De vez em quando
acontece em Portugal a denúncia pública feita por um qualquer jornal ou estação
de televisão de irregularidades ou anomalias que são detectadas, sobretudo quando há
dinheiros públicos envolvidos e a suspeita de corrupção. Quando isso sucede,
o que é raro, temos o jornalismo numa das suas mais nobres missões, isto é, como
um exercício do dever deontológico e social de informar com verdade e
com objectividade. Esse jornalismo, que é conhecido como jornalismo de investigação, procura esclarecer situações desconhecidas
e escondidas do público e é desejável para detectar desvios à legalidade, mas
tem que ser feito com regras precisas e não como uma prática de quase
perseguição policial, como aquelas a que por vezes se assiste para iludir as
audiências, para servir interesses pouco claros ou para exercer vinganças. Depois de um jornal ou de uma estação de televisão denunciar um caso, deverão ser outras
instâncias, designadamente judiciais, a entrar em acção para averiguações e
não poderá ser o jornalismo a fazer exercícios de julgamento ou de linchamento.
O que está a acontecer com muita frequência na nossa sociedade é a condenação
na praça pública de culpados ou de inocentes, que é feita pelos mass media através da desonesta manipulação
da opinião pública e com o objectivo de conquistar audiências. Isso não é próprio de um Estado de
Direito.
Acontece que os mass media se têm transformado em
verdadeiros centros de produção de conteúdos e consumíveis mediáticos
destinados a um mercado/audiência que procura sensacionalismo, em que o
lucro é o valor essencial, em detrimento da ética, da deontologia e da
função social dos jornalistas que, tantas vezes, se apresentam escandalosamente
servis e submissos ou, inversamente, com excessos de agressividade. Escolhida a vítima, todos se comportam como um bando de abutres esfomeados para manter o caso em agenda. Servem o
dono e alimentam o sensacionalismo. Seguram o seu emprego. Não percebem onde
acaba a sua nobre missão de informar. São um perigo para a sociedade.
O caso da associação
Raríssimas é mais um bom exemplo.
Denunciado o caso, que aparenta ter muita gravidade, é altura de uma averiguação rápida e objectiva
a fazer por quem tem essa obrigação. Não são toleráveis os excessos dos jornalistas que geram alarme social, nem são necessários mais detalhes, nem mais
tempo a intoxicar as audiências. Já todos percebemos. O linchamento na praça
pública que é feito antes de uma acusação fundamentada e de uma condenação por quem o deve fazer, já
não é jornalismo de investigação. É jornalismo de sarjeta.
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