segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Hóquei: vence Argentina, perde Portugal.

A selecção portuguesa de hóquei em patins ostentava o título de campeã do mundo conquistado em Barcelona em 2019, quando ontem à noite defrontou a selecção argentina na cidade de San Juan, na final do 45º Campeonato do Mundo.
A cidade de San Juan é a capital da província de San Juan, uma das vinte e três províncias da República Argentina, fica situada nas proximidades da fronteira com o Chile e é conhecida como a capital do hóquei em patins argentino, devido ao enorme entusiasmo que a modalidade suscita.
Depois de ultrapassar a Itália, a França, a Alemanha e o Chile, a equipa portuguesa chegou à final com o sonho de revalidar o seu título, mas encontrou do outro lado a equipa argentina fortemente motivada pelo seu público. O jogo começou a correr bem para a equipa portuguesa que chegou a uma vantagem de 2-0, mas os argentinos reagiram e foram felizes, tendo triunfado por 4-2. São os novos Campeões do Mundo de Hóquei em Patins e, na véspera, a equipa feminina argentina também se sagrara campeã do mundo, enquanto Portugal garantiu o terceiro lugar. A euforia na cidade de San Juan foi compreensível, porque depois de serem campeões do mundo em sub-19 e em femininos, tornaram-se campeões do mundo em masculinos pela sexta vez. 
O Diario de Cuyo, que é o principal jornal da cidade, deu ao acontecimento todo o espaço da sua primeira página e escreveu “en hochey, Argentina manda”. Desta vez perdeu Portugal, mas não houve deslustre pois as suas selecções conseguiram o 2º lugar em masculinos e o 3º lugar em femininos. No desporto é assim: umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se.

domingo, 13 de novembro de 2022

O mundo e a ameaça climática global

A 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que tem sido designada como a COP27 e se está a realizar em Sharm El Sheikh, tem suscitado muitas tomadas de posição no sentido de contribuir para a redução da ameaça climática global que paira sobre o nosso planeta. No entanto, continua a ser muito grande a distância entre as intenções manifestadas pelos responsáveis políticos nacionais e as medidas concretas tomadas em cada país, embora pareça haver uma crescente sensibilização dos meios de comunicação para este problema.
A emissão de gases de efeito e as temperaturas globais continuam a aumentar, enquanto o planeta se está a aproximar de situações que tornarão o caos climático irreversível. António Guterres tem sido a voz mais activa a alertar para o dilema da sociedade do nosso tempo, isto é, ou escolhemos a solidariedade climática ou o suicídio colectivo, afirmando que “estamos na auto-estrada para o inferno ambiental” e que o mundo está “com o pé no acelerador”.
Na sua mais recente edição, a revista alemã Der Spiegel aborda a problemática da crise climática e a COP27 com o título “salve-se quem puder”, tendo escolhido uma sugestiva ilustração: a imponente catedral de Colónia, que levou mais de seis séculos a construir e que em 1880, quando foi concluída, era o edifício mais alto do mundo com as suas torres de 157 metros de altura, aparece isolada e cercada pela subida do nível das águas do mar, como se se tratasse de uma enorme inundação. É um alerta para os alemães, que ao verem esta ilustração vão certamente ficar mais receptivos a aceitar a transição energética e os seus custos para a economia, para a sociedade e para o nosso modo de vida nascido da revolução industrial do século XIX.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

R.I.P. Gal Costa

Gal Costa, uma das mais importantes vozes da música popular brasileira, faleceu anteontem em São Paulo com 77 anos de idade e o Brasil, mas também aqueles que fora do Brasil apreciam a cultura brasileira, estão de luto e, certamente, já com saudades da sua voz. Chamava-se Gal Maria da Graça Costa Penna Burgos, era natural da cidade de Salvador, a capital do estado da Bahia, tendo-se destacado como cantora, mas também como compositora e multi-instrumentista. 
O seu percurso artístico foi fortemente marcado pela relação de amizade nascida na adolescência comum e pela parceria musical com o chamado quarteto baiano – Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa.
Gal Costa era reconhecida no meio artístico como a “musa eterna do tropicalismo” e a notícia da sua morte foi destacada pela imprensa portuguesa, mas sobretudo pela imprensa brasileira, que lhe dedicou grandes espaços nas suas primeiras páginas, como aconteceu com o jornal O Dia, que se publica no Rio de Janeiro, que a homenageou com o título “Eternamente Gal”.
Mal foi conhecida a triste notícia da morte de Gal Costa, o espaço mediático da lusofonia encheu-se de tributos, de imagens e de vídeos em sua homenagem e, dessa forma, todos pudemos voltar a ouvir a voz inconfundível de Gal Costa.
O Brasil está de luto e a morte de Gal Costa também foi sentida em Portugal.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A vela e o desafio da travessia atlântica

A vela é um desporto a que a comunicação social dedica muito pouco espaço, mesmo aquela que se auto-proclama como imprensa desportiva, porque é o futebol que mobiliza todas as atenções em exclusivo. É assim em todo o lado, embora em alguns países haja uma imprensa especializada e se verifiquem algumas excepções na imprensa generalista. A imprensa francesa é uma dessas excepções, pois acompanha e apoia as grandes provas da vela oceânica que se realizam no país.
Ontem iniciou-se a 12ª edição da Route du Rhum – Destination Guadeloupe, que ligará Saint-Malo a Pointe-à-Pitre, na ilha de Guadalupe, tendo o jornal bretão Le Télégramme dedicado toda a sua primeira página ao acontecimento. Trata-se de uma travessia atlântica de 3.542 milhas, feita em solitário por 138 velejadores em embarcações monocascos ou multicascos, divididos em seis classes – Ultim (8), Ocean Fifty (8), IMOCA (38), Class40 (55) e Rhum (29), o que significa que há 138 concorrentes aspirando aos seis pódios que estão preparados em Pointe-à-Pitre.
Participam 125 franceses (!) e 13 estrangeiros de nove países, entre os quais sete mulheres, segundo se verifica na lista de participantes. O actual record da prova é de 7 dias, 14 horas, 21 minutos e 47 segundos, tendo sido obtido em 2018 por Francis Joyon, mas a organização pretende que este recorde seja batido, tal como já foi batido o record do número de participantes.
O que aqui se regista é a realização de uma prova desta natureza, bem como a larga participação de concorrentes, isto é, nada menos do que 138 navegadores solitários!

terça-feira, 8 de novembro de 2022

O Brasil já prepara o Mundial do Qatar

O 22º Campeonato Mundial de Futebol da FIFA vai ter início no Qatar no próximo dia 20 de Novembro e terá a participação de 32 equipas, entre as quais a equipa portuguesa.
Nesta altura, em que estamos a menos de duas semanas do início da prova, cada uma das federações nacionais participantes começou a fazer a escolha dos jogadores que integrarão as suas equipas.
Em nenhum país a escolha dos jogadores teve tanto destaque na comunicação social como no Brasil. De facto, enquanto essa escolha não mereceu notícia ou não teve mais do que uma nota de rodapé na imprensa na generalidade dos países participantes, na imprensa brasileira a notícia teve larga cobertura nas primeiras páginas de todos os jornais, com as fotografias dos eleitos de quem os brasileiros esperam a conquista do hexa, uma vez que, até agora, já conquistaram cinco dos vinte e um campeonatos anteriores. 
A edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo destaca a fotografia do seleccionador brasileiro e apresenta um gráfico de barras que indica o número de jogadores escolhidos por campeonato nacional em que jogam, verificando-se que os 26 jogadores escolhidos actuam na Inglaterra (12), na Espanha (5), na Itália e no Brasil (3), em França (2) e no México (1), mas com a particularidade de sete deles já terem jogado em equipas portuguesas.
Depois das eleições de 30 de Outubro, em que o eleitorado brasileiro se dividiu entre Lula e Bolsonaro e em que se disse que o Brasil estava partido ao meio, alguns comentadores avançaram que o Mundial do Qatar poderia unir os brasileiros em torno de um interesse comum que é a sua paixão pelo futebol e o seu entusiasmo pela conquista do hexa.
A imprensa brasileira já está a dar uma boa ajuda para essa unidade nacional.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

As eleições intercalares americanas

Amanhã realizam-se as eleições de meio de mandato ou eleições intercalares nos Estados Unidos e o mundo observa com atenção o que vai acontecer, como nos mostra a imprensa internacional, nomeadamente o diário francês Le Parisien.
As eleições intercalares realizam-se dois anos depois de cada eleição presidencial, com o objectivo de renovar as duas câmaras do Congresso, elegendo os 435 novos membros da Câmara dos Representantes (100%) e um terço dos cem membros do Senado (33%), mas também 36 novos governadores estaduais. Acontece que no sistema americano, qualquer legislação tem que ser aprovada tanto pela Câmara dos Representantes como pelo Senado, sendo depois promulgada pelo presidente, o que significa que quando o partido da oposição domina uma das câmaras, pode bloquear qualquer legislação e a acção governativa.
Actualmente, o Partido Democrata (de Joe Biden) tem a maioria em ambas as Câmaras do Congresso, mas as sondagens apontam para que seja eleita uma maioria do Partido Republicano (de Donald Trump) para a Câmara dos Representantes e, eventualmente, para conseguirem a maioria no Senado, sobretudo porque os eleitores andam descontentes com a ameaça de recessão económica, com a inflação e com os efeitos da guerra na Ucrânia.
Donald Trump e os seus seguidores emergiram e mais de metade dos candidatos republicanos são negacionistas eleitorais, continuando a defender que as eleições presidenciais de 2020 foram ganhas por Trump e não por Biden, pelo que os Estados Unidos podem estar em vésperas de muita instabilidade ou mesmo de ingovernabilidade. Nestas condições, a administração de Joe Biden parece que vai enfrentar grandes dificuldades não só na política interna – inflação, economia, aborto, crime e violência armada, ameaça à democracia – mas, sobretudo, no seu apoio à Ucrânia ou na sua disputa com a China.

domingo, 6 de novembro de 2022

Desnorte e populismo de Sacavém à Trofa

Anteontem e ontem o país assistiu pela televisão a situações de desnorte e de puro populismo interpretadas pelo Supremo Magistrado da Nação, que me surpreendem e apoquentam.
A primeira aconteceu em Sacavém na passada sexta-feira. Na sessão de encerramento da Web Summit, lá esteve Marcelo Rebelo de Sousa a dar espectáculo como tanto gosta, ao comportar-se como um bom entertainer. Convidado para ir ao palco por Paddy Cosgrave, o organizador do evento, entrou como se fosse um show star, chamando a atenção do auditório com um aperto de mão despropositado e intimista ao surpreendido Cosgrave, como se fosse um velho amigo dos tempos do liceu e sem a dignidade que a sua função presidencial lhe exige, como mostra a fotografia publicada no Dinheiro Vivo, o suplemento económico do Diário de Notícias. Além disso, decidiu exibir-se perante o auditório, enunciando as orientações estratégicas que competem em exclusivo ao governo e cuja fiscalização deve ser feita pela Assembleia da República.
Poucas horas depois, Marcelo Rebelo de Sousa estava na Trofa para inaugurar o novo edifício dos Paços do Concelho e, aparentemente, usou essa cerimónia para promover o líder do partido a que já presidiu que, antes de tempo, ali estava num lugar de destaque. O seu discurso foi uma invulgar página de populismo, ao dirigir-se à ministra que estava presente em nome do governo, com a ameaça de estar “muito atento” à execução dos fundos europeus e não lhe perdoar uma eventual falha, quando tudo isso está fora das funções presidenciais. Foi um despropósito, um acto de populismo barato e até uma ofensa. A ministra Ana Abrunhosa, que é uma prestigiada académica da Universidade de Coimbra, riu-se. Fez bem. Há certos dichotes que não merecem resposta.
Marcelo Rebelo de Sousa foi muito infeliz, tanto em Sacavém como na Trofa e, como ele próprio disse, “há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por dez dias infelizes”. Estes foram dois dias muito infelizes para o Supremo Magistrado da Nação.

A COP27 e as alterações climáticas

A 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, vulgarmente conhecida como COP27, tem o seu início hoje em Sharm El Sheikh, no Egipto, para onde convergirão muitos líderes mundiais a fim de tomarem parte na discussão das acções necessárias para combater as alterações climáticas. Entre eles deverá estar o presidente eleito do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, que para tal foi convidado pelo presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi, o que mostra que “o Brasil está de volta”. Estas conferências realizam-se todos os anos para estimular os governos a tomar medidas para limitar o aumento da temperatura global e, em 2015, conseguiu um resultado histórico quando 194 países assinaram o Acordo de Paris, no qual todos os países signatários se comprometeram a limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. Porém, os resultados têm sido insatisfatórios, a crise climática acentua-se e multiplicam-se os avisos de tragédia um pouco por todo o mundo.
António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, tem sido a voz mundial a alertar para a catástrofe que ameaça o nosso planeta e lá estará em Sharm El Sheikh a apelar para que sejam assumidos compromissos e que sejam cumpridos. Voltará a falar-se da redução gradual do uso do carvão, do fim dos desmatamentos como o que se vem verificando na Amazónia, na redução das emissões poluentes de metano e na transição energética, mas também da ajuda dos países mais ricos aos países mais pobres para que se preparem para as mudanças energéticas necessárias. A COP27 decorre até ao dia 18: será que podemos ter esperança em algum resultado ou será mais uma oportunidade perdida?
O jornal financeiro francês La Tribune dedica a primeira página da sua edição de ontem à COP27 e, segundo algumas notícias, o primeiro-ministro de Portugal falará hoje em Sharm El Sheikh.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

A nova e louca corrida às armas

A edição de Novembro do Courrier internacional publica, como sempre, uma selecção de artigos da imprensa mundial sobre os temas mais importantes da actualidade internacional, tendo escolhido nesta edição “a nova e louca corrida às armas”, salientando que a guerra na Ucrânia agudizou tensões e fez disparar a produção nas indústrias militares.
Em sete pequenos artigos a revista procura ajudar os leitores a esclarecerem-se sobre esse tema, tratando dos níveis de encomendas e contratos que estão a ser feitos e dos orçamentos cada vez mais elevados que se destinam à defesa e aos armamentos, bem como da aposta crescente na inovação para encontrar armas mais letais e com menor intervenção humana. Para as indústrias do armamento, a guerra na Ucrânia e a tensão em torno de Taiwan têm dado origem a um período de grande prosperidade e um artigo publicado em Zurique refere que “os negócios correm (explosivamente) bem”, enquanto um outro artigo publicado em Tóquio salienta que “as carteiras de encomendas da Lockheed Martin ou da Raytheon Technologies raramente estiveram tão cheias”.
O negócio está alarmantemente próspero, como se verifica na enorme afluência de compradores que visita as feiras ou salões de armamento, onde são apresentados aviões e tanques, helicópteros e canhões, mísseis e drones, produzidos não só pelos habituais países fabricantes de armamento, mas também pelas emergentes indústrias militares turca, iraniana, israelita, suíça ou brasileira. Como salienta o mencionado artigo publicado em Zurique, “ninguém rejubila com a situação na Ucrânia, mas é forçoso reconhecer que ela é boa para os negócios, ainda que ninguém o diga abertamente”.
Entretanto, poucos falam do cessar-fogo ou do fim da guerra para acabar com “esta catástrofe europeia”, mas muitos afirmam que “a Ucrânia precisa, mais do que nunca, de armas”, ao mesmo tempo que toda a Europa suporta a inflação, o aumento do custo de vida, a escassez energética e as incertezas e as angústias deste tempo.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

A triste despedida de Jair Bolsonaro

Durante quase dois dias, os brasileiros e também os muitos amigos do Brasil, esperaram que Jair Bolsonaro fizesse a tradicional declaração de aceitação dos resultados eleitorais e felicitasse Luiz Inácio Lula da Silva. A generalidade dos líderes mundiais já tinha felicitado o presidente eleito e as expectativas sobre o que Bolsonaro iria dizer eram muito altas, não só pelo seu longo e enigmático silêncio, mas também pelos sinais de contestação que começaram a aparecer na via pública, com os bolsonaristas a bloquear estradas e a pedir um golpe militar. Alguns dos mais importantes apoiantes de Bolsonaro já se tinham afastado e, aparentemente, ele parecia imitar o comportamento desastrado de Donald Trump.
Finalmente, Bolsonaro falou, mas “a montanha pariu um rato”. Falou apenas dois minutos e nove segundos e as suas palavras foram equívocas e pouco claras, não tendo felicitado Lula da Silva pela vitória, nem reconhecido expressamente a sua derrota, ao mesmo tempo que não desautorizou os bloqueios de estradas e deixou no ar a ideia de que se manterá na política brasileira. O seu breve discurso teve diferentes interpretações, pois para uns foi a palavra de um homem derrotado, mas para outros foi a ameaça de um homem que não aceita a derrota.
Ainda é prematuro prever o que vai acontecer nas próximas horas e nos próximos dias. Entre os inúmeros comentadores, uns dizem uma coisa e outros o seu contrário, mas parece que o bolsonarismo, enquanto imitação do comportamento político de Donald Trump, não tem pernas para andar no Brasil. Porém, os tempos que se aproximam serão certamente muito difíceis e, como refere a revista Veja, terão que ser tempos de reconstrução da unidade brasileira. 
Porém, os brasileiros podem confiar no presidente Lula da Silva!

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Lula regressa à presidência do Brasil

As mais disputadas eleições presidenciais da história do Brasil realizaram-se ontem e ganhou Luiz Inácio Lula da Silva com 50,90% dos votos, que recebeu 60,3 milhões de votos e superou os 58,2 milhões de votos recebidos pelo actual presidente Jair Bolsonaro, isto é, com uma margem de pouco mais de dois milhões de votos num universo de mais de 156 milhões de eleitores.
Depois de ter governado o país entre 2003 e 2010, a partir do dia 1 de Janeiro de 2023 Lula da Silva voltará ao Palácio do Planalto para dirigir os destinos do Brasil e, como anuncia hoje o jornal carioca Extra, o Brasil “bota o retrato do Lula outra vez”.
No seu discurso de vitória, Lula disse que “o Brasil está de volta” na defesa do combate às alterações climáticas e na recolocação do Brasil no patamar internacional que lhe é devido, apelou à necessária reconciliação nacional e prometeu declarar o combate à pobreza como a sua principal prioridade.
Um dos seus desafios será o de encontrar formas para atenuar os efeitos da bipolarização que marcou os últimos anos da política brasileira, em que a presidência de Jair Bolsonaro acumulou demasiados erros e muitas polémicas, umas de natureza interna como foi a forma irresponsável como tratou a epidemia de covid-19, mas outros de ordem externa como foi o seu apoio a Donald Trump e o seu crescente isolamento internacional.
Ganhou a Democracia e o Brasil está de parabéns. Há uma onda de esperança na sociedade brasileira, mas também há um elevado grau de insatisfação das hostes bolsonaristas, pelo que o desafio de Lula da Silva será unir e pacificar os brasileiros. Só falta saber o que pensa e diz o derrotado Jair…

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Guterres e a luta contra a crise climática

Não é habitual que as Nações Unidas e o seu secretário-geral ocupem as manchetes dos jornais e, por isso, a edição de ontem do Diario de Avisos, o periódico de Tenerife, é mesmo um singular acontecimento que merece ser distinguido.
O jornal publica uma fotografia do secretário-geral António Guterres, destacando a sua persistente luta contra as alterações climáticas e a afirmação de que “la crisis climática nos está matando”, com base na informação de que as mortes por calor em maiores de 65 anos aumentaram cerca de 70% nos últimos cinco anos e que nos esperam mais incêndios, mais efeitos da seca e mais vítimas. A crise climática é um assunto muito urgente para merecer a atenção da humanidade, mas as respostas políticas têm sido muito tímidas e insuficientes, sobretudo por parte das grandes potências industrializadas.
Entretanto, os relatórios das Nações Unidas, da Organização Mundial de Saúde e de muitas organizações não-governamentais continuam a mostrar os efeitos do aquecimento global e o aumento das emissões nocivas de carbono, pelo que António Guterres declarou que isso prova que o mundo está num caminho rápido para o desastre, que pode tornar o nosso planeta inabitável, ao mesmo tempo que acrescenta que não se trata de ficção ou exagero. Porém, a comunidade científica vem afirmando que ainda é possível reduzir para metade as emissões poluentes até 2030, ao mesmo tempo que pressiona os governos mundiais a tomarem medidas para reduzir as emissões, apontando sete eixos temáticos de intervenção: colapso de ecossistemas, extinção das espécies, aumento do nível e aquecimento dos oceanos, seca, fome, doenças e calor extremo.
Como avisa António Guterres, o mundo está num caminho rápido para um desastre que pode tornar o nosso planeta inabitável.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O presidente é um incontinente verbal

Expresso, 21 de Outubro de 2022
O cartoonista António, nome artístico de António Moreira Antunes é reconhecido como um talentoso caricaturista político português, cujo nome artístico é apenas António e que tem uma extensa obra publicada regularmente na nossa imprensa. Porém, em 2012 foi convidado para desenhar as caricaturas de mais de cinquenta personalidades da vida portuguesa destinadas à decoração da estação do Metropolitano de Lisboa no Aeroporto e esse trabalho é, porventura, a sua obra mais apreciada.
Na última edição do semanário Expresso foi publicado um cartoon com a sua assinatura e que se intitula “O incontinente”. Nesse cartoon, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa vomita letras e palavras, mostrando-se um incontinente que tudo comenta e a qualquer hora, tanto em Portugal como no estrangeiro. Comenta a política e o futebol, a meteorologia e os festivais, a economia e os casos judiciais, os acidentes e a política internacional. Tanta opinião cansa. Fala do que não devia. Viaja demais e nunca se esquece de levar consigo microfones e cornetas. Com tantas aparições, quase sempre diz vulgaridades ou banalidades, como “ninguém está acima da lei”, ou comenta taxas de juro, estratégia militar, incêndios florestais e orçamento do Estado, quando este ainda está em discussão no lugar próprio que é o Parlamento. É um exagero. É um protagonismo desproporcionado e até ilegítimo. Os seus serviços anunciam os locais e as horas onde Sua Excelência aparece e, ao ver microfones ou câmaras, não resiste. Se vê telemóveis aproveita para se expor ou para tirar as suas próprias selfies. Antigamente, era comentador num só canal televisivo, mas agora comenta em todos os canais, jornais e redes sociais. É um caso extremo de incontinência comunicacional como escreveu Eduardo Cintra Torres, ou como caricaturou António. Sem dúvida.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Carlos III e Rishi Sunak: que futuro?

No passado dia 20 de Outubro a primeira-ministra britânica Liz Truss demitiu-se, cerca de 45 dias depois de ter tomado posse, reconhecendo não poder cumprir o mandato para que tinha sido eleita pelo Partido Conservador. Cinco dias depois, porque temia a realização de eleições antecipadas, o mesmo partido escolheu Rishi Sunak, o ex-ministro das Finanças do governo de Boris Johnson, para ocupar o mesmo cargo, tendo sido largamente distribuída uma fotografia em que o novo rei Carlos III o recebia no Palácio de Buckingham para cumprir a tradição e formalizar-lhe o convite para constituir governo. A escolha de Rishi Sunak é uma novidade da política britânica por causa da sua idade, do seu inexpressivo passado político e da sua origem asiática. Não lhe faltam adversários políticos, não só no Partido Trabalhista, mas também no seu próprio partido, o que o levou a dizer aos seus correligionários a frase “unite or die”, que mostra como os Conservadores estão divididos. Por tudo isso e mais a situação económica britânica, as expectativas não são muito altas e há muita gente a pedir eleições, mas o rei cumpriu o seu dever, sem se saber qual o conteúdo da conversa havida entre Carlos III e Rishi Sunak. O popular tablóide Daily Mail publica uma fotografia do encontro e escolheu como título “Leave it to me, Your Majesty!”, parecendo revelar as grandes preocupações do novo Rei quanto ao futuro do governo Sunak, que até podem ser o prenúncio de outras preocupações bem maiores.
Entretanto, setenta e cinco anos depois da independência da Índia, do fundo dos seus túmulos, tanto o Mahatma Gandhi como Jawaharlal Nehru devem ter sorrido.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Que estabilidade no governo de Itália?

O jornal diário berlinense Die Tageszeitung, conhecido como taz, destaca na sua edição de ontem a situação política na Itália, ilustrando-a com uma imagem da Torre inclinada de Pisa, a famosa construção iniciada em 1173 sobre um subsolo instável que, logo à nascença, sofreu uma inclinação de cerca de cinco graus que persistiu até à actualidade.
Essa imagem remete os leitores para a situação de menor estabilidade do governo italiano chefiado por Giorgia Meloni, que tomou posse no sábado. Meloni tem 45 anos de idade e foi, desde a sua juventude, uma fervorosa apoiante do Movimento Social Italiano, um partido neofascista inspirado no legado do ditador Benito Mussolini e no seu lema “Deus, Pátria e Família”.
Em 2012, Giorgia Meloni foi uma das fundadoras do Fratelli d’Italia, um novo partido da extrema-direita italiana e, em 2022, venceu as eleições de 25 de Setembro (26%), em coligação com a Lega Nord de Matteo Salvini (9%) e a Forza Italia de Silvio Berlusconi (8%). A Europa não conhecia uma situação destas desde 1945 e está alarmada. As declarações de Meloni e dos seus ministros têm sido muito prudentes para não assustarem os seus parceiros europeus, nem a Europa de onde chegam os fundos comunitários, nem os mercados financeiros que controlam a elevada dívida italiana e os respectivos juros. A palavra de ordem parece ser estabilidade e, num forte sinal dessa estabilidade, foi escolhido Antonio Tajani para ministro dos Negócios Estrangeiros, um homem que antes presidiu ao Parlamento Europeu.  A dúvida está em saber como vai este governo italiano conciliar interesses tão diversos e até opostos, incluindo eurocépticos, separatistas, amigos de Putin, neofascistas, nacionalistas e outros.
A imagem da Torre de Pisa remete-nos para a instabilidade, mas o facto é que aquela torre resiste inclinada há vários séculos.