quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Portugal merecia outra dignidade...

As consequências das eleições gregas continuam a suscitar muitas controvérsias, sobretudo porque entre as escolhas feitas pelo eleitorado grego consta a rejeição da austeridade e a exclusão da troika do território grego, mas também a adopção de medidas imediatas de combate à grave situação humanitária que se vive no país. Com o programa que foi imposto à Grécia pela troika, o produto nacional grego foi reduzido em cerca de 25%, a dívida aumentou para 175% do PIB, o desemprego situou-se acima dos 25% e a pobreza tornou-se uma calamidade nacional.
Com o novo governo, os gregos adoptaram como objectivos o combate à crise humanitária, a adopção de reformas que combatam as oligarquias dominantes e a renegociação da sua dívida, com um eventual perdão, a redução de juros e o alargamento de prazos. É um enorme desafio e muitos especialistas consideram que se não houver uma boa solução para o problema grego e a Grécia for abandonada, então será Portugal a ser depois contagiado.
O problema está, portanto, em ajudar a Grécia a sair do seu actual ciclo de empobrecimento numa lógica de solidariedade comunitária ou actuar de forma severa, para que o caso grego seja uma vacina para a Europa. E enquanto Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, veio dizer que “a troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e também irlandeses”, reiterando que é preciso rever o modelo e não repetir os mesmos erros, o ministro alemão Wolfgang Schäuble afirmou em Berlim que Portugal era a prova de que os programas de ajustamento funcionaram. Juncker tem razão e tem pensamento europeu. Schäuble está errado e tem pensamento alemão. Acontece que o nosso governo quis ir mais longe do que a própria troika e aumentou a dívida, o desemprego, a pobreza, a emigração qualificada. Esmagaram-se os salários e as pensões. Liberalizaram-se as leis laborais e os despedimentos. Venderam-se as nossas empresas ao desbarato. Desinvestiu-se na Saúde e na Educação. Perdeu-se a confiança e a autoestima, bem como o orgulho nacional. Como então escreveu o jornal Público, “temos gente de todas as nacionalidades a mandar em Portugal”, desde o etíope Abebe Selassie ao indiano Subir Lall, passando por dinamarqueses, finlandeses, alemães e eu sei lá que mais. O irrevogável Portas não hesitou e classificou-nos como um protectorado.
E no meio desta controvérsia, em vez de sermos solidários com quem precisa e sermos sensíveis à dimensão humana da crise, escolhemos o seguidismo ridículo de ser “mais papistas do que o Papa” e assistimos à presença obediente, submissa e instrumentalizada da ministra Albuquerque a prestar-se à triste figura de ser exibida como uma boa discípula da Alemanha de Merkel e de Schäuble. A fotografia que o Público hoje publica em primeira página diz tudo. Portugal merecia outra dignidade…

2 comentários:

  1. Absolutamente de acordo. As declarações de Juncker deviam fazer corar de vergonha quem julga que o patriotismo é uma coisa que se põe na lapela.

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