As eleições legislativas ontem realizadas em Portugal deram origem a uma nova maioria política e abriram caminho à formação de um novo governo. Porém, em certa medida, o grande vencedor das eleições foi o “partido abstencionista” (41%), embora esse número esteja calculado com base nos 9,4 milhões de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais, o que não é nada credível.
Pelas diversas declarações produzidas antes das eleições, se nenhum partido obtivesse a maioria absoluta, deveria ser encontrada uma solução governativa de maioria. Essa coligação parece estar concretizada entre o PSD e o CDS e, no quadro de dificuldades por que passamos, esta coligação é uma solução mais estável do que o anterior governo minoritário do PS. Terá uma maioria parlamentar de 57% dos deputados (PSD = 108 + CDS = 24), mas a maioria social será apenas de 50,3% (PSD = 38,6% + CDS = 11,7 %), que é muito mais escassa e instável.
Porém, os três maiores partidos assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) com a troika (UE, BCE e FMI) e, por isso, no governo ou fora dele, terá de haver convergências e sentido de responsabilidade para que o MoU seja cumprido. E nesse aspecto, um compromisso com o PS (28,1%), que se manifestou disponível para o diálogo e o entendimento, pode elevar a maioria parlamentar para 89,0% e a maioria social para 78,4%, ou seja, pode reforçar as hipóteses de sucesso da governação – travar a dívida, reduzir o défice, acelerar o crescimento económico e criar emprego.
De facto, eu creio que sem uma ampla base social de apoio que permita enfrentar a crise que aí vem e mudar as mentalidades de quem governa e de quem é governado, aquelas metas são uma quase utopia.
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