sábado, 30 de abril de 2016

As fortalezas lusas do Algarve d’Além-Mar


A cidade portuguesa de Mazagão (El Jadida)

Durante alguns dias fui conhecer Ceuta e alguns locais da costa atlântica de Marrocos, a começar por Alcácer-Ceguer, Arzila e Tânger, a que se seguiram Azamor, Mazagão e Safim, onde as fortificações portuguesas com as suas muralhas e bastiões integram o património arquitectónico local e impressionam pela sua grandiosidade e até pelo seu estado de conservação. A aventura portuguesa em Marrocos começou em 1415 com a conquista de Ceuta, a que se seguiu a tomada de Alcácer-Ceguer (1458) e, depois, de Arzila e de Tânger (1471), pelo que o rei D. Afonso V passou a usar o título de “Rei de Portugal e dos Algarves, d’Áquem e d'Além-Mar em África”.
O senhorio português sobre este Algarve d’Além-Mar, nome que designava o conjunto de praças dominadas pelos portugueses no Norte de África, alargou-se com a ocupação de Safim (1508) e a conquista de Azamor (1514), a que se seguiu a construção de uma nova cidade em Mazagão. A orla costeira marroquina e o acesso ao mar Mediterrâneo, assim como as actividades marítimas na região, passaram a estar controlados pelos portugueses, embora pareça ser incontroverso que, por falta de meios, nunca procuraram o domínio territorial, tendo inclusive abandonado algumas das praças que dominavam. Após a restauração da independência em 1640, a praça de Ceuta optou por permanecer sujeita à coroa espanhola e em 1662 a praça de Tânger foi cedida à coroa inglesa como dote de D. Catarina de Bragança aquando do seu casamento com Carlos II de Inglaterra. Ficou Mazagão como a única fortaleza portuguesa, mas que veio a ser abandonada em 1769 por decisão régia.
Em 2004 as fortificações portuguesas de Mazagão, que hoje se integram na cidade de El Jadida, foram classificadas como património da Humanidade pela UNESCO e hoje são a melhor das memórias portuguesas em Marrocos.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Grandes talentos, grandes aumentos

Há algumas semanas atrás foi revelado com grande polémica à sua volta, que o gestor português Carlos Tavares, actual presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, tinha quase duplicado as suas remunerações de 2014 para 2015, passando dos 2,75 para os 5,2 milhões de euros. Muita gente se indignou com esta notícia, incluindo o primeiro-ministro francês Manuel Valls e os dois representantes estatais no conselho de administração daquele grupo automóvel, mas também os sindicatos, porque entendem que esta remuneração não corresponde à realidade em que vivem os assalariados  franceses.
Hoje o diário económico La Tribune retoma esse assunto, destacando a fotografia de Carlos Tavares na sua primeira página e divulgando um estudo sobre as remunerações dos gestores das 40 empresas que integram o CAC 40 (Cotation Assistée en Continu), o mais importante índice bolsista francês. Esse estudo revela que em 2015 o envelope remuneratório dos gestores do CAC 40 aumentou 32% em relação a 2014 e que, no ano de 2015, Carlos Tavares foi o sétimo gestor mais bem pago em França, tendo os seus proveitos totalizado 5 202 839,87 euros, que se repartiram por 1,3 milhões de euros de salário fixo, 1,93 milhões de euros de rendimentos variáveis e 130 mil ações do grupo, valorizadas actualmente em 2,01 milhões de euros. É muito dinheiro em qualquer parte do mundo, certamente porque o mérito é muito grande, como provam os resultados que alcançou. Esse estudo “absolveu” Carlos Tavares, ao salientar que Tavares méritait bien une grosse augmentation e associa esse mérito ao facto de ter recuperado o grupo que se valorizou 58,6% na sua cotação bolsista. O tempo da mala de cartão e do bidonville já lá vai. Como os tempos mudaram para os portugueses em França!

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Um veleiro mostra a outra face do Brasil

Nos últimos tempos as notícias que nos chegam do Brasil são alarmantes, não só pela crise económica e social que se está a aprofundar, mas também pela tensão política que está a dividir o país. As cenas absolutamente condenáveis a que assistimos pela televisão são indignas de um qualquer país democrático e não se enquadram em nenhum quadro constitucional. Goste-se ou não de um Presidente da República, a Presidente da República Federativa do Brasil é um símbolo da nação brasileira e resultou da escolha do povo em eleições livres. No exercício das suas funções, pode ou não ter cometido ilegalidades, pode ou não ser destituida, mas a sua figura não pode ser julgada e insultada num ambiente em que os deputados, muitos deles acusados de corrupção e de enriquecimento ilícito, se comportaram como se pertencessem a uma vulgar torcida de futebol ou a um bando de malfeitores.
Nesse ambiente de grande tensão, a notícia que hoje nos chega de Porto Alegre através do diário ZH é bastante desanuviadora: o veleiro Cisne Branco, a que o jornal chama “embaixada flutuante” vai estar no cais de Porto Alegre e vai poder ser visitado pela população nos próximos dias. O navio pertence à Marinha do Brasil, foi construido nos estaleiros Damen Shipyard em Amesterdão e foi encomendado para as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, tendo entrado ao serviço no ano de 2000. Actualmente, representa o Brasil em eventos náuticos nacionais e internacionais, podendo ser utilizado como navio-escola. Se os deputados brasileiros pudessem visitar o Cisne Branco e inspirar-se no seu simbolismo histórico-cultural, certamente sentiriam um brutal arrepio pelo seu lamentável comportamento que envergonhou o Brasil e talvez aprendessem a tomar as suas legítimas decisões de forma ordeira e sem ofender a dignidade presidencial.

A espanholização da banca portuguesa

O diário económico espanhol Cinco Dias anunciou que a banca portuguesa está mais espanhola, antecipando já que a oferta pública de aquisição (OPA) do banco CaixaBank sobre o português BPI vai ser bem sucedida. A confirmar-se essa operação, depois do Banif ter sido engolido pelo Santander, teremos mais um passo no sentido da chamada espanholização da banca portuguesa.
Porém, o assunto é muito complexo e muito confuso para quem não acompanha as negociatas da finança, porque envolve muita gente. Tudo começou com o BCE a impor as regras da harmonização bancária da União Europeia e a exigir que os dois principais accionistas do BPI, respectivamente o espanhol CaixaBank (44,09%) e a angolana Santoro Finance, Prestação de Serviços (18,57%) se entendessem em relação ao exercício do poder no governo do banco, um problema que interessa à economia e ao sistema financeiro português. Tudo parecia correr bem. A Santoro Finance cedia a sua participação ao CaixaBank e a Santoro Finance ficava com a posição indirecta que o CaixaBank tem no banco angolano BFA. Era uma quase troca e as autoridades portuguesas festejaram o bom sucesso do entendimento e o fim da guerra pela disputa no BPI, mas foi sol de pouca duração. Poucos dias depois a Santoro Finance veio recusar o acordo, quando a imprensa angolana já anunciava que “Isabel dos Santos era maioritária no BFA” e a imprensa espanhola anunciava o domínio do BPI pelo Caixa Bank. Então, o CaixaBank arrancou com uma OPA sobre o BPI e começou a tratar de arranjar 1600 milhões de euros para o efeito, enquanto a Santoro Finance terá dado um passo atrás e já admitiu voltar à mesa das negociações. É preciso que o bom senso regresse, mas não há dúvidas que a “nossa” banca só nos dá dores de cabeça. E não deixa de ser curioso lembrar a arrogância com que essa mesma banca sempre nos tratou nos tempos das vacas gordas.

terça-feira, 19 de abril de 2016

As muito famosas trabalhadoras da moda

Nem a problemática, nem os protagonistas da indústria da moda me interessam muito, mas a frequência com que são tratados nos mass media e as contínuas aparições das trabalhadoras da moda, sobretudo na televisão e nas capas das revistas que estão penduradas nos quiosques, acabam por produzir algum efeito, mesmo naqueles que, como eu, são mais avessos à moda e às suas circunstâncias.
Acontece que, desde há muitos anos, sou bombardeado pela figura de Sara Sampaio, uma jovem portuense de 24 anos de idade que é trabalhadora da moda e que tem sido promovida internacionalmente como modelo ou como supermodelo. Parece que ficou conhecida depois de ganhar em 2007 um concurso chamado Cabelos Pantene, quando ainda era adolescente e, depois, foi só avançar numa profissão que parece ser muito exigente e muito competitiva. Naturalmente que teve sorte, que foi muito ajudada e que passou a aparecer por todo o lado, porque é inteligente ou porque tem tido um bom gestor de carreira. As revistas femininas e outras passaram a informar o que ela faz e o que não faz. Por onde anda e por onde não anda. Quem é ou quem não é o seu namorado. A sua notoriedade só é ultrapassada por alguns futebolistas e a Judite de Sousa, a Catarina Furtado e a Bárbara Guimarães devem roer-se de inveja desta miúda, até porque a sua fotografia não passa para além da TV Guia ou das revistas cor de rosa portuguesas.
Não é um tema que me interesse muito, mas o facto de Sara Sampaio ser escolhida e paga para aparecer na capa das grandes revistas internacionais de moda, leva-me a mostrar a capa da última edição francesa da ELLE, a maior revista de moda do mundo, que publica 42 edições em 60 países e que em França tem uma circulação de um milhão de cópias.
A fama até parece torná-la uma espécie de Cristiano Ronaldo de saias, embora ela nunca use essa peça de vestuário, como se pode verificar nas suas galerias de fotos.

Amadeo volta a Paris cem anos depois

Foi ontem inaugurada no Grand Palais de Paris, com a presença do primeiro-ministro português e da presidente da Câmara Municipal de Paris, uma exposição dedicada à obra de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), que se realiza no âmbito das comemorações dos 50 anos da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian.
Natural de Manhufe, próximo de Amarante, Amadeo viveu em Paris entre 1906 e 1914 e esteve no centro das vanguardas internacionais da arte do seu tempo e, curiosamente, expôs no Grand Palais durante o Salón de Automne de 1912. No ano seguinte participou na exposição internacional de Arte Moderna, em Nova Iorque, Chicago e Boston, tendo vendido sete das oito obras que expusera.
Agora, a exposição do Grand Palais que o JL nos apresentou na sua última edição, revela cerca de 250 obras de Amadeo correspondentes a uma densa produção artística, com registos muito diversos que vão do cubismo ao surrealismo, com largas referências ao seu mundo rural de Manhufe e ao mundo moderno e cosmopolita de Paris.
O grande objectivo desta exposição é internacionalizar Amadeo como grande figura da arte portuguesa. Antes de Amadeo, esteve Picasso e, antes dele, Velázquez. Por estes dias, na loja do Grand Palais haverá catálogos de Amadeo, discos de fado, azulejos e livros de Sophia de Mello Breyner. É uma grande iniciativa cultural portuguesa que vai estar em Paris até 18 de Julho e bom seria que, com o seu indiscutível peso, a Fundação Calouste Gulbenkian também trouxesse esta mostra até nós. Depois de feiras de vinhos e de presuntos que marcaram a nossa presença internacional nos últimos anos, aqui temos uma iniciativa que nos orgulha!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Brasil tremeu com o voto dos deputados

O plenário da Câmara dos Deputados brasileira aprovou ontem a abertura do processo de destituição da Presidente Dilma Rousseff por 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências, numa sessão marcada por grandes protestos e por dura troca de acusações. Muitos milhares de brasileiros assistiram àquele espectáculo que foi transmitido por todo o país em écrans gigantes, num ambiente mais próximo do futebol e do carnaval do que da gravidade política da situação. A generalidade da imprensa brasileira, caso do Estado de S. Paulo, alinhou nessa onda de euforia pelo avanço do impeachment, mas nos jornais estrangeiros há um clima de apreensão pelo que pode acontecer no futuro, com a proximidade dos Jogos Olímpicos, a recessão económica e a crise generalizada, o que pode dar origem a uma grave situação política e social de radicalização e de contornos imprevisíveis.
No estrangeiro há sempre muita dificuldade em perceber o que se está a passar porque existe um grave problema interno no Brasil, que só os brasileiros poderão compreender e resolver. No entanto, a decisão dos deputados parece ser uma decisão desproporcionada e que abre o caminho não só à destituição da Presidente eleita do Brasil, mas também ao descrédito internacional do país e ao desprestígio das suas instituições. Para um português, que é um estrangeiro especial porque fala a mesma língua dos brasileiros, que compreendeu o que foi dito e que ouviu a gritaria e os insultos dos deputados, a dificuldade ainda é maior porque sabe que cerca de 60% dos deputados presentes na sala, incluindo o seu presidente Eduardo Cunha, têm causas pendentes na Justiça, algumas delas bem graves. Ninguém vai achar normal esta forma brasileira de deitar abaixo os seus Presidentes eleitos pelo povo: ontem foi Collor de Mello, hoje é Dilma Rousseff. Aqueles deputados foram longe de mais. A imprensa internacional está estupefacta. Ninguém compreende aquele julgamento político.
A partir de agora os amigos do Brasil ficam muito apreensivos com o que se possa passar.

Aqui tão perto, a Polisário não dorme

Aqui bem perto de nós há algumas situações de tensão cujas características e níveis de preocupação são bem diversos. Uma dessas situações é a questão do Saara Ocidental.
O Saara Ocidental é uma antiga colónia que a Espanha abandonou em 1975, sem infraestruturas e com um população nómada e totalmente analfabeta, que faz fronteira terrestre com Marrocos, Argélia e Mauritânia. Os saaráuis fundaram a Frente Polisário (Frente Popular para la Liberación de Saguía el-Hamra y de Río de Oro) e em Fevereiro de 1976 proclamaram a independência da República Árabe Saaraui Democrática (RASD), que tem um governo no exílio, reconhecido por cinco dezenas de países. Com a saída espanhola do território, o reino de Marrocos e a Mauritânia ocuparam o Saara Ocidental invocando direitos históricos, mas a Frente Polisário conseguiu expulsar a Mauritânia. Dessa forma, o conflito passou a colocar frente a frente o reino de Marrocos e a Frente Polisário ou, como se diz, Marrocos e a Argélia, que é a grande aliada da Frente Polisário. Enquanto Marrocos oferece uma ampla autonomia ao território sob a soberania marroquina, a Frente Polisário reclama a autodeterminação e a independência do território através de um referendo.
As Nações Unidas intervieram a partir de 1991 e conseguiram que fosse assinado um cessar-fogo e, com base na Resolução 690 do Conselho de Segurança, estabeleceram a MINIURSO (Misión de las Naciones Unidas para el Referéndum del Sáhara Occidental), exactamente para organizar o referendo, mas passados cerca de 25 anos não o conseguiram. Agora, exilado na cidade argelina de Tindouf, que é a sede do governo saaráui no exílio, o presidente Mohamed Abdelaziz fala ao El Watan de Argel para criticar a ineficiência da ONU, denunciar as violações dos direitos humanos no território ocupado pelos marroquinos e avisar que poderá voltar a pegar em armas. Muita gente pensa que a questão é uma pequena borbulha sem importância, mas tem-se visto que certas borbulhas geraram processos inflamatórios que se transformaram em grandes epidemias.

sábado, 16 de abril de 2016

A poesia como farol da língua portuguesa

Se é verdade que, ao longo de mais de quatro séculos, a língua portuguesa nunca se impôs em Macau, também é verdade que há muita gente, mesmo depois da transferência da soberania para a República Popular da China, que insiste na defesa do português e não se cansa de ter iniciativas para a sua promoção. É muito louvável. Assim, por iniciativa do Instituto Politécnico de Macau, realizou-se ontem a 11ª edição do Concurso de Declamação de Poesia em português, uma oportunidade para que a comunidade estudantil chinesa celebre e preste homenagem à língua portuguesa.
De acordo com a organização, o evento visa, sobretudo, “estimular o gosto pela língua portuguesa, pelas culturas e literaturas” e promover o intercâmbio e o diálogo entre as instituições de ensino superior da República Popular da China, onde o português é leccionado.
O acontecimento contou com a presença de doze instituições de ensino superior, mais cinco do que era habitual, incluindo oito do interior da República Popular da China, tendo o número de alunos em competição atingido as 32 participações.
O Jornal Tribuna de Macau destacou a realização deste Concurso com uma fotografia na sua primeira página, mas refere apenas os desempenhos de duas participantes: Li Ruiping que disse o “Poema do Silêncio” de José Régio e Chan Kit Ieng, que concorreu com “A Flor e a Náusea” de Carlos  Drummond de Andrade. É pena que o jornal não nos tenha dado mais informação sobre esta tão interessante iniciativa.

A tourada supera o futebol em entusiasmo

A edição sevilhana do diário ABC relata hoje com grande destaque a 13ª corrida de toiros da Feria de Sevilla que se realizou ontem na Real Maestranza de Sevilla, com a praça cheia para assistir à actuação dos diestros Morante de la Puebla, El Juli e Andrés Roca Rey.
Segundo informa o jornal, enquanto El Juli sofreu uma cornada de 15 centímetros que o mandou para o hospital, o matador Morante de la Puebla teve uma faena de ensueño. O jornal não se poupa em elogios e, na sua primeira página, titula que Sevilla enlouquece con Morante e, mais adiante, num pormenorizado relato da corrida, diz que Morante de la Puebla, por fin, toca el cielo. Não admira, pois Morante é filho da terra.
Morante de la Puebla é o nome artístico de José António Morante Camacho, um toureiro espanhol de 36 anos de idade que nasceu em La Puebla del Rio, nos arredores de Sevilha. A fazer fé no que diz o jornal, a feliz actuação de Morante de la Puebla entusiasmou as 12.700 pessoas que encheram a praça mais famosa e com mais tradição taurina de Espanha e que é classificada como BIC, isto é, “bem de interesse cultural”.
Embora eu não seja aficionado e só consiga ver corridas de toiros à portuguesa, reconheço que a festa brava é um acontecimento cultural muito apreciado e com grande tradição em algumas regiões portuguesas e em muitas regiões espanholas. Na Andaluzia parece mesmo superar o entusiasmo pelo futebol, como atesta a fotografia de primeira página e a desenvolvida reportagem publicada na edição de hoje do diário ABC, num tempo em que parecia que o futebol e a política estariam a concentrar as atenções da cidade. 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Há dívidas para todos os gostos

Na edição da revista TIME que agora foi posta a circular é apresentada com grande destaque a impressionante dívida dos Estados Unidos que atinge 13,903,107,629,266 dólares, isto é, 13,9 triliões de dólares, o que corresponde a 42,998,12 dólares per capita. A revista pergunta depois se o país pode pagar esta dívida e lança uma palavra de ordem: make America solvent again.  O assunto interessa-nos, porque Portugal também tem uma grande dívida pela qual paga anualmente alguns milhares de milhões de euros que satisfazem a gula devoradora dos tenebrosos mercados e que tanta falta nos fazem para melhorar a nossa vida económica e social.
A questão do montante da dívida tem sempre alguma controvérsia porque há dívida externa e dívida interna, há dívida pública e dívida privada e, muitas vezes, atiram-nos com um número sem que seja esclarecido a que dívida se refere o valor anunciado. Para tornar o tema ainda mais controverso, a dívida é por vezes tomada pelo seu valor global, outras vezes é referenciada em relação ao PIB e outras vezes é apresentada em relação ao número de habitantes do país. Portanto, há dívidas para todos os gostos.
Para estudar o assunto em termos comparativos fomos analisar a informação disponibilizada pela conhecida agência de notícias financeiras Bloomberg e, embora os números não coincidam com outras fontes, permitem-nos concluir que os grandes devedores mundiais em termos de dívida per capita são o Japão, a Irlanda, os Estados Unidos e Singapura.
Depois, no ranking da Bloomberg aparecem a Bélgica, a Itália, o Canadá e a França, seguidos pelo Reino Unido, a Suiça, a Áustria e a Grécia. E vão doze! A Holanda, a Alemanha, a Noruega, a Espanha, a Finlândia e a Dinamarca, têm dívidas per capita superiores à dívida portuguesa, que é a 19ª deste ranking e que é apresentada como sendo de 26,770 dólares per capita (quase metade da dívida americana) e que em 2014 correspondia a 125,3% do PIB. Fiquei admirado. Depois de tudo o que foi dito nos últimos anos sobre a nossa dívida e de sermos acusados de viver acima das nossas possibilidades, verificamos que há por aí  muito boa gente que era melhor estar calada e que pensasse numa solução para podermos sair desta armadilha. 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

O poder do sultão e o insólito da notícia

O sultanato de Oman fica situado na extremidade oriental da Península Arábica e tem a sua capital na cidade de Mascate. É um país moderno porque tem beneficiado do petróleo, embora tenha pouca influência da cultura e do modo de vida ocidental. O país é governado por uma monarquia absoluta, cujo sultão é Qaboos bin Said Al Said. Hoje, o jornal local Oman Observer noticia, com grande destaque e em primeira página, que Sua Majestade regressou a casa depois de completar exames médicos de rotina na República Federal da Alemanha. Num país democrático e com liberdade de imprensa, este acontecimento não era notícia e nunca teria o destaque que lhe deu o jornal.   
A referência que aqui é feita a este assunto só faz sentido pela relação que os portugueses tiveram com a cidade de Mascate. Segundo rezam as crónicas, a cidade de Mascate era dominada pelos persas quando em 1507 foi tomada por Afonso de Albuquerque. A partir de então, a cidade tornou-se um entreposto comercial dominado pelos interesses portugueses, devido à sua localização estratégica à entrada do golfo Pérsico e entre a costa oriental da África e a costa ocidental da Índia. Durante mais de um século e apesar da hostilidade dos persas e dos turcos, os portugueses controlaram Mascate, sobretudo com o apoio da vizinha fortaleza de Ormuz. Quando em 1622 os persas e os nossos amigos ingleses tomaram Ormuz, cerca de dois mil portugueses foram deportados para Mascate. Alguns anos depois, os omanitas conseguiram forçar a rendição dos portugueses de Mascate e, esse dia 23 de Janeiro de 1650, é considerado como o início da independência do país, que é o mais antigo estado independente da região. A partir de então ocuparam Zanzibar e as Comores e também expulsaram os portugueses de Mombaça e da costa oriental africana. Muitos anos passaram e hoje temos o insólito de ver este tipo de notícias num país de menos de quatro milhões de habitantes. Até parece que estamos em Pyongyang a tratar de do seu líder Kim Jong-Un.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Feria de Sevilla, a grande festa andaluza

A Espanha teve eleições legislativas no dia 20 de Dezembro de 2015 mas, quase quatro meses depois, os seus líderes ainda não se entenderam quanto à chefia e composição do futuro governo, pelo que há quem aposte que terão que ser realizadas novas eleições. Porém, a vida corre com normalidade por todo o país e a cidade de Sevilha é bem o exemplo disso. Ainda não se fecharam as cortinas da Semana Santa e aí está a Feria de Sevilla ou Feria de Abril, para divertir os sevilhanos e os muitos milhares de turistas durante a corrente semana. 
No seu actual formato a feira realiza-se desde meados do século XIX num enorme recinto na margem ocidental do rio Guadalquivir. À entrada desse recinto é montado o pórtico da luz, uma fachada coberta com milhares luzes que todos os anos é diferente e que é o ex-libris da festa, com que a edição de Sevilha do diário ABC ilustra hoje a sua primeira página.  Depois surgem muitas centenas de casetas devidamente decoradas que constituem o elemento central da festa, onde as pessoas convivem, comem, bebem e dançam. O ambiente da feira é caracterizado pelo traje "obrigatório" das sevilhanas adornadas de colares, pulseiras e brincos e com uma flor na cabeça, mas também pelo estilo dos tratadores de gado e dos ganaderos, que se passeiam pelo recinto da feira a cavalo ou nas suas tradicionais carroças puxadas por cavalos.
No entanto, o outro ponto alto da festa são as corridas de touros que, todos os dias, se realizam na famosa Plaza de toros de la Real Maestranza de Caballeria de Sevilla, em que participam os mais famosos diestros da festa brava. Modernamente também o futebol entrou na festa, até porque o Real Bétis Balonpié e o Sevilha Fútbol Club moram ali ao lado.
A Feria de Sevilla foi inaugurada ontem à meia noite. Hoje e amanhã, a festa vai ficar suspensa pelo futebol, pois todos querem ver o Real Madrid-Wolfsburgo e o Atlético de Madrid-Barcelona.

domingo, 10 de abril de 2016

Panama papers: uma grande tristeza

A história dos Panama papers é uma grande tristeza por muitas razões, apesar de ser um assunto que ainda está por esclarecer. Porém, há muita coisa que já está a acontecer na Islândia, na Grã-Bretanha, na Espanha, na Itália, na Colômbia e noutros países, relacionado com esse escritório ou lavandaria que dá pelo nome de Mossak Fonseca. Muito já se escreveu e muito já se disse sobre o assunto, mas o facto é que dos “mais de 240 portugueses nas offshores” que o Expresso ontem anunciou, o jornal apenas indicou três nomes, os quais já declararam não estar a cometer nenhuma ilegalidade. Vamos a ver quem são os outros 237 e se também eles cumprem todas as boas regras fiscais e se afinal nada de anormal se passa. O sensacionalismo do Expresso pode ser um caso de manipulação e de mau jornalismo. Ou a procissão ainda vai no adro? Esperemos para ver!
Entretanto, os jornalistas portugueses que têm acompanhado a investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que pertencem aos quadros do Expresso e da TVI, parece que estão a anunciar nomes a conta-gotas, provavelmente para alimentar as suas audiências e fazer o jeito aos seus patrões. Se é assim, isso não é jornalismo. Esses jornalistas, ou não sabem mais nada sobre o assunto e, nesse caso, a montanha pariu um rato ou, então, sabem algo mais e esconderam o que sabem numa qualquer offshore jornalística até que seja mais conveniente para alimentar as audiências.
Paralelamente, as televisões encheram-se de sábios e de especialistas a comentar o escritório de Mossak Fonseca. Muitos deles têm aparecido a dizer que não há ilegalidade nenhuma nas offshores e deixam no ar a ideia de que afinal não há rapazes maus na nossa terra., isto é, antes de saberem o que se passa, já estão a branquear os eventuais depositantes no Panamá. Tudo isto é realmente uma grande tristeza!

sábado, 9 de abril de 2016

Cristiano Ronaldo, um português no topo

A edição de hoje do diário desportivo francês L’Équipe inclui o seu habitual magazine de fim-de-semana, que é dedicado ao futebolista Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, nascido na cidade do Funchal no ano de 1985. A capa da revista utiliza uma imagem estilizada do futebolista português, a sugerir que estamos perante uma figura que não pertence ao mundo real, mas que Cristiano Ronaldo já é uma peça de um imaginário de lenda. A revista poderia ter escolhido uma fotografia do atleta ou do artista da bola, mas preferiu participar na construção antecipada de uma lenda e de lançar uma espécie de Che Guevara do futebol.
Goste-se ou não de futebol, o facto é que nunca um português foi tão conhecido no mundo e que o futebolista Cristiano Ronaldo é, desde há vários anos, o maior ex-libris do nosso país. O espaço que lhe dedicam os jornais e as televisões, mas também o merchandising que associou ao seu nome, deram-lhe uma notoriedade universal. Em Portugal não há políticos, nem artistas, nem escritores, nem cientistas, que alguma vez fossem tão conhecidos no mundo. Poderá parecer injusto que alguns portugueses com longas carreiras dedicadas ao serviço do progresso e do bem comum, não tenham o apreço nem o reconhecimento público que o mundo atribui a um futebolista de talento, que finta os adversários, que cabeceia a bola e que faz remates que os guarda-redes não conseguem deter. Pode parecer pouca coisa para tão grande fama, mas a vida moderna é cada vez mais um espectáculo em que Cristiano Ronaldo é, seguramente, o melhor actor português de sempre.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Uma lição de Economia vinda de França

O jornal PresseOcéan de Nantes anunciou hoje que o armador italo-suiço MSC oficializou uma encomenda de quatro grandes paquetes aos estaleiros franceses de STX em Saint-Nazaire, num contrato que ascende a 4 mil milhões de euros de investimento e que vai assegurar trabalho directo a 3.500 pessoas durante dez anos. O contrato é de tal dimensão que o Presidente François Hollande não abdicou de presidir à cerimónia da sua assinatura, a mostrar a sua importância económica para a França.
Portanto, os estaleiros de Saint-Nazaire vão construir quatro navios com mais de 200 mil toneladas de arqueação bruta, com 335 metros de comprimento e 47 metros de largura, que começarão a ser entregues ao armador a partir de 2022. É um investimento gigante, daqueles que enchem de “inveja” qualquer país que tenha desemprego persistente ou tenha capacidade instalada não aproveitada. Portugal vive uma situação de desemprego estrutural e de não criação de emprego que é, cada vez mais, uma ameaça para as futuras gerações. A falta de investimento é dramática e não podemos iludir-nos com o aumento das exportações de sapatos, da pera rocha e do vinho alentejano. O problema é muito sério e muito difícil de ultrapassar, pelo que há necessidade de juntar as forças da imaginação e da inteligência para captar investimento, que não seja apenas o imobiliário e a especulação que lhe está associada. A diplomacia económica tem que ser outra coisa, porque a que temos visto é uma pequenina feira de vaidades  que não tem dado os resultados necessários.
A notícia que hoje nos chega de Nantes é mais um soco no estômago dos portugueses que, cada vez mais, estão fora dos circuitos internacionais de investimento sem saberem exactamente os porquês dessa situação. A falta de investimento em Portugal começa a ser um problema de sobrevivência nacional e é preciso que os políticos percebam isso. Começa  a ser uma emergência nacional.

Os luso-ricos e a lavandaria do Panamá

O escândalo dos Papéis do Panamá foi denunciado há vários dias e, ao contrário da imprensa portuguesa que está silenciosa ou quase silenciosa sobre este caso, os jornais de referência ingleses, franceses e espanhóis mostram-se muito atentos no acompanhamento do caso. A investigação iniciada pelo jornal alemão Suddeutsche Zeitung e depois continuada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla em inglês) inclui 11,5 milhões de documentos, tendo encontrado um enorme volume de depósitos em paraísos fiscais, pertencentes a dezenas de políticos ou personalidades de destaque, que revelam um esquema de fuga aos impostos à escala global. A lista de clientes do escritório de advogados Mossack Fonseca, com sede no Panamá, inclui presidentes e primeiros-ministros em exercício ou já fora de funções e, ainda, muitas celebridades, que vão do futebolista Lionel Messi à irmã do rei Juan Carlos de Espanha. É a maior fuga de informação de sempre, em volume, que mostra como os ricos e os poderosos usam os paraísos fiscais para esconder fortunas e a sua origem, que pode ou não ser duvidosa. Assim, não se tratará apenas de fuga aos impostos, mas também de verdadeiras lavagens de dinheiro.
Nesta lavandaria panamiana pouco se sabe sobre os portugueses, mas parece haver 244 empresas e 34 cidadãos portugueses envolvidos no caso. Também se diz que haverá 36 mil milhões de euros depositados na Suiça por cidadãos portugueses. E consta que a totalidade ou quase totalidade das empresas do PSI20 têm sede e pagam impostos na Holanda. Se nos lembrarmos o que aconteceu com o BPN, com o BES e com o BANIF, de onde voaram muitos milhões para destino incerto perante o olhar distraído dos reguladores, mas também das apressadas e duvidosas privatizações da EDP, da REN, dos CTT, da ANA e de outras das nossas empresas, ficamos com um desolador e inimaginável quadro, que envergonharia D. Afonso Henriques, o rei D. João II ou o Marquês de Pombal. É uma vergonha que as nossas autoridades fiscais se preocupem em saber se o meu barbeiro passa ou não passa recibo do meu corte de cabelo ou se eu incluo a factura da pasta de dentes como despesa de saúde na minha declaração de IRS, enquanto tudo isto se passa sem que ninguém actue. Estamos nas mãos da justiça-espectáculo, do fisco de vão de escada e de políticos subalternos que, embora gritando no Parlamento, se encolhem perante tudo isto.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A preocupante radicalização do Brasil

O Brasil está a passar por uma situação muito complexa, sobre a qual é difícil emitir opinião, sobretudo quando não se é brasileiro e se está separado por 7.376,32 quilómetros, que é a distância que separa as cidades de Lisboa e de Brasília. As notícias que atravessam o Atlântico são muito contraditórias e parciais e, cada vez mais, revelam a gravidade da situação e a dificuldade para se encontrar uma saída política. Tudo isto acontece num quadro mundial de grande perturbação e de persistente crise, mas também de luta entre modelos de sociedade e de interesses financeiros globais, a que o Brasil e a sua dimensão estratégica não escapam. Nessas condições, todas as contradições culturais da sociedade brasileira emergem, convergindo nos mensalões e nas operações lava-jato, num esquema que directa ou indirectamente beneficiou muita gente, sobretudo das classes dominantes de todos os partidos políticos, com a propina e a lavagem de dinheiro a tornarem-se prática generalizada, em paralelo com a pobreza que ainda não foi irradicada e que afecta muitos milhões de brasileiros. Essa é uma realidade que está a corroer o ambiente e a coesão nacionais, com o povo a sofrer como sempre com as incertezas do futuro. Daí nasce a luta política em que vale tudo e em que aparece a questão do impeachment, que não resulta de uma acusação pessoal contra a Presidente Dilma Rousseff, mas que é um verdadeiro instrumento de luta de uma parte do Brasil contra a outra parte.
A criativa capa da edição do passado fim de semana do Zero Hora de Porto Alegre sintetiza a situação brasileira como o encontro entre a corrupção e a ”roubalheira que corrói as instituições” e o radicalismo político e a escalada de intolerância. Vamos ver como os brasileiros vão ultrapassar este imbróglio.

Brest, capital europeia das festas do mar

O jornal bretão Le Télégramme anuncia hoje o j-100, isto é, os cem dias que faltam para o início das Fêtes Maritimes que se realizarão em Brest entre os dias 13 e 19 de Julho, durante as quais são esperados mais de 1200 navios no porto.
Este festival, que a organização classifica entre les plus grands rendez-vous maritimes de la planète, realiza-se de quatro em quatro anos desde 1992. Concebido inicialmente como um festival específico para a vela tradicional, o festival tem alargado o seu âmbito e, actualmente, acolhe todo o tipo de navios, incluindo veleiros oceânicos, navios de guerra, navios de investigação científica e até quebra-gelos, para além dos mais modernos iates que a tecnologia tem criado. A própria base naval de Brest, apesar das questões de segurança que se levantam, aderiu a este festival e abrirá as suas instalações e os seus navios à curiosidade do público. Este ano esperam-se cerca de cinco dezenas de grandes veleiros de mais de 30 metros e, entre eles, o L'Hermione, que voltará a Brest depois do seu périplo americano do ano passado e cuja imagem serviu para o Le Télégramme ilustrar a sua edição de hoje, mas também les plus beaux voiliers russes, hollandais et portugais. Durante uma semana os nove quilómetros de cais serão transformados numa enorme floresta de mastrosque serão percorridos diariamente por cerca de 100 mil visitantes.  No festival deste ano, haverá cinco países e regiões com historial na navegação que serão particularmente destacadas como convidados de honra: os Países Baixos, Portugal, Rússia, Reino Unido e a Polinésia.
Segundo referiu a organização, o elevado custo do festival terá contrapartidas asseguradas e promoverá a notoriedade e a imagem de Brest como grande centro mundial das actividades marítimas ou como "capital europeia das festas do mar". Talvez pudéssemos aprender com as autoridades de Brest.

domingo, 3 de abril de 2016

Argentinos nas Malvinas 34 anos depois

A guerra das Falklands (para os britânicos) ou guerra das Malvinas (para os argentinos) também têm sido designadas como a “guerra das dez semanas”, pois teve início no dia 2 de Abril de 1982 com a entrada das tropas argentinas em Port Stanley e terminou quando, nessa mesma povoação, o general Mario Benjamín Menéndez se rendeu ao general Jeremy J. Moore às 23 horas e 59 minutos do dia 14 de Junho. Nessas dez semanas tinham morrido 649 argentinos, muitos dos quais foram sepultados num cemitério especialmente construído para o efeito em Port Darwin, a cerca de 90 quilómetros de Port Stanley, o qual se conserva impecavelmente tratado e limpo, como sempre acontece com os cemitérios militares ingleses.
Todos os anos, no dia 2 de Abril, os argentinos costumam homenagear os seus mortos na guerra das Malvinas, um pouco por todo o país. Porém, este ano, o governo da província de San Juan decidiu promover uma visita às ilhas e, pela primeira vez, um grupo de 25 ex-combatentes visitou o cemitério de Darwin. De acordo com a notícia do Diário de Cuyo, o principal jornal da cidade de San Juan, o grupo de 25 ex-militares que combatera naquela mesma área há 34 anos, esteve em peregrinação emocional no cemitério de Darwin, onde passou quatro horas e fotografou, filmou e rezou. Durante a homenagem aos seus camaradas ali sepultados, o grupo exibiu uma bandeira argentina e cantou o hino nacional argentino, acto que as autoridades só permitem naquele local, nos termos de um acordo a que se chegou em 1999, ou seja, “este es en el único de las islas donde los argentinos pueden darse el permiso de expresar lo que sienten por Malvinas”.
Porém, o facto é que os argentinos se aproximam das Falklands, enquanto os navios ingleses se afastam das Malvinas...

sábado, 2 de abril de 2016

A defesa das Falklands não escapa à crise

As ilhas Falklands, a que os argentinos chamam Malvinas, estiveram em 1982 na origem de uma guerra em que se envolveram britânicos e argentinos, quando estes, então governados por uma Junta Militar e reivindicando direitos soberanos sobre as ilhas, decidiram avançar com uma invasão e a sua ocupação militar.
O governo de Margaret Thatcher reagiu e preparou uma força militar que se dirigiu para o Atlântico Sul e que em pouco tempo e depois de duros combates, reocupou as ilhas. A guerra durou dez semanas e traduziu-se num balanço de 904 mortes e 2432 feridos de ambos os lados, 11.313 prisioneiros argentinos e elevadas perdas materiais, incluindo o afundamento de vários navios, designadamente um cruzador, dois destroyers, duas fragatas e um submarino, mas também a destruição de 49 helicópteros e de 45 aviões de combate, além de muitas outras aeronaves e embarcações. A Grã-Bretanha impôs-se com notável rapidez e eficácia e a sua soberania sobre as ilhas foi rapidamente reposta.
Desde então, a presença naval britânica nas Falklands tem sido contínua, quer como factor de dissuasão, quer como elemento de apoio às autoridades e à população das ilhas. Porém, no passado mês de Novembro, alegadamente devido a problemas nos motores dos destroyers e depois de 34 anos de continuada presença naval nas Falklands, uma fragata britânica regressou às ilhas Britânicas e não foi substituída. Aparentemente, até o governo britânico considerou inaceitável esta decisão da Royal Navy, mas o facto é que esse mesmo governo de David Cameron tem procedido a “cortes selvagens” nos orçamentos militares, em nome da crise. A edição de hoje do britânico i - national newspaper of the year - trata desse assunto, que não deve ser nada agradável para o espírito imperial britânico.

Viva a Constituição da nossa República!

A Constituição da República Portuguesa comemora hoje o seu 40º aniversário, pois foi aprovada pela Assembleia Constituinte no dia 2 de Abril de 1976.
Apesar do percurso cheio de dificuldades que tem sido seguido pela sociedade portuguesa ao longo destes quarenta anos, em que se têm intercalado governos de diferente orientação partidária, a Constituição da República Portuguesa tem sido um farol-guia e um ponto de convergência das principais correntes de opinião nacionais. 
O texto constitucional foi preparado num contexto político e social muito complexo, tendo sido aprovado por todos os partidos, com excepção do CDS que votou contra. Os 250 deputados constituintes tinham sido eleitos no dia 25 de Abril de 1975 nas primeiras eleições livres com sufrágio universal realizadas em Portugal, tendo-se registado uma excepcional participação de 91,66%, que elegeu 116 deputados do PS (37,8%), 81 do PPD (26,3%), 30 do PCP (12,4%), 16 do CDS (7,6%), 5 do MDP/CDE (4,1%), um da UDP (0,8%) e um da ADIM-Associação para a Defesa dos Interesses de Macau (0,03%).
Ao longo de quarenta anos, a Constituição já teve sete emendas, com as quais se procurou adaptar à própria evolução da realidade nacional e aos contextos internacionais em que o país está inserido, mas tem mantido os grandes princípios orientadores consagrados com a revolução do 25 de Abril de 1974.
Hoje, vivemos um tempo de muitas incertezas. Os horizontes estão carregados de nuvens que se vão acumulando sobre uma Europa à deriva e sobre um mundo cada vez mais desregulado. O nosso futuro é demasiado incerto, muito inseguro e cada vez mais condicionado por variáveis que já não estão nas nossas mãos, pois estamos sujeitos às regras da União Europeia e temos uma dívida colossal que nos mina o crescimento e o nosso modo de vida. Nessas circunstâncias, bem precisamos de gente capaz para nos governar e de um texto constitucional que nos ajude a manter princípios mínimos de soberania e de dignidade.