As nossas
televisões estão no mercado e em acesa concorrência entre si, independentemente do
seu estatuto empresarial ser público ou privado. Lutam por audiências para
comerem uma fatia maior do bolo publicitário e usam o sensacionalismo noticioso de uma
forma pouco jornalística. Não informam com serenidade e rigor. Usam linguagens
e imagens panfletárias para despertar a atenção como se tratasse de um produto
comercial. Não distinguem informação de entretenimento. E insistem “não mude de
canal”, “fique por aí”, não perca”.
As nossas televisões estão ao nível do que
pior se vê nas televisões que nos chegam por assinatura. São uma lástima e um
atentado à inteligência das pessoas, com as manhãs cheias de conversas
populistas e desinteressantes, com as tardes ocupadas com uma pimbalhada que assusta e com as noites preenchidas por
intermináveis debates sobre futebol.
O serviço público
de televisão não existe ou parece uma caricatura. Nas nossas televisões dominam
os profissionais de segunda categoria, os entertainers
e o serviço noticioso está entregue a estagiários, muitas vezes sem
qualificação. O direito constitucional a ser informado é subalternizado pela
lógica da repetição continuada de peças
apresentada por correspondentes locais pouco preparados. Chegou-se ao paradoxo e ao ridículo
do canal público anunciar e apresentar uma entrevista a um presumível
assassino, em que a jornalista quis fazer espectáculo e branquear o entrevistado,
sem que nada lhe acontecesse.
A obrigação de formar
e de informar o público é ultrapassada sem escrúpulos e, no caso dos incêndios
florestais, tal como nas operações contra o terrorismo, as televisões e os seus
responsáveis editoriais parecem tomar o partido dos incendiários e dos
terroristas, porque objectivamente promovem as suas acções através das imagens
que divulgam e da repetição com que as transmitem. O que tem sido feito nas
nossas televisões não é jornalismo. A irresponsabilidade desta gente é mesmo
muito grande!
Hoje o jornal
i recuperou na sua primeira página uma declaração da antiga primeira-ministra
britânica Margareth Thatcher sobre esse assunto, que mantém a sua actualidade e
que bem poderia servir para iluminar a inteligência de quem faz notícias, de
quem as edita e até de quem as apresenta como se fosse um espectáculo.
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