Na sua edição de hoje o diário madrileno El Mundo informa na sua primeira página, que o governo espanhol decidiu reduzir para metade o número de veículos oficiais, ficando “204 altos cargos sem carro oficial, para poupar 10 milhões”. A poupança não será substancial, mas trata-se de uma decisão simbólica dirigida aos privilégios dos governantes e dos políticos, com a qual se pretende alterar a filosofia de utilização dos bens públicos. Assim, dos actuais 307 cargos governamentais com direito a carro pessoal, apenas 103 manterão esse direito ao longo do próximo ano, o que representa uma poupança estimada de cerca de 10,5 milhões de euros em gastos com motoristas, combustível, reparações e seguros. Os altos cargos dos ministérios deixarão de ter carro e motorista privativos e, em caso de necessidade, terão que usar as viaturas de uma pequena frota de serviço. Estas medidas inscrevem-se num plano de reforma da Administração Pública e também irão ser aplicadas a muitos outros organismos do Estado e às comunidades autónomas onde, segundo alguns números avançados, o problema tem uma dimensão gigantesca.
Não são necessárias estatísticas para saber que em Portugal sofremos do mesmo tipo de despesismo com um excesso de viaturas oficiais para uso pessoal, com gastos em motoristas, combustíveis, reparações e trabalho extraordinário sem controlo. Ter carro e motorista é um privilégio que dá estatuto e é uma vaidade demasiado enraizada na nossa Administração Pública. Os nossos dirigentes não usam o seu automóvel pessoal, nem o autocarro ou o metropolitano, pois preferem exibir-se em carros topo de gama pertencentes ao Estado, muitas vezes sem que haja direito a esse privilégio e, outras tantas, sem que o cargo que ocupam o justifique.
Sigamos o exemplo espanhol. Para os tão apertados contribuintes portugueses, aquelas mordomias constituem uma despesa sem qualquer sentido, um abuso censurável e uma afronta aos nossos sacrifícios.
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