sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A evocação histórica da tomada de Ceuta

Foi há 600 anos. O dia 21 de Agosto de 1415 foi “o dia em que Portugal saiu à descoberta do mundo” como hoje escreve o Público na sua primeira página, que é ilustrada com o famoso painel de azulejos de Jorge Colaço existente na Estação de São Bento no Porto.
Nesse dia, os portugueses entraram em Ceuta pela força das armas e em poucas horas tomaram a cidade. No dia seguinte, os filhos mais velhos de D. João I foram armados cavaleiros e, segundo relata Gomes Eanes de Zurara na Crónica da Tomada de Ceuta, o cavaleiro João Vaz de Almada “foi pôr a bandeira da cidade de Lisboa sobre as torres do castelo”. Passados seis séculos, a cidade autónoma de Ceuta ainda mantém como símbolo a mesma bandeira gironada de preto e branco e, sobre ela, o escudo português.
A tomada de Ceuta foi uma aventura militar bem sucedida em que participaram cerca de 20 mil cavaleiros e soldados que haviam sido transportados desde a costa portuguesa em mais de duzentas embarcações, mas tinha um sentido que hoje seria classificado de visão estratégica.
Os historiadores que se têm debruçado sobre esse feito de armas, não são unânimes quanto às motivações que estiveram na base da decisão do rei de Portugal, embora seja dominante a tese que considera ter-se tratado de uma acção de guerra para que os “altos infantes” fossem armados cavaleiros, embora também tenha havido outras motivações como o acesso aos cereais de Marrocos, a reforma do comércio com o norte de África, a dissuasão da pirataria moura que atacava a costa algarvia, a criação de uma base para controlo da navegação no Mediterrâneo oriental e até a expansão da fé cristã em Marrocos. Em 1640 os ceitis não aceitaram a Restauração e o novo Rei D. João IV, mantendo-se sob a soberania do Rei Filipe IV de Espanha. Os portugueses tinham administrado Ceuta durante 225 anos.
Ceuta representa o ponto de partida dos portugueses para a expansão marítima, a maior epopeia da sua história. Em menos de um século e muito antes de qualquer outra nação europeia, as naus portuguesas acharam o Brasil, contornaram a África e chegaram à Índia, à China e às ilhas da Insulíndia. Lembrar estas coisas não é saudosismo. É uma realidade que deve merecer o respeito da Europa, mas também é um estímulo para enfrentarmos as dificuldades do presente e os desafios do futuro.

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