A dimensão demográfica e cultural da Índia é enorme, como são enormes as suas grandezas e as suas misérias. A sociedade é muito segmentada por castas, religiões, línguas e etnias, mas no seu seio há factores de convergência, muitas vezes utilizados por activistas sociais movidos por causas, que buscam inspiração no exemplo de Mohandas Gandhi.
Nos últimos tempos tem-se destacado Anna Hazare, um motorista aposentado do Exército que, aos 73 anos de idade, se tornou a face da luta contra a corrupção e é considerado o inspirador da primeira e mais importante rede social da Índia. Oriundo do Estado de Maharashtra, tem conduzido algumas lutas sociais com sucesso e tem feito algumas greves de fome para forçar o governo central a adoptar novas leis anti-corrupção. Esta semana, ao sair da prisão em Nova Delhi e antes de iniciar mais uma greve de fome, transformou-se no símbolo da ira nacional contra a corrupção, tendo mobilizado milhares de apoiantes, sobretudo da classe média, que marcharam em seu apoio em muitas cidades indianas. Disse então que “estava apenas a dar continuidade a luta de libertação do líder que conduziu à independência em 1947” e acrescentou: "Este é o começo de uma revolução. Não permita que esta chama desapareça até que tenhamos atingido o nosso objectivo”.
O Diário de Notícias chamou à sua primeira página o activista Anna Hazare e à sua luta chamou “o método Gandhi contra a corrupção”. A Transparency International, uma organização que luta contra a corrupção, enquanto causadora da pobreza e da injustiça que afectam milhões de pessoas, publica anualmente o Corruption Perceptions Index, tendo em 2010, classificado Portugal em 32º lugar e a Índia na 87º posição, num universo de 178 países. Significa que aqui o problema tem uma dimensão muito menos grave do que na Índia, mas o exemplo indiano talvez nos devesse inspirar para usar o nosso direito à indignação. Mas, vamos preferindo ficar em casa, de pantufas e a ver televisão.
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