O escândalo dos Papéis do Panamá foi denunciado há
vários dias e, ao contrário da imprensa portuguesa que está silenciosa ou quase
silenciosa sobre este caso, os jornais de referência ingleses, franceses e
espanhóis mostram-se muito atentos no acompanhamento do caso. A investigação
iniciada pelo jornal alemão Suddeutsche
Zeitung e depois continuada pelo Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla em inglês) inclui 11,5 milhões de
documentos, tendo encontrado um enorme volume de depósitos em paraísos fiscais,
pertencentes a dezenas de políticos ou personalidades de destaque, que revelam um
esquema de fuga aos impostos à escala global. A lista de clientes do escritório
de advogados Mossack Fonseca, com sede no Panamá, inclui presidentes e
primeiros-ministros em exercício ou já fora de funções e, ainda, muitas celebridades,
que vão do futebolista Lionel Messi à irmã do rei Juan Carlos de Espanha. É a maior fuga de informação de sempre, em volume, que mostra como os ricos
e os poderosos usam os paraísos fiscais para esconder fortunas e a sua origem,
que pode ou não ser duvidosa. Assim, não se tratará apenas de fuga aos
impostos, mas também de verdadeiras lavagens de dinheiro.
Nesta lavandaria panamiana pouco se sabe sobre os portugueses, mas parece
haver 244 empresas e 34 cidadãos portugueses envolvidos no caso. Também se diz
que haverá 36 mil milhões de euros depositados na Suiça por cidadãos
portugueses. E consta que a totalidade ou quase totalidade das empresas do PSI20
têm sede e pagam impostos na Holanda. Se nos lembrarmos o que aconteceu com o
BPN, com o BES e com o BANIF, de onde voaram muitos milhões para destino
incerto perante o olhar distraído dos reguladores, mas também das apressadas e
duvidosas privatizações da EDP, da REN, dos CTT, da ANA e de outras das nossas
empresas, ficamos com um desolador e inimaginável quadro, que envergonharia D.
Afonso Henriques, o rei D. João II ou o Marquês de Pombal. É uma vergonha que
as nossas autoridades fiscais se preocupem em saber se o meu barbeiro passa ou
não passa recibo do meu corte de cabelo ou se eu incluo a factura da pasta de
dentes como despesa de saúde na minha declaração de IRS, enquanto tudo isto se
passa sem que ninguém actue. Estamos nas mãos da justiça-espectáculo, do fisco
de vão de escada e de políticos subalternos que, embora gritando no Parlamento,
se encolhem perante tudo isto.
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