segunda-feira, 29 de abril de 2019

O voto da Espanha e a incerteza do futuro

As eleições legislativas espanholas realizaram-se ontem e tiveram uma participação de quase 76%, a demonstrar o enorme interesse que despertaram. A vitória sorriu ao PSOE de Pedro Sánchez (28,8%), que quebrou um ciclo de onze anos a perder eleições legislativas e viu a sua representação parlamentar passar de 85 para 123 deputados, enquanto o grande derrotado foi o PP de Pablo Casado que passou de 137 para 66 deputados. Apesar deste resultado, o PSOE não tem maioria para governar e vai ter que negociar com os outros partidos.
Parece que se desenham duas hipóteses de coligação, que necessita de 176 deputados para se constituir como uma maioria estável: a primeira seria uma coligação entre o PSOE (123 deputados) com os Ciudadanos de Alberto Rivera (57 deputados), o que daria uma maioria de 180 deputados; a segunda hipotese seria uma coligação do PSOE com os Unidos Podemos de Pablo Iglésias (42 deputados), o que daria um total de 165 deputados. Esse número seria insuficiente para se afirmar como uma maioria e, nesse caso, o PSOE precisaria do apoio adicional de mais 11 dos 38 deputados que representam os oito menores partidos. Os analistas ainda não descartaram totalmente a possibilidade de uma eventual coligação pós-eleitoral entre o PSOE e o Ciudadanos, apesar dos dois partidos terem, antes das eleições, repetido que não se iriam aliar, preferindo associar-se a movimentos dentro do seu próprio bloco político, um de esquerda e o outro de direita.
A Espanha está politicamente fragmentada e o seu futuro é incerto e, como novidade, houve o aparecimento do Vox que representa a extrema-direita franquista que conseguiu 24 deputados.
Agora resta-nos esperar que Pedro Sánchez tenha êxito na formação de uma maioria que garanta a estabilidade da Espanha, o que será muito bom para Portugal.

sábado, 27 de abril de 2019

As piruetas e as ambições de um ex-juiz

Edição de 7 de Novembro de 2018 da revista Veja
Sérgio Moro é o Ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil desde o dia 1 de Janeiro de 2019 e veio a Portugal, um país onde todos os brasileiros são benvindos por circunstâncias históricas, culturais e emocionais.
A visita deste ex-juiz não teve grande repercussão na comunicação social portuguesa até ao dia em que um ex-primeiro-ministro português o acusou de ser medíocre, ser indigno e ser um activista político disfarçado de juiz, ao que o ministro respondeu com uma recusa “em debater com criminosos”.
A partir daí, os espaços de debate televisivo portugueses pegaram no tema e surgiu uma quase unanimidade na condenação das palavras de Sérgio Moro, que cometeu três erros graves:
- Como juiz porque chamou criminoso a alguém que ainda não foi acusado, nem julgado, nem condenado e, por isso, é inocente até prova em contrário.
- Como ministro porque comentou assuntos do foro interno da justiça portuguesa e, ainda por cima, quando se encontrava em território português.
- Como cidadão porque cometeu uma enorme falta de cortesia para com todos os portugueses ao insultar um cidadão português que ainda nem foi acusado e que apenas foi “condenado” por alguns jornais sensacionalistas que vivem dos escândalos.
Sérgio Moro revelou-se, portanto, um homem arrogante, impreparado e de uma chocante vulgaridade. O Brasil merecia muito mais. Foi ele que condenou o Presidente Lula da Silva e que o impediu de se bater com Bolsonaro. É um oportunista que envergonha o Brasil. De resto, a revista Veja já em 7 de Novembro de 2018 tratava Sérgio Moro como o homem da pirueta, isto é, o homem que depois de ter feito um grande servicinho como juiz, aceitou a recompensa de ser ministro e aparece agora cheio de ambição política. Sim, o Brasil merece melhor.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

A necessária evocação do 25 de Abril

Perfazem-se hoje 45 anos sobre “a madrugada que eu esperava” ou “o dia inicial inteiro e limpo”, como assinalam as inspiradas palavras de Sophia de Mello Breyner a propósito do dia 25 de Abril de 1974. Foi um dia memorável que saltou para as páginas da História e se tornou um referencial para muitos povos e para diferentes gerações que aspiravam pela liberdade.
Portugal e os portugueses, mas também os povos dos territórios coloniais então designados por províncias ultramarinas, estavam desde 1926 sujeitos a um regime autoritário, intolerante e repressivo, hostilizado pela comunidade internacional e incapaz de se renovar ou de compreender os ventos da História. Em 1974, após quase meio século de ditadura, eram chocantes os índices de obscurantismo e de subdesenvolvimento do país, havia medos e ameaças que nos cercavam por toda a parte e que moldavam as nossas mentalidades e instalara-se o cansaço por uma guerra dolorosa e sem sentido. O país ansiava por mudança e, no dia 25 de Abril de 1974, um grupo de militares organizado em torno do Movimento das Forças Armadas iniciou o desafio e a missão histórica de abrir as portas à democratização, à descolonização e ao desenvolvimento por que o povo ansiava. Não foram necessários tiros e o movimento que teve imediato apoio popular, tornou-se triunfante em poucas horas. O país transformou-se desde esse dia e a Europa e o mundo rejubilaram com o fim da “mais velha ditadura da Europa”. A partir de então, com a democratização e a descolonização, Portugal retomou o seu lugar no concerto das nações.
Hoje perfazem-se 45 anos sobre esse dia de libertação e de esperança que o jornal Público assinala. Viva o 25 de Abril!

segunda-feira, 22 de abril de 2019

O terrorismo regressou ao Sri Lanka

O Sri Lanka é uma ilha situada no sul do subcontinente indiano, mas também é um país com 65 mil km2 e 21 milhões de habitantes. Adquiriu a independência da Grã-Bretanha em 1948 mas, entre 1983 e 2009, veio a defrontar-se com uma violenta guerra civil que durou 26 anos e em que se envolveram o governo e os Tigres de Libertação do Eelam Tamil (LTTE), que lutou pela criação de um estado independente designado por Tamil Eelam, cujo território se localizava a norte e a leste da ilha. A guerra civil terminou com a vitória das tropas do general Sarath Fonseka. O país cuja população é budista (70%), hindu (13%), islamita (9%) e católica (8%), é favorecido por singulares belezas  naturais e parecia ter entrado numa via de paz e de progresso.
Porém, ontem, que era Domingo de Páscoa, verificaram-se oito explosões em hotéis de luxo e igrejas católicas localizadas em Colombo, Negumbo e Batticaloa, aparentemente provocadas por bombistas suicidas, que causaram pelo menos 290 mortos e 500 feridos.
Os ataques ainda não foram reivindicados e as autoridades cingalesas estão a ser muito prudentes nas suas investigações sobre o apuramento da verdade. Os comentadores portugueses trataram de apontar a autoria destes atentados para grupos jihadistas, eventualmente regressados do Médio-Oriente, embora os ataques tivessem sido condenados pelo Muslim Council of Sri Lanka. Porém, não se pode excluir que se esteja perante uma reaparição do LTTE, cerca de dez anos depois da sua derrota militar, até porque os alvos escolhidos e o método de ataque utilizado parecem ser os seus.  
A imprensa mundial noticia e condena estes bárbaros ataques. O jornal britânico The Guardian dedica toda a sua primeira página ao Sri Lanka e insere uma reportagem assinada por Amantha Perera, a sua correspondente em Colombo, em que são destacadas em caixa as declarações do ministro Harsha de Silva. Estes apelidos - Fonseka, Perera e Silva - revelam como foi grande a influência portuguesa naquele país da Ásia do Sul.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

O fim das boas viagens da Jet Airways

Jet Airways, que é uma das principais companhias aéreas indianas, suspendeu ontem todos os seus voos domésticos e internacionais devido a problemas financeiros, depois de não ter conseguido crédito para o pagamento do combustível e de outros serviços necessários à sua actividade operacional. No comunicado ontem emitido pela empresa é anunciado que a suspensão das operações de voo é temporária, mas poucos acreditarão nessa declaração, sobretudo os seus cerca de 20 mil funcionários onde se incluem mais de mil pilotos, que estarão há vários meses sem receber salários. A notícia da suspensão da actividade operacional da Jet Airways foi publicada por toda a imprensa indiana, incluindo o jornal Divya Bhaskar (દિવ્ય ભાસ્કર) que usa a indecifrável língua gujarati e se publica na cidade de Ahmadabad, que deu destaque de primeira página a essa notícia.
A Jet Airways é uma das grandes companhias aéreas da Índia e tem a sua sede em Mumbai, a antiga Bombaim, tendo sido fundada em 1992 por um milionário indiano. Dispõe actualmente de uma frota de 99 unidades, incluindo 67 Boeing 737 e onze modernos Boeing 777-300ER, que voam para 71 destinos internos e internacionais, incluindo Nova Iorque, Londres e Hong Kong.
Porém, parece que existe uma maldição que leva as companhias aéreas indianas à falência, pois a Jet Airways junta-se a algumas dezenas de companhias que não têm resistido à concorrência ou à má gestão, recordando-me da East-West Airlines, da Gujarat Airlines, da Indian Airlines, da Spice Jet Air, da Sahara Airlines e da Kingfisher Airlines, em que eu próprio voei algumas vezes, entre muitas outras que faliram. Agora com o encerramento da Jet Airways acabou-se aquela que eu sempre escolhia como a melhor companhia que me levava da Europa para a India e da Índia para a Europa, que me proporcionou sempre melhores voos do que aqueles que me foram servidos pela Lufthansa, pela British Airways, pela Swissair, pela Air France ou pela KLM.

A maior democracia do mundo vai a votos

A República da Índia é a maior democracia do mundo, constituindo um estado federal composto por 28 estados autónomos e sete Union Territories, sendo também a sétima maior economia mundial em termos de produto interno bruto nominal e o segundo país mais populoso do mundo.
Este ano a República da Índia realiza eleições gerais para o Lok Sabha, o parlamento nacional indiano que funciona em Nova Delhi, nas quais participarão cerca de 900 milhões de eleitores, incluindo cerca de 15 milhões que têm 18 ou 19 anos de idade, que vão escolher os 543 deputados nacionais. Significa que, depois, serão necessários 272 deputados para formar uma maioria de um partido ou coligação que escolherá o primeiro-ministro.
O processo eleitoral é muito complexo e, por exemplo em 2014 apresentaram-se ao sufrágio 8250 candidatos representando 464 partidos! As votações nos diferentes estados decorrem durante sete semanas e alguns estados já votaram no passado dia 11 de Abril, enquanto os outros estados votarão em outros dias até ao dia 19 de Maio, sendo os resultados finais anunciados no dia 23 de Maio. 
O Bharatiya Janata Party (BJP) e o Indian National Congress (INC) são as duas principais formações políticas entre as centenas de partidos que se apresentam nas eleições, mas de facto os eleitores vão escolher entre a recondução do actual primeiro-ministro Narendra Modi (BJP) e a eleição do seu principal oponente Rahul Gandhi (INC), o bisneto de Nehru e neto de Indira Gandhi que transporta consigo a tradição da família Nehru. Narendra Modi está no poder e representa o ultra-nacionalismo hindu, enquanto Rahul Gandhi representa a social-democracia e o secularismo religioso. Apesar de ter o favoritismo, Modi tem apelado ao voto com anúncios na primeira página dos principais jornais indianos, nomeadamente no Deccan Chronicle de Bangalore, onde refere o seu slogan de campanha eleitoral - a leadership that performs, reforms and transforms.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

As boas relações entre Portugal e Angola

Durante muitos anos, apesar da especial ligação histórica e de amizade entre os seus povos, as relações entre os governos de Portugal e de Angola foram tensas.
Porém, tudo parece ter entrado na normalidade das relações Estado a Estado e estão a viver-se tempos muito esperançosos com o aparecimento de novos protagonistas políticos que “enterraram o machado de guerra” e que estão a promover a desejada relação de amizade e de cooperação, que todos reconhecem ser de comum interesse para os dois países e para os seus povos. Primeiro foi a visita de António Costa a Angola (Setembro de 2018), a seguir foi a visita de João Lourenço a Portugal (Novembro de 2018) e, depois, foi a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola (Março de 2019). Agora, quando a ministra da Justiça Francisca Van-Dúnem se desloca a Angola, essa visita não é mais que uma situação de rotina, a mostrar que as relações entre Portugal e Angola se estão a desenvolver com normalidade, na base de uma cooperação harmónica e frutuosa, como tanto desejam os angolanos e os portugueses. Por isso, a edição de hoje do Jornal de Angola destaca essa visita na sua primeira página.
Evidentemente que é a economia que tende a prevalecer nas relações entre os dois países mas, tanto em Luanda como em Lisboa, ninguém pode esquecer a importância do reforço dos laços afectivos que sempre existiram, inclusive no tempo colonial, derivados das afinidades culturais e do conhecimento mútuo entre os dois países, de uma história partilhada de bons e de maus episódios e, sobretudo, pela sua língua comum.
O futuro está realmente a construir-se “com grande articulação e harmonia”, como salientou em Luanda a ministra Francisca Van-Dúnem.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Notre Dame em Paris: tragédia em directo

Um violento incêndio deflagrou ontem ao fim da tarde e consumiu grande parte da Notre Dame, a catedral de Paris, pensando-se ter sido acidental e estar relacionado com os trabalhos de reabilitação do edifício que estavam em curso.
A Notre Dame é um dos mais visitados monumentos da Europa e demorou quase dois séculos a ser construída, entre os anos de 1163 e 1345. É, juntamente com a torre Eiffel, um ex-libris da cidade-luz e as imagens da tragédia emocionaram os franceses e o mundo.
O incêndio lavrou por várias horas, foi seguido em directo nas televisões mundiais e teve o seu ponto mais dramático quando ruiu o pináculo da torre central. Uma das torres do edifício colapsou e o tecto também sucumbiu. Sabe-se que uma parte das estátuas no exterior da catedral que rodeavam o pináculo, foram poupadas por terem sido retiradas há quatro dias para serem restauradas. De resto, os principais tesouros religiosos também tinham sido retirados devido às obras de reabilitação do edifício.
Houve quem tivesse sugerido um combate ao incêndio com meios aéreos, mas o lançamento de toneladas de água a grande velocidade iria contribuir para a integral derrocada do edifício.
As primeiras páginas dos jornais franceses e de muitos outros países assinalam a noite trágica em Paris, onde as palavras tragédia, inferno e desastre são usadas para definir os nove séculos de história que o fogo consumiu. Porém as palavras de Emmanuel Macron foram firmes e uniram a França na ambição de reconstruir a Notre Dame, para o que já se iniciou uma recolha de fundos. Ontem, ao fim de tantos anos, um dos símbolos de Paris esteve a arder, parecendo cumprir-se a vontade de Adolfo Hitler.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

A indiferença face à coesão territorial

Entre os principais problemas portugueses estão as assimetrias regionais que continuam a agravar-se, embora também haja casos em que houve uma real inversão dessa situação devido à localização de novas actividades criadoras de emprego, mas também por fixação de polos universitários e politécnicos que atraíram estudantes ou, até, por alterações da base económica das regiões.
Para o agravamento das assimetrias regionais e para a desertificação de muitas regiões do interior, têm contribuido duas instituições – CGD e CTT – que parecem viver numa indiferença pela coesão territorial e praticam uma lógica empresarial de rentabilidade financeira e se alheiam da rentabilidade social. Ora, na perspectiva das modernas sociedades democráticas, as actividades empresariais, públicas ou privadas, devem regular-se tanto rentabilidade financeira como pela rentabilidade social. Esse tem que ser um imperativo de todos, porque só faz sentido haver empresas quando satisfazem uma necessidade e quando servem as populações, o que não parece ser a atitude da CGD e dos CTT, que apenas querem ganhar dinheiro. Acontece que, segundo hoje divulgou o Jornal de Notícias, no ano de 2018 a CGD fechou 65 das suas agências bancárias, enquanto no mesmo ano os CTT encerraram 70 estações dos correios. Daí resultou que, pelo menos em 12 concelhos, tanto a CGD como os CTT deixaram de existir, havendo 33 concelhos onde já não existe qualquer estação dos correios.
Assim, podem ser gastos milhões na construção de infraestruturas ou no apoio às iniciativas empresariais, mas na primeira linha do abandono, do desinteresse e da indiferença pela coesão territorial estão as políticas da CGD e dos CTT, que afectam directamente as necessidades das populações. Parece que todos se esquecem do artigo 66º da Constituição que diz que incumbe ao Estado "ordenar e promover o desenvolvimento do território, tendo em vista uma correcta localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento socioeconómico e paisagens biologicamente equilibradas".

Cerimónias da Semana Santa em Espanha

Iniciaram-se ontem em todo o mundo católico as cerimónias da Semana Santa que têm uma especial celebração por toda a Espanha. A Semana Santa é uma tradição religiosa católica que decorre entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa, isto é, entre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a sua crucificação na sexta-feira santa e a sua ressureição que acontece no domingo.
É uma celebração eminentemente religiosa, mas também é um atraente cartaz turístico, sobretudo em Espanha, onde atrai muita gente, mesmo os não católicos, para assistirem às procissões que percorrem as ruas das cidades e vilas, com muitos devotos que transportam os andores com as imagens mais veneradas, os pálios sustentados por varas que cobrem os representantes da Igreja local e outros dignitários, as inúmeras confrarias com os seus exuberantes trajos, as associações com os seus estandartes e o povo aos milhares, que acompanha o cortejo sincronizado pela música mais ou menos sacra dos agrupamentos musicais que nele se incorporam.
Porém, para além das procissões, a Semana Santa inclui muitos outros rituais religiosos que, por si só, despertam o interesse dos fiéis e dos não fiéis.
Hoje, toda a imprensa espanhola dá um grande destaque ao início da Semana Santa que parece ter a sua maior celebração em Sevilha, mas para ilustrar este acontecimento escolhemos a capa do Diario Palentino que se publica na cidade de Palência, na província do mesmo nome, na comunidade autónoma de Castela e Leão.

sábado, 13 de abril de 2019

Bombas que não explodiram nas guerras

A edição de hoje do Diari de Tarragona, publicado naquela cidade catalã, destaca que “cada cinco dias desactivan una bomba de la Guerra Civil”.
A guerra civil espanhola terminou no dia 1 de Abril de 1939, depois das tropas do general Franco terem entrado em Madrid, o que significa que já passaram 80 anos e, por isso, a notícia hoje divulgada causa alguma admiração até porque também informa que, desde 1985, já foram desactivados 2194 engenhos explosivos na província de Tarragona. Porém, haverá milhares de bombas e outros engenhos explosivos ainda escondidos, sobretudo naregião de Madrid, na Catalunha e no País Basco.
Na Alemanha ocorre uma situação semelhante, estimando-se que haverá cem mil bombas aliadas por explodir, mas também minas anti-tanque, granadas de mão, obuses e munições de artilharia russas. Cada ano são descobertas e desactivadas cerca de duas mil toneladas de bombas e, só na cidade de Berlim, já foram encontradas cerca de sete mil bombas, havendo naturalmente muitas mais por descobrir.
Embora eem menor escala, também na Inglaterra vão sendo descobertas e desactivadas algumas bombas da 2ª Guerra Mundial, tal como em França onde, há menos de dois meses foi encontrada no bairro de la Chappele, em Paris, uma bomba americana de algumas centenas de quilogramas, tendo a sua desactivação obrigado a que cerca de 1800 pessoas tivessem de abandonar temporariamente as suas casas.
Passados tantos anos depois do fim destas duas grandes guerras, o número de engenhos explosivos que se vão descobrindo mostra como essas guerras foram violentas e exterminadoras.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Brexit adiado, mas a incerteza continua

Por uns tempos, exactamente por seis meses, vamos deixar de ouvir falar a toda a hora no Brexit, nos ingleses, na Theresa May e no Jeremy Corbyn.
A confusão que se tem vivido no Reino Unido já não tem descrição possível, com uns a quererem sair e outros a não quererem sair da União Europeia, com uns apoiar o acordo feito com Bruxelas e outros a rejeitar esse acordo e outros, ainda, a não querer acordo nenhum. O que se tem passado no Reino Unido é uma catástrofe política pois tornou o país ingovernável, radicalizou posições que dividem a sociedade e já ninguém sabe se dessa situação poderá ou não resultar algum contágio para a União Europeia, que tem estado unida neste imbróglio.
O facto é que a saída do Reino Unido, inicialmente prevista para o dia 29 de Março de 2019, teve que ser adiada e o Conselho Europeu aceitou esse adiamento por alguns dias. Porém, como o Parlamento britânico continuou dividido, os líderes europeus retomaram o assunto e concordaram em adiar a saída do Reino Unido da União Europeia até ao dia 31 de Outubro. Houve propostas para que esse adiamento fosse por um ano, mas acabou por ser aprovado um prazo de cerca de seis meses. Esse período foi considerado suficiente para que os britânicos se entendessem, mas parece ser curto. No entanto, é evidente que eles estão na altura de fazer eleições, de escolher um novo Parlamento e um novo primeiro-ministro e, directa ou indirectamente, saber o que querem os britânicos, isto é, se continuam a querer sair ou se afinal querem ficar, porque agora estão muito mais esclarecidos e terão que pensar que a Escócia e a Irlanda do Norte também podem decidir-se pelo abandono do Reino Unido. O jornal escocês The Herald que se publica em Glasgow e que é um dos mais antigos jornais do mundo, que tem tendências independentistas e defende a permanência do Reino Unido na União Europeia, tratou de mostrar na sua primeira página uma Theresa May de azul e agarrada à bandeira. A insinuação é bem elucidativa das posições escocesas. 
  

quinta-feira, 11 de abril de 2019

A primeira imagem de um 'buraco negro'

A imprensa mundial, sobretudo europeia e americana, aparece hoje na sua primeira página com a fotografia de um círculo iluminado que diz ser de um 'buraco negro', salientando que é a primeira vez que foi fotografado e que é maior do que todo o sistema solar. A notícia transcreve uma declaração de um cientista que afirmou que “é um momento que ficará para a história da Europa, um dia emocional porque nunca tivemos um momento como este, em que os cientistas europeus mostraram liderança no mundo".
Não percebo nada de astrofísica e, por isso, limito-me a transcrever alguns aspectos relativos a esta notícia que tanto interessou os mass media mundiais.
O buraco negro fotografado encontra-se no centro da supergaláxia Messier 87, a cerca de 55 milhões de anos-luz da Terra e para captar a sua imagem foram necessários oito radiotelescópios espalhados pelo nosso planeta, ligados em rede e localizados no Arizona, Havai, México, Chile, Espanha, Antárctida, França e Gronelândia. A captação da imagem foi possível graças a uma cooperação mundial orçada em 44 milhões de euros, que incluiu fundos europeus e que foi desenvolvida no âmbito do projecto EHT (Event Horizon Telescope) em que participaram cerca de duas centenas de cientistas. Segundo refere o jornal Público, Einstein tinha razão e a sua teoria da Relatividade Geral, apresentada há mais de um século, foi agora confirmada.
E mais não digo, porque destas (e de outras matérias) nada sei.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Será amnésia ou o descontrolo do Aníbal?

O Independente (edição de 7 de Fevereiro de 1992)
A campanha eleitoral para as eleições europeias de 26 de Maio já começou, bem como a luta pelos 21 assentos e respectivas mordomias do Parlamento Europeu que cabem aos portugueses. Como é costume na luta política em Portugal, as campanhas eleitorais apoiam-se em promessas mentirosas e em casos, reais ou fictícios, e só raramente tratam dos programas e intenções dos partidos concorrentes e dos seus candidatos.
É nessa linha que sido desenvolvida uma campanha suja contra o governo, a que até o Cavaco se associou bem como alguns jornalistas rafeiros, em que têm sido tratados com insistência os casos das nomeações familiares para os gabinetes ministeriais.
Já no passado dia 28 de Março aqui tínhamos escrito que o arranjo de lugares “para maridos, mulheres, filhos e filhas, genros e noras, enteados, sogros, primos e primas, amigos e amigos dos amigos e por aí adiante”, sempre foi uma prática política em Portugal. No governo, nas autarquias e, durante muitos anos, nas empresas públicas. O que agora acontece pode ou não ser criticável, mas não é novo.
Assim, aconteceu um efeito bumerangue e não tardou que a campanha maliciosa se virasse contra os acusadores, ao ser revelado que fizeram exactamente a mesma coisa que agora criticam sem qualquer pudor, como revelou o jornal O Independente, então dirigido por esse estadista de plástico que é o Paulo Portas, quando dedicou a sua edição de 7 de Fevereiro de 1992 exactamente a esse tema, quando Cavaco era primeiro-ministro.  E lá estão os nomes e as fotografias de alguns dos que agora têm criticado o Costa, com o pequeno LMM à cabeça.  Depois, até o próprio Cavaco nomeou a cunhada para assessora da sua Maria que, tanto quanto sabemos, não tem direito a assessoras pagas pelos contribuintes. E, pasme-se, depois de dois mandatos, a dita cunhada até teve direito a ser condecorada com um alto grau da Ordem do Infante D. Henrique. Que vergonha para um ex-presidente ter feito o que fez e vir agora acusar os outros. Não sei se é amnésia, se é descontrolo psíquico ou se é um caso de pequenez. Que falta nos faz Almada Negreiros para nos escrever uma nova versão do seu Manifesto Anti-Dantas.

terça-feira, 9 de abril de 2019

As celebrações ibéricas da volta ao mundo

No próximo dia 10 de Agosto celebra-se o 5º centenário da partida das cinco naus que saíram de Sevilha, que desceram o rio Guadalquivir e entraram em Sanlúcar de Barrameda, de onde partiram no dia 20 de Setembro de 2019 para uma viagem às Molucas, navegando por ocidente. Segundo Le Voyage de Magellan 1519-1522 (edition Chandeigne, Paris, 2017), seguiam a bordo 237 homens, mas com os que embarcaram nas Canárias e no Brasil, terão sido 242 os participantes na viagem, sendo 139 espanhóis (64 andaluzes, 29 bascos, 15 castelhanos, 7 galegos, 5 asturianos, 3 navarros, 2 aragoneses, 2 estremenhos, um murciano e 11 de origem indeterminada), 31 portugueses pelo menos, pois alguns ter-se-ão feito passar por espanhóis, 26 italianos, 19 franceses, 9 gregos, 5 flamengos, 4 alemães, 2 negros, 2 irlandeses, 2 mestiços sendo um luso-brasileiro e outro hispano-americano, um inglês, um goês e um malaio. Entre estes homens encontrava-se Fernão de Magalhães, provavelmente natural da vila transmontana de Sabrosa, que era o seu experimentado comandante. Era, portanto, uma verdadeira tripulação internacional, até porque as Espanhas eram então um extenso número de reinos semi-independentes e ainda não existia um estado espanhol. Daí que tivesse causado um grande escândalo o parecer da Real Academia de História de Espanha divulgado no passado dia 10 de Março, em que a viagem iniciada por Magalhães em 1519 foi considerada "plena y exclusivamente española". 
Hoje o jornal ABC, na sua edição de Sevilha, destaca as comemorações do 5º centenário da primeira viagem à volta do mundo e noticia que os governos espanhol e português acordaram na celebração conjunta desse acontecimento que foi ibérico, mas também europeu, pelo que não faz qualquer sentido a exaltação de glórias nacionalistas que alguns pretenderam introduzir na celebração desta efeméride. Andaram bem os dois governos peninsulares ao chegarem a um acordo quanto ao processo de comemorar a primeira viagem à volta ao mundo.
Segundo foi divulgado, além de  muitas outras iniciativas conjuntas, em 2020 os navios-escolas das Marinhas dos dois países – Buque Escuela Juan Sebástian Elcano e Navio-Escola Sagres – darão a volta ao mundo seguindo a mesma rota que seguiu a expedição de Magalhães e Elcano.
Entretanto, a cidade de Sevilha já reivindica ser o ponto de partida dessa viagem, apesar de haver problemas de calado para o Elcano navegar naquele rio e de haver cabos de alta tensão sobre o Guadalquivir. Apesar disso, a edição local do ABC dá como certa a partida de Sevilha dessa viagem e escolheu exactamente o navio-escola espanhol para ilustrar a sua capa.

Os problemas continuam na Venezuela

A Venezuela vive uma crise política e económica profunda, com uma espiral hiperinflacionária e uma enorme contracção do seu produto nacional, que provocaram a escassez de produtos essenciais e a saída do país de mais de dois milhões de pessoas.
A situação agravou-se com o bloqueio económico americano e com a intransigência do regime chavista, que tem atropelado as regras da democracia, sobretudo por falsear as eleições presidenciais e por não dar voz à oposição.
Foi neste quadro que Juan Guaidó, o presidente do Parlamento, se auto-proclamou presidente interino da Venezuela no passado dia 23 de Janeiro. Beneficiando de um alargado apoio internacional, Juan Guaidó aproveitou uma rede anónima de resistência criada em Fevereiro de 2011 para lutar contra o chavismo que então foi baptizada como Operación Libertad Venezuela (OLV) e, tratou de fazer uma digressão pelo país para activar esse movimento.
Com esse apoio, no passado fim de semana promoveu um conjunto de grandes manifestações articuladas em todo o território nacional que classificou como a “fase definitiva” do seu plano a que chamou Operación Libertad, para afastar Nicolás Maduro do poder e do palácio presidencial de Miraflores. Porém, também o regime chavista organizou grandes manifestações, a mostrar que há duas venezuelas e que há riscos de confrontações. A juntar a esta tensão política apareceram os apagões eléctricos e o racionamento da água, o que está a fazer aumentar a mobilização contra Nicolás Maduro, que está a ser responsabilizado por tudo o que de mal vem acontecendo no país. Para amanhã estão convocadas novas manifestações em todo o território e, sobretudo em Caracas, onde os manifestantes tencionam dirigir-se ao palácio presidencial para reclamar o afastamento de Nicolás Maduro.
O diário La Hora, que se publica no pequeno estado insular de Nova Esparta e que tem por lema - ni con unos ni con otros: con Nueva Esparta – destaca o masivo apagón e as manifestações contra Maduro en la fase definitiva de la operación Libertad.

domingo, 7 de abril de 2019

A luta pelo poder intensifica-se na Líbia

Segundo vem sendo noticiado, desde que Muammar Kadhafi foi morto em Syrte no dia 20 de Outubro de 2011, a Líbia entrou num caos político, com várias facções tribais a disputar o poder. Depois de uma primeira guerra civil líbia seguiu-se uma certa acalmia, mas o conflito reacendeu-se e agora há duas autoridades ou facções a lutar pelo poder, naquilo que já é chamada a segunda guerra civil líbia: de um lado está um governo de união nacional estabelecido em 2015 em Tripoli e que vem sendo reconhecido pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional e, do outro, uma outra autoridade dirigida pelo auto-proclamado marechal Khalifa Haftar. Haftar é um militar muito conceituado com dupla nacionalidade, líbia e americana, que exerce o poder na zona leste do país a partir da cidade de Benghazi e tem o apoio do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos, que o ajudam militarmente e o consideram um baluarte contra os islamitas.
Nos últimos dias, as forças de Haftar aproximaram-se de Tripoli e terão recebido ordens para atacar a cidade, havendo notícias de ataques aéreos nos seus subúrbios. Perante este quadro, o jornal italiano la Repubblica afirma que há o caos na Líbia e o medo na Europa. As Nações Unidas procuram soluções e António Guterres foi a Tripoli para incentivar as partes a participar numa conferência de paz, porque “não há solução militar e apenas o diálogo entre os líbios pode resolver os problemas do país”.
Curiosamente, o Papa Francisco referiu-se ontem ao facto da Europa e dos Estados Unidos alimentarem estes conflitos com a venda de armas, embora o assunto seja mais complexo. De qualquer forma, parece não haver dúvidas que as destabilizações no Iraque, na Síria e na Líbia tiveram origem nas intervenções ocidentais que não compreenderam a realidade política e cultural desses países e apostaram no derrube de Sadam Hussein, Bashar el-Assad e Muammar Kadhafi.
A Líbia fica às portas da Europa e a actual situação pode intensificar a corrente migratória clandestina para Lampedusa, para Malta e de um modo geral para a Europa. Se há o caos na Líbia, então o medo aumenta na Europa.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

E depois do incêndio do Rio de Janeiro

No passado dia 2 de Setembro ocorreu um enorme incêndio que destruíu o Palácio de São Cristóvão no Rio de Janeiro, em que estava instalado o Museu Nacional. Era um dos mais emblemáticos edifícios históricos da cidade, ocupava uma área de 13 mil metros quadrados e, em termos culturais, o incêndio destruíu um património museológico único e provocou uma verdadeira calamidade cultural.
A peritagem que tem vindo a ser efectuada já concluíu que a causa do incêndio foi um curto-circuito num aparelho de ar condicionado do auditório, localizado no primeiro andar do edifício, mas também apurou que o Museu Nacional não dispunha de estruturas de combate a incêndios, que houve falhas no sistema de prevenção, que o sistema de controlo dos detectores de fumo não estava accionado e que não existiam portas corta-fogo que poderiam ter retardado a propagação das chamas e do fumo. Houve, portanto, demasiado descuido.
A temperatura durante o incêndio ultrapassou os mil graus e a maior parte do acervo do Museu foi destruído. Foi um desastre para o património cultural do Brasil, mas as autoridades “arregaçaram as mangas” e começaram o trabalho que havia de ser feito. Assim, segundo hoje relata o jornal O Globo, foi logo contratada uma empresa para fazer algumas obras de emergência, sobretudo a estabilização das estruturas e a execução de uma cobertura provisória do edifício, bem como a remoção de entulhos e a recuperação de peças do acervo museológico que ainda pudessem ser salvas. Cerca de 85% do trabalho já está concluído e já foram removidas 1500 toneladas de entulho, assim como as vigas metálicas e outros materiais destruídos pelo incêndio.
Hoje, o jornal O Globo não só publicou uma reportagem sobre os resultados da peritagem às causas do incêndio, como também publicou uma fotografia de primeira página a quatro colunas das ruinas do Museu, a alertar os seus leitores para que esta tragédia não fique esquecida. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

A guerra e a "geração perdida" da Síria

Embora não se conheça a verdadeira situação em que se encontra actualmente a Síria, parece que a guerra acabou depois de oito anos de combates que causaram cerca de 450 mil mortos e mais de dez milhões de deslocados e refugiados, o que representa cerca de metade da população do país. Parece, também, que o regime de Bashar al-Assad venceu com o apoio dos seus aliados russos e iranianos, que o Daesh foi derrotado por uma aliança entre as forças democráticas sírias, as forças curdas e a aviação americana e que, finalmente, o califado morreu em Bagouz, depois de ter chegado a ocupar um terço do território da Síria e um terço do território do Iraque. Parece, ainda, que o Irão e a Turquia passaram da situação de rivais a grandes amigos, com a Rússia de permeio. Estes "parece" significam, portanto, que a informação que nos chega é ocasional, pontual, pouco esclarecedora e, provavelmente, manipulada.
O que não há dúvida é que a Síria está confrontada com uma grave crise humanitária. Agora é necessária a urgente assistência às populações e em especial às crianças, a todas as crianças da Síria e não só aos filhos dos militantes do Daesh, pois todas sofreram a guerra e viveram vários anos sem escola e sem educação, viram as barbaridades cometidas e as escolas destruídas, aprenderam a usar armas e foram preparadas para uma guerra sem regras. Só no campo de Al Hol, no leste da Síria, estarão 25.000 crianças em idade escolar que foram instruídas para servir o Daesh. Estas crianças representam uma pequena parte daquilo que já foi chamado a “geração perdida da Síria”, isto é, os dois ou três milhões de crianças em idade escolar que perderam parte ou a totalidade de sua educação formal durante os oito anos da guerra, umas em território sírio e outras que se estão refugiadas em campos de internamento no Líbano, Jordânia, Turquia, Iraque e Egipto.
O jornal Los Angeles Times destaca em primeira página esta grave situação humanitária de que poucos falam. Porém, é a altura de perguntar quem são os responsáveis por esta guerra e de saber quem quis levar a primavera árabe para a Síria e quem estimulou e armou todos aqueles grupos que destruíram a Síria.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A desertificação e as assimetrias ibéricas

No próximo dia 28 de Abril realizam-se eleições legislativas em Espanha e as sondagens que vão sendo conhecidas estão a indicar que nenhum partido vai conseguir a maioria e que vai ser difícil formar coligações de governo. Depois, no dia 26 de Maio realizam-se as eleições para o Parlamento Europeu.
Perante este quadro eleitoral, muitas associações da chamada Espanha rural, agora também chamada La España vaciada, decidiram manifestar-se ontem no centro da capital espanhola para, em tempos de campanha eleitoral, exigirem dos poderes públicos mais investimento nas províncias mais desfavorecidas e mais atenção para travar o seu despovoamento. A iniciativa que juntou algumas dezenas de milhar de pessoas serviu para unir as reivindicações das províncias do interior da Espanha “desde León a Murcia y desde Cáceres a Huesca” e, segundo o jornal el Periódico de Aragón, a cidade de Madrid foi ocupada, o que significa que a mensagem dos manifestantes passou.
A Espanha está confrontada com o despovoamento do interior e a aglomeração populacional nas grandes cidades, de que resultam graves problemas económicos e sociais, que se traduzem em assimetrias regionais cada vez mais acentuadas. Embora em menor escala, também Portugal padece da acentuada desertificação do interior. É um problema que está diagnosticado e para o qual todos os políticos fazem promessas, sem que se note qualquer inversão da situação, até porque essas regiões “não dão votos”. Os poderes públicos fazem pouco para resolver a situação e calam-se perante o encerramento de tribunais, linhas ferroviárias, agências bancárias, estações dos correios, repartições públicas, esquadras da polícia, escolas secundárias e tudo o mais que não resiste à cegueira dos critérios financeiros da avaliação custo-benefício e que não olha a critérios sociais. 
Os espanhóis reclamaram ontem, mas os portugueses estão calados.