quinta-feira, 30 de junho de 2016

Há um longo caminho à espera da Escócia

Confrontada com a votação britânica que decidiu pelo abandono da União Europeia, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon voou para Bruxelas para conversar com a Comissão Europeia, na linha da sua declaração de que “a Escócia vê o seu futuro como parte da União Europeia”. Esse encontro com a Comissão Europeia poderia ter sido reconfortante para a Escócia e para a União Europeia, ambas feridas no seu orgulho pelo resultado do referendo britânico, até porque os ânimos começam agora a serenar e as emoções estão mais contidas.
Porém, os espanhóis e os franceses trataram de se opor às pretensões escocesas para ser aceite na União Europeia, como hoje destaca a imprensa espanhola e, de forma especial, o jornal El Periódico de Barcelona. A União Europeia só aceitará a Escócia se antes houver um efectivo divórcio entre a Escócia e a Inglaterra, cujo casamento criou o Reino Unido em 1707. Significa que foram travados quaisquer precedentes que amanhã se pudessem colocar em relação à independência da Catalunha ou da Córsega ou de qualquer outra região desses países.
Assim, a saída para esta situação criada pela imbecilidade de David Cameron terá que ser encontrada dentro do Reino Unido, através dos mecanismos existentes, de entre os quais se destaca a eventual realização de um referendo semelhante ao que se realizou no dia 18 de Setembro de 2014, em que 44,7% dos escoceses votaram pela independência e 55,3% votaram pela permanência no Reino Unido. Os tempos e as circunstâncias mudaram, mas o facto é que a Escócia e Nicola Sturgeon têm um longo caminho pela frente.

terça-feira, 28 de junho de 2016

A Escócia reagiu e a luta já recomeçou

Pela voz de Nicola Sturgeon, a primeira-ministra da Escócia, foi afirmado que “o Reino Unido pelo qual os escoceses votaram para permanecer em 2014 já não existe”, o que parece ser uma declaração no sentido de se voltar a perguntar aos escoceses se querem ou não pertencer a este Reino Unido que decidiu abandonar a União Europeia.
O resultado do referendo de 23 de Junho deu 51,9% de votos a favor da separação e 48,1% de votos contra, mas na Escócia (62%) e na Irlanda do Norte (55,7%), a maioria votou a favor da permanência na União Europeia.
No dia seguinte ao referendo, Nicola Sturgeon afirmou que “a Escócia vê o seu futuro como parte da União Europeia” e declarou ao The National, o jornal independentista escocês que se publica em Glasgow: “Eu estou orgulhosa da Escócia e da forma como votou ontem. Nós provamos que somos um país moderno, voltado para o exterior e inclusivo. Dissemos claramente que não queremos sair da União Europeia. Eu estou determinada a fazer o que for necessário para concretizar estas aspirações”.
Nicola Sturgeon é membro do Partido Nacional Escocês e foi apoiante da independência da Escócia no referendo realizado em 18 de Setembro de 2014.e as suas declarações não deixam quaisquer dúvidas, ao afirmar que é "altamente provável" que se realize um novo referendo sobre a independência.
A união dos Reinos da Escócia e da Inglaterra existe desde 1707 mas agora corre sérios riscos de haver uma separação, provavelmente ainda mais complexa e traumática do que a separação da União Europeia. Entretanto, Nicola Sturgeon já pediu uma audiência a Jean-Claude Juncker...

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Argentina perde e Leonel Messi retira-se

Terminou a Copa América Centenário 2016 e, no jogo da final, a equipa do Chile venceu a equipa da Argentina, depois de 120 minutos sem golos e com a discussão final a ser feita através de remates da marca de grande penalidade. Nessas condições, tudo pode acontecer e, nesta final, foi a Argentina que perdeu. O problema foi que essa derrota resultou de uma defesa do guarda-redes chileno e de um remate que nem acertou na baliza feito por Leonel Messi, o capitão da equipa e a grande estrela do futebol argentino e mundial.
A imprensa argentina, incluindo o diário Clarin que se publica em Buenos Aires, destaca hoje nas suas primeiras páginas a fotografia de Leonel Messi vergado pela derrota e pelo seu remate falhado, descrevendo a “maldição” que persegue a sua equipa de futebol que vive um jejum de 23 anos sem qualquer título internacional e que já acumula sete derrotas em sete finais mundiais ou americanas. O próprio Messi acaba por ser um símbolo desse jejum, pois tendo vencido cinco troféus da Bola de Ouro para o melhor jogador do mundo, já soma quatro finais e quatro derrotas na Copa América (2007 com o Brasil, 2015 e 2016 com o Chile) e no Campeonato do Mundo (2014 com a Alemanha).
Depois de 113 jogos pela selecção argentina e de ter marcado 55 golos com a camisola 10, Leonel Messi reagiu a mais esta derrota e declarou que “se terminó para mi la selección”, o que provocou uma onda de tristeza geral a juntar à frustación e à decepción da derrota. Por isso, vários jornais utilizaram a sua primeira página para suplicar a Leonel Messi: No te vayas. Certamente que Messi vai repensar a sua declaração e vai fazer o mesmo que  fez o agente internacional da Mota-Engil em Portugal, isto é, foi irrevogável durante meia dúzia de horas até lhe acenarem com uma cenoura qualquer.

O grande imbróglio espanhol

A Espanha é o único país com que temos fronteira terrestre e com ela partilhamos tanta coisa, desde a história à cultura, passando por muitas outras afinidades, por muitas interacções económicas e, naturalmente, por muitas rivalidades. A história fez da Espanha um dos maiores países da União Europeia, pelo seu peso económico e demográfico, mas também pela sua influência internacional e, por isso, tudo o que se passa em Espanha é muito importante para Portugal enquanto vizinho, mas também para a estabilidade europeia, sobretudo quando o recente resultado do referendo britânico trouxe demasiada incerteza ao futuro.
Havia por isso uma grande expectativa à volta das eleições que ontem se realizaram em Espanha, mas de facto elas não trouxeram nada de novo, isto é, o impasse que se verificara nas eleições de 20 de Dezembro de 2015, repetiu-se nas eleições de 26 de Junho de 2016. É certo que Mariano Rajoy e o Partido Popular saíram reforçados e que os partidos da esquerda perderam algum terreno como diz o El Pais, mas o facto é que é precisa muita imaginação para pensar que depois de muitos meses de negociações infrutíferas, os mesmos protagonistas façam agora alianças que permitam juntar os 175 deputados necessários para formar uma maioria de governo. É uma matemática muito complexa. Mariano Rajoy, Pedro Sanchez, Pablo Iglésias e Albert Rivera já devem estar fartos de si mesmos e dos outros, bem como das propostas e das acusações de cada um. O rei Filipe V também já deve estar cansado de tentar resolver este imbróglio e agora, que vê as férias estragadas, também deve estar num beco sem saída. Assim, será o galego Mariano Rajoy que continuará a governar, mas sem a força e a legitimidade que agora eram necessáriam para falar alto em Bruxelas.

domingo, 26 de junho de 2016

Que venha o futebol para animar o povo

O ambiente de euforia e de entusiasmo que tem sido criado de uma forma algo desproporcionada à volta do Europeu de Futebol que se está a realizar em França, teve ontem à noite um momento de grande espectáculo já depois das 22 horas. Jogava-se o jogo Portugal-Croácia dos oitavos de final. Era uma partida muito equilibrada, onde o receio pelo valor do adversário parecia ser a táctica de cada uma das equipas. Jogaram-se 90 minutos sem arte e sem golos. Houve necessidade de fazer um prolongamento de 30 minutos para tentar resolver a questão. Ao minuto 117º, quando já se esperava por uma decisão através dos pontapés de grande penalidade, numa jogada simples mas muito eficaz, a equipa portuguesa meteu um golo por intermédio de Ricardo Quaresma. Foi o delírio!
Em tempos de notícias desagradáveis como são a decisão britânica de abandonar a União Europeia ou a situação melindrosa da CGD, esta vitória futebolística serve para animar o povo que sofre e labuta e que, ainda por cima, vai pagar todas as poucas vergonhas feitas na CGD, tal como tem vindo a pagar tudo o que se evaporou no BPN, no BES e no Banif, enquanto os responsáveis continuam sem ser chamados a prestar contas pelas suas incompetências, leviandades e abusos. É natural, portanto, que toda a imprensa portuguesa celebre hoje a vitória sobre a Croácia e o golo de Quaresma. E, nestas coisas, também não há que iludir a minha própria realidade, isto é, uma coisa é a crítica aos excessos dos jornalistas e dos comentadores geralmente medíocres, outra coisa é a minha participação nesta alegria que o futebol ainda proporciona aos portugueses.
Entretanto, no mesmo dia, um português chamado Fernando Pimenta tornou-se campeão europeu de canoagem. Ninguém falou nisso...

sábado, 25 de junho de 2016

A paz chegou à Colômbia

No mesmo dia em que os britânicos votaram no referendo sobre a sua saída ou permanência na União Europeia, foi assinado em Havana um acordo de cessar-fogo bilateral e definitivo entre o governo da Colômbia e o comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a guerrilha que conduziu uma insurreição contra a autoridade do Estado colombiano durante mais de meio século. O acordo foi assinado pelo Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e por Timoleón Jiménez (ou Timochenko), o comandante das FARC, numa cerimónia a que estiveram presentes o secretário-geral das Nações Unidas, mas também quase todos os chefes de Estado da América Latina e representantes dos Estados Unidos e da União Europeia. Como anfitrião esteve Raúl de Castro, a simbolizar a nova imagem de Cuba e, para trás, ficaram 52 anos de guerra, mais de 260 mil mortos e desaparecidos e cerca de 6,6 milhões de refugiados dentro do seu próprio país.
O acordo resultou de quatro anos de negociações em Havana, sob a mediação de Cuba e da Noruega, havendo agora um período de 180 dias para implementar no terreno as cláusulas do acordo de paz. Segundo as notícias divulgadas, os colombianos festejaram este acordo em ambiente de enorme euforia e, na realidade, o caso não é para menos, tendo-se até esquecido que nesse mesmo dia a sua selecção nacional de futebol perdeu com o Chile por 2-0 e falhou o acesso à final da Copa América de 2016.
Porém, no meio da avalanche mundial de notícias dos últimos dias, esta grande notícia que foi o fim de 52 anos de guerra e o regresso da paz à Colômbia quase não teve divulgação fora do país.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Foi um cartão vermelho para esta Europa!

Nas últimas eleições legislativas britânicas e com o objectivo de ganhar votos, o primeiro-ministro David Cameron prometeu um referendo destinado a decidir pela permanência ou pela saída britânica da União Europeia. Assim surgiram o Bremain e o Brexit, a suscitar paixões e a conjugar interesses. Ontem, quando os britânicos foram às urnas, as sondagens mostravam um grande equilíbrio entre as duas posições, mas esta manhã os resultados apurados mostraram que os apoiantes do Brexit tinham ganho com 51.9%, isto é, a Grã Bretanha decidira sair da União Europeia. A bomba rebentou nas mãos de Cameron. Foi um balde de água fría para muita gente. Com esta decisão democrática, adivinham-se tempos de instabilidade, de incerteza e de insegurança, não só nas Ilhas Britânicas, mas também na Europa. A Escócia e a Irlanda do Norte votaram pela permanência e vão certamente reagir, mas Londres também votou a favor da permanência com 75% dos seus votos, tal como Oxford com 70% e Glasgow com 66%. A fragmentação, quer do Reino Unido, quer da União Europeia, é uma possibilidade real, sobretudo se não houver renovação europeia das lideranças e das políiticas cegas que têm sido prosseguidas.
Para muitos comentadores o voto britânico foi um voto emocional e de protesto pela arrogância de Bruxelas, que esqueceu os seus deveres de solidariedade e de construção de um ideal europeu. Foi um voto contra os emigrantes, contra os refugiados e, também, foi um voto a rejeitar o rumo que a Europa tem escolhido. As consequências desta situação são imprevisíveis e mostram aquilo que tem sido repetidamente afirmado a respeito da má condução da União Europeia, dominada por interesses e por burocratas. O facto é que os britânicos mostraram um cartão vermelho para esta Europa que vive sem rei nem roque e cuja figura de proa é, actualmente, essa sinistra figura que dá pelo nome de Jeroen Dijsselbloem. É muito cedo para previsões, mas o ambiente não está nada animador. Esta manhã os jornais impressos ainda não tinham dado a notícia do referendo, com excepção da edição especial do The Wall Street Journal.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Há portugueses que não são como nós

A política em Portugal tem sido transformada numa enorme embarcação salva-vidas, onde a generalidade dos seus passageiros entra com pouca coisa ou de mãos vazias, mas que quando desembarca vem com as mãos bem cheias. Uns encostam-se a bombordo, outros alinham-se por estibordo, mas toda essa gente sem escrúpulos não tem outro objectivo que não seja tirar partido das circunstâncias e enriquecer, tendo passado pela política de forma desonesta e sem sentido do bem comum. Essa gente deslumbra-se com a sua própria ignorância, desfaçatez e perversidade e, muitas vezes, faz gala na exibição de um novo-riquismo que tende a esconder as suas origens sociais bem modestas, mas certamente mais dignas. O seu objectivo é apenas o de enriquecer e todas as artimanhas valem para cumprir esse plano. Os exemplos são infelizmente tantos, quase sempre escondidos por uma comunicação social incompetente e que parece estar ao serviço desse tipo de gente e dos seus interesses.
Na sua última edição o Expresso revelou na sua 1ª página mais um caso muito interessante, a respeito do antigo ministro Manuel Pinho, que foi alto funcionário do BES e que, recentemente, vira ser-lhe negado pelos tribunais um acordo de pensão de reforma de 7,5 milhões de euros e a atribuição de uma pensão vitalícia de 21.500 euros mensais, a que se considerava com direito. Agora, em novo processo, Manuel Pinho exigia o pagamento de 273 mil euros e juros, correspondentes a uma remuneração mensal de 39 mil euros que deveria receber até Dezembro de 2017, enquanto administrador do BES Africa, agora chamado Novo Banco África. O tribunal voltou a recusar esta exigência e revelou que Manuel Pinho apenas estivera em 11 das 18 reuniões realizadas pelo BES Africa desde 2010 pelo que, de facto, já tinha recebido 217 mil euros por cada reunião.
É obra: 217 mil euros por reunião!
Apetece-me parafrasear José de Almada Negreiros, poeta d’Orpheu Futurista e Tudo,  no seu Manifesto anti-Dantas:
               O Dantas-Pinho é o escarneo da consciência!
              Se o Dantas-Pinho é portuguez eu quero ser hespanhol!

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Irresponsabilidade na gestão das Finanças

Contrariamente ao que alguma imprensa e muita televisão têm omitido ou têm tratado com uma exagerada cumplicidade, durante os mais de quatro anos de governo em que se quis ir “para além da troika” e em que os nossos governantes se deixaram humilhar  pelos diktats de Bruxelas e Berlim, as coisas não correram nada bem. A Europa impôs uma austeridade que provocou uma enorme recessão, um grande aumento do desemprego e muita emigração, mas quis mostrar o caso português como um exemplo de sucesso, quando na verdade foi um caso de grande hipocrisia, de muita mentira e de grossa promiscuidade em que os nossos governantes participaram, sem pudor nem emenda. Todos nos lembramos da forma ilegítima como Bruxelas procurou impedir que tivéssemos um novo governo, pois havia a intenção de manter em Lisboa um governo de marionetas, mas a estratégia não resultou. Os casos da CGD e do Banif são exemplares para provar que a governação de Passos e de Portas, mas também de Gaspar e Maria Albuquerque, foi uma monumental mentira, pois deixaram estes casos armadilhados e ainda tiveram a desonestidade de falar em saída limpa.
Passados alguns meses, Bruxelas parece estar a mudar de ideias e, segundo o jornal i, “Bruxelas arrasa Maria Luís e Vítor Gaspar no caso Banif”, em que objectivamente nada fizeram.
Foram incompetentes e irresponsáveis. Agora aproxima-se o caso CGD e, embora deva haver muita gente sem sombra de pecado, o facto é que o problema é grande e já vinha de trás, sem que aquelas poderosas eminências que governaram as nossas Finanças Públicas (e que depois arranjaram belos empregos à custa disso), nada tivessem visto. Não será a altura de lhes pedir responsabilidades? Que a Justiça apure o que se passou.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O escândalo político continua no Brasil

Ao 34º dia do governo interino de Michel Temer, caiu mais um ministro brasileiro. Foi o terceiro desde que o actual governo entrou em funções e, é caso para dizer, que os escândalos se sucedem. Desta vez foi Henrique Alves, o Ministro do Turismo, que perante a denúncia de ter recebido a famosa proprina da Petrobras, decidiu pedir a demissão do seu cargo. Os jornais que tanto atacaram a Presidente Dilma Rousseff, levando ao seu afastamento e ao desencadeamento de um processo de impeachment, parece que estão agora a ver o imbróglio em que ajudaram a meter o Brasil, pois todos referem a demissão de Henrique Alves e o escândalo internacional que começa a ser esta novela política brasileira.
A sociedade brasileira está muito dividida e as consequências dessa divisão podem ser graves em todos os planos, sobretudo social e económico. Não havendo nenhuma acusação pela prática de crimes nem por práticas de corrupção, a ideia de que o afastamento de Dilma Rousseff teve fundamentos golpistas e teve em vista a tomada do poder por vias não eleitorais, ganha cada vez mais consistência na Europa. Aparentemente, há largos sectores da sociedade brasileira, uns de esquerda e outros de direita, que estão doentes e que perderam a noção da grandeza do seu país, usando todos os meios ilegítimos e ilegais para enriquecerem através de golpes e práticas corruptas. A notícia de hoje da Folha de S. Paulo aponta para mais este escândalo e para o beco sem saída que foi criado e, por isso, os brasileiros terão de rapidamente ir às urnas para escolher quem os governe.

CGD: o que mais nos irá acontecer?

Nos últimos anos temos sido confrontados com um verdadeiro assalto a tudo o que garanta poder e dinheiro, sobretudo bancos e empresas, numa acção executada por gente gananciosa e sem escrúpulos, muitas vezes disfarçada sob a capa de iluminadas competências de gestão. Ao longo de nove séculos de história, não há memória de alguma vez a Nobreza ou o Clero terem roubado o Povo e assaltado o país, como tem sido feito agora por uma nova classe de burlões, que pomposamente se classificam como empresários ou como gestores. Geralmente vieram da província, passaram por uma qualquer universidade onde conquistaram um qualquer canudo, inscreveram-se num partido político para ter emprego, primeiro no Estado ou até com um lugar subalterno no Parlamento e, depois, foi sempre a somar. Hoje são ricos e influentes, estando convencidos de pertencerem a uma qualquer elite ao exibirem as suas mansões, os seus carros e as suas viagens. 
As vergonhas já são tantas que nem vale a pena enumerá-las. Foram as privatizações ideológicas e os créditos mal avaliados. Foram os negócios e os favores, com a cumplicidade da imprensa e dos jornalistas que abdicaram do seu dever de informar e esqueceram o meu direito a ser informado. Os boys tomaram conta disto tudo. Há muitos milhões de euros que ninguém sabe onde estão, devorados no BPN e no BES, no BCP e no BANIF. Os responsáveis andam por aí. Acumulam cargos e cargos. Muitos continuam a enriquecer de forma obscura.
Agora saltou-nos ao caminho o caso CGD, a mesma entidade que numa conta de três ou quatro mil euros me roubou durante muitos meses e sem me avisar, cinco euros mensais para despesas de manutenção, ao mesmo tempo que distribuia milhões sob a forma de créditos aos amigos. Que promiscuidade. Que burla. Que vergonha. Não é caso para Comissões de Inquérito que não servem para nada. É mais um caso para a Justiça, para acabar com a impunidade e para que as fortunas indevidamente acumuladas sejam devolvidas por quem delas se apossou.

Lisboa e o feliz regresso dos jacarandás

Rua Castilho, em Lisboa
Os jacarandás floridos aí estão de volta e a dar cor e vida à cidade de Lisboa. Embora esta ano tivessem florido alguns dias mais tarde do que é o habitual, certamente devido às alterações climáticas, os jacarandás estão agora no seu esplendor e a desafiar os amantes da fotografia um pouco por toda a cidade, mas sobretudo nos sítios do costume, isto é, no Parque Eduardo VII, no Campo Pequeno, em Santa Apolónia, na avenida de D. Carlos I, na avenida 24 de Junho, na rua Rodrigo da Fonseca e em tantas outras ruas e avenidas.
É um verdadeiro festival de lilás a embelezar a cidade de Lisboa. As copas floridas das árvores deslumbram e, durante duas ou três semanas, oferecem um espectáculo de uma beleza singular, ao mesmo tempo que as pétalas que se libertam formam verdadeiros tapetes lilases que cobrem as ruas e as avenidas. Em boa verdade, o jacarandá merece um estatuto especial na cidade e bem poderia ser um dos seus ex-libris, tal como o Tejo, os corvos e a sardinha, o fado e os santos populares, o cacilheiro ou a Torre de Belém.
É certo que os jacarandás e as suas flores provocam alguma irritação nos automobilistas que estacionam nas proximidades pois tendem a manchar os seus automóveis, mas isso é muito pouco perante tão sugestivo espectáculo de cor. Viva o jacarandá!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

O BREXIT é a caixa de Pandora europeia?

 
Falta apenas uma semana para que os britânicos decidam em referendo sobre a sua permanência na União Europeia e o nervosismo está a tomar conta de muita gente, não só no Reino Unido, mas um pouco por todo o mundo. Poderá ser o princípio do fim do sonho europeu, mas é certamente um grande sobressalto e o princípio de uma nova vida para a Europa.
A decisão de realizar este referendo é um desafio para a burocracia instalada em Bruxelas e é uma crítica muito dura à forma, por vezes irresponsável, como a União Europeia tem sido governada. Nas últimas semanas têm-se discutido os prós e os contras da saída ou da permanência britânica. Hoje mesmo essa discussão ficou marcada pela tragédia, com o brutal assassinato de Jo Cox, a deputada trabalhista “que lutava por um mundo melhor” e que entendia que a permanência do Reino Unido na Europa era um contributo para a paz e para o progresso.
A situação é muito complexa. A incerteza é grande. A eventual saída do Reino Unido da União Europeia pode impulsionar outros movimentos separatistas e aumentar o cepticismo relativamente à integração e à coesão europeias, sobretudo nos países em que os partidos eurocépticos  são importantes, alguns dos quais já exigiram a realização de referendos semelhantes, como são os casos da Dinamarca, da França, da Holanda e da Suécia. Depois, a Escócia apelará a novo referendo para se desligar do Reino Unido, talvez a Catalunha declare unilateralmente a sua independência, pode acontecer a dissolução do Estado Belga e a constituição da Valónia e da Flandres. Depois, outros fantasmas acordarão nesta "Europa das pátrias". A caixa de Pandora pode abrir-se na próxima quinta-feira e, embora não liberte todos os males do mundo, pode tornar irreversível a desagregação da Europa Unida com que sonharam Konrad Adenauer, Jean Monnet, Robert Schuman e Paul-Henri Spaak, entre tantos outros.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Euro 2016: os males do excesso de euforia

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Iniciou-se ontem à noite em Saint-Étienne a participação portuguesa no Euro2016 e, como hoje titula o jornal A Bola, Portugal bateu no muro. Se foi assim e porque os muros já lá estavam, haveria que evitá-los e parece que pouco se fez para isso. Aconteceu o empate porque os islandeses também entraram em campo para discutir o jogo mas, para já, não vem mal ao mundo por isso.
O problema é que o resultado foi inesperado e até causou perplexidade em alguns jornalistas e comentadores fanáticos que, em vez de darem algum realismo ao que disseram nos dias que antecederam esta estreia pouco brilhante da equipa portuguesa, trataram de endeusar a equipa e cada um dos seus jogadores, por vezes com uma sobranceria e um servilismo a roçar o ridículo. Foi realmente pavoroso observar o que foi dito pela generalidade dos jornalistas e comentadores que encheram as televisões, com transmissões directas por tudo e por nada, que iludiram  os adeptos com a ideia de que “eram favas contadas” e que até “podemos ser campeões europeus”. Os adeptos que percorrem milhares de quilómetros, que pagam bilhete, que pintam a cara de verde e vermelho, que apoiam, gritam e se entusiasmam com a equipa do seu país, mereciam outros comentadores e outros comentários.
Portanto, o problema não foi o empate que é um resultado normal, mas a excessiva euforia que os jornalistas e comentadores passaram para os adeptos, que são quem sofre, quem paga e quem se ilude com o discurso desses papagaios mais ou menos engravatados. Porém, porque ainda faltam mais jogos, os adeptos ainda se poderão alegrar porque os jogadores irão fazer o seu melhor.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Marcelo e Costa dão lição de optimismo

A decisão presidencial de comemorar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Paris revelou-se muito acertada, na medida em que deu origem a uma sucessão de eventos de grande importância política, não só em relação ao país que é um dos pilares da União Europeia, mas também em relação à coesão cultural dos portugueses que vivem em França.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa prestaram um serviço notável ao nosso país e puseram François Hollande, Manuel Valls e Anne Hidalgo a falar de Portugal e dos Portugueses, ao mesmo tempo que deram um enorme contributo para melhorar a auto-estima da comunidade portuguesa em França e para lhe devolver um pouco do orgulho nacional perdido. Sem qualquer subserviência ou complexo, como antes acontecera, aqueles dirigentes estiveram à altura da nossa tradição cultural e da nossa dignidade como a mais antiga nação da Europa. Como disse Marcelo, “a França é excepcional, mas nós somos muito melhores”, na linha do que dissera François Hollande ao declarar que “Portugal honra a França”.
Porém, esta decisão presidencial também teve efeitos relevantes no plano interno ao mostrar que é possível partilhar objectivos e estratégias, mesmo quando os responsáveis políticos são oriundos de famílias políticas diferentes, o que se traduz na continuação de um desanuviamento que só pode trazer benefícios ao nosso país em todos os domínios.
O entusiasmo que ferve à volta do Europeu de Futebol e as altas expectativas que rodeiam a participação portuguesa, também contribuiram para gerar esta onda de optimismo em relação à presença dos nossos mais destacados políticos em França. Foi uma oportunidade que não foi perdida. Ninguém ficou indiferente ao nível cultural dos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa, despidos de economez, de mercados financeiros, de estatísticas e daquele provincianismo tão característico dos políticos que vieram de Massamá ou de Boliqueime. Aqui, mas também por essa Europa fora, bem precisamos de homens como aqueles que têm estado em França..

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Portas serviu sempre a Mota-Engil.

Paulo Portas e Mota-Engil: uma relação muito antiga
Apesar de tudo o que a vida já nos mostrou ao longo dos anos, ainda há coisas que nos surpreendem e, uma dessas surpresas acontece na esfera política, com a ambição desmedida de certos figurões, com a sua enorme ganância pelo dinheiro e com a forma despudorada como ultrapassam todos os princípios da ética e da moral política. São indivíduos que, depois de uma militância numa qualquer Jota, entram política para depois irem à caça do tesouro, tornando-se nuns desprezíveis mercenários, nem sempre escondidos em sociedades de advogados.
Um desses indivíduos é Paulo Portas, um rapazola de quem nunca se conheceu profissão nem actividade profissional e que tem vivido à custa dos amigos, da troca de favores e daquele invento que foi o arco da governação. De Portas ninguém esquece a retórica vazia, nem o insulto frequente, nem o tempo d’O Independente em que dizia mal de tudo e levantava suspeitas contra todos. Ninguém esquece o tempo em que maldizia a integração europeia, nem o tempo nebuloso em que se passeava de Jaguar pago pela controversa Universidade Moderna. Ninguém esquece, também, a forma golpista e desleal como chegou ao poder no CDS, nem a afronta que foi a retirada da fotografia do fundador do seu partido das paredes da sede, nem a suspeita de que nunca se libertou a respeito dos submarinos. Mais recentemente, também ninguém esquece o discurso do irrevogável e a sua ascensão a vice-primeiro-ministro. É um troca-tintas e um camaleão.
Pois foi este figurão que, entre 2012 e 2015 levou a Mota-Engil ao México e à Colômbia por duas vezes, mas também ao Peru e ao Brasil, integrada nas suas comitivas. Será que enquanto membro do governo, Portas já era da Mota-Engil? Será que Portas foi sempre da Mota-Engil? Parece que foi ou foi mesmo? Depois de muitos anos no governo e de ter guardado muitos milhares de fotocópias, de se ter passeado pelo mundo inteiro à nossa custa e de ter ido à Índia inaugurar ginásios dos amigos, este rapazola decidiu ganhar dinheiro e, vai daí, saiu do armário e deu a cara pela Mota-Engil, com a qual já estava em união de facto há muito tempo. Que gente sem vergonha. Que pobre país este…

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Hil, a mulher que vai “mandar” no mundo

No dia 7 de Junho de 2016, exactamente oito anos depois de ter sido derrotada por Barack Obama nas eleições primárias do seu Partido Democrático, a senadora Hillary Clinton “vingou-se” e tornou-se a primeira mulher candidada à Presidência dos Estados Unidos.
Embora o seu adversário directo Bernie Sanders, o senador independente de Vermont, ainda não tenha desistido da corrida presidencial, a nomeação de Hillary Clinton está já assegurada. A imprensa americana afecta aos Democratas encheu as suas primeiras páginas com a fotografia da mulher que "fez História" e, a partir de agora, ela terá a tarefa de reunir as diferentes famílias democratas que estiveram separadas durante uma longa e dura campanha eleitoral e, sobretudo, derrotar Donald Trump, o candidato republicano.
Aos 68 anos de idade, Hillary Clinton tem a seu favor a experiência política que a favorece em relação ao controverso e inexperiente candidato Donald Trump e poderá beneficiar do apoio de Obama e da sua política de desanuviamento em relação a Cuba e ao Vietnam, ao contrário do seu adversário cujo discurso tem sido muito agressivo interna e externamente.
Numa perspectiva europeia, a candidatura democrata é sempre mais apaziguadora e o mundo precisa de pacificação, embora a senadora Clinton, enquanto Secretária de Estado entre 2009 e 2013, não esteja isenta de responsabilidades nos graves problemas que destabilizaram a Síria, a Líbia e a Ucrânia, que ainda estão por resolver.
Até Novembro de 2016 ainda vai correr muita água debaixo das pontes, mas parece cada vez mais provável que Hillary Clinton vai “mandar” no mundo.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A festa do rio Tejo é no dia 18 de Junho

 
No próximo dia 18 de Junho a zona ribeirinha da cidade de Lisboa, especialmente nas proximidades do Cais das Colunas, vai animar-se quando algumas dezenas de embarcações típicas do Tejo devidamente engalanadas para aí convergirem a partir das dez horas e trinta minutos da manhã.
É o Dia da Marinha do Tejo, o principal evento promovido pela Associação dos Proprietários e Arrais das Embarcações Típicas do Tejo (APAETT), que movimentará dezenas de canoas e faluas, varinos e botes, num colorido e movimentado encontro fluvial que, certamente, deliciará aqueles que em terra possam assistir a tão espectacular acontecimento. Tem sido assim todos os anos e, este ano, não deixará de ser da mesma maneira, para satisfação de quem gosta do Tejo e de quem gosta de fotografar as actividades marítimas.
Portanto, aqui fica a minha recomendação: no dia 18 de Junho vá até ao Terreiro do Paço e assista a um espectáculo único que nos evoca a vida marítima do grande estuário do rio Tejo.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Há guerras do futebol que são ridículas

Os principais jornais ingleses exibem hoje na primeira página das suas edições uma fotografia de uma cidadã portuguesa especializada em medicina desportiva que chefiou a equipa médica do Chelsea FC desde 2009 a 2015. Chama-se Eva Carneiro, nasceu em Gibraltar, estudou na Universidade de Nottingham e tem 42 anos de idade.
Em Junho de 2013, quando o treinador José Mourinho deixou o Real Madrid e regressou ao Chelsea FC, encontrou Eva Carneiro. Tudo parecia correr com normalidade profissional entre ambos mas, em Agosto de 2015, quando a médica entrou em campo para assistir um jogador nos últimos minutos do jogo com o Swansea City, o treinador repreendeu-a publicamente e mostrou-se  muito irritado, até porque o Chelsea empatou esse jogo. A cena não passou despercebida a ninguém e a situação degradou-se depois, pelo que o clube despediu a médica que, naturalmente, recorreu aos tribunais com uma dupla acção, contra o clube que a despediu e contra o treinador que a insultou com "linguagem discriminatória". Para ultrapassar a situação, o clube e o treinador propuseram à médica um acordo extra-judicial que envolve uma indemnização de 1,2 milhões de libras (1,5 milhões de euros), masa médica recusou ontem essa proposta e insiste em que a acção prossiga contra o clube e o seu antigo treinador.  Não tenho informação sobre o caso nem sou juiz, mas o que é relevante é que em vésperas do Brexit ou não Brexit, a imprensa inglesa dê tanta importância a um caso destes, bem típico das guerras do futebol.

sábado, 4 de junho de 2016

O gigante dos mares que não vem a Lisboa

O Harmony  of the Seas da Royal Caribbean, que é o maior navio do mundo com 331 metros de comprimento, navega hoje ao largo de Cartagena em direcção a Barcelona, para completar o seu cruzeiro inaugural de oito dias que se iniciou em Southampton. A bordo seguem 2394 tripulantes e 5475 passageiros, alojados em cabines espalhadas por doze dos dezassete pavimentos do navio, a confirmar que se trata realmente de uma cidade flutuante.
A viagem inaugural teve preços desde 999 dólares, escalou Vigo, Málaga e dirige-se para Barcelona, dando um bom contributo para a economia daquelas cidades espanholas. O jornal Málaga hoy destaca hoje a visita daquele gigante dos mares, tal como na véspera tinham feito os jornais galegos a propósito da escala em Vigo. Até Novembro o navio fará cruzeiros pelos portos mediterrânicos espanhóis, franceses e italianos. Depois, atravessará o Atlântico e a partir de Fort Lauderdale tem cruzeiros programados para as Caraibas até Abril de 2018.
Pelo menos até essa data, isto é, nos próximos dois anos o porto de Lisboa não vai ver o Harmony of the Seas. É uma pena, porque o facto de haver quase 6 mil passageiros a desembarcar em Santa Apolónia e a percorrer a cidade e arredores durante dez horas, seria um acontecimento económico e cultural muito importante para a vida da cidade, para além do que representaria em termos da chamada competitividade entre cidades..
Porém, nem tudo corre mal, pois a Royal Caribbean tem prevista a regular escala de alguns dos seus grandes navios em Lisboa. Sejam benvindos.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O Brasil não acerta o passo e afunda-se

O Brasil não acerta o passo e o governo de Michel Temer perdeu o seu segundo ministro em apenas uma semana, como informa O Globo, o principal diário do Rio de Janeiro. Depois do senador Romero Jucá ter deixado o Ministério do Planeamento no passado dia 23 de Maio, foi a vez de Fabiano Silveira – o ministro que era o responsável pelo combate à corrupção    pedir a demissão do cargo de Ministro da Transparência, Fiscalização e Controlo, por suspeita de tentar interferir no processo em curso da operação Lava-jato, conforme as escutas que foram divulgadas. Vista de longe, esta situação é realmente preocupante com esta sucessão de fragilidades, a mostrarem que o afastamento provisório de Dilma Rousseff foi uma precipitação interesseira de alguns sectores políticos e sociais brasileiros, pois a alternativa política não existia ou não estava preparada para exercer o poder.
Entretanto, as agências internacionais vão debitando previsões assustadoras em relação ao futuro, ao mesmo tempo que, em comparação com o mesmo período do ano passado, se anuncia uma retracção do PIB de 5,4% e uma quebra no consumo das famílias de 6,3%, enquanto o desemprego atinge um novo record de 11,2%.
Nestas circunstâncias parece haver apenas a solução de novas eleições tão rapidamente quanto possível, para dar legitimidade ao poder, para travar o ciclo recessivo que está a tomar conta da economia e para impedir que a crise social alastre e se agrave. Por isso, força Brasil!