Nos últimos tempos tem
sido criada uma narrativa europeia que, no essencial, confere aos países do
norte as virtudes da organização, do trabalho e da eficiência, atribuindo aos
países do sul o estatuto de desorganizados, gastadores e pouco trabalhadores. A
Alemanha de Merkel e Schauble é, seguramente, a inspiradora dessas narrativas e
das políticas de austeridade que são aplicadas pelos seus serventuários
instalados em Frankfurt e Bruxelas, ou que estão destacados nas capitais do
sul.
Porém, os tempos parece
estarem a mudar. Há poucos dias um dirigente grego que visitou Lisboa disse que
o sul da Europa unido é mais forte que Merkel e que juntos podemos promover
“uma primavera mediterrânica”. Agora é o regresso da Itália à cena política,
depois de muitos meses de quase paralisia pré e pós eleitoral, trazendo para o
debate a necessidade de uma estratégia para sair da crise e para a criação de uma
frente a favor do crescimento e do emprego, que inclua a França, Itália e Espanha,
para contrapor às políticas de austeridade impostas pela Alemanha e pela
Comissão Europeia, que tanto têm agravado a crise e levaram o desemprego para
níveis insuportáveis. Hoje mesmo, segundo revela El Periodico de Barcelona,
o novo primeiro ministro italiano Enrico Letta vai reunir com o presidente do
governo espanhol Mariano Rajoy para, com urgência, procurarem encontrar uma
estratégia europeia para o crescimento e o emprego, “antes que o eleitorado se
revolte” quando perceber que a Europa “actua como uma má madrasta”.
Aquí, lamentavelmente, o
pequeno grupo de fundamentalistas que domina o poder auto-exclui-se deste
movimento dos países do sul que tanto têm sido humilhados e continua cego e
surdo a afundar-nos e a encaminhar-nos para uma tragédia social. Estão quase "orgulhosamente sós".
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