própria de quem sabe como é grave a situação. Inversamente, verifica-se que os países em que os seus líderes autocráticos desvalorizaram a perigosidade da covid-19, como aconteceu com Trump, Putin e Boris Johnson, ocupam os primeiros lugares dessa lista em que o Brasil de Jair Bolsonaro aparece a seguir. São já 15.633 óbitos registados no Brasil por essa “gripezinha” ou “resfriadinho” e, em menos de um mês, o presidente desautorizou e empurrou para fora do governo dois ministros da Saúde.
Em qualquer das demissões de Luiz Mandetta ou de Nelson Teich, houve divergências profundas entre os ministros e o presidente sobre a gravidade da covid-19, sobre o maior ou menor isolamento social e sobre o uso da cloroquina. Bolsonaro ouviu o seu amigo Donald falar sobre a cloroquina e tratou de importar essa ideia com entusiasmo, sem que haja qualquer evidência científica da redução da mortalidade pela covid-19 e, pelo contrário, sejam conhecidos graves efeitos colaterais. Apesar disso, por uma única vez, o Jair não seguiu o amigo americano quando este sugeriu a injecção de desinfectante e o uso de raios ultravioletas para combater o covid-19
Porém, o que o Brasil não vai esquecer é a imagem do Jair a divertir-se em passeata de jet ski, no mesmo fim-de-semana em que o Brasil atingia as dez mil mortes por covid-19. Simplesmente chocante.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O que o covid-19 ainda nos pode trazer


O jornal holandês deVolkskrant que se publica em Amesterdão e que há bem pouco tempo completou cem anos de existência, incluiu na sua edição de ontem um detalhado estudo sobre a epidemia de covid-19 que, até agora, contagiou cerca de 42 mil holandeses e causou 5.310 óbitos nos Países Baixos, colocando-os no top ten mundial das vítimas desta epidemia. O estudo assenta em elucidativos gráficos, o que permite a sua interpretação pelas pessoas que, como nós, nada entendem de holandês.
Logo na primeira página e com o título “Onda ou ondas”, estão apresentados os três cenários mais prováveis para a evolução futura da pandemia: o cenário 1 em que já estaremos a sair do pico, o cenário 2 em que se espera um novo pico mais agressivo no Outono e um cenário 3 em que voltarão a repetir-se regularmente os picos como aquele que tem estado entre nós, até que surja uma vacina.
O estudo apresenta a evolução da incidência do covid-19 através de expressivos gráficos, com base nos dados divulgados diariamente pelas autoridades sanitárias nacionais, mas como os problemas são diferentes em cada país e a crise está em diferentes fases em cada um deles, o estudo avisa que nem todas as comparações são aceitáveis. No entanto, seguramente que a credibilidade deste estudo pode servir para que cada país se inspire nas experiências mais semelhantes que se conhecem e que adopte medidas mais adequadas.   
Quem sabe se os autores deste estudo publicado pelo deVolkskrant não estiveram em Portugal a ouvir os nossos mais reputados técnicos-especialistas de covid-19, que dão pelo nome de Portas, Júdice e Mendes, cuja vaidade exibicionista é tão grande que já nem cabe no pequeno écran dos televisores.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Brasil: uma exemplar iniciativa editorial

A pandemia do covid-19 parece estar agora centrada no continente americano e em especial naqueles países cujos governantes subestimaram a sua importância, com demasiada arrogância e muita ignorância. Os presidentes Trump e Bolsonaro irão ficar associados a esta pandemia pela sucessão de chocantes declarações que fizeram, quando a catástrofe humanitária, social e económica já desabava sobre os seus países. No mapa da incidência da pandemia de covid-19 por país, os Estados Unidos estão na vanguarda com quase um milhão e meio de infectados e mais de 80 mil óbitos, mas o Brasil que leva mais de dez mil óbitos e mais de 160 mil infectados, já aparece no sétimo lugar dessa lista. 
A frieza dos boletins diários que anunciam os números dos novos contagiados e dos óbitos que aconteceram, esvazia a dimensão humana desta tragédia que já é a maior catástrofe sanitária desde há cem anos, quando se verificou a pandemia da chamada gripe espanhola. No caso do Brasil, os números da gripe espanhola são imprecisos, mas estima-se que, em Outubro e Novembro de 1918, tenham morrido cerca de 12 mil pessoas só na cidade do Rio de Janeiro.
Na sua edição de hoje, o jornal O Globo presta homenagem aos mais de 10 mil brasileiros mortos pelo covid-19 e dedica-lhe um memorial virtual, ao mesmo tempo que dá a conhecer muitas das histórias relatadas por amigos e familiares das vítimas, num projecto editorial inédito e que envolveu uma rede de jornalistas voluntários que recuperaram a singularidade e o dramatismo de muitas dessas histórias. Perante a maior catástrofe sanitária em um século, o jornal O Globo foi para além dos números e teve uma exemplar iniciativa editorial, ao repor uma dimensão humana na calamidade que está a ser esta pandemia no Brasil e no mundo. O meu aplauso.

domingo, 10 de maio de 2020

Os desempenhos da Saúde e da Economia

A situação sanitária que desde Março nos ameaça e nos tem preocupado está a passar por uma fase de acalmia que nos dá esperança de que o futuro seja menos sombrio do que se chegou a temer, embora a incerteza seja a palavra mais adequada para classificar o que o futuro nos reserva. Nestes dois meses houve demasiadas vozes que se ouviram a falar de um tema sobre o qual pouco sabem, mas também algumas vozes a criticar as políticas que têm sido adoptadas pelo governo, destacando-se nos últimos dias o jurista Júdice, o sindicalista Roque da Cunha e mais alguns daqueles que estão sempre contra tudo. O facto é que, apesar de tudo, Portugal tem passado ao lado das calamidades que desabaram sobre a Espanha, a Itália, a França e o Reino Unido, que o Serviço Nacional de Saúde não colapsou, que os profissionais de saúde estiveram à altura, que tem havido máscaras, luvas e gel para toda a gente e que, mais importante, enquanto representantes da população, os partidos políticos têm compreendido a gravidade da situação e têm manifestado confiança nas autoridades sanitárias.
O Diário de Notícias teve a iniciativa de perguntar a vinte e cinco personalidades para que avaliassem, numa escala de zero a vinte, os desempenhos do governo nas respostas ao problema sanitário e ao problema económico. As vinte respostas que o jornal recebeu são uma amostra insuficiente para terem rigor estatístico, mas são um interessante indicador.
Na resposta ao problema sanitário o governo conseguiu 14,9 valores, ao mesmo tempo que algumas sondagens confirmam a subida da confiança e do apoio ao 1º Ministro, enquanto na resposta ao problema económico há algumas críticas à morosidade e à burocracia dos apoios sociais e económicos, embora o que temos pela frente seja complexo e mexa com o dinheiro dos contribuintes, pelo que não pode ficar à mercê dos espertalhões do costume. São muitos os problemas, como o aumento do desemprego, o encerramento de empresas, os milhares de trabalhadores em lay off, o turismo paralizado, as viagens aéreas canceladas e, ainda, a pressão de todo o mundo a pedir ajudas estatais, muitas delas por mero oportunismo, onde se incluem os grandes clubes de futebol que pagam salários milionários. Menos morosidade e menos burocracia podem significar um acesso mais facilitado ao pote, que é alimentado pelos meus impostos.
Portanto, o Estado Social está a responder bem e tanto o Ministério da Saúde como o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social estão a merecer a nossa confiança. Merecem o meu aplauso.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Celebrando o fim da 2ª Guerra Mundial

Hoje comemora-se o V-E Day ou o Dia da Vitória na Europa, para assinalar o dia em que há 75 anos, depois de mais de cinco anos de guerra, os nazis alemães aceitaram a sua rendição incondicional às forças aliadas que tinham ocupado Berlim. Os jornais britânicos celebram essa efeméride nas suas edições de hoje, com destaque para o jornal escocês The Herald, que se publica em Glasgow desde 1783 e que, portanto, vai no seu 238º ano de publicação.
A 2ª Guerra Mundial iniciou-se no dia 1 de Setembro de 1939 quando a Alemanha invadiu a Polónia e, nos campos, mares e cidades europeias, durou até ao dia 8 de Maio de 1945, tendo envolvido todas as grandes potências que se mobilizaram em torno de duas alianças militares adversárias: os Aliados e o Eixo. A história da guerra é muito longa e tem sido descrita com todos os detalhes mas, provavelmente, os seus dias mais significativos foram o dia 22 de Junho de 1941 quando a Alemanha iniciou a operação Barbarossa e invadiu a União Soviética, o dia 7 de Dezembro de 1941 quando o Japão atacou a esquadra e as bases americanas em Pearl Harbor e o dia 6 de Junho de 1944 quando as forças aliadas desembarcaram na Normandia durante a operação Overlord. O balanço da guerra na Europa traduziu-se em cerca de 36 milhões de mortos militares e civis, resultantes dos combates, das doenças, da fome, dos bombardeamentos e dos massacres e genocídeos deliberados.
A brutalidade da guerra obrigou a um enorme esforço económico, industrial e científico dos países que nela participaram e abriu as portas a um novo ciclo de paz e de progresso económico e social que, no essencial, dura há 75 anos.
Actualmente, o mundo continua amarrado às consequências da 2ª guerra mundial e os países vencedores – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China - continuam a ter um papel determinante na condução do mundo, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, enquanto em vários capítulos da evolução do mundo se considera que a 2ª guerra mundial foi a fronteira que separou o mundo antigo de um novo mundo que, embora cheio de contradições, beneficia de mais paz, mais progresso, mais democracia e mais respeito pelos direitos humanos.

terça-feira, 5 de maio de 2020

O reconhecimento da língua portuguesa

Hoje, dia 5 de Maio, celebrou-se pela primeira vez o Dia Mundial da Língua Portuguesa, uma data que foi oficializada no ano passado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e que, por iniciativa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), já antes se comemorava como o Dia da Língua e da Cultura Portuguesa.
As celebrações foram discretas porque os tempos não estão nada de feição para celebrações ou para festas. No entanto, várias personalidades da Literatura, da Música, do Cinema e da Ciência dos nove países que têm a língua portuguesa como língua oficial – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste - subscreveram mensagens de regozijo pelo reconhecimento internacional da língua portuguesa que, de acordo com os rankings mais credíveis, será a quinta língua mais falada no mundo. O próprio secretário-geral das Nações Unidas, na sua dupla qualidade de dirigente do principal organismo internacional e de cidadão português, difundiu uma mensagem a assinalar o acontecimento, tal como fizeram outros luso-falantes, nomeadamente alguns presidentes da República e até um Prémio Nobel.
Os falantes de português serão cerca de 290 milhões que residem nos nove países da CPLP, a que se devem juntar as diásporas de cada um dos países que se encontram fora dos seus países de origem e que vivem em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, mas também na Austrália, na África do Sul, na Venezuela e, naturalmente em Macau e Goa. 
O reconhecimento internacional da língua portuguesa é, seguramente, um factor que prestigia e credibiliza todos os países que se exprimem em português e todos os cidadãos luso-falantes.

Brasil: o povo nem sempre tem razão

Portugal é um país que tem vários países-irmãos e amigos, mas o seu irmão mais velho chama-se Brasil. Não é preciso invocar o passado histórico nem a língua comum para justificar a relação íntima que existe entre os dois países e, por isso, tudo o que acontece no Brasil interessa aos portugueses, sobretudo nos aspectos culturais, em especial com a música e o futebol, mas também nos aspectos políticos.
Acontece que depois de um conturbado processo político, no dia 28 de Outubro de 2018 os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro para presidente da República Federativa do Brasil com 55% dos votos, mas como nos ensina a História, por vezes o povo engana-se nas escolhas que faz. Parece ser esse o caso, pois é lamentável o que se está a passar no Brasil, sobretudo depois de se ter revelado a calamidade que está a ser a pandemia de covid-19. O Jair revela-se uma personalidade menor e as elites culturais e económicas brasileiras devem estar a chorar pelo apoio directo ou indirecto que lhe deram, quando recusaram Fernando Haddad e a gente do  PT.
A pandemia que ele sempre desvalorizou já é uma calamidade nacional com mais de 100.000 infectados e mais de 7.000 mortos mas, apesar dessas trágicas estatísticas, o Jair continua a desrespeitar todas as normas sanitárias e a participar em protestos que apelam à dissolução do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, ao mesmo tempo que sugere, incita ou ameaça com uma intervenção militar. É a escalada da insensataz, escreve hoje o Correio Braziliense. É um impensável nível de irresponsabilidade. Os seus aliados desertam todos os dias, como aconteceu com Sérgio Moro, um seu fiel seguidor que vai fazendo os seus trabalhinhos mais ou menos sujos para subir na política brasileira. O Jair já não tem futuro. O povo enganou-se.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Há um novo mundo a surgir no horizonte

A última edição do Courrier internacional é temática e centra-se numa questão que, na actual turbulência que atravessamos e de que ainda não se sabem as verdadeiras consequências, nos obriga a repensar o mundo. As dúvidas que se levantavam aos efeitos nocivos da globalização sobre o comportamento dos seres humanos, sobre a crise climática e o aquecimento global que rapidamente estão a alterar o planeta ou sobre a crise generalizada da natalidade, juntaram-se à pandemia do covid-19 e aos seus medos e incertezas, parecendo que estamos perante uma tempestade perfeita.
Há que repensar o mundo, como salienta na sua primeira página o Courrier internacional. Ninguém pode ficar indiferente às imagens que temos visto das ruas e praças das cidades desertas, das angústias ou mesmo da impotência de quem trabalha nos hospitais, das filas intermináveis de gente que procura abastecer-se nos supermercados, dos rostos que em vez de sorrisos mostram máscaras, das placas de estacionamento dos aeroportos pejadas de aviões imobilizados ou dos grandes navios de cruzeiro abandonados nos cais. Essas imagens sugerem que repensemos o mundo porque nunca mais vai ser como era e que nos preparemos para um modo de vida diferente que, quem sabe, até pode ser melhor. A pandemia do covid-19 está a desencadear uma verdadeira revolução, talvez uma das maiores revoluções que a Humanidade alguma vez enfrentou. Há que pensar nela e nas adaptações a fazer no modo de vida da sociedade. Porém, neste quadro que nos obriga a pensar no futuro com coragem, com inteligência, com imaginação e com esperança, ainda há gente muito responsável – dispenso-me de aqui deixar nomes – que continua com o seu discurso político ou sindical da reivindicação, da exigência e da confrontação, como se o mundo não tivesse mudado radicalmente nos últimos três meses.

domingo, 3 de maio de 2020

España: la alegría vuelve a la calle

A pandemia que nos ataca desde há quase dois meses, em particular nos países da Europa ocidental, obrigou ao encerramento de escolas, à suspensão de grande parte da actividade produtiva e ao confinamento domiciliário das pessoas, entre outras medidas destinadas a evitar os contágios e a propagação do vírus. 
De acordo com os imensos “especialistas” que diariamente nos dão lições sobre o assunto, estaremos agora na fase descendente da primeira vaga da pandemia, mas espera-se uma segunda vaga ainda mais dura nos próximos tempos, o que nos obriga a todos os cuidados. Por isso, nesta aparente acalmia pandémica, as autoridades sanitárias estão a procurar conciliar todas as variáveis que entram nesta equação – a defesa da saúde pública, o fim do confinamento obrigatório, a reactivação do comércio e da indústria, a reabertura das escolas e das repartições públicas e, até mesmo, essa coisa que pouca falta nos tem feito que é o futebol e as longas noites televisivas a discutir foras de jogo e penaltis.
O confinamento obrigatório vai terminar em Portugal, enquanto em Espanha já terminou. Ontem as cidades espanholas encheram-se de pessoas que vieram para a rua para “esticar as pernas” e apanhar sol, para fazer caminhadas e pedalar. A imprensa espanhola encheu as suas primeiras páginas com imagens que mostram as cidades cheias de gente e de vida. O jornal Canarias7 de Las Palmas de Gran Canaria seguiu a mesma linha e encheu a sua primeira página com os surfistas canários.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

A maior calamidade está em Nova Iorque

Nos Estados Unidos contabilizaram-se hoje 1.122.866 pessoas já infectadas com covid-19 e 65.397 óbitos devidos ao mesmo vírus, enquanto no estado de Nova Iorque estão registadas 313.855 pessoas infectadas (28% do total do país) e o número de óbitos atinge 24.069 (37% do total do país). Estes números mostram como os Estados Unidos e o estado de Nova Iorque estão no centro desta tempestade a que nenhum país tem escapado. Se comparamos os 24.069 óbitos que já aconteceram no estado de Nova Iorque, que tem cerca de 20 milhões de habitantes, com os números do que se passa em todo o mundo, verificamos que a calamidade nova-iorquina é muito mais grave do que aquela que atinge os maiores países europeus que são muito mais populosos, como a Itália (27.967 óbitos), o Reino Unido (26.771 óbitos), a Espanha (24.543 óbitos) e a França (24.376 óbitos).
Hoje, o Daily News e outros jornais do estado de Nova Iorque anunciaram que, pela primeira vez na história de 115 anos do New York City Subway, vai ser interrompida durante a noite a circulação nas suas 36 linhas e 472 estações, para que se proceda a uma limpeza geral de desinfecção anti-vírus, pois pensa-se que o transporte diário de mais de 5 milhões de passageiros torna o metropolitano nova-iorquino um dos principais focos de propagação da epidemia de covid-19. Porém, é de lamentar que as autoridades estaduais tenham demorado tanto tempo para perceber que o metropolitano era o mais provável agente de contágio e para se decidirem por esta iniciativa sanitária, o que mostra como na nação mais poderosa do mundo há demasiadas fraquezas.

A crise aeronáutica e a retoma da Airbus

O jornal regional La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, a cidade do sul da França que é o mais importante centro de produção aeronáutico da Airbus, dedicou a sua última edição à crise por que passa o sector, numa época em que não há novas encomendas, em que muitos milhares de aviões estão parados e em que as companhias de aviação têm as suas finanças arruinadas por não terem receitas.
Ainda não se avista a luz ao fundo do túnel no que respeita à normalização da actividade aeronáutica mundial e, naturalmente, há uma absoluta incerteza quanto à retoma da produção industrial de aeronaves, porque não há nem vai haver procura nos tempos mais próximos. A Airbus passa por tempos difíceis e a cidade que “vive” da Airbus está verdadeiramente assustada, porque o desemprego é o cenário mais provável em todas as áreas industriais que participam na produção aeronáutica, bem como nas áreas que indirectamente lhe estão ligadas. O que se aproxima da cidade de Toulouse pode ser uma calamidade social e o principal jornal da cidade pergunta mesmo se a Airbus tem condições para descolar, pois não se antevê procura que possa dinamizar a capacidade de produção instalada e ocupar a força de trabalho que está ligada ao grupo.
É um desafio enorme que só começará a ser resolvido quando as companhias aéreas recuperarem os seus negócios ou quando os passageiros voltarem a encher os aviões, mas quando isso acontecer pode já ser tarde. Por isso, a cidade de Toulouse vive angustiada.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Jair Messias Bolsonaro preside. E daí?

Chama-se Jair Messias Bolsonaro e foi eleito presidente da República Federativa do Brasil, mas não revela inteligência, nem competência, nem senso para exercer aquele cargo em nome de 210 milhões de brasileiros e sobre um território que é o quinto maior país do planeta. Evidentemente que a presidência do Jair é um problema interno do país e de cada cidadão brasileiro, mas desde que a globalização se impôs, muitos problemas internos dos países também passaram para a esfera internacional, até porque são percepcionados através da televisão. É o que acontece com figuras como Trump, Maduro e Viktor Orbán, mas também com o Jair, que se tornaram erros de casting nos seus países, mas também no mundo.
Hoje o jornal O Dia do Rio de Janeiro destaca que no Brasil o número de óbitos devido ao covid-19 já atinge 5.466 pessoas e que afinal não é uma gripezinha nem um resfriadinho, como se lhe referiu o Jair. Queixam-se os brasileiros que o homem revela uma gritante falta de compaixão para com os mortos e as suas famílias e uma enorme falta de solidariedade para com aqueles que estão na primeira linha da frente de combate, isto é, os profissionais da saúde pública. Quando um dia destes foi interrogado pelos jornalistas a respeito do alarmante ritmo de crescimento da pandemia, o Jair enervou-se e limitou-se a dizer de uma forma arrogante e boçal:

       E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? 
       Eu sou Messias, mas não faço milagres. 
       É a vida. Amanhã vou eu.

Naturalmente, a generalidade da imprensa brasileira pegou na expressão E daí? e as críticas não mais pararam de disparar contra um presidente desbocado e insolente que repete demasiadas vezes que “quem manda sou eu”. Seria esperado que da sua boca se ouvisse uma palavra de conforto, de solidariedade e de esperança, mas o Jair não conhece esses valores.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A crise pandémica e a ‘America first’

Os Estados Unidos são hoje o centro da pandemia de covid-19 e registam mais de um milhão de infectados e 56.843 óbitos. É uma calamidade sem precedentes na história sanitária americana e, só na última semana, verificaram-se cerca de 200 mil novos casos de pessoas infectadas e cerca de 12 mil óbitos. America first, a frase-slogan da doutrina oficial da política da administração Trump está a afirmar-se por razões bem infelizes, isto é, a América está no topo ou no centro da pandemia.
Nesta situação que atinge em especial o estado de Nova Iorque, destacaram-se as recentes palavras do presidente Donald que chocaram a comunidade científica, ao sugerir que a injecção de um desinfectante numa pessoa infectada poderia destruir o vírus num minuto, o que fez com que algumas pessoas seguissem o conselho presidencial e que as linhas telefónicas de emergência tivessem recebido muitas chamadas com relatos ou perguntas sobre a exposição a lixívia e a outros desinfectantes.
A sugestão de Donald Trump que fez rir o mundo, faz-me lembrar o que dizem alguns indivíduos que em Portugal se dedicam ao comentário televisivo como biscate para receberem um dinheirinho e para que o povo se lembre deles, pois também falam da pandemia sem saber do que falam. Eu penso que há um enorme atrevimento dos Portas, dos Júdices ou dos Marques Mendes, entre outros, que falam do covid-19 com base no que leem aqui e acolá, mas sem que tenham conhecimentos científicos de Medicina ou de Estatística, que lhes permitam tratar desses assuntos. Falam alto e claro, exibem-se sem contraditório, mas não sabem do que falam. Nessa matéria não passam de uns vulgares vendedores de banha de cobra, porque uma licenciatura em Direito ou muita experiência política, não são créditos suficientes para tratar de assuntos da área da Saúde Pública. E eles, sem qualquer pudor, estão a fazê-lo.

domingo, 26 de abril de 2020

Brasil: zangas, traições e interferências

O Brasil está a atravessar um tempo difícil, não só pelos efeitos da pandemia do covid-19, mas também pelas perturbações políticas dos últimos tempos, devido às declarações imprudentes e incompetentes de Jair Bolsonaro e às demasiadas fissuras que fragilizam o seu aparelho de poder. 
Aconteceu agora que o ex-deputado federal Jair Bolsonaro, que é o actual presidente do Brasil, e o ex-juiz federal Sérgio Moro, que vinha desempenhando as funções de ministro da Justiça, se zangaram e fizeram mútuas acusações, daí resultando a demissão do ministro que era considerado o mais bolsonarista dos ministros brasileiros. As divergências e as tensões foram-se acumulando, mas parece que a gota de água que fez transbordar o copo foi a acusação que o Moro fez ao Jair, segundo a qual ele estava a querer interferir no processo em que um seu filho está sob investigação na Polícia Federal. O Jair não gostou dessa acusação e tratou de dizer que o Moro era demasiado ambicioso e que queria garantir um lugar no Supremo Tribunal Federal, que é um lugar de escolha presidencial. Não se sabe qual deles está a mentir mais ou qual deles está a jogar mais no seu próprio futuro político, mas uma sondagem revela que nesta polémica há 65% de brasileiros que acredita em Moro, enquanto 35% estão com o Jair.
Depois da demissão do popular ministro Luiz Henrique Mandetta, a demissão de Sérgio Moro que surgiu com gravíssimas acusações ao Jair, vem abrir uma crise governamental no Brasil, porque “quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades” e é isso que está a acontecer. Em tempos de pandemia e quando o número de óbitos continua a aumentar, os caminhos trilhados pela política brasileira são preocupantes e parecem mostrar que há “uma mão invisível” que a todos tritura, ou que os arquitectos que desenharam os processos contra Lula da Silva e, sobretudo, contra Dilma Rousseff, estão agora a “beber do seu próprio veneno”.