Hoje, na sua
edição de Sevilha, o jornal ABC destaca as cerimónias da
reconstituição da partida da nau Victoria, cuja réplica largou ontem de Sanlúcar de Barrameda, para repetir a histórica viagem iniciada em 1519 por
Fernão de Magalhães e que foi concluída em 1522 por Juan Sebastián de Elcano.
Esta viagem que constituíu um acontecimento relevante na história da Humanidade
e que é um dos mais curiosos episódios das seculares rivalidades
luso-espanholas, enquadra-se no programa do V Centenario de la Primera
Circunnavegatión e teve a presença de uma fragata espanhola que, curiosamente
ou não, também se chama Victoria.
A Volta ao Mundo de
1519-1522 aconteceu por acaso. A expedição magalhânica tinha como objectivo
atingir as ilhas Molucas navegando por ocidente e demonstrar que se situavam no
hemisfério castelhano definido pelo Tratado de Tordesilhas. Nas instruções que
recebeu do rei Carlos I, era claro que a expedição não deveria entrar no hemisfério
português, o que significava que deveria fazer a torna-viagem. Porém, com a
morte de Magalhães nas ilhas Filipinas, o seu sucessor decidiu desobedecer e navegar no hemisfério português e atravessar o oceano Índico, tendo chegado ao ponto de
partida na foz do rio Guadalquivir em Setembro de 1522. Foi, portanto, uma Volta ao Mundo sem querer, como
recentemente escreveu o grande historiador Luís Filipe Thomaz.
A polémica em
torno desta viagem continua muito activa e, muita gente, tanto em Portugal como
em Espanha, parece abusar de um provincianismo serôdio de rivalidade do tipo
das disputas entre Alguidares de Cima e Alguidares de Baixo. O sucesso da
viagem organizada e iniciada por Magalhães que Elcano concluíu e a sua importância para a história da
Humanidade, não é português nem espanhol. É um sucesso ibérico e, mais do que
isso, é um feito civilizacional europeu, ou mais apropriadamente, é um património da Humanidade.
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