As consequências
das eleições gregas continuam a suscitar muitas controvérsias, sobretudo porque
entre as escolhas feitas pelo eleitorado grego consta a rejeição da austeridade
e a exclusão da troika do território grego, mas também a adopção de medidas
imediatas de combate à grave situação humanitária que se vive no país. Com o
programa que foi imposto à Grécia pela troika,
o produto nacional grego foi reduzido em cerca de 25%, a dívida aumentou para
175% do PIB, o desemprego situou-se acima dos 25% e a pobreza tornou-se uma calamidade
nacional.
Com o novo
governo, os gregos adoptaram como objectivos o combate à crise humanitária, a
adopção de reformas que combatam as oligarquias dominantes e a renegociação da
sua dívida, com um eventual perdão, a redução de juros e o alargamento de
prazos. É um enorme desafio e muitos especialistas consideram que se não houver
uma boa solução para o problema grego e a Grécia for abandonada, então será
Portugal a ser depois contagiado.
O problema está,
portanto, em ajudar a Grécia a sair do seu actual ciclo de empobrecimento numa
lógica de solidariedade comunitária ou actuar de forma severa, para que o caso
grego seja uma vacina para a Europa. E enquanto Jean-Claude Juncker, o
presidente da Comissão Europeia, veio dizer que “a troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e também
irlandeses”, reiterando que é preciso rever o modelo e não repetir os mesmos
erros, o ministro alemão Wolfgang Schäuble afirmou em Berlim que Portugal era a
prova de que os programas de ajustamento funcionaram. Juncker tem razão e tem pensamento
europeu. Schäuble está errado e tem pensamento alemão. Acontece que o nosso
governo quis ir mais longe do que a própria
troika e aumentou a dívida, o desemprego, a pobreza, a emigração
qualificada. Esmagaram-se os salários e as pensões. Liberalizaram-se as leis
laborais e os despedimentos. Venderam-se as nossas empresas ao desbarato.
Desinvestiu-se na Saúde e na Educação. Perdeu-se a confiança e a autoestima, bem como o orgulho nacional. Como então
escreveu o jornal Público, “temos gente
de todas as nacionalidades a mandar em Portugal”, desde o etíope Abebe Selassie
ao indiano Subir Lall, passando por dinamarqueses, finlandeses, alemães e eu sei lá que mais. O irrevogável Portas não hesitou e classificou-nos como
um protectorado.
E no meio desta
controvérsia, em vez de sermos solidários com quem precisa e sermos sensíveis à dimensão humana da crise, escolhemos o seguidismo
ridículo de ser “mais papistas do que o Papa” e assistimos à presença
obediente, submissa e instrumentalizada da ministra Albuquerque a prestar-se à triste figura de
ser exibida como uma boa discípula da Alemanha de Merkel e de Schäuble. A fotografia que o Público hoje publica em primeira página diz tudo. Portugal
merecia outra dignidade…
Absolutamente de acordo. As declarações de Juncker deviam fazer corar de vergonha quem julga que o patriotismo é uma coisa que se põe na lapela.
ResponderEliminarExcelente artigo! Parabéns!
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