A cerimónia da
tomada de posse do XXI Governo Constitucional foi um acontecimento histórico,
não só porque acabou com aquela estupidez que era o “arco da governabilidade”, mas
também porque nos permitiu assistir a um dos mais insólitos discursos que um Presidente
da República podia pronunciar naquelas circunstâncias. Nesse discurso falou
muito em política económica, em disciplina orçamental e na confiança dos
mercados financeiros e dos investidores externos, esquecendo-se que essa área governamental
está entregue a gente que sabe e que veio das prestigiadas universidades de
Harvard e de Nottingham.
Depois, com um ar
desapropriado para aquela cerimónia, o Presidente ameaçou e disse: “Não
abdicando de nenhum dos poderes que a Constituição atribui ao Presidente da
República – e recordo que desses poderes só o de dissolução parlamentar se
encontra cerceado – e com a legitimidade própria que advém de ter sido eleito
por sufrágio universal e direto dos Portugueses, tudo farei para que o País não
se afaste da atual trajetória de crescimento económico e criação de emprego e
preserve a credibilidade externa”. Significa que seguiu a linha da propaganda do
seu partido e se colou, uma vez mais ao anterior governo, ao dizer ser necessário
“preservar a trajetória de crescimento e de criação de emprego”, quando essa
trajectória realmente ainda não existe de forma sustentada e clara, pelo que não
é intelectualmente sério mencioná-la naquelas circunstâncias.
O insólito discurso
presidencial não teve uma palavra de incentivo ao governo para além da área
económica, como se governar fosse a simples gestão da economia, sem que
houvesse pessoas que vivem na pobreza e que carecem de emprego, de saúde, de
justiça, de educação e da satisfação dos seus direitos básicos. O insólito
discurso não teve uma palavra no sentido da mobilização dos portugueses para os
desafios que têm pela frente ou para dar confiança à Europa e aos mercados, a
que tanto se curva. O insólito discurso não teve uma palavra em defesa dos
desempregados, nem dos reformados, nem do regresso dos milhares de concidadãos que
sairam do país. Nem sobre a Ciência, o Ambiente, a Cultura ou a Educação. O insólito
discurso é para esquecer.
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