A crise que atravessa a generalidade dos países europeus tem características muito próprias em Espanha e, desde há muitos anos, que o país vizinho tem sido considerado ingovernável devido essencialmente às reivindicações das 17 comunidades autónomas, muitas vezes consideradas como 17 mini-estados ou até 17 centros de desperdício orçamental que, quando se juntam, olham com desconfiança para o poder central de Madrid e tocam como uma orquestra desafinada. É certo que são 17 realidades históricas, culturais e sociológicas distintas, por vezes com identidades nacionais fortes e com línguas próprias, mas também é verdade que essas realidades têm sido utilizadas como arma reivindicativa pelas comunidades autónomas.
O jornal ABC aborda hoje essa problemática a propósito do País Basco e acentua a existência de um eventual excesso de poder das comunidades autónomas e "uma desconcertante estrutura da administração pública” (assim definiu o Financial Times o modelo autonómico espanhol), com um despesismo incontrolado e com modelos de gestão diferenciados, sobretudo em relação à Saúde e à Educação, que estão regionalizadas e constituem as principais rubricas da despesa das comunidades.
A juntar a estes aspectos há uma conjuntura económica muito crítica, com acentuada recessão, altíssimo desemprego, elevada dívida externa e crescente conflitualidade social. Contudo, existe a convicção de que a eventual ingovernabilidade espanhola não resulta dos cidadãos, mas de uma classe política egoísta e, por vezes, corrupta e incompetente, que sempre reclamou a solidariedade de Bruxelas, mas que se revela egoísta em relação a cada uma das outras comunidades, com as quais deveria ser solidária. O problema é que esta a ideia de ingovernabilidade, que não é nova em Espanha, está a começar a consolidar-se na Europa. E nós aqui tão perto!
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