quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Lutero e o Papa Francisco: a mesma luta?

O Papa Francisco esteve na Suécia no início desta semana para comemorar Martinho Lutero, mas sobretudo para dar o seu contributo para ultrapassar a secular divisão entre as duas grandes igrejas da Cristandade, quando estão a ser celebrados cinco séculos da Reforma luterana, que é o tema destacado na capa da última edição da revista Der Spiegel.
O Cristianismo não é uma religião homogénea e, ao longo de dois mil anos, gerou três ramos principais, com muitas diferenças, mas também com muitas afinidades. Hoje, haverá cerca de 2,25 mil milhões de cristãos no mundo, sendo 1.100 milhões de católicos (50%), 900 milhões de protestantes (40%) e 260 milhões de ortodoxos (10%). No caso do Protestantismo, o movimento iniciou-se na Europa Central no início do século XVI por iniciativa de Martinho Lutero, como reacção às doutrinas e práticas da Igreja Apostólica Romana.
Lutero foi um monge agostiniano alemão que questionou os poderes do seu tempo e desestabilizou o mundo medieval, ao contestar tanto o Papa como o Imperador romano que eram os mais poderosos seres do planeta. Nas questões de fé, Lutero não aceitava a subordinação àqueles poderes, mas apenas ao poder da própria consciência, colocando em dúvida a infalibilidade do Papa e recusando-se a obedecer ao soberano mais poderoso da Europa. Portanto, ele não foi um divisor da Igreja como foi considerado por muita gente, mas um rebelde conservador que apenas queria a reforma da própria Igreja e o retorno às origens do Cristianismo.
Por tudo isto, não surpreendente este gesto de aproximação do Papa Francisco a Martinho Lutero, sobretudo depois de já ter visitado sinagogas e mantido encontros com representantes de religiões muito diferentes de todo o mundo. De resto, muitos dos vícios que Lutero condenou nas práticas do catolicismo são idênticos aos que o Papa Francisco vem condenando. Talvez não estejam muito longe um do outro e hoje, certamente, o Papa não excomungaria Martinho Lutero como fez o Papa Leão X em 1521.

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