O Goa Liberation Day celebra-se hoje e é
evocado na edição diária do Herald, assinalando a data em que o
General Vassalo e Silva apresentou a rendição das suas tropas ao General K. P.
Candeth, que comandou a invasão de Goa e terminou com uma presença portuguesa
naquele território que durara 451 anos. A acção desencadeada pelas Forças
Armadas da Índia teve o nome de código de Operation
Vijay, durou cerca de 36 horas e, segundo alguns registos que circulam,
causou a morte a vinte e dois indianos e a trinta portugueses. Na Índia, a
acção sobre Goa é um destacado capítulo da sua história porque ajudou a forjar
o sentimento de unidade nacional num território de tanta diversidade, enquanto
em Portugal é sempre assinalada a desproporção das forças envolvidas e o comportamento
exemplar de alguns militares, nomeadamente da Marinha. Porém, raras vezes se
destaca a intransigência do regime político português e o seu erro de avaliação
estratégica, ao rejeitar os “ventos de mudança” que sopravam no mundo, nem seguir
os exemplos do Reino Unido e da França, nem escutar os anseios autonomistas das
elites goesas, nem atender às propostas de Jawaharlal Nehru. António Salazar e o seu
regime foram incapazes de avaliar a situação e, mais tarde, de reconhecer o seu erro, tratando
de responsabilizar os militares portugueses pela traumática queda da Índia
Portuguesa.
Em Goa celebra-se
o Goa Liberation Day, mas os
acontecimentos de Dezembro de 1961 ainda por lá suscitam alguma controvérsia. Apesar
do Supremo Tribunal da Índia ter declarado que a anexação de Goa foi uma
“conquest by invasion” das Forças Armadas Indianas, ainda se discute localmente
se se tratou de uma invasão ou de uma
libertação, numa evidente postura de
natureza política e cultural. Os mais velhos ainda se interrogam como foi
possível a cegueira salazarista de rejeitar negociações com Nehru e de ter sido
aberta a porta da intervenção armada indiana e de tudo o que se seguiu depois,
que tem sido uma tentativa oficial de desportugalização da vida social e cultural
goesa.
Goa é o mais
desenvolvido estado indiano e tem o maior grau de ocidentalização do país, mas
a herança cultural portuguesa não é alheia a esses indicadores. O facto que
aqui se salienta é que Portugal faz parte da história de Goa, tal como Goa faz
parte da história de Portugal e é essa forte interacção cultural que, para além
das análises políticas, hoje aqui relembramos.
Excelente apontamento.
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