quinta-feira, 25 de setembro de 2025

ONU: a porta grande é só para alguns

Decorreu em Nova Iorque a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, num momento que muitos consideram crítico porque a organização não tem sido capaz de resolver alguns dos conflitos em curso no mundo. Todos sabemos porquê: os Trumps e os Macrons, as Ursulas e as Melonis, bem como muitos outros dirigentes mundiais, não prescindem de protagonismo pessoal, nem da defesa dos seus interesses nacionais. Metem-se em tudo, fazem imensas cimeiras e até se atropelam.  Assim, o Secretário-Geral António Guterres pouco pode fazer para além de ser uma referência moral e de falar com clareza: “Agora é o momento de escolher. Pela paz. Pela dignidade. Pela justiça. Pela humanidade. Eu nunca, jamais desistirei”. 
Como já é de tradição, o presidente do Brasil foi o primeiro orador na Assembleia Geral e Lula da Silva (falando em português) reafirmou que a soberania do Brasil é inegociável, defendeu os valores democráticos, a importância do multilateralismo, o desenvolvimento sustentável, a luta contra as alterações climáticas e afirmou que “a única guerra de que todos podem sair vencedores é contra a fome e a pobreza”.
O presidente dos Estados Unidos fez um longo discurso e insistiu que a sua administração pôs termo a sete guerras em apenas sete meses, acrescentando que tal aconteceu “sem apoio da ONU”, ao mesmo tempo que, em relação à Ucrânia, substituía a sua tese da cedência de territórios ucranianos aos russos, por uma nova tese da reconquista ucraniana dos seus territórios ocupados pelos russos.
Filipe VI, o rei de Espanha, fez um notável discurso (falando em castelhano), que o diário El País disse “se situa en las antípodas del pronunciado por Trump”, ao afirmar directamente a Israel: “Detengan la masacre en Gaza. Es aberrante”. 
Nesse mesmo dia, também Marcelo Rebelo de Sousa (falando em inglês, o que muito se lamenta!), fez um discurso a “dar uma no cravo e outra na ferradura”, bem diferente dos corajosos discursos de Lula da Silva e de Filipe VI. Os jornais portugueses, ao contrário do que fizeram os jornais brasileiros e espanhóis, ignoraram o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.
Afinal, também nas Nações Unidas, uns saem pela porta grande, mas outros saem pela porta pequena...

1 comentário:

  1. Chocou-me ouvir o meu (nosso) Presidente da República não falar na minha (nossa) língua maltratando-a e desprezando-a por omissão. Nisso ficou pequenino ao lado dos representantes do país nosso vizinho e de outro que fala e defende a língua que de nós herdou.

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