O jornal The
Irish Times que se publica em Dublin desde 1859, foi apenas um dos
jornais internacionais que publicaram a impressionante fotografia de 640
afegãos que no aeroporto de Cabul conseguiram entrar num avião C-17 Globemaster
da US Air Force e voar para o Qatar. Esta cena, bem como as imagens e os
relatos que nos chegam de Cabul, mostram o pânico que se vive na capital afegã
e revelam que, nem os Estados Unidos nem a NATO, acautelaram a sua saída do
Afeganistão, que foi planeada e acordada com os Taliban desde há mais de dois
anos.
Em Fevereiro de
2019 o presidente Donald Trump tinha previsto encontrar-se em Camp David com o
presidente do Afeganistão e com os líderes talibans, mas estes encontros foram
cancelados à última hora. Porém, os contactos prosseguiram e, em Fevereiro de
2020, foi anunciado que tinha sido assinado um acordo que abria o caminho ao
fim da guerra e à retirada das tropas americanas e da NATO, dentro de catorze
meses. O acordo foi assinado pelo enviado especial americano Zalmay
Khalilzad e pelo líder taliban Abdul Ghani Baradar, ficando definido um cronograma para a retirada definitiva das tropas
estrangeiras e com os Taliban a assumir o compromisso de não permitir que o
território afegão fosse usado para planear ou executar acções terroristas. Nessa cerimónia que
foi pública e se realizou em Doha, no Qatar, participou o secretário de Estado americano Mike Pompeo. Depois, no dia 20 de
Setembro de 2020, Mike Pompeo e Abdul Ghani Baradar reuniram-se de novo em
Doha, fizeram-se fotografar e negociaram os últimos detalhes da retirada
americana. Certamente que os contactos prosseguiram e, ainda há poucos dias, se
negociavam em Doha alguns aspectos da retirada, pelo que a não intervenção taliban na área do aeroporto de
Cabul ou a retirada ordeira das tropas americanas, fazem parte dos acordos
negociados. Afinal, estava tudo combinado. O que não terá sido previsto
foi a demissão da liderança política e militar afegã.
Neste quadro, é
confrangedor ver os inúmeros especialistas que enxameiam as nossas televisões e
que raramente citam este acordo feito pela Administração Trump, a que Joe Biden
deu seguimento para acabar com vinte anos de guerra.
No entanto, o problema é que ninguém consegue prever o futuro do Afeganistão.
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