quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Que cessar-fogo e paz cheguem à Ucrânia

O entusiasmo que provocou o cessar-fogo em Gaza e o mérito que tem sido atribuído a Donald Trump por ter promovido as negociações entre os beligerantes e os seus aliados, desperta em muita gente o desejo de que a mesma receita seja aplicada ao conflito da Ucrânia, embora eles sejam diferentes. O conflito de Gaza tem as características de um embate civilizacional entre dois mundos que se têm hostilizado desde sempre, enquanto o conflito da Ucrânia tem muitas características de uma guerra civil que está a acontecer como cortina de uma confrontação entre dois blocos político-militares, que parecem querer reacender o clima da Guerra Fria. Porém, a História mostra-nos que todas as guerras tiveram sempre um fim e, por isso, também na Ucrânia há que esperar um fim. 
Segundo a edição de ontem do The Daily Telegraph, o presidente Donald Trump declarou que “vamos acabar com a guerra na Ucrânia”, embora também tivesse declarado que “é amigo de Putin e “que vai falar com ele”, mas que “Putin” não quer acabar com a guerra”.
Enquanto isto, alguma imprensa tem noticiado que a fórmula de Donald Trump para a paz na Ucrânia passa por “menos negociações e mais armas” que os Estados Unidos venderão à NATO e que serão pagas pelos países europeus, nelas se incluindo os potentes mísseis de cruzeiro Tomahawk que, a serem utilizados, significam um agravamento da situação. Porém, os tempos na Europa não estão nada fáceis para ajudar a Ucrânia, porque a crise está no horizonte e os europeus não aceitam perder as suas conquistas sociais para pagar armas fabricadas pelos americanos, além de que a França está ameaçada de ingovernabilidade e de haver greves gerais anunciadas na Bélgica, Grécia, Itália, Espanha e Lituânia.
Realmente é tempo de acabar com a guerra. As reivindicações das partes são conhecidas. É tempo de negociar e de acabar com a ideia de que alguém sairá vencedor desta guerra. É tempo de calar os que querem a guerra e de dar voz aos que querem a paz. Assim, o que disse Donald Trump, é um bom ponto de partida: “let’s end Ukraine war”.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

O dia do acordo de cessar-fogo em Gaza

Na cidade egípcia de Sharm El-Sheik aconteceu ontem o que muitos afirmavam ser o impossível, pois foi assinado um acordo de cessar-fogo para o território de Gaza, embora as partes directamente envolvidas no conflito – Israel e o Hamas – não tivessem estado presentes.
O estratega deste acordo foi Donald Trump que, talvez pela primeira vez no seu mandato, recebeu o inequívoco e merecido elogio do mundo. O documento foi assinado pelo próprio Trump e pelos presidentes Abdul al-Sisi (Egipto) e Recep Tayyip Erdogan (Turquia), além do emir Tamim bin Hamad Al Thani (Catar), que actuaram neste processo como mediadores. Simultaneamente, o Hamas procedeu à libertação dos últimos vinte reféns vivos que estavam sequestrados há mais de dois anos, enquanto as autoridades de Israel libertaram cerca de dois mil prisioneiros palestinianos, incluindo 250 que tinham sido condenados a prisão perpétua.

Ontem, todas as estações televisivas concederam alargados espaços à cerimónia de Sharm El-Sheik, a que assistiram duas dezenas de líderes mundiais, numa operação de marketing que serviu para alimentar a vaidade pessoal e a ambição de Donald Trump para se tornar o guia do mundo, mas também o próximo laureado com o Prémio Nobel da Paz, um galardão com que tanto sonha.

Hoje, toda a imprensa mundial deu particular destaque aos “dois anos de tormento” dos vinte reféns que foram libertados pelo Hamas, assim acontecendo com o jornal londrino The Times, mas essa mesma imprensa quase ignorou os “dois anos de massacre”, os 67 mil mortos e a destruição pelas bombas israelitas do território de Gaza.

Esta foi a primeira fase do acordo de cessar-fogo, mas a segunda fase vai começar com a discussão sobre o futuro governo e a reconstrução de Gaza, mas parece evidente que os interesses palestinianos precisam de ser mais protegidos, pois não pode haver dois pesos e duas medidas para que a paz no Médio Oriente seja uma realidade.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Espanha ameaçada com expulsão da NATO

Quando em Janeiro deste ano Donald Trump chegou à Casa Branca com a sua divisa Make America Great Again, os vectores da sua acção governativa centraram-se na economia, que é o motor que gera os empregos, os salários e todos os outros rendimentos que alimentam materialmente o American Way of Life e conquistam o eleitorado.
Esta filosofia política do presidente Donald é alimentada pela sua própria personalidade narcisista e pela sua condição de empresário de sucesso, que faz com que trate todos os assuntos internos e internacionais americanos como um negócio. Assim, imagina-se que as decisões do presidente não assentam no direito internacional, na diplomacia, na política, ou na cultura, mas resultam apenas de análises custo-benefício, ou por outras palavras, na ponderação dos milhões que poderão ser facturados.
Nesse contexto, a ideia de pressionar os países da NATO para aumentar a despesa em Defesa, passando-a de 2% para 5% do PIB, embora seja enquadrada pela potencial ameaça russa ao flanco Leste dos países da NATO, é um objectivo para os Estados Unidos como forma de dinamizar as suas indústrias de Defesa. O caso do avião Lockheed Martin F-35, cujo custo unitário é superior a 100 milhões de dólares e cuja produção emprega 146.000 pessoas, é o símbolo maior da necessidade americana de vender material de guerra, que é o que pretende Donald Trump.
Lembremos a famosa cena de sabujice desse lambe-botas que é Mark Rutte, o secretário-geral da NATO, quando disse para Trump e em directo na televisão, que “a Europa vai pagar em grande, como deve, e vai ser uma vitória sua”.
Hoje, o jornal espanhol El Mundo dá a notícia: ignorando que a Espanha é um país soberano, Donald Trump veio exigir que eleve os seus gastos militares para 5% do PIB e sugeriu a sua expulsão da NATO, se não cumprir com esse diktat. Simplesmente inacreditável, talvez mesmo ridículo.
O Donald é mesmo um grande fanfarrão!

A paz em Gaza que todo o mundo deseja

Finalmente, parece que todas as partes, directa ou indirectamente envolvidas na guerra de Gaza, chegaram a um acordo de cessar-fogo e abriram um caminho para a paz que vai ser muito difícil, porque a conflitualidade israelo-palestina tem raízes muito antigas e muito profundas.
Porém, o passo dado é muito animador e todo o mundo o saúda com algum alívio. Estava a ser “uma loucura de guerra” como diz hoje o jornal ABC, um cruel genocídio e uma destruição que só lembrava Hiroshima.
Para haver paz, não pode haver vencedores nem vencidos, em nome da dignidade dos povos e do futuro. A maioria dos palestinianos e dos israelitas não concorda com os extremismos de Netanyahu, nem com os do Hamas e, por isso, ambos festejam com alegria porque não quiseram a guerra e querem a paz, o progresso, a tolerância e o bem-estar para as suas comunidades e para as suas famílias.
Num balanço muito simples, os israelitas perderam 1.200 pessoas no ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023, mas os palestinianos perderam 67.000 pessoas durante os dois anos em que o seu território foi massacrado. Agora o mundo respira e espera que os arquitectos do cessar-fogo sejam também os arquitectos da paz e de um futuro melhor para o Médio Oriente, onde os estados de Israel e da Palestina possam coabitar, progredir e cooperar pacificamente para a felicidade das suas populações.
É um caminho difícil mas é o que tem que ser percorrido com equilíbrio e firmeza.
Nestas últimas horas, as nossas televisões encheram-se de comentadores e de especialistas, mas enquanto alguns se moderam e elogiam o cessar-fogo e a paz que se aproxima, ainda aparecem alguns amigos de Netanyahu, que continuam agarrados à sua lógica belicista e destruidora, afirmando com arrogância que Israel ganhou esta guerra. São víboras disfarçadas de comentadores que não deviam ter espaços televisivos. Como dizia a minha santa Mãe: raios os partam...

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Cristiano Ronaldo, futebolista-milionário

O mundo anda muito confuso e os meios de comunicação social estão a contribuir para essa confusão, através da crescente desinformação com que enganam os leitores, os ouvintes, os telespectadores e os internautas. Um bom exemplo dessa realidade foi-nos dada na edição de hoje do secular Corriere della Sera, que é um jornal generalista que se publica em Milão e que, em vez de destacar o cessar-fogo e a paz que estão a ser negociadas para o conflito de Gaza, ou a situação complexa que se vive na Ucrânia, ou a crise política francesa que está a deixar o Emmanuel Macron desorientado, escolheu para tema central da sua primeira página o futebolista Cristiano Ronaldo, apenas porque “bateu mais um record” e é um homem endinheirado. 
Aos 40 anos de idade, Cristiano Ronaldo atingiu um marco inédito no futebol mundial pois tornou-se o primeiro jogador da história a acumular um património milionário. Segundo a análise da agência Bloomberg, este património resultou da sua passagem por clubes de futebol muito ricos, como o Manchester United, o Real Madrid e a Juventus, que depois foi aumentado numa escala meteórica quando assinou um contrato milionário com o Al-Nassr, da Arábia Saudita. A somar a estas contratações futebolísticas, o jogador ainda manteve, ou mantém, parcerias de patrocínio comercial com marcas como a Nike, a Armani e outras, além ter vários negócios com a sua marca CR7 na área da hotelaria, da moda e dos serviços. Com tudo isto, a Bloomberg estima que Cristiano Ronaldo tenha um património líquido da ordem dos 1,4 mil milhões de dólares, isto é, quase 1,2 mil milhões de euros.
O elogio futebolístico de Cristiano Ronaldo está feito e todos os seus muitos recordes são conhecidos. Ele é um campeão. Porém, admira como um jornal respeitável como o Corriere della Sera se deixe deslumbrar com os milhões que são pagos a um futebolista e traga esse assunto para a sua primeira página. O poder do dinheiro. Sinais dos tempos…

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Angola quer atrair turismo internacional

Depois de muitos anos de guerra intensa, parece que Angola está a seguir um firme rumo de progresso económico e social, embora essas situações não sejam lineares e, por vezes, conduzam a maiores desequilíbrios do que seria desejável. Daí tem resultado um crescente prestígio internacional do estado de Angola, reconhecível na diplomacia, no desporto e na cultura, mas também uma evidente procura de novos eixos de desenvolvimento em sectores económicos, como por exemplo o turismo.
Nesse sentido, a recente realização da Bolsa Internacional do Turismo em Angola, a BITUR 2025, constituiu uma oportunidade para o governo anunciar que o turismo é uma área estratégica para o desenvolvimento angolano, que está aberto a essa realidade e que conta com os operadores turísticos para melhorar e fortalecer este sector da economia nacional. O representante governamental presente na BITUR 2025 anunciou algumas medidas para intensificar a formação profissional nos sectores turístico e hoteleiro, pediu que fossem identificadas áreas atractivas para o turismo e que fossem criados roteiros turísticos inovadores, em linha com a procura internacional. Apelou, ainda, à divulgação do grande potencial turístico de Angola e pediu que as necessidades do sector fossem apresentadas ao governo.
A edição de hoje do jornal O País destacou o discurso governamental sobre o turismo e ilustrou a sua primeira página com um dos maiores ex-libris do turismo angolano: as quedas de Calandula, situadas na província de Malange e no leito rio Lucala, que é afluente do rio Quanza. São as maiores quedas de água de África com 410 metros de comprimento e 105 metros de altura e, até 1975, eram conhecidas como as Quedas do Duque de Bragança. Localizam-se a 420 km de Luanda...

Basta de violência! Haja lugar para a paz!

Perfazem-se hoje dois anos sobre o ataque de 7 de outubro de 2023, em que o Hamas invadiu o território de Israel e assassinou de forma violenta e indiscriminada mais de 1200 pessoas, além de ter sequestrado mais de 250.
Muitas vozes se ouviram então para dizer o óbvio, isto é, que Israel tinha o direito de se defender, mas Benjamin Netanyahu, apoiando-se na ampla solidariedade internacional, logo afirmou que queria ir mais longe e que iria arrasar Gaza. Desde então, uma ofensiva militar já causou mais de 60 mil mortos e destruiu a maior parte do património construído em Gaza, o que é uma vingança desproporcionada e demasiado cruel para uma população indefesa e que, em última instância, até pode não ser apoiante do Hamas. Netanyahu, que tem um mandato de captura emitido pelo TPI e que internamente é acusado de corrupção, tem reafirmado a sua vontade de ocupar todo o território de Gaza, exterminar o Hamas e a resistência palestiniana e, ainda, levar a população a abandonar o território. Dessa forma, pretende alargar o território de Israel e, em associação com o empresário Donald Trump, construir a Riviera do Mediterrâneo Oriental.
Lentamente, o mundo tem acordado para o genocídio que o extremista Netanyahu está a conduzir em Gaza e, recentemente, vários países como o Reino Unido, a França, o Canadá, a Austrália e Portugal reconheceram o Estado da Palestina, mas até esse acto justo e simbólico, foi classificado por alguns imbecis como um prémio ao terrorismo. Nas grandes cidades europeias muitos milhares de manifestantes vêm condenando a injustificada e cruel violência com que os extremistas israelitas continuam a massacrar o povo palestiniano em Gaza, mas volta a falar-se de paz. Nós desejamos a paz.
Hoje o jornal catalão El Punt Avui+ refere o “longo pesadelo” e diz que “dois anos após os ataques do Hamas e a retaliação israelita, a região enfrenta um futuro repleto de incertezas”.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Os políticos mandam e as tropas obedecem

O presidente Donald Trump e o seu secretário da Guerra, Pete Hegseth, reuniram anteontem na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia, com algumas centenas de generais e almirantes, que vieram de todo o mundo. Segundo a edição de ontem do jornal The Washington Postpara “transportar e hospedar os líderes militares de lugares tão distantes quanto o Japão, o Médio Oriente e a Europa provavelmente custará milhões de dólares”, para um encontro incomum que foi organizado à pressa e se tornou num fórum para o presidente e o seu secretário de Defesa divulgarem a sua agenda partidária.
As normas que desde há muito tempo norteiam as Forças Armadas americanas e da generalidade dos países democráticos para que se mantenham fora da política partidária, foram desrespeitadas como nunca acontecera nos Estados Unidos. Segundo o The Washington Post, os longos comentários de Donald Trump foram ao ponto de afirmar que “se os presentes não gostassem do que ele tinha a dizer, poderiam sair da sala”, mas "lá se vai a sua patente, lá se vai o seu futuro". Na sua intervenção em que usou uma linguagem grosseira e muito inflamada, Pete Hegseth prometeu tornar as Forças Armadas americanas "mais fortes, mais resistentes, mais rápidas, mais ferozes e mais poderosas do que nunca", tendo insistido na necessidade dos altos escalões militares imporem padrões de aptidão física, de higiene e de disciplina aos seus subordinados, como se tivessem que ser rambos ao estilo americano.
Hegseth disse, também, que irá reformular os canais que as tropas e os funcionários civis têm à sua disposição para registar denúncias anónimas e lideranças tóxicas, ou apontar tratamento desigual com base em raça, género, orientação sexual ou religião, isto é, vai tornar as Forças Armadas americanas um campo de denunciantes. Ele também condenou as "tropas gordas", incluindo "os generais e almirantes gordos que circulam nos corredores do Pentágono", dizendo que isso representa uma má imagem. Todos, disse ele, “serão obrigados a passar por um teste de aptidão física e atender aos requisitos de altura e peso duas vezes por ano a partir de agora”.
Os generais e os almirantes, todos com décadas de experiência militar, ouviram em silêncio os discursos altamente partidários e muito insultuosos do presidente e do seu secretário da Guerra, mas este é o preocupante estado a que estamos a chegar com os militares da mais poderosa nação do mundo a tornarem-se incondicionalmente obedientes a um poder político que, dia a dia e sob as ordens de Donald Trump, vai se vai afastando da Democracia.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Um plano de paz com pernas para andar?

Donald Trump apresentou em Washington o seu plano em 21 pontos para acabar com a guerra em Gaza, que inclui o cessar-fogo, a troca dos reféns israelitas em poder do Hamas por algumas centenas de prisioneiros palestinianos, o desarmamento do Hamas e a instauração de um governo palestiniano temporário, a ser supervisionado por um “Conselho de Paz” internacional liderado por Donald Trump, com participação de figuras como Tony Blair, que ficará responsável pela administração de Gaza até que a Autoridade Palestiniana complete um programa de reformas. Será criada uma força internacional de estabilização temporária, a qual será imediatamente mobilizada para Gaza para garantir a sua segurança, havendo a retirada gradual das tropas israelitas.
Diz a imprensa que este plano foi acolhido favoravelmente por numerosos países, tanto na Europa como no mundo árabe, mas que também tem o apoio do Secretário-geral da ONU e do Papa Leão XIV, que vê este plano com satisfação e com esperança. Agora, falta apenas o apoio do Hamas e a superação das divisões internas israelitas.
Porém, depois de tanta crueldade e de tanto morticínio no terreno, mas também de avanços e de recuos na tentativa de chegar a um cessar-fogo, o plano agora assinado por Donald Trump e Benjamin Netanyahu, a quem Trump trata carinhosamente por Bibi, obriga qualquer pessoa a ter reservas, porque é difícil acreditar que a intenção de fazer de Gaza a Riviera do Mediterrâneo Oriental tenha sido descartada e que o direito dos palestinianos a viver na sua terra esteja agora a ser respeitado. Daí que, na sua edição de hoje, o jornal francês La Dépêche du Midi pergunte se “le plan Trump peut-il marcher”.
Na verdade, ninguém conhece as verdadeiras intenções de Trump e de Netanyahu em relação ao futuro da Palestina, não deixando de ser curioso que, segundo também refere a imprensa, "Trump considera insultuoso para os Estados Unidos se não receber o Nobel da Paz", o que pode significar que este plano chamado “Plano Abrangente para Acabar com o Conflito de Gaza” se destina a impressionar o Comité Nobel Norueguês, que é designado pelo Parlamento da Noruega e que atribui o prémio que Donald Trump tanto deseja. Seria demasiada hipocrisia e ninguém pode imaginar que possa ser uma coisas destas...