segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A nova orientação política da Alemanha

O dia de hoje foi muito intenso no que respeita a acontecimentos e ao respectivo noticiário internacional. Em Washington encontraram-se Donald Trump e Emmanuel Macron e, em Kiev, o presidente Zelensky recebeu os líderes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia. Noutro plano, também de Roma chegaram notícias um pouco mais animadoras sobre o preocupante estado de saúde do Papa Francisco. Todos esses acontecimentos, cada qual à sua maneira, foram muito importantes.
Porém, os resultados das eleições antecipadas que se realizaram na Alemanha e o seu significado no contexto europeu, também foram um acontecimento relevante, numa altura em que a Europa anda muito desorientada, pois trata-se do mais populoso país da União Europeia e a sua maior potência económica. A democracia funcionou e aconteceu a alternância no poder, isto é, ao governo do SPD vai suceder o governo da CDU e a Olaf Scholz vai suceder Friedrich Merz, qualquer deles com necessidade de coligações.
As sondagens acertaram e os conservadores da CDU de Friedrich Merz venceram com 28,52% dos votos e 208 mandatos, seguidos pela extrema-direira do AfD de Alice Weidel com 20,8% dos votos e 152 mandatos e dos sociais-democratas do SPD de Olaf Scholz com 16,41% e 120 mandatos. Estes números são indicados na edição de hoje do Bild, o antigo Bild Zeitung, que é o maior jornal da Alemanha.
Foi significativa a subida da AfD e a queda do SPD mas, sobretudo, parece que a Alemanha pode voltar a ter um protagonismo europeu como tinha nos tempos de Angela Merkel, em que se sabia quem mandava na Europa.
Neste tempo de tanta incerteza no mundo, com Trump, com Putin e com Zelensky, é preciso que a Europa se afirme unida, afirmativa, solidária, com rosto e sem as vaidades pessoais e os egoismos nacionais que a têm caracterizado nos últimos tempos. Pode ser que a Alemanha de Merz seja diferente da Alemanha de Scholz...

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Zelensky marginalizado, isolado e traído?

O famoso estratega prussiano Carl von Clausewitz escreveu em 1832 que “a guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios” e, assim sendo, se a guerra é muito cruel, também a crueldade faz parte da política.
Nos últimos anos a crueldade da guerra tem destruido uma boa parte da Ucrânia oriental e, neste espaço, sempre defendemos que, independentemente das razões das partes, era necessário parar com o sofrimento do povo e a brutal destruição do património ucraniano.
A guerra intensificou-se com a invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, mas logo em 29 de Março foram realizadas negociações em Istambul entre a Rússia e a Ucrânia para resolver o conflito. Porém, os acordos alcançados à mesa das negociações não foram implementados por não terem sido aceites por Volodymyr Zelensky, a quem Joe Biden, Boris Johnson e outros dirigentes europeus asseguraram apoio pelo “tempo que for preciso”. Até Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa repetiram essa frase e foram a Kiev apoiar Zelensky! 
A ideia de que a Ucrânia iria vencer a guerra foi largamente afirmada, por exemplo por Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron. Em Fevereiro de 2024 apenas 10% dos europeus acreditava que a Ucrânia ia vencer a guerra, segundo revelou um estudo do Conselho Europeu. Apesar disso, a retórica de apoio a Zelensky e de fé na vitória continuou apoiada numa contínua acção de propaganda e o facto é que no Verão de 2024, as sondagens indicavam que os ucranianos acreditavam que iriam ganhar a guerra. Em Outubro, ainda Zelensky apresentou o seu “plano de vitória”. Porém, com a chegada de DT ao poder em Washington, a crueldade da política revelou-se, tão semelhante à crueldade da guerra. A retórica e a arquitectura de suporte à Ucrânia está a ruir e, na sua edição de ontem, a revista alemã Der Spiegel não destaca as importantes eleições na Alemanha, tendo escolhido a fotografia de Zelensky para ilustrar a sua capa, com a palavra “verraten”, isto é, “traído”.
Tal como aqui se escreveu há quatro dias, podemos perguntar: quem enganou Zelensky dizendo-lhe que ia ganhar esta guerra?

sábado, 22 de fevereiro de 2025

A Ucrânia é um pesadelo para a Europa

A mais recente edição do The Economist, a prestigiada revista inglesa de notícias e assuntos internacionais, destaca na sua capa uma ilustração em que se vê uma enorme mesa rodeada de cadeiras, em que apenas há duas que estão ocupadas pelas personagens do actual momento político - Donald Trump e Vladimir Putin – enquanto o vazio de todas as outras cadeiras inspirou a escolha do título principal desta edição - “o pior pesadelo da Europa”.
O título refere-se à Ucrânia que está em guerra e é um enorme país com mais de 600 mil quilómetros quadrados, com a questão ucraniana a ser de facto um grande pesadelo para a Europa, porque nos obriga a repensar o modelo que saiu da 2ª Guerra Mundial, bem como a criação da NATO e do Pacto de Varsóvia, a guerra fria, a reunificação alemã, a implosão da União Soviética e o alargamento para oriente da União Europeia e da NATO.
Neste processo histórico, a Europa esteve deslumbrada com a sua prosperidade, engordou e envelheceu, enquanto os seus líderes se deixaram enrolar pelas mordomias com que Bruxelas os distinguia e que satisfaziam as suas vaidades. Sujeitos aos seus interesses nacionais, não repararam no dinamismo que corria pelo mundo e na crescente irrelevância que tinham no panorama internacional. Foram esses líderes que, sem cuidar de saber o que pensavam as suas opiniões públicas, foram a correr para Kiev e enganaram Zelensky com promessas de amor eterno.
Agora, que começou a soprar uma ventania dos Estados Unidos, a Europa foi marginalizada e nem a sentaram naquela enorme mesa. Já está sob temporal e até ameaçada por um naufrágio porque, como é evidente, está sem timoneiros. 
A Ucrânia é realmente um pesadelo para a Europa.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Graves acusações pesam sobre Bolsonaro

No dia 30 de Outubro de 2022 realizou-se a 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras e Luiz Inácio Lula da Silva obteve 50,90% dos votos, enquanto a votação do então presidente Jair Bolsonaro se ficou pelos 49,10%. Apesar de todas as contestações das hostes bolsonaristas, no dia 1 de Janeiro de 2023 o candidato vencedor tomou posse em Brasília como o 39º presidente da República Federativa do Brasil. Porém, a contestação bolsonarista não parou e no dia 8 de Janeiro ocorreram graves incidentes em Brasília, sobretudo na Praça dos Três Poderes, o espaço público onde se localizam os edifícios que representam os três poderes brasileiros - o Palácio do Planalto (poder executivo), o Congresso Nacional (poder legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder judicial) - onde alguns milhares de fanáticos apoiantes de Bolsonaro rejeitaram a democracia brasileira e tudo vandalizaram. A gravidade do que se passou deu origem a investigações judiciais, com destaque na averiguação do papel que Bolsonaro e os seus aliados tiveram no processo pós-eleitoral que culminou em Brasília, com os acontecimentos do dia 8 de Janeiro de 2023.
Agora, conforme noticiou o jornal O Globo, o Procurador-Geral do Brasil que é o juiz Paulo Gonet, acusou Jair Bolsonaro e alguns dos seus antigos ministros de uma tentativa de golpe de estado após as eleições de 2022 e de ter concordado com um plano criminoso que visava matar o presidente Lula da Silva, mas que também visava a abolição violenta do Estado de Direito democrático e que, além disso, constituiu uma grave ameaça contra o património nacional.
Agora vai caber ao Supremo Tribunal Federal fazer a avaliação do processo e aceitar ou rejeitar esta denúncia que, a ser aceite, transformará Bolsonaro e os seus mais próximos colaboradores em arguidos e réus. Vai decorrer muito tempo porque estes processos são demorados, mas a acusação que pesa sobre o Jair é bem grave...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

DT e a irrelevância dos líderes europeus

As tensões entre os Estados Unidos e a Ucrânia, ou entre o DT e o VZ, intensificaram-se nas últimas horas, são altamente lamentáveis e muito preocupantes. Diz a edição de hoje do jornal la Repubblica, que se publica em Roma, que Trump insultou Zelensky, ao chamar-lhe ditador e ao responsabilizá-lo pela guerra na Ucrânia, ao que Zelensky respondeu dizendo que Trump vivia numa bolha de desinformação. Ambas as declarações são insensatas, irrealistas e fazem parte de uma irresponsável retórica que, nestes tempos difíceis, não aproveitam a ninguém e apenas servem para agitar o mundo. Perante esta agravada tensão, uma vez mais a Europa mostra a sua incapacidade para lidar com estas situações, tal como aconteceu há três anos, tratando de insistir em mais guerra, mais soldados, mais aviões e mais mísseis, em vez de procurar integrar-se – como mediadora e não como parte do conflito – nas tentativas em curso para acabar com esta malvada guerra que continua a assustar o mundo. As reuniões convocadas por Emmanuel Macron, sem ninguém saber a que título, são um evidente exercício de vaidade pessoal, sem quaisquer consequências para a solução do conflito, enquanto são de lamentar os silêncios, ou as declarações vazias de conteúdo, de António Costa, Ursula von der Leyen e Kaja Kallas. Como aqui escrevi há uma semana, “pobre e irrelevante Europa que não tem quem a comande” e que, todos os dias, acentua o seu desprestígio e a sua irrelevância no seio da comunidade internacional, tal qual as antigas aristocracias europeias que os actuais líderes parecem ainda querer imitar, sem perceber que os tempos são outros.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Há uma luz para resolver a crise ucraniana

O encontro ontem acontecido em Ryade entre Marco Rubio e Sergei Lavrov para encontrarem uma solução para a guerra na Ucrânia, tem que ser saudado porque representa um passo muito importante para o restabelecimento do diálogo entre as duas maiores potências nucleares do globo. Depois de meses de muita tensão, ou mesmo de alta tensão, este encontro reintroduz alguma sensatez e muito alívio na política internacional, até porque se falou de paz, coisa de que os obcecados líderes europeus nunca falavam. Porém, ao excluirem agora a Europa e a Ucrânia deste encontro, americanos e russos foram pragmáticos mas levantaram um coro de críticas, sobretudo dos marginalizados, especialmente Macron e Zelensky, que queriam ter algum protagonismo na solução deste problema.
A imprensa internacional destaca hoje a marginalização de uma Europa dividida e sem liderança, a “ressureição” de Putin e o muito provável afastamento de Zelensky de todo o processo, talvez porque venha falando demais. O jornal El País diz que “EE UU rehabilita a Putin en el primer contacto sobre Ucrania”, o La Vanguardia escreve “El nuevo orden de EE UU y Russia”, o Le Monde destaca que “Trump et Poutine à l’initiative, l’Europe divisée” e o Daily Telegraph prevê que "Zelensky could fall as price of peace”. Do outro lado do Atlântico o tom é semelhante e o The Wall Street Journal refere que “Not invited: Zelensky sidelined in negotiations”. No entanto, o mais surpreeendente é o destaque de primeira página do jornal The Washington Post ao escrever que “Trump blames war on Ukraine” e que “Kyiv should have never started it”.
A declaração de Trump de que “nunca deveriam ter começado o conflito com a Rússia” representa uma nova narrativa para este conflito, ao remeter as suas origens para os tempos da reunificação alemã e do “acordo” para que a NATO não se estendesse para oriente, o que não aconteceu e veio a provocar a reacção russa.
Quem enganou Zelensky dizendo-lhe que ia ganhar esta guerra?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Montreal: viver sob tempestades de neve

A cidade de Montreal é a maior cidade da província canadiana do Quebec, localiza-se sobretudo na ilha de Montreal, na confluência dos rios São Lourenço e Otawa, com o seu porto na extremidade da via marítima que liga os Grandes Lagos ao Atlântico. É classificada, muitas vezes, como a capital cultural do Canadá, tendo recebido os Jogos Olímpicos em 1976. Com quase dois milhões de habitantes na sua área municipal, é considerada a cidade francófona mais populosa do mundo, depois de Paris, sendo conhecida como uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo.
A cidade situa-se sobre o paralelo dos 45 graus Norte e tem um clima continental húmido, com um inverno muito frio, muito ventoso e com muita neve que, geralmente, cobre a cidade, desde a primeira ou segunda semana de Dezembro até a última semana de Março - cerca de 4 meses de neve! As temperaturas médias mínimas na cidade são de -12,4 graus C em Janeiro e de -10,6 graus C em Fevereiro, mas a temperatura mais baixa já registada na cidade aconteceu no dia 15 de Janeiro de 1957, quando os termómetros registaram -37,8 graus C.
A natureza, ou as condições climáticas, são muito mais generosas para as cidades da península Ibérica, que se situam em latitudes aproximadas da latitude de Montreal, mas não suportam o frio daquela cidade canadiana. No passado fim-de-semana os termómetros marcaram um mínimo de -13 graus C em Montreal, uma tempestade cobriu a cidade com mais de meio metro de neve e paralisou-a. Na sua última edição o Journal de Montreal mostra uma fotografia de uma rua bloqueada pela neve e com um aviso para os seus leitores: restez chez vous! Um outro jornal local  - The Gazette - refere-se ao "unprecedented snow" de 70 centímetros de altura e aos oito dias que vão ser necessários para a limpeza das ruas.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Macron e a sua ânsia de protagonismo

Hoje em Paris, segundo anuncia o jornal ABC, vão reunir-se (ou já estão reunidos), os líderes europeus (ou alguns líderes europeus), quando já se anuncia o primeiro encontro entre americanos e russos na Arábia Sáudita, para tratar do fim da guerra na Ucrânia. Com esta reunião “convocada” supostamente para “não deixar cair a Ucrânia”, Emmanuel Macron quer uma vez mais afirmar-se como o Napoleão ou o De Gaulle da modernidade francesa, embora ele e os seus convidados estejam vergados pelo peso das promessas e das juras que fizeram a Zelensky de “apoiar a Ucrânia enquanto for preciso”. Esta frase foi repetida por todos eles, mas também por Joe Biden e até por Marcelo Rebelo de Sousa. Porém, enganaram-se e enganaram os ucranianos, porque o conflito não tem solução militar, ao contrário do que disseram repetidas vezes.
Os números do conflito são desconhecidos até porque ambas as partes usam a arma da informação e da propaganda, quer quanto ao número de mortos de ambos os lados, quer quanto aos milhões de ucranianos que perderam as suas casas, quer ainda quanto aos recursos já gastos nesta guerra que já destruiu cidades, infraestruturas, vidas, sonhos e que o DT diz que podia ter sido evitada se ele estivesse na Casa Branca. Contudo, todos dizem que nunca houve tantos mortos numa guerra.
Ainda antes de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, o DT tinha afirmado que “demasiadas pessoas estão a ser mortas” e que Zelensky “deve estar preparado para chegar a um acordo”. Apesar de ser um homem controverso e até perigoso, como se viu no apoio que no dia 6 de Janeiro de 2021 deu à invasão do Capitólio, a sua iniciativa de procurar o princípio do fim do sofrimento ucraniano tem que ser apoiada e está em curso. Com esta urgente reunião, Macron quer ter um papel na História e quer ser protagonista, mas esta sua iniciativa já foi classificada como “uma terapia de grupo” e bem podia dar origem a um comunicado conjunto a pedir desculpas a Zelensky e aos ucranianos, porque à revelia das suas opiniões públicas e dos seus eleitorados, lhes foi prometido o que não podiam prometer.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

R.I.P. Jorge Nuno Pinto da Costa

Faleceu ontem, com 87 anos de idade, o homem que durante mais de 42 anos dirigiu o Futebol Clube do Porto (FCP) e, por isso, o clube e a cidade do Porto estão de luto. Chamava-se Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa.
Eleito pela primeira vez em 1982, soube imprimir uma dinâmica à gestão do seu clube e à prática competitiva das suas equipas das diversas modalidades desportivas, conseguindo muitos êxitos que colocaram o FCP no topo dos grandes clubes portugueses e mundiais. Dizem as notícias publicadas que os portistas festejaram 2.591 conquistas desportivas durante a presidência de Pinto da Costa, levando o FCP a sagrar-se Campeão da Europa e do Mundo em várias modalidades e escalões.
A presidência de Pinto da Costa fez do FCP o clube português com mais títulos oficiais no futebol, ao vencer 23 Campeonatos Nacionais, 22 Supertaças, 15 Taças de Portugal, duas Taças Intercontinentais, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus e outra Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia e uma Taça da Liga. A notoriedade da cidade do Porto cresceu em ligação com a notoriedade do FCP e da gestão desportiva de Pinto da Costa, que se tornou uma figura representativa da cidade do Porto e da região norte do país. 
A notícia da morte do antigo presidente do FCP encheu as páginas dos jornais, tanto desportivos como generalistas, mas também ocupou largas horas da programação de todos os canais televisivos, em que foram destacadas as suas qualidades de líder carismático e gestor desportivo, mas também a sua inteligência e o seu elevado estatuto cultural. Como sempre acontece com os grandes homens, a sua vida suscita aplauso e reconhecimento, mas também crítica e controvérsia.
Como hoje alguém escreveu, na história do FCP há um antes e um depois de Jorge Nuno Pinto da Costa.

O Canadá e os apetites de Donald Trump

A nova política americana imposta pelo DT (Donald Trump), que vem sendo traduzida pela expressão MAGA (Make America Great Again), está a causar muita preocupação mundial e a aumentar as incertezas quanto ao futuro, o que se vem acentuando nos últimos anos. Uma das vertentes dessa política tem um carácter expansionista e revela-se na forma atrevida e irresponsável como o DT quer fazer do Canadá o 51º estado americano.
O Canadá, ou Federação do Canadá, é o segundo maior país do mundo, foi colonizado por franceses e ingleses, resistiu ao movimento que criou os Estados Unidos da América e, embora só em 1982 tenha adquirido a sua completa independência do Reino Unido, conserva o estatuto de monarquia constitucional federal e parlamentar, isto é, Carlos III é o rei do Canadá, sendo representado por um governador-geral do Canadá, que é nomeado pelo rei sob proposta do primeiro-ministro canadiano. Assim, para além dos formalismos resultantes da tradição e da Constituição do país, o Canadá é efectivamente governado e representado pelo primeiro-ministro, que é eleito pelos canadianos e que actualmente é Justin Trudeau.
Apesar destas ligações históricas e tradicionais, em 1964 foi escolhida uma nova bandeira para o Canadá, que extinguiu a bandeira colonial britânica. Essa bandeira apareceu pela primeira vez no dia 15 de Fevereiro de 1965, que passou a ser celebrado como o Dia da Bandeira Nacional. Ontem, a bandeira do Canadá fez 60 anos e a imprensa aproveitou para afirmar a sua firme oposição às propostas do DT. Assim fizeram o National Post ao escrever que “a folha de bordo”, o nome que é dado à bandeira, é para sempre, mas também o jornal The Free Press, que se publica em Winnipeg, a capital da província de Manitoba, que escreve que a bandeira, still flying, strong and free, after 60 years.
Parece, portanto, que os canadianos não aceitam as propostas do DT. 
Como era de esperar.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

A Europa sem voz no conflito da Ucrânia

A conversa telefónica da passada quarta-feira entre Trump e Putin parece ter apanhado de surpresa a União Europeia e os seus estados-membros, pois a reacção foi muito lenta. Os primeiros relatos mostraram que os europeus, mas também os ucranianos, foram totalmente marginalizados pelos interesses de Washington e de Moscovo. Porém, passadas as primeiras horas, já se começaram a ouvir algumas vozes a reagir e a exigir a presença da Europa e de Zelensky nas conversações que foram anunciadas, nas quais estão a ser arredados e que se afirma irão ser muito demoradas… e difíceis. No entanto, o complexo quadro negocial que se vai apresentar parece não fazer sentido sem a participação ucraniana, embora a eventual presença europeia servirá apenas para perturbar e para agravar as clivagens entre Trump e os europeus.
Aqueles que mais apostaram na vitória da Ucrânia, casos de Ursula von der Leyen e Mark Rutte, ou a União Europeia e a NATO, têm avisado que o expansionismo russo vai continuar a ameaçar a Europa e defendem o seu rearmamento, mesmo à custa dos direitos sociais dos europeus, chegando mesmo a parecer vendedores das empresas de armamento e a fazer declarações atentatórias da soberania de cada um dos estados-membros.
A situação é muito complexa e preocupante. O facto é que a administração Trump veio baralhar toda a gente e dar esperança aos que desejam que a guerra acabe e com ela o morticínio e a destruição, o que parece ser cada vez mais a posição das opiniões públicas nacionais que estão cansadas da guerra e do discurso da guerra. Na Europa das Pátrias, de muitas línguas e muitas culturas, demograficamente envelhecida e tecnologicamente atrasada, vacilam os valores e faltam os líderes capazes enfrentar com realismo a complexa situação em que está a Europa. Como hoje mostra a capa do jornal Libération, parece que Putin e Trump estão sós no mundo…
Pobre e irrelevante Europa que não tem quem a comande. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Foi aberto o caminho da paz na Ucrânia?

Donald Trump e Vladimir Putin conversaram ontem por telefone e, entre outros assuntos, trataram da guerra na Ucrânia que o presidente americano tem dito, repetidas vezes, que não se teria iniciado se ele estivesse na Casa Branca e que seria capaz de lhe pôr fim, apenas com uma chamada telefónica para Putin e para Zelensky
Qualquer destas afirmações devem ser entendidas como metáforas, mas o facto é que Trump e Putin conversaram ontem e que essa conversa pode ter aberto o caminho ao fim da guerra na Ucrânia.
Depois de mais de dez anos de conflito e de quase três anos de guerra, de milhares de mortos, de incontáveis fornecimentos de armamento e de uma intensa propaganda destinada a iludir as opiniões públicas com a ideia de que alguém podia vencer a guerra, Donald Trump veio atirar uma pedrada no charco e falou com Putin, como era desejável, pois pode ser o início de um período de maior contenção mundial.
Dessa conversa que “foi longa e muito produtiva”, resultou que “as negociações sobre a guerra na Ucrânia vão começar imediatamente” e que ambos concordaram em “visitarmo-nos nos nossos países”. Trump falou depois com Volodymyr Zelensky, a quem terá anunciado que a adesão à NATO “não era realista” e que as fronteiras de 2014, com a Crimeia e o Donbass, seriam para esquecer. Os falcões europeus foram completamente desautorizados e ficaram mudos, enquanto Zelensky parece ter sido posto de lado e estará agora a pensar como tem sido enganado. A imprensa internacional ainda mostra prudência no acolhimento das propostas de Trump, embora o jornal Público publique uma fotografia de arquivo na primeira página da sua edição de hoje, em que Trump e Putin sorriem como se já estivessem a negociar.
Os líderes europeus, bem como os nossos comentadores alinhados, estão desorientados porque não queriam a paz e nunca deixaram de exigir mais e mais armamento. Porém, tudo parece caminhar no sentido da paz e não no sentido que muitos deles vaticinaram. Vamos esperar para ver...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

O legado singular de Carlos Paredes

No próximo domingo, que é o dia 16 de Fevereiro, o grande Carlos Paredes - que a última edição do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias classifica como “o génio da guitarra” - completaria 100 anos de idade.
Carlos Paredes nasceu em Coimbra e foi um dos mais importantes e influentes músicos portugueses do século XX, tendo sido um talentoso criador de um repertório original que levou ao mais alto nível as possibilidades da guitarra portuguesa. Activo oposicionista ao regime do Estado Novo, foi preso pela Pide em 1958, tendo estado preso no Aljube e no Reduto Norte do Forte de Caxias, durante cerca de 15 meses.
Com a sua arte e a sua inspiração, Carlos Paredes emocionou os  portugueses rendidos ao seu virtuosismo e influenciou gerações de músicos nacionais e internacionais, contribuindo para a popularização da guitarra portuguesa junto de vastas audiências.
Por tudo o que representa na cultura portuguesa, está em curso um programa para assinalar os 100 anos do seu nascimento e celebrar o seu legado, que inclui mais de uma centena de concertos, colóquios, filmes, oficinas e um plano de salvaguarda e divulgação da sua obra. O programa intitula-se “Variações para Carlos Paredes” e vai estender-se pelos próximos meses por todo o país, mas também por 17 cidades de 12 países em quatro continentes, incluindo Xangai, Pequim, Osaka, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Madrid e Sevilha. Vai ser mesmo um festival itinerante da cultura portuguesa e o nosso país bem precisa de se mostrar ao mundo como exemplo de uma comunidade com vida cultural.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Muito armamento vem comprando a Índia

A Índia é o mais populoso país do mundo com 1.441 milhões de habitantes que correspondem a cerca de 18% da população mundial, é a quinta maior economia do mundo e tem muito território, muitos recursos naturais, muitas línguas, muitas religiões e muita ambição. Depois de ter sido a “jóia da Coroa” do Império Britânico, tornou-se independente em 1947 e, passo a passo, tem subido os degraus do desenvolvimento, que tornaram um país pobre e subdesenvolvido numa potência regional com capacidade nuclear.
Desde há mais de três décadas que a Índia tem apostado na modernização das suas Forças Armadas, que são um dos símbolos da unidade e coesão nacionais de um país culturalmente tão diverso, através de uma dinâmica indústria de defesa, mas também da aquisição de meios militares no estrangeiro. Assim, a Índia é o maior importador de armas convencionais entre os países em desenvolvimento e, entre os seus fornecedores, estão a Rússia, os Estados Unidos, a França, Israel, o Reino Unido e a Chéquia. Nesse sentido, todos os anos a Índia é visitada oficialmente por muitos Chefes de Estado e primeiros-ministros que, a coberto do reforço da relação diplomática bilateral, querem vender os Sukhoi Su-57, os Lockheed Martin F-35, os Mirage-2000, os Dassault Rafale ou os Panavia Tornado, mas também os Antonov An-70, os C-130 Hercules, os Embraer KC-390 ou os Airbus A400M Atlas. É sempre um corrupio. 
Porém, para além dos contactos de alto nível e das contrapartidas de diversas ordens que são ajustadas entre as partes, as regras do marketing também recomendam que se sensibilizem as opiniões públicas através de anúncios publicitários. É exactamente o que faz hoje a Airbus Defence and Space, ao publicitar o Airbus A400M Atlas na edição do prestigioso The Times of India.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Ucrânia: quem pode acabar com a guerra?

No dia 22 de Fevereiro de 2022 as tropas russas às ordens de Vladimir Putin iniciaram uma “operação militar especial” em território ucraniano, o que representou uma escalada num conflito que decorria desde 2014. Desde então, passaram quase três anos e muitas vidas se perderam, muita gente perdeu o sentido para a sua vida, muitas infraestruturas foram destruídas e muito dinheiro foi gasto. Exceptuando o Papa e o Secretário-geral das Nações Unidas, poucas foram as vozes que reclamaram o cessar-fogo, a negociação e a paz, mas inversamente, muitas outras vozes dos dois lados da barricada, trataram de reclamar mais armamento e de afirmar que lutavam pela vitória. A propaganda tem alimentado o conflito e sabe-se pouco sobre o que realmente se passa no terreno e nas chancelarias, mas como já se viu desde há muito tempo, não haverá vencedores nesta guerra, que é uma tragédia e uma ameaça à paz mundial.
O jornal francês La Dépêche du Midi evocou ontem essa trágica guerra, mostra Zelensky e Putin na sua primeira página e pergunta se é “o princípio do fim”, quase apelando a negociações. Porém, a questão tem uma dimensão muito mais alargada e é bem mais complexa.
A NATO avançou demasiado para oriente depois de 1999 e, tal como Kennedy em 1962 não quis mísseis nucleares russos em Cuba, também Putin não quer mísseis americanos em solo ucraniano. Putin é teimoso e perigoso. A União Europeia conspirou, não teve vontade própria e foi pequenina tal como Macron e Von der Leyen. Volodymyr Zelensky tem sido o resistente ucraniano, mas é cada vez mais um instrumento dos interesses americanos, conforme agora revela a “doutrina Trump”. A sua voz começa a revelar desespero e a ser cada vez menos importante, tanto interna como externamente, pois as opiniões públicas dos seus aliados mostram cansaço e os apoios diminuem. 
Então, se Putin e Zelensky não se entendem, que sejam Putin e Trump a entenderem-se para acabar rapidamente com esta guerra que bem podia ter sido evitada.

Uma tragédia para o património da Bahia

Desabou o tecto da Igreja de São Francisco de Assis, na cidade brasileira de Salvador, a capital do estado da Bahia que foi criada pelos portugueses com o nome de São Salvador da Bahia de Todos-os-Santos e o jornal baiano Correio, que antes se chamava Correio da Bahia, escreveu na primeira página da sua edição de ontem a palavra TRAGÉDIA.
A Igreja e o Convento de São Francisco estão localizados no centro histórico da cidade de Salvador e estão classificados como Património da Humanidade pela Unesco. O conjunto foi construído entre os séculos XVII e XVIII, constituindo “a mais rica expressão do Barroco brasileiro”, em que se destaca a “faustosa decoração interior da Igreja”. Numa cidade de tantas igrejas, para os baianos esta é "a igreja de ouro".
Na tarde da passada 4ª feira, a estrutura da nave central que suporta o telhado e o tecto com as famosas pinturas do ciclo mariano, pintadas entre 1733 e 1737, desabou em consequência de problemas estruturais que já se haviam detectado, sobretudo infiltrações e desnivelamento do piso, tendo provocado a morte de um ocasional visitante. A repercussão desta ocorrência foi muito grande, tanto na população da cidade como nas instâncias políticas estaduais e nacionais, até porque se trata de uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo. Provavelmente, não será uma perda irreparável pois as autoridades vão proceder ao imediato restauro da Igreja de São Francisco, um dos maiores símbolos históricos e culturais do Brasil.
O exemplo do restauro que se seguiu ao incêndio de grandes proporções que em Setembro de 2018 destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro e que, três anos depois, já permitiu a reinauguração da fachada e do jardim do terraço, enquanto a conclusão do restauro se espera para o início de 2026 ou, noutra perspectiva, o restauro da Catedral de Notre-Dame de Paris, destruída por um incêndio em Abril de 2019, são exemplos estimulantes para os dirigentes sobre quem pesa a responsabilidade de restaurar a Igreja de São Francisco.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

DT e a ideia da Riviera do Médio Oriente

Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos a que os americanos chamam Don, é aqui referenciado pelas suas iniciais DT que, obviamente, não significam qualquer coisa como Doente Total, Deliquente Tarado, ou Doido Tirano.
O facto é que depois de provocar o Canadá, de ameaçar o Panamá e de fazer um assédio à soberania da Gronelândia, o DT veio agora manifestar-se a respeito de Gaza e, segundo hoje anuncia o New York Post, veio declarar que “we’ll take over Gaza”, ou “vamos tomar Gaza”, o que significa a expulsão de dois milhões de palestinianos e fazer daquela faixa mediterrânica a Riviera do Médio Oriente. A declaração do DT não é apenas uma declaração infeliz e desastrada em relação ao Direito Internacional e a todas as Resoluções das Nações Unidas, mas é também um perigoso caso de regresso a uma lei da selva, à violação de direitos humanos, à punição colectiva de um povo e a um caso de autêntica limpeza étnica. Ao lado do DT, estava o tirano Benjamin Netanyahu, que o TPI considera criminoso de guerra e que é o maior responsável pela destruição da Faixa de Gaza. 
Vários países já rejeitaram esta provocação do DT e qualquer violação dos direitos legítimos do povo palestiniano, assim acontecendo, para já, com a Arábia Saudita, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia, Turquia, China e Brasil. O repúdio é geral. Entretanto, como tem acontecido nos últimos anos, tanto a União Europeia de Ursula von der Leyen e António Costa, como a República Portuguesa, estão calados, o que é um caso de cobardia, de cumplicidade e de submissão à política americana.

Os 40 anos de idade de Cristiano Ronaldo

O futebolista Cristiano Ronaldo nasceu em 1985 na cidade do Funchal e perfaz hoje 40 anos de idade pelo que, nas suas edições de hoje, os jornais desportivos portugueses o felicitam e lhe dedicam as suas primeiras páginas. O seu estatuto de mais internacional dos futebolistas portugueses, com 217 jogos e 135 golos pela selecção nacional, bem com os 923 golos que já marcou em toda a sua carreira, justifica essa homenagem.
Cristiano Ronaldo é, talvez, o mais famoso futebolista da história do futebol mundial e é, certamente, o português com mais notoriedade na nossa aldeia global e, muitas vezes, é mais conhecido ou tem mais notoriedade do que o seu próprio país. Jogou e foi idolatrado no Sporting, no Manchester United, no Real Madrid e na Juventus. Agora joga no Al Nassr da Arábia Saudita e continua a marcar golos, com a ambição de ainda jogar o Mundial de 2026 e de atingir a marca dos mil golos. Ganhou cinco vezes a Liga dos Campeões e foi campeão europeu em 2016, mas os troféus e os prémios conquistados são tantos que a sua enumeração não cabe neste apontamento.
Na sua ilha da Madeira deram o seu nome ao aeroporto e foi na sua cidade do Funchal que criou o museu onde estão depositados os seus troféus, mas não será certamente na sua cidade que desenvolverá a carreira de empresário internacional que todos lhe adivinham.
Por ocasião do seu 40º aniversário, alguma imprensa desportiva internacional não esteve desatenta e também felicitou Cristiano Ronaldo, caso do diário francês L’Équipe, que na sua edição de hoje salienta o seu enorme presígio internacional. 
E, naturalmente, também aqui deixamos as nossas felicitações ao CR7.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Andebol, um enorme orgulho desportivo

Terminou ontem em Bærum, nos arredores de Oslo, o 2025 IHF World Men's Handball Championship, ou o 29º Campeonato do Mundo de Andebol. A campeã foi a equipa da Dinamarca que na final derrotou a equipa da Croácia e se tornou tetracampeã do mundo, pois já triunfara em 2019, 2021 e 2023. No jogo para a disputa do 3º lugar, a França bateu Portugal por 35-34, o que significa que a equipa portuguesa teve um desempenho notável e conquistou o 4º lugar no Campeonato do Mundo, uma classificação absolutamente inédita no historial do andebol português e muito rara no nosso panorama desportivo.
Estiveram 32 equipas em competição e a equipa portuguesa obteve cinco vitórias (Estados Unidos, Brasil, Chile, Noruega e Espanha), um empate (Suécia) e duas derrotas (Dinamarca e França), mas estas duas equipas fazem parte da elite mundial do andebol, tendo a França sido campeã por seis vezes e a Dinamarca por quatro vezes, ou seja, a selecção portuguesa perdeu com "os tubarões".
A participação portuguesa foi realmente brilhante e para os desportistas portugueses foi mesmo inesquecível, destacando-se ainda que, entre os sete elementos da equipa ideal do mundo, foram eleitos dois jogadores portugueses. Para além do 4º lugar de Portugal há que destacar a classificação do Brasil (7º) e de Cabo Verde (23º), países que fazem parte da “Irmandade Lusófona”.
Nenhum jornal português, desportivo ou generalista, destacou devidamente o resultado da selecção nacional de andebol, tendo os jornais desportivos optado por tratar nas suas manchetes as vitórias futebolísticas do Benfica contra o Amadora e do Sporting contra o Farense. Uma tristeza. Um jornalismo panfletário. Um anti-jornalismo. Melhor andou o Večernji list que se publica em Zagreb e que, na sua edição de hoje, homenageia com orgulho os andebolistas croatas - os seus heróis de prata - que se classificaram em 2º lugar no 29º Campeonato do Mundo de Andebol.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Trump e o interesse económico americano

Na sequência das suas ameaças pré-eleitorais, Donald Trump deu início à sua anunciada guerra comercial, impondo tarifas aduaneiras de 25% aos produtos importados do Canadá e do México e uma taxa adicional de 10% aos produtos importados da China porque, segundo afirmou, “temos de proteger os americanos”. Além das razões económicas,  Donald Trump acusa esses países de serem responsáveis pela droga que entra nos Estados Unidos e que causa a morte a muitos americanos. Os governos canadiano e mexicano já reagiram e afirmaram que iriam responder, tendo o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau anunciado, de imediato, que iriam ser aumentadas as tarifas aduaneiras sobre os 155 mil milhões de dólares em produtos que o Canadá importa dos Estados Unidos.
Entretanto, o jornal Toronto Sun anunciava na sua edição de ontem – prepare-se para a confusão – ilustrando a guerra comercial que Donald Trump anunciou, com a imagem dos punhos de um boxeador canadiano e de um boxeador americano.
Sobre este assunto, o economista americano Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, comentou que “Trump está a ser brando com a China e duro para com o Canadá” e pergunta se estas decisões são em nome do “interesse nacional” ou em nome do “interesse pessoal”, porque está a impor tarifas duras a um aliado que “nada fez de errado”, enquanto trata “com luvas de pelica” um rival económico e potencial inimigo militar.
Entretanto, Donald Trump também anunciou que pretende impor tarifas aduaneiras à União Europeia no futuro próximo. Está visto, portanto, que o MAGA (Make America Great Again) assenta na defesa dos interesses económicos dos Estados Unidos, incluindo naturalmente, as vendas dos sectores da defesa e do armamento, que o Mark Rutte veio tão descarada e grosseiramente impingir a Portugal, como se o nosso país não fosse um estado soberano.