O Brasil está a
passar por uma situação muito complexa, sobre a qual é difícil emitir opinião,
sobretudo quando não se é brasileiro e se está separado por 7.376,32
quilómetros , que é a
distância que separa as cidades de Lisboa e de Brasília. As notícias que
atravessam o Atlântico são muito contraditórias e parciais e, cada vez mais,
revelam a gravidade da situação e a dificuldade para se encontrar uma saída
política. Tudo isto acontece num quadro mundial de grande perturbação e de
persistente crise, mas também de luta entre modelos de sociedade e de
interesses financeiros globais, a que o Brasil e a sua dimensão estratégica não
escapam. Nessas condições, todas as contradições culturais da sociedade
brasileira emergem, convergindo nos mensalões e nas operações lava-jato, num
esquema que directa ou indirectamente beneficiou muita gente, sobretudo das
classes dominantes de todos os partidos políticos, com a propina e a lavagem
de dinheiro a tornarem-se prática generalizada, em paralelo com a pobreza que ainda
não foi irradicada e que afecta muitos milhões de brasileiros. Essa é uma
realidade que está a corroer o ambiente e a coesão nacionais, com o povo a
sofrer como sempre com as incertezas do futuro. Daí nasce a luta política em
que vale tudo e em que aparece a questão do impeachment,
que não resulta de uma acusação pessoal contra a Presidente Dilma Rousseff, mas
que é um verdadeiro instrumento de luta de uma parte do Brasil contra a outra
parte.
A
criativa capa da edição do passado fim de semana do Zero Hora de Porto Alegre
sintetiza a situação brasileira como o encontro entre a corrupção e a ”roubalheira
que corrói as instituições” e o radicalismo político e a escalada de
intolerância. Vamos ver como os brasileiros vão ultrapassar este imbróglio.
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