A pandemia do covid-19 parece estar agora centrada no
continente americano e em especial naqueles países cujos governantes
subestimaram a sua importância, com demasiada arrogância e muita ignorância. Os
presidentes Trump e Bolsonaro irão ficar associados a esta pandemia pela
sucessão de chocantes declarações que fizeram, quando a catástrofe humanitária,
social e económica já desabava sobre os seus países. No mapa da
incidência da pandemia de covid-19
por país, os Estados Unidos estão na vanguarda com quase um milhão e meio de
infectados e mais de 80 mil óbitos, mas o Brasil que leva mais de dez mil
óbitos e mais de 160 mil infectados, já aparece no sétimo lugar dessa lista.
A frieza dos
boletins diários que anunciam os números dos novos contagiados e dos óbitos que
aconteceram, esvazia a dimensão humana desta tragédia que já é a maior
catástrofe sanitária desde há cem anos, quando se verificou a pandemia da
chamada gripe espanhola. No caso do Brasil, os números da gripe espanhola são
imprecisos, mas estima-se que, em Outubro e Novembro de 1918, tenham morrido
cerca de 12 mil pessoas só na cidade do Rio de Janeiro.
Na sua edição de
hoje, o jornal O Globo presta homenagem aos mais de 10 mil brasileiros mortos pelo
covid-19 e dedica-lhe um memorial
virtual, ao mesmo tempo que dá a conhecer muitas das histórias relatadas por
amigos e familiares das vítimas, num projecto editorial inédito e que envolveu
uma rede de jornalistas voluntários que recuperaram a singularidade e o
dramatismo de muitas dessas histórias. Perante a maior catástrofe sanitária em
um século, o jornal O Globo foi para além dos números e teve uma exemplar
iniciativa editorial, ao repor uma dimensão humana na calamidade que está a ser
esta pandemia no Brasil e no mundo. O meu aplauso.
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