Ao longo de muitos anos os faróis foram a luz humanitária e fraterna que apoiou
os navegantes a encontrar abrigo da tormenta e porto seguro. No século XIX, com
o incremento do comércio marítimo, a descoberta da navegação a vapor e a
utilização da electricidade como fonte luminosa, os faróis tornaram-se elementos indispensáveis na paisagem
marítima. Porém, enquanto marca que pode facilmente ser observada do mar, de
dia ou de noite, os faróis perderam na actualidade a importância que tiveram no
passado, porque os sistemas electrónicos de posicionamento, designadamente o
radar e o GPS, os tornaram simples testemunhos de uma outra era. Assim, os
faróis já não exibem aquele "olhar humanitário na distância da noite muito escura", de
que falou Fernando Pessoa. Porém, embora tenham perdido uma parte da sua
utilidade prática, o seu significado simbólico acentuou-se e, um pouco por todo
o mundo, há um movimento generalizado, sobretudo nas nações marítimas, no
sentido de preservar essas memórias históricas que são os faróis.
Um desses países é a França, onde
existe a SNPB – Société pour le Patrimoine des Phares et Balises, que dinamiza
os movimentos de preservação dos faróis e a sua adaptação a novas funções,
designadamente museus, restaurantes, pequenos hotéis ou centros culturais. No
entanto, há inúmeras situações em que a adaptação a novas funções não tem
viabilidade económica nem desperta interesse de ninguém, sobretudo quando se situam sobre ilhéus ou rochedos isolados e distantes. No sentido de chamar a
atenção das autoridades e de mobilizar a sociedade civil para esta causa, o seu
presidente Marc Pointud decidiu iniciar ontem uma estadia solitária de dois
meses no Farol de Tévennec, um farol que desde 1875 está situado sobre um ilhéu
rochoso e inóspito ao largo da ponta du Van, na Bretanha. A iniciativa de Marc
Pointud resultou de imediato e Le Télégramme dedica-lhe hoje a sua
primeira página.