No canto sudoeste
da Europa onde o processo histórico constituíu dois estados soberanos –
Portugal e Espanha – há muitas coisas em comum e uma delas é a mania das grandezas, embora essa
circunstância não seja apenas um vício ibérico.
Acontece que, em
ambos os países ibéricos, depois de um longo período de isolamento
internacional e de desenvolvimento assimétrico em relação aos países mais
desenvolvidos, a integração europeia acontecida em 1986 trouxe entusiasmo, dinamismo
e substanciais ajudas comunitárias para recuperar o tempo perdido. O dinheiro
chegou em doses maciças e deslumbrou muita gente, o que permitiu a modernização
da agricultura e do tecido empresarial, o apoio à formação profissional e muito
mais coisas. Porém, a construção de infraestruturas terá sido o sinal mais visível do
novo-riquismo ibérico com as autoestradas e rotundas, os portos e as marinas, as
pontes e os túneis, os estádios de futebol, as piscinas e os pavilhões
gimno-desportivos. Nestas, como em muitas outras actividades, a participação
comunitária a fundo perdido era geralmente superior a 50% e porque essas
construções davam votos, poucos se preocuparam com a efectiva necessidade
desses investimentos, nem com o pagamento da componente não comparticipada. Daí
nasceram muitas dívidas que caíram no saco da dívida pública e que hoje apoquentam
os governos ibéricos.
Vem isto a
propósito da notícia de hoje da edição de Sevilha do jornal ABC que
revela que, vinte anos depois do Mundial de Atletismo de 1999, o Estádio de la
Cartuja que custou 130 milhões de euros, fechou por falta de uso e de
manutenção, além de ter graves problemas estruturais na sua cobertura. Por cá
não faltam exemplos semelhantes, desde os sumptuosos estádios de Aveiro, de
Leiria e do Algarve, até às dezenas de piscinas e pavilhões encerrados por
falta de uso ou de manutenção. Era um tempo de
vacas gordas, mas também era a mania das grandezas.
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