domingo, 18 de agosto de 2019

Obras sumptuosas e mania das grandezas

No canto sudoeste da Europa onde o processo histórico constituíu dois estados soberanos – Portugal e Espanha – há muitas coisas em comum e uma delas é a mania das grandezas, embora essa circunstância não seja apenas um vício ibérico.
Acontece que, em ambos os países ibéricos, depois de um longo período de isolamento internacional e de desenvolvimento assimétrico em relação aos países mais desenvolvidos, a integração europeia acontecida em 1986 trouxe entusiasmo, dinamismo e substanciais ajudas comunitárias para recuperar o tempo perdido. O dinheiro chegou em doses maciças e deslumbrou muita gente, o que permitiu a modernização da agricultura e do tecido empresarial, o apoio à formação profissional e muito mais coisas. Porém, a construção de infraestruturas terá sido o sinal mais visível do novo-riquismo ibérico com as autoestradas e rotundas, os portos e as marinas, as pontes e os túneis, os estádios de futebol, as piscinas e os pavilhões gimno-desportivos. Nestas, como em muitas outras actividades, a participação comunitária a fundo perdido era geralmente superior a 50% e porque essas construções davam votos, poucos se preocuparam com a efectiva necessidade desses investimentos, nem com o pagamento da componente não comparticipada. Daí nasceram muitas dívidas que caíram no saco da dívida pública e que hoje apoquentam os governos ibéricos.
Vem isto a propósito da notícia de hoje da edição de Sevilha do jornal ABC que revela que, vinte anos depois do Mundial de Atletismo de 1999, o Estádio de la Cartuja que custou 130 milhões de euros, fechou por falta de uso e de manutenção, além de ter graves problemas estruturais na sua cobertura. Por cá não faltam exemplos semelhantes, desde os sumptuosos estádios de Aveiro, de Leiria e do Algarve, até às dezenas de piscinas e pavilhões encerrados por falta de uso ou de manutenção. Era um tempo de vacas gordas, mas também era a mania das grandezas.

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